quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Reflexões de fim de ano

 Saudações, confrades! Espero que tenham tido um bom Natal!


~Season finale post~


O ano de 2020 ficará registrado como um dos mais bizarros anos de nossa estranha era moderna.

Não vou falar sobre a pandemia e nada relativo ao assunto,  porque é muito polêmico e costuma fazer o lado emocional de muita gente falar mais alto e não quero esse tipo de discussão aqui, pois  não leva a nada.

Vamos às minhas reflexões sobre 2020:

- Pela primeira vez tive a experiência de trabalhar em regime de home office. Não gostei, sempre achei que fosse curtir mais, porque realmente é muito bom não ter que se deslocar até a firma, mas, pelo menos onde eu trabalho é complicado, porque muitas coisas só são resolvidas presencialmente, e muitas demandas que os chefes passam por whatsapp nem tem como resolver de casa, fora o estresse e a ansiedade que isso provoca: parece que como você está trabalhando na "moleza" de casa, o chefe fica mais impaciente e quer que qualquer coisa seja resolvida em questão de minutos... e ao mesmo tempo, muita gente também aproveitou o home office para se encostar, então eu entendo um pouco o lado dos chefes. Talvez em outros empregos e profissões o home office seja mais legal e melhor de trabalhar, mas já vi que, pelo menos por enquanto,no meu caso, não é assim tão bom.

 Em resumo, fiquei indo pro trabalho quase como se estivesse tudo normal e acho que trabalhei o dobro do que trabalhei ano passado, sem receber nada a mais por isso. 

É a vida.  

(Pelo menos isso é mais combustível para continuar estudando, me qualificando e perseguindo outra carreira - e a Tranquilidade Financeira, é claro).

- Uma coisa boa deste ano foi que consegui ler mais livros que no ano passado. Por exemplo, reli a trilogia do Senhor dos Anéis. 

- Graças a Deus consegui continuar adiantando as prestações do meu financiamento imobiliário, e comprei mais alguns anos do prazo.  Agora cada prestação não tem quase nada de juros, e por isso o principal está sendo abatido mais rápido. Pelos meus cálculos, conseguirei quitar o financiamento por volta de junho de 2021, quase 1 ano antes da minha previsão inicial!  

- em relação ao blog, a participação dos leitores aumentou bastante, com comentários em todo post feito em 2020. Além disso, as visualizações triplicaram em relação ao fim de 2019,  embora eu tenha escrito menos no blog (25 posts em 2020, contando com este, contra 36 em 2019). Muito obrigado a todos os meus leitores!

Em 2021 eu espero:

- conseguir voltar a correr (não consegui esse ano...);

- conseguir ler ainda mais livros do que em 2020;

- finalmente começar a aportar em ações e FIIs, assim que quitar meu financiamento. Com isso irei construindo minha Tranquilidade Financeira (TF);

- continuar meus estudos para conseguir, se Deus assim permitir, mudar de profissão;

- e, acima de tudo, quero me dedicar ainda mais à minha família. 

Enfim, meus colegas de blogosfera e companheiros de jornada rumo à TF, desejo a todos um feliz Ano-Novo, com muito  sucesso e saúde. Que consigamos todos nos tornar um pouco mais livres e independentes e,  mais importante, que consigamos nos  tornar pessoas cada vez melhores. 

Lembrem-se sempre: fora da caridade não há salvação! 

Forte abraço, amigos, fiquem com Deus!  

Feliz 2021!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Ideias de negócios - vender pizza

 

Saudações, confrades!

    Dando continuidade à minha série sobre pequenos negócios, hoje vou falar sobre pizzarias.

Mas primeiro, para quem não leu os outros posts da série, aqui vão os links:

- Loja de Penhores

- Jornaleiro


Agora vamos ao post!

    Focando em pequenos negócios no ramo das pizzarias, já vi venderem em carrinhos (no estilo de carrinho de cachorro quente), já vi pessoas transformando as garagens de suas casas em mini-pizzarias e também já vi venderem pizzas no porta-malas do carro. Claro que deve haver outras maneiras criativas de se ter uma pequena pizzaria de baixo custo, mas vou me ater a estes 3 modelos.

