Saudações, confrades!
Espero que todos os meus leitores tenham tido um bom Natal e que tenham recebido muitas bênçãos de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Vamos ao (provável) último post de 2024, para dar uma variada nos assuntos do blog e não ficar só nas atualizações patrimoniais, conforme eu havia dito no post anterior.
Uma coisa que me vem à mente em minhas elucubrações diárias a respeito de como sair de meu emprego atual (seja via concurso, via empreendendo, via tornando-me autônomo) é a crescente necessidade de autonomia em cada passo da jornada profissional.
(OBS: quando falo "empresário" neste texto refiro-me ao pequeno empresário MEI, EPP, EIRELI*, que trabalha sozinho (loja virtual, confecção individual de alimentos, artesão, etc. que tenha um negócio que seja possível de ser operado sem funcionário nenhum a não ser o próprio dono))
*: acho que EIRELI não existe mais, mas posso estar enganado.
Permitam-me ilustrar usando o McDonald's como exemplo:
Quando você é criança, seus pais te levam ao McDonald's, você pede um lanche e ele aparece na sua frente, sem esforço algum. Você nem vê o dinheiro indo para o caixa, ou o cartão sendo passado na maquininha. As coisas simplesmente "acontecem" sem você fazer esforço algum e por conta disso geralmente as crianças não têm noção de como é a realidade.
Depois você cresce mais um pouco, tem seus 15 anos, e vai sozinho ao fast-food. Faz seu pedido e precisa entregar dinheiro ao balconista. Provavelmente quem te deu o dinheiro foi o seu pai ou a sua mãe, mas você teve que se desfazer dele para ganhar seu lanche. Ainda assim, o lanche "apareceu" na sua frente, embora com algum sacrifício de sua parte - o ato de entregar seu dinheiro. Você já aprende um pouco que é necessário fazer alguma coisa para que as coisas aconteçam. Mas ainda é fácil: você sacrifica um dinheiro pelo qual geralmente você não sacrificou nada, pois seus pais te deram, e o sacrifício foi deles (embora aos 15 você já saiba que as pessoas trabalham para ter dinheiro, se você nunca trabalhou você não tem uma noção verdadeira do que é trabalho)
Então suponha que depois você cresce mais, tem seus 18-19 anos e vai trabalhar no McDonald's. Agora são as outras pessoas que pedem o lanche para você, e pela primeira vez ele não vai "aparecer", você é que vai ter que fazer acontecer.
A maioria das pessoas para nesse estágio do amadurecimento. Elas começam a trabalhar, e então descobrem que elas é que têm que fazer as coisas acontecerem. O hambúrguer foi entregue embalado em cima de uma bandeja na mão do cliente porque todo um time de pessoas se envolveu na preparação na lanchonete, em todas as suas fases produtivas, e antes desse time poder trabalhar, vários outros tiveram que concluir seus trabalhos: os caminhoneiros da empresa de logística que entregou os pães, molhos e hambúrgueres congelados, os pecuaristas que criaram as vacas que forneceram a carne, os açougueiros/trabalhadores de frigoríficos que cortaram a carne, congelaram, embalaram e depois separaram para entrega, e entremeando todos estes processos estão inúmeros gerentes, advogados, contadores e coordenadores que criaram, leram, revisaram, e negociaram os contratos com todas as empresas e funcionários envolvidos, fizeram os pagamentos, registraram os pagamentos, registraram dívidas, cobraram dívidas, emitiram os pedidos, emitiram notas fiscais, emitiram DARFs, corrigiram erros, e por aí vai.
Mas ainda assim, o dinheiro cai todo mês, bastando que estas pessoas continuem trabalhando nos dias em que tiverem que trabalhar. E os clientes vão até a empresa, porque já foi feito todo um trabalho para isso. Ou seja, o dinheiro vai até a empresa graças a todo um trabalho prévio que foi acumulado e que permitiu que isso acontecesse.
O estágio seguinte do "amadurecimento profissional", que eu considero ser o dos profissionais autônomos, é o de não somente fazer acontecer, mas também fazer o dinheiro e os clientes aparecerem. O dinheiro do autônomo não cai todo automaticamente no primeiro dia útil do mês, ele recebe aos poucos ao longo de seu mês de trabalho, conforme vai atendendo seus clientes e prestando seus serviços ou vendendo seus produtos. E não necessariamente os clientes virão de maneira automática - pelo menos não no início de sua carreira. Ele leva algum tempo criando sua fama e montando uma "carteira de clientes".
