sexta-feira, 4 de junho de 2021

Iniciando minha carteira de investimentos - parte 5 (final) - Renda Fixa

 Saudações, confrades!


Vamos à última parte da série sobre a montagem de minha carteira de investimentos.

Agora falando sobre a Renda Fixa, um assunto que, confesso, não curto muito.

Como este assunto também já foi amplamente debatido em diversos sites, blogs e fóruns, vou escrever apenas as minhas opiniões pessoais sobre o assunto:

1) Considerando que o mais importante é o prazo do investimento (por causa do efeito exponencial que ele exerce sobre o montante final, tendo em vista a fórmula dos juros compostos), não me parece bom negócio aplicar só em títulos de prazos curtos (ex: 2 anos, 5 anos, etc) a não ser que seja uma grana que você esteja juntando para um objetivo específico de curto prazo. Então, por exemplo, aquele dinheiro para se aposentar, atingir a IF, a TF, etc. tem que ser aplicado em algum título público de 30 anos, 40 anos, etc. o de prazo mais longo que estiver disponível no momento da aplicação, e preferencialmente com cláusula de correção pelo IPCA. O dinheiro para comprar uma casa, por outro lado, pode ser aplicado em um título de 10 anos, por exemplo, porque espera-se que o prazo para atingir este objetivo seja mais curto do que o para se aposentar. 

2) Renda Fixa não produz renda, é só correção do valor, ou seja, aqui é só para guardar o dinheiro. Aqui é o pé de meia. Nada de gastar os juros, senão o patrimônio não cresce. Na época em que a Selic estava bem alta, tinha muita gente pensando que seria possível viver de renda tendo um ou dois milhões aplicado em um título de renda fixa, usando os juros para cobrir as despesas mensais. Se alguém fizesse isso e gastasse totalmente os juros,  quando chegasse ao final do prazo do título, terminaria com seu milhão corroído pela inflação 30 anos depois.

3) É necessário tomar cuidado com os títulos de "banquinhos": geralmente são bancos que você nunca ouviu falar e cujos títulos de dívida pagam mais de 100% do CDI. Há um motivo para eles pagarem juros mais altos que a média, e certamente não é porque são bonzinhos e generosos, e sim porque eles precisam dar algo em troca, senão ninguém emprestaria dinheiro para eles. Os "bancões" pagam menos de 100% do CDI em seus títulos porque eles são grandes e poderosos, então o risco de emprestar dinheiro para eles é bem menor, e com isso eles não precisam recompensar tanto assim o risco de investir neles. Bem, praticamente todo ano tem algum banquinho que vai à falência, e por mais que exista o FGC, você vai ter dor de cabeça para recuperar sua grana (no mínimo vai ficar ansioso e estressado, com medo que justamente na sua vez dê tudo errado e o dinheiro suma). Mas é necessário tomar cuidado e verificar, pois nem tudo está protegido pelo FGC

4) Por mais que a renda seja "fixa", lembre-se que com a inflação e com o risco de calotes, inclusive do governo, ela ainda é uma aposta no futuro. Claro que se o governo der calote e não honrar seus títulos de dívida pública, todo o mercado vai sofrer (provavelmente só os metais preciosos, moedas estrangeiras e as criptos é que subiriam de valor, protegendo uma parte de nosso patrimônio), mas não podemos considerar que a renda fixa é algo "garantido" e livre de riscos (por mais que a literatura de finanças chame alguns títulos de renda fixa de "risk free", como na fórmula do CAPM);

5) Há investidores que fazem trade com títulos do tesouro, e já ouvi muitas conversas no trabalho sobre comprar títulos no Tesouro Direto em tal dia e revender em determinada data do mês, porque sempre sobe e etc e tal. Bem, se você fizer desse jeito, deixa de ser renda fixa e você poderá até perder dinheiro com a oscilação do preço do título. Você só vai ganhar o valor acordado (IPCA + X%) se segurar o título até o vencimento.