   Não importa o modelo escolhido, acho que quem quiser se arriscar neste ramo deve primeiro aprender a fazer muito bem uma pizza, de sabores variados, ao menor custo possível e no menor tempo possível, mas sem terminar com um produto de baixa qualidade.

   Para atingir um custo baixo de produção,  deverá primeiro pesquisar os fornecedores de ingredientes, verificar a disponibilidade de atacados em sua região, o espaço que você dispõe para armazenar os ingredientes (para poder comprar em quantidades maiores e com isso conseguir preços mais baixos para diminuir o custo unitário de cada fatia, além de pagar menos fretes). Também é necessário conhecer a legislação municipal, para evitar problemas que seriam facilmente evitáveis (por exemplo, caso seja necessário ter uma autorização da prefeitura para o seu carrinho circular em determinados lugares)

Dito isto, vamos à análise:


1) Carrinho de pizza - Não é muito comum, pelo menos na minha experiência pessoal. Os poucos que vi vendiam fatias ou mini-pizzas. A vantagem aqui é a mobilidade, então é possível ao vendedor ir se deslocando pelo bairro conforme o movimento. Por exemplo, pode parar próximo a empresas na hora do almoço e na hora da saída do expediente, e entre esses horários rodar por outros locais movimentados, como bancos, cartórios, pontos turísticos, escolas, etc. Vi no Mercado Livre os preços de alguns destes carrinhos, e o mais caro que encontrei custava R$ 6.600,00, e o mais barato era R$1.334,00, cada um com suas vantagens e desvantagens. 

Um carrinho grande como o da primeira foto tem a vantagem de possibilitar uma produção maior no próprio carrinho e ter locais organizados para estocar ingredientes e temperos. Tudo isso dá uma imagem melhor ao negócio e pode atrair mais clientes. Vejo como desvantagem o fato dele provavelmente consumir mais gás (custo maior de operação) ser mais pesado e com isso talvez ser mais difícil de manobrá-lo quando estiver se deslocando na rua (provavelmente a tendência de quem usa um carrinho desses é ficar em um ponto fixo, o que tira a vantagem da mobilidade do negócio), além de necessitar de um espaço maior de estacionamento (lembre-se que você precisa deixar o carrinho em algum lugar quando não estiver trabalhando, e quanto mais espaço ele ocupar, mais caro tende a ser esse custo de "estacionamento". Se você tiver espaço em casa, como uma garagem grande, melhor). O carrinho pequeno da segunda foto tem a desvantagem de ter menos espaço para produção e armazenamento de ingredientes, mas por outro lado é mais leve, tem maior mobilidade (então você pode ir se deslocando para onde tiver mais público conforme o dia vai passando) e é mais fácil de guardar. Quem quiser entrar neste ramo vai ter que ponderar estas vantagens e desvantagens para decidir que tipo de carrinho irá comprar.

De qualquer maneira, o investimento inicial não é muito alto e acredito que não demoraria muito para recuperá-lo e começar a ter lucro.



Esse foi o mais caro que vi

Esse foi o modelo mais barato que encontrei no ML

Todos os que vi eram aquecidos com bujão de gás. Acho que seria difícil ser de outra forma. 

Custos do negócio: 

- Investimento inicial: carrinho + bujão de gás + estoque inicial + "uniforme" (roupa para trabalhar, para dar um ar mais profissional e inspirar confiança para os clientes) + refrigerador/freezer (você vai ter que ter um ou mais refrigeradores/freezers em casa separados para isso, para não misturar seu estoque de pizzas e ingredientes com a comida que você consome em casa, caso você queira ter um estoque grande) + isopor para bebidas

- os ingredientes para fazer as pizzas (massa, queijo, molho de tomate, temperos, calabresa, atum,  presunto, etc.)

- Bujão de gás e peças para instalação do bujão (eventualmente algumas peças têm que ser trocadas, como a conexão entre o bujão e a chapa/forno do carrinho, o sifão, etc.)

- Bebidas diversas (basicamente refrigerantes e água) e gelo. Eventualmente o isopor para armazenar as bebidas precisará ser trocado também.