(No caso do McDonald's, já foi feito um trabalho de décadas para criar uma marca reconhecida e que praticamente atrai clientes sozinha, quase sem esforço dos franqueados. O autônomo/pequeno empresário precisa levar em conta esse trabalho de conquistar clientes em seu planejamento - e é por isso que muitos pequenos negócios nascem em paralelo a empregos CLT ou empregos públicos: porque o autônomo precisa ganhar um sustento certo e mais estável enquanto está construindo sua carteira de clientes)
E mais um passo além no "amadurecimento profissional" é o do empresário que resolva empregar outras pessoas em seu negócio: além de fazer as coisas acontecerem e fazer os clientes e o dinheiro surgirem, terá que se preocupar em fazer o dinheiro aparecer para pagar seus funcionários (salários, benefícios, INSS, FGTS, etc.) e também para pagar a si próprio!
A pessoa que foi CLT ou funcionário público "a vida toda" está acostumada com a previsibilidade de um salário que cai todo mês no começo do mês (ou no fim do mês anterior, em alguns casos), e consequentemente está acostumada a planejar seus gastos de modo a ir consumindo o salário ao longo do mês, mas com a (quase) certeza de que no mês seguinte outro salário, de igual valor, será depositado em sua conta.
Imagino que o "choque de realidade" possa ser grande quando essa pessoa se torna autônoma ou empresária. Para começar, não é certo que haverá um valor sendo depositado em conta no início do mês ou no fim do mês anterior. Principalmente no caso do autônomo prestador de serviços (advogado, contador, psicólogo, dentista, médico, etc.) o dinheiro vai caindo na conta aos poucos ao longo do mês, conforme ele vai trabalhando e atendendo seus clientes, o valor é variável e sujeito a sazonalidades e inúmeros outros fatores totalmente fora do controle do profissional e, com isso, o planejamento das finanças pessoais de um autônomo ou pequeno empresário é bastante diferente do de um empregado CLT / funcionário público.
Por este motivo, imagino que, idealmente, a pessoa que se prepare para ser autônoma precise:
1) fazer primeiro uma reserva de gastos para alguns meses (digamos, uns 6 meses de gastos pessoais ou, mais idealmente, 1 ano, e essa reserva deverá incluir os custos esperados de seu negócio, como o aluguel de uma sala comercial e o condomínio do prédio onde fica esta sala, por exemplo);
2) buscar sempre manter seu custo de vida baixo, ou o menor possível, equilibrando conforto e frugalidade, pois não há garantia alguma de que atenderá clientes / prestará serviços / venderá produtos a tempo de pagar contas no prazo (claro que com o passar do tempo adquire-se uma carteira de clientes mais estável, via propaganda boca a boca, indicação, fidelização, etc. que permite um planejamento melhor, mas isso pode demorar a acontecer!);
3) Mesmo após ter adquirido uma certa "estabilidade", sempre manter sua Reserva de Emergência (RE), repondo o mais rápido possível os valores consumidos (se eu fosse autônomo eu teria duas RE: uma "pessoal" e outra "profissional", para bancar custos da empresa como aluguel de sala, anuidades de softwares, seguros, etc. em épocas de vacas magras - o meu foco aqui é evitar aquele velho problema de misturar as finanças pessoais com as da empresa)
E imagino que com o passar do tempo, o autônomo se acostume com a idéia de "receita média mensal" ou "pró-labore médio mensal" e ajuste seus custos de vida a este valor. Acho que uma boa medida seria ajustar seus custos de vida para que sejam cerca de metade do "pró-labore médio mensal" (ou menos, caso possível), tendo em vista que a receita mensal é variável e sujeita a sazonalidades, além do fato de que, como autônomo, se você não trabalhar, você não ganha, simples assim. A metade que for economizada deve ir para aportes, "RE pessoal" e "RE profissional".
E creio também que o mais prudente é usar dinheiro ganho em cada mês seja para bancar os gastos do(s) mês(es) seguinte(s), ao contrário do raciocínio mais comumente aplicado por quem é CLT/funcionário público ("recebi este mês, gastei este mês").
Outra coisa importante a se considerar no planejamento é a construção de uma "reserva" para bancar suas férias, e feriados prolongados, pois afinal você provavelmente não vai aguentar ficar trabalhando sem parar durante muito tempo, e conforme eu disse acima, sem trabalho = sem dinheiro, então o autônomo precisa levar em conta que haverá dias em que simplesmente não haverá clientes ou haverá bem poucos porque é feriado, ou feriadão, e por aí vai. Você pode até querer trabalhar em um dia desses, mas pode ser que simplesmente não haja clientes. Então você precisa se preparar para dias assim também. E haverá dias em que você ficará doente, ou estará muito cansado, ou terá alguma coisa pessoal para resolver, etc. Haverá também a sua própria necessidade de descanso. Para todos esses dias você precisará ter uma reserva, pois não ganhará nada por estes "dias de folga".
