quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O aporte precisa fazer parte do orçamento doméstico

Saudações, confrades.


Uma questão bastante importante e fundamental principalmente para os que estão começando a vida profissional e a "carreira" na busca pela IF ou pela TF é o Aporte (e sua frequência). 

O que mais importa no acúmulo de patrimônio é o aporte e sua consistência ao longo dos anos. Como geralmente ganhamos por mês, o ideal é que os aportes sejam mensais também. Mas, para que isso seja possível, é necessário que o aporte seja levado em conta na hora de montar o orçamento doméstico. Sem um bom planejamento dos gastos, uma família não sai do lugar. E na hora de planejar seus gastos, uma família precisa planejar também o aporte. 

O que eu vou escrever pode parecer óbvio, mas por incrível que pareça muitas pessoas com boas condições financeiras (bons salários ou boas rendas de negócios próprios) não seguem isso. Então não é tão óbvio assim.

O que quero dizer é que o aporte precisa fazer parte do orçamento doméstico. 

Muitas pessoas não planejam seus gastos mensais considerando o aporte (umas por ignorância e outras, infelizmente, por ganharem valores que não tornam possível investir, como é o caso de muitos que ganham 1 (hum) salário mínimo) e por conta disso não conseguem economizar nada, ou então só economizam mesmo as migalhas que sobram no fim do mês (embora sejam melhor do que nada, tendo em vista que há muitas pessoas que nem conseguem economizar, essas migalhinhas não nos levam a lugar nenhum). 

Se uma pessoa com condições de economizar algum dinheiro todo mês não consegue fazer isso, então há algo de errado no orçamento e é necessário tomar alguma atitude, pelo bem de sua família. Afinal, mesmo que não invista no mercado financeiro (ninguém é obrigado a ter ações e nem FIIs), é ao menos necessário aportar na Reserva de Emergência (RE), para evitar cair no cheque especial ou ter que recorrer a um empréstimo para resolver algum problema, e problemas acontecem, às vezes aleatoriamente.

Uma coisa que atrapalha a vida de muita gente é o "deslumbramento" sentido quando se começa a ganhar dinheiro, o que acomete principalmente os mais jovens e de classe média, que geralmente não passaram por necessidades e por conta disso muitas vezes acabam não aprendendo a respeitar o dinheiro.

Vejam só o roteiro "padrão" de uma pessoa de classe média no começo de sua vida profissional:


Imaginem um jovem solteiro de uns 26-27 anos. O rapaz sai da faculdade e arruma um emprego "normal" em São Paulo (por normal quero dizer "de escritório", numa empresa "comum", que é o que geralmente se consegue numa cidade grande). Vamos supor que ele se dê muito bem e ingresse num programa de trainee executivo e ganhe um salário inicial de R$ 6.000,00 líquidos. Como ele está louco para ser independente e ter sua própria vida, ele vai morar sozinho e aluga um apartamento a uma distância razoável de onde trabalha, de modo que não gaste muito tempo com o deslocamento - só aí já vão no mínimo  R$800,00 (conforme minha pesquisa por apartamentos de 1 quarto com pelo menos 20m² e valor do condomínio incluído, em São Paulo, no site Viva Real - 800 reais foi o menor valor que encontrei no dia que fiz esta pesquisa, e provavelmente é em uma localização ruim de São Paulo, mas não sei, eu realmente não conheço bem a cidade). 

Como o jovem hipotético está ganhando bem, ele aproveita e compra um carro (de 40K), financiando sem entrada em 60 prestações - aí já vão mais R$ 1.000,00 do orçamento. Sobraram R$ 4.200,00 e deste valor ele ainda precisa tirar as compras em supermercado, gasolina, manutenções eventuais no carro, de vez em quando comprar roupas, e provavelmente gastará uma boa grana almoçando ou jantando em restaurantes (ou pedindo delivery) e saindo para bares, baladas, etc. (a noite em SP é cara, já dizia o sumido Pobretão). 

Vamos estimar os gastos mensais de nosso herói e pôr numa tabela (tudo estimado mesmo - se eu escrever algum absurdo comentem aí):

Gasto                                Valor      

Aluguel                       R$ 800,00                               
Prestação carro         R$ 1.000,00                              
Luz, água, gás, etc.     R$  600,00                                 
Gasolina                       R$ 800,00                                
Supermercado              R$ 800,00                                
Restaurante                  R$ 800,00                               
Saídas, lazer              R$ 1.200,00                               
Total                          R$ 6.000,00

E assim nosso jovem herói gasta todo mês todo o seu salário, e qualquer gasto que fuja desta programação (ex: uma multa de trânsito que ele leve no mesmo mês em que tiver que levar o carro na oficina) o fará entrar no cheque especial, um dos maiores destruidores de patrimônio que se conhece. 