6) Por mais que os ditos "especialistas" e os sites e revistas "de finanças" e alguns supostos "gurus financeiros" esculachem a poupança e digam que deixar dinheiro na poupança é jogar dinheiro fora, eu acho o seguinte: é a melhor escolha pra reserva de emergência (RE) porque não tem burocracia, pode sacar a hora que quiser, pode movimentar para a conta-corrente na hora que quiser, não paga imposto, não tem que preencher formulário de nada pra movimentar, não tem que esperar abrir o mercado, e por aí vai. Além disso, quem só aporta na caderneta de poupança já ganha um rendimento superior ao de 99,9% dos traders e sem gastar um centavo com cursinhos on-line ou montando setups ou pagando softwares de gráficos. 

Dito isto, pretendo separar meus aportes de renda fixa em 3 "potes" diferentes:

A) Reserva de Emergência (poupança), com meta de 12 meses de salário líquido;

B) Tesouro IPCA com o prazo mais longo possível (mas ainda tenho dúvidas quanto a isso, não me sinto muito confortável aplicando em títulos de prazos tão longos...eu sinceramente julgo um título desses mais arriscado do que ações de boas empresas...);

C) Tesouro SELIC ou IPCA com prazo de 10 anos, para futuramente adquirir outro imóvel para morar (e deixar o atual alugado, rendendo uma grana extra).

Ao menos por enquanto, minha estratégia com a renda fixa é essa. Pode ser que com o passar do tempo minhas prioridades mudem, pode ser que eu dê muita sorte e não precise juntar por 10 anos para comprar outro imóvel e por aí vai. O futuro a Deus pertence.

Forte abraço, companheiros da finansfera!

Fiquem com Deus!

12 comentários:

  1. Olá Mago,

    Mais um ótimo artigo da série!

    Sobre RF, eu sou um dos mais conservadores da blogosfera, tenho mais de 70% da carteira nessa classe de ativo.

    Concordo com suas diretrizes sobre RF e vejo que muita gente quer fazer verdadeiros milagres (trader de TD???). Em relação ao FGC eu entendo que ele é uma boa ferramenta para impedir que a quebra de um pequeno banco acabe contaminando todo o sistema bancário, porém se houver uma crise bancária que ultrapasse o patamar dos "pequenos bancos" e afete um banco médio eu acredito que ele não dê conta de enfrentar uma crise bancária.

    Sobre TD de Longo Prazo é uma boa estratégia, o foda é comprar algo para daqui 30 anos, pois se você olhar a história desse país, às coisas dão um giro de 180 graus.

    Abraços,
    Pi.

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    1. Tudo bem, PI? Você deve ser mesmo o mais conservador da finansfera com esses 70% em RF, mas isso é de cada um, não existe a resposta certa...
      Pois é bem como você disse: o Brasil é imprevisível. Desde a proclamação da República, tivemos várias constituições, passamos pelo governo Vargas, governo militar, confisco das poupanças, cleptocracia petista, tivemos várias moedas em um período curto de tempo, etc. Títulos de 30 anos são uma verdadeira aposta por aqui.
      Isso dá até uma ideia para um post: como se comportou o mercado de títulos públicos no Brasil no século XX, em meio a tanta turbulência política e monetária. Se eu conseguir pesquisar, vou escrever sobre isso um dia.

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    2. Mago, excelente ideia de post.

      Vou ficar no aguardo.

      Abraços,
      Pi

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    3. Já comecei a pesquisar, mas deve demorar um pouco!

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  2. parece uma boa estrategia
    eu já deixaria menos em poupança, cerca de metade disso, mas reserva de emergência não tem uma medida exata

    abs!

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    1. Valeu pelo comentário, Scant. Como você disse, a RE depende de cada um. Pode ser que eu mude de ideia com o tempo, mas julgo que ficaria tranquilo com no mínimo uns 6 meses de salário líquido. Já vi pessoas que usam outra métrica e consideram que o ideal é ter "um carro" na poupança.