Por fim, outros "choques de realidade" na transição para a autonomia são a falta do 13º e do adicional de férias, fora outros benefícios que empregadores no geral paguem (Auxílio-creche, Vale-Alimentação, Vale-Transporte, etc.), além da obrigatoriedade de recolhimento de INSS, que não é automática, fora outros tributos. O autônomo / pequeno empresário precisa prover todas essas coisas para si mesmo, e não pode se esquecer de recolher pelo menos o mínimo legalmente exigido para o INSS e os demais impostos para evitar problemas com o governo.
No caso da falta do 13º, ela ainda é agravada pelo fato de alguns condomínios comerciais (especialmente shoppings) cobrarem o "13º aluguel", então é necessário tomar cuidado com esse custo extra que às vezes fica "nas letras miúdas do contrato". A "RE profissional" deve levar esse aluguel extra em consideração. Alguns tipos de negócio se beneficiam do aumento de vendas em dezembro e com isso dão conta desse 13º aluguel, mas acho que fica mais difícil para os pequenos empresários.
Todas essas coisas acima precisam ser levadas em conta no planejamento da carreira do autônomo / pequeno empresário.
Algum dos confrades têm experiências próprias para relatar? Como foi a mudança de vida saindo da CLT ou do emprego público para se tornar um pequeno empresário?
Aos leitores autônomos / EPP / MEI: que profissão vocês exercem? Como conseguem clientes?
Qual é a melhor opção: ser MEI, ser EPP, autônomo PJ ou ser um autônomo pessoa física mesmo? Ainda é possível ser autônomo pessoa física? Ou simplesmente não vale à pena?
Forte abraço, companheiros de trincheira!
Tenham todos um Feliz Ano-Novo, e que 2025 seja melhor do que 2024!
Fala, Mago.
ResponderExcluir"Quando você é criança, seus pais te levam ao McDonald's, você pede um lanche e ele aparece na sua frente, sem esforço algum. Você nem vê o dinheiro indo para o caixa, ou o cartão sendo passado na maquininha. As coisas simplesmente "acontecem" sem você fazer esforço algum e por conta disso geralmente as crianças não têm noção de como é a realidade."
Cara, estamos mudando para um lugar maior por causa da chegada do novo membro, e arrumando os painéis da cabeceira do nosso quarta minha filha pergunta: por q q vc não pediram uma cabeceira pronta pro papai noel??? (admiro a lógica dela, rs)
Bora lá tomar uma.
É bem por aí a lógica da criançada, Neto!
ExcluirOutro causo: quando eu era criança eu não tinha noção do que era barato ou caro, eu só pensava em termos de quantos "papéizinhos" eram necessários para pagar uma coisa, então se fosse só 1 ou 2 papéizinhos (ainda que de cem reais, que na época era muito dinheiro) eu ia achar que era barato!
Lembro também de querer pedir para o Papai Noel uns 10 jogos de videogame, com a mesma lógica da sua filha - se o bom velhinho dá presentes de graça, então porque não aproveitar e fechar logo a coleção de jogos? Aí fiz a cartinha pedindo uma lista enorme de jogos, e meus pais malandramente disseram que o Papai Noel só pode dar 1 brinquedo para cada criança, pois que se cada criança resolvesse pedir uns 10 brinquedos, não daria tempo dele fazer tudo o que pediram e aí ia estragar o Natal do mundo inteiro.
Vamos tomar uma cerveja!
Particularmente, ODEIO ser autônomo. É impossível ser plenamente feliz sendo autônomo em um país tão fodido como o nosso. Sobre a melhor opção: contratar um excelente contador e se proteger do Leão a todo momento.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Zé tampinha!
ExcluirEntão você não gosta de ser autônomo. Poderia compartilhar um pouco de sua experiência? Em que área você atua, quais são as suas dificuldades, etc.?
Realmente concordo com a questão do contador para te proteger do leão. Dentre outras medidas contábeis, eu tentaria enquadrar o meu negócio no CNAE que pagasse o menor imposto possível e ainda fizesse sentido em relação à atividade a ser desempenhada. Será que ainda é possível fazer isso ou já criaram mecanismos para impedir esse tipo de estratégia?