- Guardanapos, pratinhos descartáveis, canudinhos (se não for proibido em sua cidade)

- produtos de limpeza para o carrinho (você terá que mantê-lo sempre limpo, principalmente para não espantar os clientes e também para não ter problemas com a vigilância sanitária)

- custo para estacionar o carrinho (se você não puder guardá-lo em casa - mesmo que haja espaço nem sempre será conveniente deixar na garagem ou em um quartinho de casa, se você morar longe de onde houver público para comprar suas pizzas, então você terá que encontrar algum lugar para "estacionar" e provavelmente pagar uma taxa - isso é algo a ser pesquisado antes de iniciar o negócio, perguntando para outros comerciantes, como pipoqueiros, vendedores de cachorro quente, etc.)


Outra vantagem do carrinho de pizza é que se tudo der errado, é relativamente fácil encerrar o negócio e passar o carrinho adiante, principalmente se ele estiver em bom estado.


2) Pizzaria "de garagem" - há alguns anos havia uma assim na minha rua, mas infelizmente fechou. Uma pena, era uma pizza boa e o preço era ligeiramente menor que o das grandes redes. Não sei se o dono vivia disso ou se só tirava uma grana extra, mas certamente os custos  eram bem baixos (o custo fixo talvez fosse inexistente, caso o imóvel fosse próprio). Aliás, entendam "garagem" aqui em sentido amplo, pode ser qualquer cômodo da sua casa que tenha algum acesso à rua, nem que seja sala com uma janela grande (já vi uma casa que fez um boteco assim, transformando a janela da sala em balcão e isolando a sala do restante da casa) 

A dificuldade deste modelo é que você vai sacrificar a garagem (ou algum outro cômodo) da sua casa (você não vai poder estacionar o carro na pizzaria), e você muito provavelmente vai depender mais de delivery do que da clientela local (não sei se daria para ter um lucro razoável mesmo com todos os seus vizinhos frequentando a sua pequena pizzaria). Felizmente com os atuais aplicativos de entrega você não precisa contratar (CLT) entregadores, o que ajuda a manter os custos de entregas baixos.  Uma vantagem que eu vejo neste modelo é que você tem mais espaço e pode conseguir vender outras coisas além das pizzas (tortas, bolos, etc.) que não cabem em um carrinho.

Custos do negócio:

- Investimento inicial: obra para adaptar a garagem (no mínimo construir um balcão de atendimento [caso queira atender pessoas no local ao invés de funcionar 100% delivery], algumas adaptações hidráulicas, elétricas e da instalação de gás [para poder operar os equipamentos], troca de piso e de azulejo das paredes para facilitar a limpeza e evitar problemas com a vigilância sanitária) + estoque inicial + forno para fazer as pizzas (pode até não ser um forno profissional específico para pizzas, mas você peovavelmente não vai fazer no mesmo fogão/forno onde cozinha as coisas para sua família)  + estufa para guardar pizzas prontas + refrigeradores para guardar bebidas geladas e ingredientes ou pizzas prontas + material de publicidade (ao contrário de um carrinho que pode ser deslocado por aí e visto por todo o bairro, a sua casa não vai sair do lugar, então você precisará distribuir flyers, ímãs de geladeira, etc. com a sua propaganda para se tornar conhecido) + mesas e cadeiras para os clientes (se você quiser atender pessoas no local, é claro)

- ingredientes das pizzas, bebidas, etc.

- caixas para entregar as pizzas (de preferência personalizadas com a logomarca de sua loja, para dar um ar profissional e inspirar confiança, além de também servir para divulgação)

- energia, água e gás (não vai ter jeito, esse custo vai se misturar com a conta de luz, gás e água da sua casa. Você precisará estimar o quanto do valor destas contas é em decorrência do seu negócio e colocar isso no seu cálculo para definir o preço das pizzas)

- Produtos de limpeza para manter a cozinha e o local de atendimento sempre limpos e desengordurados (ajuda a diminuir o risco de incêndios)

- Dedetização e desratização da casa toda (outro custo que vai acabar se misturando com seu custo pessoal da casa)

- eventuais manutenções dos equipamentos, trocas de peças, etc. (também para diminuir o risco de incêndio)