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    2. Mago, eu já até comentei no blog Quero Virar Vagabundo.
      Não existe certo ou errado em investimentos, as decisões devem ser feitas levando em consideração o perfil de cada pessoa.
      Mas como em praticamente qualquer área da vida, vejo que há muita masturbação mental e muito oba oba em investimentos.
      Muito conteúdo, muito papo furado, muito sensacionalismo etc etc. A Renda Fixa proporciona comodidade e facilidade, que é um ponto que pode ser decisivo na escolha de muita gente, ainda mais do brasileiro que em geral é muito conservador com relação a dinheiro.
      Eu sempre investi em RF, Poupança e LCI foram meus investimentos até alguns anos atrás, num segundo momento fundos, inclusive fundo de ações e aí em 2019 entrei no mundo das ações propriamente ditas. E fiz isso principalmente pelo enfraquecimento da RF. Em 2020 fiz muitas compras e vendas, a grande maioria swing trades e alguns day trades, isso num ano atípico e muito instável como foi o ano passado.
      E digo hoje com clareza e um pouco mais de conhecimento e maturidade sobre RV, não valeu a pena. Hoje estou em apenas 1 ação na qual tenho certa esperança de ter bom lucro. Não penso em comprar outra, não vou ficar fazendo vendas parciais preço médio etc. Quando vender vou vender tudo e deu.
      Fui fazer minha declaração do imposto de renda e vi que ainda não sabia de algumas coisas, foi complicado pra mim, chato pra caramba e não vou repetir mais isso.
      Se a selic voltar a um patamar bom e creio que cainha pra isso no médio prazo, considero fortemente a hipotese de voltar a ficar somente na RF, vou ser básico com relação a investimentos como era no início.
      Vejo blogueiros, youtubers e pessoas que se expõem nos comentários, montando estratégias, análises gráficas e de fundamentos, comprados em 10, 15 ações diferentes, fazendo trades, investindo em criptomoedas etc etc e muitas vezes lucram 1 ou 2% livres, quando lucram, fora a grande quantidade de pessoas que perdem dinheiro (as vezes muito dinheiro) e ficam "presos" a essas ações esperando uma recuperação que pode demorar anos ou nem acontecer.
      Pro futuro penso em investir em algo como um pequeno empreendimento, mas sei que há burocracias também nessa área, então vou pesar bem sobre o que estou disposto a fazer, sou simples e prezo pela minha paz. Arrisquei mais nos últimos tempos e vou fazer o caminho contrário.

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    3. Muito obrigado por compartilhar dua experiência, anon. Seu relato comprova o que você mesmo disse: não existe resposta certa. Você tentou inveatir em ações, não gostou e seguiu adiante. Isso aí. Ninguém é obrigado a ter ações. Antigamente quase ninguém tinha ações, e a maioria só investia em poupança, ouro e imóveis. Muita gente ficou rica assim. O que importa é aportar consistentemente pelo maior tempo possível e em ativos de valor. Se você acha que vai conseguir tocar um negócio próprio, vá em frente, aporte em si mesmo (formação e qualificação) e no seu negócio, sem nunca deixar de lado a RE. Do seu relato, só não concordo com o trade, por causa da baixíssima probabilidade de sucesso.
      Boa sorte!

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    4. Também não sou entusiasta de trades, fiz, mas não penso em fazer de novo.
      Quero investir ou empreender da forma mais simples possível.
      Investir de forma simples é fácil, empreender de forma simples já não é tão fácil assim. Mas essa possibilidade pra mim ainda existe.
      Empreender com MEI é uma alternativa, mas em diversos segmentos é inviável ser MEI.
      Mas como disse quero manter essa possibilidade viva.

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    5. Comi você disse, investir é uma coisa que facilitaram bastante, mas empreender nem tanto. O que deu uma melhorada foram os market places, mas eles ainda são poucos e a maioria das vendas me parece estar concentrada demais (mercado livre e amazon).
      Você tem ideia de em qual ramo pretende empreender?

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  3. Belo artigo Mago, acompanhando.

    Artigo de aguas calmas, da tranquilidade, da famosa renda FIXA, que não é tão fixa o quanto dizem, e 2020 passou para provar isso.

    Abraços.

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    1. Obrigado, One. A renda fixa não deixa de ser uma aposta no futuro, ainda mais aqueles títulos de 30 anos do tesouro... sinceramente, acho que esses títulos têm mais risco do que investir em ações!

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