domingo, 17 de março de 2019

Desventuras no trabalho - meu primeiro chefe

Conforme falei no primeiro post deste blog, eventualmente compartilharei com vocês algumas histórias que passei no mundo do trabalho, algumas felizes e outras nem tanto. Como hoje é domingo e já passa da hora do almoço no momento em que estou escrevendo, esta é do segundo grupo. Espero que as coisas ditas aqui sirvam de lição, pelo menos para vocês saberem como NÃO AGIR, caso algum dia se tornem chefes/gerentes/diretores/CEO/etc. Na verdade, não tem nada de impressionante na história: infelizmente, acho que é normal ver essas coisas acontecendo em vários empregos por aí.

(Conforme escrevi desde o início, vou omitir os detalhes a respeito de meu trabalho (nomes, funções, etc.) para preservar minha privacidade e integridade, bem como as das pessoas envolvidas.)

No primeiro dia de trabalho no meu primeiro emprego, eu estava muito nervoso, pois não sabia o que aconteceria, como seriam as exigências, cobranças, o relacionamento com colegas e chefes, etc. Além disso, havia aquele nervosismo natural por ser "o cara novo do escritório". Além disso, eu sabia que aquela empresa tinha fama de o pessoal sair tarde todo dia, que lá era normal trabalhar sábados, domingos e feriados, etc. 

Em suma, no meu primeiro dia de trabalho, eu estava nervoso com o  que poderia acontecer, de ir embora muito tarde, e principalmente de não dar conta das demandas. Infelizmente, em quase tudo, eu estava certo.

Assim que cheguei e fui apresentado ao meu gerente, logo vi que ele era bastante exigente, adorava fazer piadas dos funcionários (mas óbvio que você não poderia fazer piadas dele) e ficava irritado fácil (logo antes de eu entrar na sala, ele estava dando esporro em alguém). Ele me falou o que eu iria fazer, as tarefas que iria desempenhar, etc. e me mandou para a minha mesa de trabalho, sem grandes cerimônias. 

Até aí, tudo bem, pensei que se ficasse na minha e fizesse tudo direitinho ele me deixaria quieto, mas logo vi que estava errado. 

Como eu era "o cara novo do escritório" (e demorou vários meses até surgir outro), ele me colocava para fazer aquelas tarefas pequenas que qualquer um pode fazer, mas que geralmente as pessoas não gostam: abastecer o cafézinho, colocar biscoitos na mesa do café, tirar xérox para ele e para os outros funcionários, pegar assinaturas em livros-ata, levar coisas para o correio, etc. Até aí, se fosse só isso, eu acharia normal, acharia parte da "iniciação" do mundo do trabalho. O problema era que eu acumulava as funções de 3 cargos (o meu e mais 2 que estavam vagos), e era cobrado como se só fizesse 1 função e fosse facílima, sendo que nada do que eu fizesse das "funções acessórias" justificaria qualquer atraso no cumprimento das "funções oficiais". E, óbvio, eu ganhava como se só fizesse uma função. Poderia haver 3 funcionários lá, então se a empresa me pagasse, digamos, por um funcionário e meio, ela ainda estaria no lucro. 

(Mas a dura realidade quase sempre é essa: mesmo que você acumule os cargos de 3, 4, 5 pessoas, a empresa continuará te pagando como se você só tivesse 1 cargo, e ainda te dirá que você é que tem que agradecer pela oportunidade de estar trabalhando lá. Muito triste. Isso destrói mentes e destrói famílias)
      
 Eu oficialmente tinha as funções X, Y e Z, sendo que X e Y tinham prazos, e Z era, a meu ver, uma coisa mais acessória (embora fosse tratada como algo importantíssimo), e todos os prazos eram cobrados como se fosse crime descumpri-los nem que o atraso fosse de 1 dia. Para piorar, no meio do trabalho, do nada, vinha uma reclamação do tipo "a minha lixeira ainda está cheia" ou "a garrafa de café está vazia", e lá ia eu parar o trabalho para abastecer o café e esvaziar a lixeira. Essas coisas realmente me atrasavam, e acabavam me fazendo ir embora mais tarde (a minha média era sair às 19h ou 19h30, e os outros conseguiam sair lá pelas 17h30 ou 18h).

Uma vez eu tive que preparar um powerpoint para explicar como ia ser desenrolada determinada tarefa a ver com X (a que eu considerava a mais difícil das minhas funções), e fiquei até umas 20h fazendo isso, e então dei por encerrado meu  trabalho naquele dia e fui para casa, deixando para terminar no dia seguinte assim que chegasse ao escritório (indo embora às 20h eu chegaria só pelas 21h30 ou 22h em casa, por causa da diminuição dos ônibus no horário, então não queria sair mais tarde do que isso). 