Por causa do custo inicial mais alto, a pizzaria "de garagem" é um negócio bem mais arriscado do que ter um carrinho de pizza. A vantagem é que sua escala de produção pode ser maior, e o alcance pode ser maior também (através do delivery). Por outro lado, acho que há mais riscos com a vigilância sanitária e operar esse negócio aumenta o risco de incêndio na sua casa (daí a importância de manter tudo sempre limpo e arrumado). Por causa disso eu não recomendo a ninguém abrir esse tipo de negócio, acho que vale mais a pena alugar uma instalação comercial adequada para isso ou então focar no carrinho de pizza mesmo. (Nem sei se abrindo uma "pizzaria de garagem" você pode acabar tendo problemas com o corpo de bombeiros... será que podem interditar sua residência caso a parte "pizzaria" não passe na inspeção? Além disso, há o risco de vizinhos invejosos [e incomodados com o barulho] te denunciarem para a vigilância sanitária)

3) Vender pizza no porta malas do carro - já vi isso em alguns lugares, e as que eu vi eram bem baratas (a mais barata que vi era R$ 10,00) mas nunca comprei, então não faço ideia da qualidade que é possível alcançar com este preço.

Não é um vendedor de pizza, mas de café. Coloquei a foto como exemplo porque não encontrei uma de um cara vendendo pizza, mas vocês entenderam o que eu quis dizer. Sendo um trabalho honesto, vale tudo para se virar. O senhor vendedor de café na foto tem todo o meu apoio, torço por ele.

A vantagem aqui é a mobilidade, então você pode estacionar seu carro onde houver mais movimento (saídas de shows, por exemplo). Me parece que esse tipo de empreendimento combina mais com a noite, até porque tem a facilidade de você ir para qualquer lugar com as pizzas (afinal é o seu carro, que você vai dirigindo, você não vai ficar empurrando ele por aí que nem o carrinho de pizza), então pode se posicionar em locais estratégicos, como saídas de boates, shows, etc.

A vantagem aqui são a excelente mobilidade e os custos menores para iniciar o negócio  - se você já tiver um carro, claro - que serão apenas os ingredientes do estoque inicial e talvez alguns equipamentos e utensílios de cozinha que forem necessários, além de embalagens para guardar as pizzas (as que eu vi pareciam pizzas de padaria, guardadas em pratos de isopor e enroladas com plástico filme).

Uma coisa que eu não sei se é possível é comprar um pequeno forno elétrico e fazer uma ligação no carro para ele funcionar e você  poder esquentar as pizzas no local (se alguém souber se dá para fazer, comente aí).  Ou então comprar um pequeno fogão a gás (daqueles que você acende com latas de gás butano, tipo mini fogão de acampamento) para poder vender as pizzas aquecidas na hora. Se não fizer isso, você só vai vender "pizzas frias" que as pessoas irão levar para esquentar em casa e com isso pode perder clientes, porque eu acho que a graça para a maioria é comer no local. Mas posso estar enganado, pois não sou do ramo das pizzas.

O problema desse modelo  é que me parece que ele espanta alguns clientes por questão da higiene - pelo menos para mim as pizzas guardadas num porta-malas de um carro não são muito atrativas. Além disso, se você não guardar as pizzas direito e rodar durante o dia, elas podem estragar por conta do calor. Enfim, este modelo de pizzaria me parece mais adequado como um bico para ganhar uma grana extra do que um negócio para realmente viver dele. Mas deve ser um bico bom: você fica de olho nos shows que vão acontecer na sua cidade, prepara as fornadas e estaciona na saída. Pode dar um bom faturamento. Ou então vê os dias de maior movimento das boates e aparece lá com seu carro e suas pizzas. Se alguém já teve essa experiência e sabe se isso vale ou não a pena, por favor comente aí.

Enfim, confrades, está aí minha análise do pequeno negócio do vendedor autônomo de pizzas. Em minha pesquisa, acabei descobrindo este site - forumdepizzas.net - que tem dicas mais detalhadas feitas por quem realmente trabalha com isso. Então se estiverem interessados, deem uma conferida lá. Aqui  está um link de uma discussão específica sobre venda de pizzas no carro

Algum leitor é vendedor de pizza? Consegue viver deste negócio? Quais são suas dificuldades? Comente aí!