Se nada de ruim lhe acontecer, ele provavelmente terminará seu primeiro ano de trabalho apenas com seu carro, nenhum patrimônio acumulado, e estará bastante acostumado com seu padrão de vida. 

Como não tem reservas financeiras, pode ser que ele viva preocupado com a possibilidade de não sobreviver ao programa de trainee e ser demitido. Felizmente para ele, seria relativamente fácil vender o carro para quitar pelo menos a maior parte da dívida do financiamento. E, caso seja demitido, ainda é fácil se recolocar no mercado por conta de sua tenra idade.

Vocês podem achar que algumas das estimativas acima não são razoáveis, que algumas estão muito caras ou muito baratas, e realmente é difícil estimar o orçamento doméstico de uma pessoa, ainda mais hipoteticamente, mas o que eu quis ilustrar com isso é que há muitas pessoas que, mesmo ganhando bem, estão financeiramente enrascadas, andando na corda bamba, no fio da navalha, etc. 

Esta é a realidade de muitos, ganhando bem ou ganhando mal. Não basta ganhar muito dinheiro: você pode acabar pobre e falido se não souber administrar bem a sua renda e se não considerar o aporte na hora de definir seu orçamento. 


Em nosso exemplo, o que o jovem trainee poderia fazer? Conforme já recomendei, ele poderia economizar pelo menos 25% de seu salário, o que daria R$ 1.250,00 por mês, para que em 3 ou 4 anos (dependendo do rendimento) tivesse aportado 1 ano de salário, o que lhe daria alguma segurança e maior tranquilidade, tranquilidade esta que poderia até mesmo melhorar seu rendimento no trabalho. 

Em um ano de trabalho ele conseguiria economizar 4 meses de salário, o que já é alguma coisa. Como se trata de um jovem solteiro, ele poderia poupar este dinheiro economizando no restaurante, em suas saídas,  usando menos o carro, maneirando nas compras do mercado, contratando um plano mais barato de celular e internet, etc. 

Para que isto fosse possível, ele deveria, desde o começo, ter considerado este aporte de 25% do salário em seu orçamento doméstico. Poderia fazer melhor ainda: tentar economizar um terço do salário (R$ 1.666,66), aportar os R$ 1.250,00 e usar os R$ 416,66 restantes para adiantar parcelas do financiamento de seu carro, para se livrar mais rapidamente da dívida e eventualmente liberar R$ 1.000,00 de seu orçamento. Neste caso, pode ser mais interessante aportar menos e adiantar mais parcelas. 

Ou melhor ainda: trocar o carro de R$ 40.000 por outro mais barato (mas infelizmente ainda existe uma exigência implícita de "status" em muitos locais de trabalho, principalmente empresas grandes, de modo que um trainee provavelmente seria mal visto se não tivesse carro ou se andasse em um carro muito barato - a não ser, claro, que tivesse uma boa desculpa, como morar perto do metrô e o trabalho ser próximo de uma estação do metrô - ou usar a carta da "ecologia" para justificar não ter um carro, se ele for bom de lábia).


Em suma: tem muita gente com bom potencial e que passa num programa de trainee de uma empresa grande e depois é efetivada ou passa em um concurso top e começa a ganhar R$ 10K ou mais por mês, mas aí acaba estruturando uma vida que custa R$ 9.999,00/mês, sem aportar, e por isso acaba nunca saindo do lugar e vive de mês em mês.


Forte abraço, companheiros de jornada!

Fiquem com Deus!



(O salário médio de trainee eu estimei com base neste site > https://sejatrainee.com.br/salario-dos-trainees/.)


16 comentários:

  1. "é ao menos necessário aportar na Reserva de Emergência (RE)" ultimamente tenho aportado na RE e depois tirado o excesso da RE para investir em ativos

    sei que é trocar 6 por meia dúzia mas tenho gostei do efeito psicológico, sei lá

    abs!

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    1. Tem coisas que eu faço por puro efeito psicológico também. Uma delas é pegar os trocados que uma ação me pagou de dividendos e transferir para a RE. Não faz tanta diferença assim, mas dá um efeito psicológico bom. Outra coisa que faço é guardar todo dia as moedinhas que sobram na carteira e no bolso da calça, e quando junto algum valor razoável, digamos 50 reais, uso para ajudar no mercado. Isso também me dá um up psicológico, mesmo que financeiramente não signifique muita coisa.