Li alguns textos do seu blog e gostei daquele dos 5 desejos relacionados à internet. Concordo com todos eles, principalmente em relação ao fim das redes sociais e à volta dos fóruns. A internet era um milhão de vezes melhor na época em que não havia redes sociais e os fóruns dominavam... O próprio Orkut tinha mais cara de fórum do que de rede social, sendo cada comunidade um mini-fórum... bons tempos... Será que voltam?
Fala Mago! Ser autônomo é paia, mas tem suas vantagens. Agora que vi que tenho que fazer mais e não ficar no comodismo que fiquei a minha vida inteira. Um abraço, amigo!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Paul. Todos temos que fazer mais, também estou devendo muita coisa por conta de comodismo. É duro vencer a inércia e o comodismo, mas precisamos nos esforçar.
ExcluirAbraço e Feliz Ano-Novo!
feliz 2025!
ResponderExcluircara já pensou em fazer bico de uber? tem cara aqui no RJ que tá tirando 500 reais por dia
nao vejo como algo definitivo, mas pode ser interessante como
algo temporário pra levantar um capital pro seu próximo negócio
negócios como marceneiro, carpinteiro e serralheiro tb sao interessantes - mas demandam estudo, como aqueles cursos do sesi-senai
eu mesmo nao faço curso de marceneiro pq nao tenho tempo pra estudar - aqui no rj onde moro é complicado de ter curso assim
abs!
ps - por exemplo
Excluirvc trabalharia de uber pra levantar o dinheiro pra comprar um terreno (sede da futura empresa) e maquinas de marcenaria-serralheria
no começo vc pegaria pequenos projetos e depois de uns anos quando tivesse estabilizado já poderia largar ou trocar o emprego antigo (talvez virar freelancer), tudo isso sem mexer no capital já investido na sua carteira.
Obrigado pela dica, Scant, feliz 2025 para você e sua família!
ExcluirEu nem cogito virar uber porque eu não dirijo e no momento nem tenho vontade de dirigir.
Algumas coisas que eu posso, realisticamente, fazer para ganhar uma renda extra são:
1) dar aulas particulares (sou capaz de dar aula de matemática, inglês e estatística e, caso tenha tempo para me preparar, posso dar aula de física, química, geografia, história, etc.)
2) montar um curso de alguma dessas matérias e vender na Udemy, hotmart, etc.
3) escrever um livro de alguma dessas matérias, colocar o sufixo "para concursos" no título e vender na Amazon (ou procurar uma parceria com uma editora especializada nessa parte de concursos) - tem uma matéria ou outra que eu devo ter quase um livro pronto, bastando organizar e editar os resumos acumulados ao longo de anos de estudos
E tem várias outras opções também (por exemplo, eu tenho uma "fantasia" de comprar uma banca de chaveiro em alguma rua perto de casa e virar chaveiro, mas o que mais me atrai nessa idéia são outras coisas que eu poderia vender na banca, para melhor aproveitar o ponto comercial, como oferecer serviços de xérox, scan de documentos, vender isqueiros, canetas, etc.) mas que no curto prazo não são muito plausíveis.
Uma coisa que me dificulta muito é que qualquer coisa que eu leia ou estude além de material de concurso tem me provocado uma imensa sensação de "FOMO", parece que estou perdendo tempo que poderia estar estudando as matérias de concurso (por exemplo, outra "fantasia" que eu tenho é a de programar jogos, cheguei até a fazer um curso rápido de pygame, pelo Youtube mesmo, no início de 2021, mas é aquilo: programar requer muito estudo e dedicação, que eu acho que não consigo agora e que me causa uma imensa sensação de "FOMO") - talvez a solução para isso seja separar nem que seja uma hora por semana, ou uma hora a cada 2 ou 3 dias, para me dedicar a estas "habilidades profissionais" e não ficar só estudando coisas semi-inúteis como direito administrativo.
E quando eu passar em algum concurso e puder largar meu emprego, espero conseguir me dedicar mais a estes estudos mais enriquecedores.
E falando mais especificamente sobre a marcenaria, esta é uma das idéias que já passou pela minha cabeça, e ainda passa algumas vezes. Eu já fiz pequenos projetos para mim, coisa de curioso mesmo, nada profissional, mas nos últimos anos vim acumulando uma bela coleção de ferramentas por conta de meus hobbies artesanais.
ExcluirSe eu for para a marcenaria, eu faria primeiro um curso no SENAI (ou alguma entidade semelhante) e começaria assim mesmo, freelance, distribuindo um cartãozinho pelos vizinhos, pelo bairro, etc e veria no que ia dar.
Com certeza é melhor do que a maioria dos empregos de nível iniciante que existem hoje em dia! E imagino que seja melhor do que muitos empregos públicos também, especialmente de prefeituras pequenas!