Forte abraço, fiquem com Deus!

 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O dinheiro na idade média

 Saudações,  confrades 

        Hoje vou escrever bem resumidamente sobre o uso do dinheiro na idade média, conforme descrito pelo historiador Jacques Le Goff, autor de A Idade Média e o Dinheiro (além de vários outros livros sobre a idade média - para quem gosta do assunto, recomendo!), livro que serviu de base para este post. Resolvi escrever este artigo a título de curiosidade, porque gosto do assunto (sou colecionador de moedas e aprecio a arte numismática), e também  porque pode servir para enriquecer um pouco a cultura de meus leitores.

   



    Como é um assunto longo e detalhado, ao invés de escrever o post na forma de um texto como normalmente faço, vou colocá-lo na forma de vários tópicos dos assuntos que julguei mais interessantes do livro:

- Durante boa parte da idade média, a riqueza era representada principalmente por terras. Demorou um pouco até que o uso de moedas ressurgisse (com a queda do império romano, as moedas  "sumiram" por causa do relativo caos social da época, e por algum tempo após seu "ressurgimento", as pessoas ainda usavam algumas das moedas romanas que haviam sobrado, porque os conhecimentos acerca de cunhagem de moedas não foram aprendidos pela vasta maioria das tribos bárbaras que destruíram o império romano). 

- Como a vida era fortemente rural, muitos camponeses podiam passar a vida inteira praticamente sem nem ver moedas, porque viviam pela lavoura, e até os impostos aos senhores feudais eram pagos em víveres. Uma pequena parte que era paga em dinheiro, e mesmo assim não era em todo lugar que isso ocorria.

- Naquela época as moedas eram usadas principalmente pelos comerciantes (por conta da necessidade de transportar riqueza de maneira portátil e cômoda - o escambo é inviável para o comércio em médias e  grandes distâncias) e pelos nobres (mas, como eu disse antes, a riqueza vinha principalmente da posse de terras, e também de imóveis). 

- O uso do dinheiro foi sendo impulsionado por causa do aumento das populações das cidades, porque nelas seria inconveniente pagar as despesas em víveres, tendo em vista que não havia espaço para todos plantarem.  Assim, os habitantes das cidades adquiriam comida, bens e serviços em troca de dinheiro assim como é hoje. Estima-se que cerca de 60 a 70% dos rendimentos dos habitantes da camada mais pobre das cidades eram gastos para comprar comida (principalmente grãos). Outro motivo para o aumento do uso do dinheiro foi o ressurgimento do comércio.

- a oferta monetária era bastante dependente do comércio, principalmente do comércio exterior - como o dinheiro era 100% físico e lastreado em metal precioso (moedas de ouro e de prata), quanto mais exportações para outros países, mais moedas entrariam na economia local. Essa lógica também valia para o comércio interno, de modo que a oferta monetária poderia ser bastante diferente entre duas cidades do mesmo reino, e creio que sua localização influenciava bastante nessa questão (cidades próximas ao mar ou a outros tipos de acesso a rotas comerciais tenderiam a ser mais ricas, por exemplo, porque teriam um comércio bem mais forte)



- além da oferta monetária, o crescimento do comércio também provocava aumento da demanda por moedas. Como o processo de fabricação de moedas era bem mais demorado que hoje em dia (cada moeda era cunhada individualmente, martelando-se uma chapa do metal que formaria a moeda entre 2 "carimbos", um para o verso e outro para o anverso da moeda, e havia vários trabalhadores envolvidos na produção: o moedeiro em si, o cortador de chapas, o cara que fazia as chapas, o fiscal da qualidade das peças produzidas, etc.),  também surgiu a necessidade de moedas de maior valor  (moedas de ouro ou de prata maiores, com mais metal, etc.) para que fosse conveniente carregar quantias maiores de riqueza na estrada e também para comprar bens mais caros (terras, casas, jóias) com menos moedas, para ser mais prático.