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  2. Interessante, Meu aplicativo NellBux também pagamos bem com rentabilidade de até 2% ao Mês e ainda tem programa de afiliados CPC e CPM

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  3. Sempre digo o fator psicológico é muito importante, as vezes em conversar com amigos:
    falo: coloca 10% num CDB acima de 100 já tá bom pra começar.
    Respondem- mas ai é muito não sobra nada tenho divida tenho filhos e tals ...
    Retruco: Então coloca 10 reais por mês.
    Ai vem outra desculpa: Mas guardar mixaria não adianta nada!!!

    Enfim pra cada solução que vc dá a pessoa arruma 10 problemas, acredito que o hábito do aporte é mais importante que o valor, persistir.
    Esse ano vi importância dos investimentos, a renda dos Fiis salvaram em muitos momentos, dando um folego no meio do mês...Tenho muitas dividas mas essas são temporárias, agora os rendimentos dos investimento são "eternos". abraço

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    1. "Ai vem outra desculpa: Mas guardar mixaria não adianta nada!!!
      " já desisti de falar
      tem gente que não tem perfil pra isso igual a gente que não gosta brócolis ou outros vegetais na comida
      tudo é questão de gosto

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    2. Soldado, você tem razão. Ja cansei de ver gente inventando desculpas para não aportar nada, mas que sempre tem dinheiro para ir ao bar TODO dia depois do expediente, TODO fim de semana viajar, e por aí vai...
      Talvez seja um pouco como o Scant escreveu acima - tem gente que simplesmente não gosta de ter dinheiro, ou então dá muito mais valor a ir ao bar todo dia e a viajar todo fim de semana mesmo... cada um é dono de sua vida, mas eu só acho que o mínimo que todos deveriam ter é a Reserva de Emergência...

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  4. Fala Mago! Boas dicas, o ruim é que a gente martela e mesmo assim tem muito carpe chimpa que gasta na esbórnia ou com besteira. Um abraço e xuxéxu!

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  5. Mago eu concordo com a importância de gestão de dinheiro, ainda mais em início de carreira.

    Eu sou jovem e ganho um salário bom (para os padrões de cidadezinha de interior), mas conheço outros jovens da minha época de faculdade que ganham também salários tão bons (ou até maiores) e sendo sincero quase nenhum tem essa mentalidade de gastar.

    Só que concordo com os amigos ali encima sobre gente que não gosta de guardar dinheiro, acredito que existem pessoas que tem aversão e que independente se vão ganhar R$ 2 mil ou R$ 20 mil por mês, eles vão gastar tudo.

    Eu sinceramente não tenho preocupação em falar sobre educação financeira para amigos e colegas, é um assunto que não gosto de entrar.


    Abraços,
    Pi

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    1. Hoje em dia acho que o pessoal está mais "instruído" neste sentido, em parte por causa da relativa abertura do mercado financeiro (está mais acessível e mais fácil de investir).

      Mas realmente é perigoso falar de educação financeira e investimentos com colegas, pois há o risco de alguém te pedir dinheiro emprestado. Eu nem falo sobre isso com colegas de trabalho (e alguns deles vivem falando sobre trade). Isso já aconteceu comigo: na época de faculdade teve um colega que me pediu dinheiro emprestado só porque me viu lendo um livro sobre ações na lanchonete da faculdade. Eu não emprestei, e ele ficou anos sem falar comigo.

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    2. Além do risco de te pedirem dinheiro emprestado há a inveja, que é um mal a ser evitado sempre que possível.

      Abs!

      Papai dos Investimentos
      https://papaidosinvestimentos.wordpress.com

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    3. Isso também é verdade. Falar sobre estas coisas atrai inveja. É necessário tomar cuidado e evitar ao máximo falar sobre investimentos, principalmente no trabalho.

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  6. Fala Mago!

    Verdade seja dita e doa a quem doer, mas você tem total razão.

    Eu mesmo me enquadro nessa situação às vezes mas tenho ciência disso, o problema é quando a pessoa é um ignorante total e acha que está realmente "vivendo" ao gastar tudo.

    Depois que li o livro O Homem Mais Rico Da Babilônia minha mente abriu devido as coisas tão óbvias aprendi, que quase me deu bug sobre o motivo de eu ainda não praticar o que havia lido.

    Abs!

    Papai dos Investimentos
    https://papaidosinvestimentos.wordpress.com

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    1. Tudo é uma questão de equilíbrio. O excesso de poupança também faz mal porque nos priva de muitas experiências boas. O que eu prego é planejar o orçamento considerando o aporte, de modo que dê para aportar todo mês sem passar aperto em outras áreas importantes (principalmente no lazer com a família).

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