A apresentação estava marcada para as 10h, e como eu chegava umas 7h30, daria tempo de terminar (bastaria mais meia hora para acabar). O problema é que surgiram várias "emergências" para resolver (para vocês terem uma ideia, eu tive que ir pegar os documentos do carro de um dos chefes numa agência de correios... grande "emergência"), quase não consegui mexer na apresentação, e quando deu umas 9h45 e o gerente perguntou se estava pronto, eu disse que ainda faltavam algumas coisas. Nossa, ele ficou vermelho de raiva, tão rápido, tão de repente, que eu achei que ele fosse morrer, ter um AVC, sei lá. Eu expliquei o que aconteceu, as coisas que me atrapalharam (inclusive a história do documento do carro), mas, sabem como é... "você tem que dar conta!" e "não interessa o que aconteceu, isso é sua obrigação!". Eu ainda tentei argumentar dizendo que havia ficado até as 20h na véspera, tentando dizer que havia literalmente feito tudo o que podia, mas aí ele respondeu, falando alto: "Tivesse dormido no escritório para terminar, então!". 

Achei aquilo tão absurdo. Como ele podia exigir que eu dormisse no escritório? E a minha vida? Mesmo que eu ganhasse hora extra (e não ganhava), jamais dormiria no trabalho. Enfim, como sou tranquilo, segurei a raiva, e apenas fiquei olhando para ele, tentando não demonstrar nenhuma emoção. Não seria prudente rebater os argumentos de um cara tão poderoso (dentro da empresa) e tão arrogante. Eu não podia arriscar perder o emprego. No fim das contas, depois desta encheção de saco e muito blá-blá-blá sobre comprometimento e vestir a camisa, e etc. a apresentação saiu, com apenas quinze minutos de atraso. Mas a partir daquele dia, ele passou a me tratar pior e, sempre que eu me dirigia a ele, ele fechava a cara, já partia do pressuposto que eu estava errado, etc.

Desde esse primeiro "esporraço" que levei, comecei a planejar minha saída da empresa. Aquilo era realmente um hospício. Apesar do salário não ser ruim, não pagavam hora extra, não faziam banco de horas, e era realmente comum trabalhar aos sábados, domingos e feriados. Eu estava saindo tarde todos os dias, era muito raro sair antes das 19h (que para mim já é bem tarde). Secretamente, fui procurando outros empregos e, quando fui chamado, pedi demissão no mesmo dia. Não cheguei a ficar um ano lá, graças a Deus.


O que se pode tirar como lição desta história que contei hoje?

 1) Por mais que seja chato, realmente pode ser melhor ficar mais meia hora e terminar alguma tarefa do que se arriscar a levar um esporro de um workaholic arrogante. Acho que hoje em dia eu teria feito assim. Teria me poupado de algum estresse e hoje realmente vejo isso como um erro meu.

 2) Não trate seus funcionários na base do grito e da intimidação. Eu, por exemplo, saí de repente e deixei os caras "na mão", tiveram que se virar para preencher as 3 funções que deixei para trás.
 
3) O funcionário que é tratado com hostilidade rende menos. Não faça isso, e trate todos como seres humanos.

4) As pequenas tarefas (fazer café, abastecer o pote com biscoitos, etc.) têm que ser divididas. Essa coisa de pegar no pé do funcionário novato perde a graça rápido, e faz mais mal do que bem.

Esse gerente pegou bastante no meu pé enquanto trabalhei por lá, e eventualmente contarei mais histórias. Para aqueles que serão chefes um dia, tentem não ser como ele.

2 comentários:

  1. Por isso fui para o serviço público, esse tipo de assédio de chefe de empresa privada é deprimente, eu vivia com gastrite e olha que minha empresa pagava hora extra e a sua nem isso...más postagem legal. abraço.

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    1. Eu entendo a sua decisão, Beto. Conheço várias pessoas que têm problemas de saúde por causa de estresses relativos ao trabalho. É uma pena que a vida no "mundo do trabalho" seja assim, porque eu acho que não precisava. Simplesmente não tem necessidade do chefe gritar com você, te xingar, te tratar com desprezo... Enfim. Que bom que você conseguiu sair e ir para um emprego que, me parece, é mais tranquilo. Obrigado pelo comentário!

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