Era assim que as moedas eram feitas, uma por uma, marteladas entre 2 carimbos de bronze ou ferro e posteriormente de aço. Não existia uma "padronização"  das moedas da forma como entendemos hoje, então havia uma margem bem ampla de erros  tolerados na fabricação de moedas. É por isso que as moedas medievais que ainda existem são tão diferentes uma da outra, mesmo sendo do mesmo país e da mesma época. Esse processo de fabricação só era possível porque ouro, prata e cobre são metais bem macios.

- Como uma coisa puxa a outra, o aumento do uso do dinheiro fez surgir uma necessidade também crescente por moedas de baixo valor, que eram chamadas de "moedas de esmola", "meios- denários", "óbolos" (lembram da parábola d'O óbolo da viúva?) ou "moedas negras" (como eram feitas de cobre, logo ficavam escuras - o cobre oxida em contato com o ar atmosférico) e eram usadas para as pequenas despesas do dia-a-dia (o autor do livro menciona que uma moeda de cobre era o preço de 1 pão em muitas cidades na época) e também para literalmente dar esmolas (o rei São Luís, da França, foi um célebre distribuidor de parisis - o "denário da esmola")


um exemplar da moeda "Parisis" - o denário da esmola


- as moedas recebiam o selo da autoridade local. O selo era uma prova de que a moeda era verdadeira e que seu teor de metal precioso era o definido em lei, e por isso uma moeda teria um valor intrínseco superior ao valor do metal precioso nela contido (até porque a oficina moedeira tinha que ter lucro, e no caso do rei era daí que vinha a "senhoriagem", que era a diferença entre o valor de face da moeda e o valor do metal nela contido - esta diferença é até hoje uma das fontes de receita pública)

- Nem sempre o rei tinha o monopólio da emissão de moedas - às vezes essa autorização era vendida para oficinas particulares, ou era delegada a nobres, de modo que cada condado/ducado/feudo/cantão poderia ter sua própria moeda em algumas nações europeias - isso por um lado dificultava um pouco o comércio entre nações, por conta da variação cambial (provavelmente o câmbio devia ser 100% baseado no peso das moedas, mas o teor de metal precioso devia variar bastante entre as moedas de cada local, de modo que podia haver distorções caso o comerciante não conhecesse o da moeda que estivesse avaliando na hora. - talvez houvesse moedas que não eram bem aceitas em determinados locais, por exemplo)

- além das moedas, também eram usados como forma de pagamento  lingotes de metais preciosos (principalmente de prata).  Tais lingotes também recebiam selos de autoridades que atestavam seu teor de pureza. 

- Obviamente, falsificações já existiam, e além das moedas falsas, as pessoas encontravam outros jeitinhos de burlar a lei: cortavam ou limavam as bordas das moedas para ir juntando os pedaços e eventualmente derrete-los e usar o metal para fabricar outras moedas ou lingotes; ou juntar todas as moedas em um saquinho e ficar agitando o saco para que o atrito entre uma moeda e outra funcionasse como uma lima, acumulando o pozinho de ouro ou prata no fundo do saco até que valesse a pena derreter o pó acumulado e transformá-lo em um lingote ou em outra moeda. Essas malandragens explicam ao menos em parte o porquê da maioria  das moedas medievais  que sobreviveram até os dias de hoje estarem tão danificadas. Aliás, é por causa deste golpe de limar ou cortar as bordas das moedas que até hoje elas têm bordas serrilhadas ou com alguma marca, mesmo que não sejam mais de ouro ou prata.


A  título de curiosidade, a última moeda de prata que circulou no Brasil foi a de 5.000 réis, de 1936, que tinha o rosto de Santos Dumont no verso e uma asa aberta no anverso. Ou seja, historicamente falando, não faz tanto tempo assim que deixamos de usar moedas de verdade - moedas de metais preciosos.



E vocês, caros leitores, o que acham do assunto? Gostam de Numismática? Gostam de História? Eu gosto de estudar estes detalhes da vida cotidiana da humanidade de outros tempos. Ajuda a entender algumas coisas de hoje em dia, além de nos dar perspectiva do longo caminho percorrido para chegarmos até aqui. 

Se souberem de alguma outra curiosidade sobre o dinheiro na idade média, comentem aí! 

Forte abraço, fiquem com Deus!