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quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A inspiradora história de Dwarf Fortress

Dwarf Fortress é um jogo misto de estratégia com RPG e com administração de recursos relativamente obscuro (mas hoje em dia nem tanto)  que conquistou uma razoável comunidade de fãs na internet.


Como o nome sugere,  basicamente é um jogo ambientado em um mundo de fantasia medieval em que você controla uma pequena tribo de anões, a  qual começa com apenas uma carroça de recursos e vai aos poucos construindo uma fortaleza, enquanto coletam recursos, fabricam coisas e se defendem de monstros. 

O carro-chefe do jogo é a construção de fortalezas e cidades subterrâneas, bem como sua exploração.

O jogo é "feio", pois não possui gráficos (não tem sprites): tudo na tela é desenhado somente com caracteres ASCII. Uma escolha deliberada dos criadores, para não "perderem tempo" editando gráficos e adaptando o programa às animações necessárias, e também para que o jogo não ficasse lento, tendo em vista o gigantesco volume de variáveis, interações e funções rodando.

O visual do jogo é assim, todo "escrito", só tem caracteres


Além disso, jogo é extremamente complexo, com muitas situações possíveis, cada personagem sendo extremamente detalhado, desde status comuns como saúde,  força e defesa, até o nível de gostos pessoais (isso em um simulador de construção de fortalezas, com potencialmente milhares de personagens coexistindo e sendo gerenciados pelo jogador), com geração de mundos, geração de mitologia dos mundos, coleta de recursos, sistemas de geração de acidentes e desastres, sistema de magia, sistema de profissões, sistema de combate fisico, diplomacia, espionagem, etc, com todos os subsistemas necessários para que tudo isso funcione. 

E ainda por cima tem o modo "Fortress", com foco na construção de fortalezas e coleta/administração de recursos, e o modo "Adventure", com foco mais no lado RPG, de exploração e luta.

Notem os menus, acho que é do modo Adventure


Um mapa de uma ilha gerada aleatoriamente no jogo

Cada vez que você joga, tudo o que você faz no mundo que foi gerado aleatoriamente para aquela partida influencia não só nos aspectos físicos/geográficos, mas também na própria história e mitologia daquele mundo (também geradas aleatoriamente). E é muito fácil perder pois há muita complexidade envolvida. E como tudo o que você faz influencia o mundo do jogo, é possível explorar as ruínas de uma fortaleza que você construiu meses antes em uma partida perdida. 

Notem que perder é uma parte importante deste jogo.


Tudo isso foi programado ao longo de mais de 20 anos (e os trabalhos ainda estão em andamento), desde 2002, com mais de 700.000 linhas de código em C e C++, por apenas duas pessoas, os irmãos Tarn e Zach Adams.

Tarn cuida da programação e Zach cuida da lore do jogo.

O que me surpreende nesta história é que ambos estão trabalhando juntos há mais de 20 anos dedicando quase que 100% de seu tempo a este projeto e, há até pouco tempo,  viviam somente de doações dos fãs. 

Chegaram até mesmo a recusar uma proposta de US$ 300,000.00 para licenciar o nome "Dwarf Fortress" (que, convenhamos, é um nome comercialmente muito bom, com grande potencial de venda), pois não abrem mão de sua magna opus. 

E acredito que tenham recusado outras ofertas, não só de dinheiro, mas também de trabalho em grandes empresas de jogos.

Por muito tempo se mantiveram dissociados de empresas de jogos, em parte por conta de Tarn querer se dedicar a programar, e não a "gerenciar projetos", e em parte (creio) para manter sua liberdade criativa e controle total de sua criação. Só recentemente se associaram a uma empresa relativamente pequena focada em indie games chamada Kitfox Games, e mesmo assim, mais por questões relativas a saúde: sendo associados eles teriam mais acesso a planos de saúde e poderiam se cuidar no caso de tratamentos de doenças graves. Através dessa parceria, foi lançada uma versão comercial de Dwarf Fortress na Steam, esta com gráficos, para tornar o jogo mais palatável para audiências maiores (imagino que sacrificando vários recursos do jogo para conseguir rodá-lo com gráficos). 

(Só espero que a empresa não sacaneie os criadores do jogo, através de cláusulas escusas e obscuras no contrato, como outras já fizeram)

A versão comercial me parece ter sido um sucesso de vendas, com mais de 500.000 cópias vendidas até o momento, o que deve colocar Tarn e Zach em uma situação bem mais confortável.

Eu sinceramente acho esta uma história inspiradora, principalmente em relação à dedicação dos criadores, sendo também uma valiosa lição de auto-superação e criatividade: literalmente criar algo praticamente "do nada", partindo somente de uma idéia, com muito esforço próprio e improvisando com os recursos e ferramentas disponíveis. 

Um verdadeiro exemplo da força da vontade e da criatividade humana.

Leiam uma entrevista com o programador do jogo neste link.

E, abaixo, um pequeno "documentário" da história do jogo:


E, como não podia deixar de faltar, aqui está o link para o site do jogo, onde o mesmo pode ser baixado de graça: Bay 12 Games. No site da empresa também há um link para fazer doações via PayPal. 


Eu acompanho esse jogo faz uns dois anos, e já joguei algumas vezes. Imagino que se estivesse em outra fase da vida teria ficado "viciado". Ainda não tive tempo (e nem saco) para me acostumar com a ausência de gráficos e nem com a complexidade do jogo, mas mesmo assim admiro a história por trás da criação dele. Talvez eu compre a versão da Steam, ou baixe algum dos (vários) mods que foram feitos para incluir gráficos no jogo.


Podemos tirar algumas lições valiosas da história da criação de Dwarf Fortress, por isso quis compartilhá-la com vocês. 


Forte abraço!

Fiquem com Deus!





segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Eu prefiro receber Restituição do que pagar mais IR

 

Saudações,  confraria da melhor blogosfera do nosso Brasilzão de Deus, a nossa querida Terra de Santa Cruz!


Uma coisa que me chamou muito atenção certa vez (faz alguns meses) enquanto lia determinado fórum na internet, foi quando me deparei com um usuário comentando que o ideal era que, ao fim da declaração anual do IRPF, você terminasse com um saldo a pagar de imposto, e não de imposto a ser restituído.

A explicação era a seguinte: 

1) se você está ganhando uma restituição, isso significa que pagou impostos a mais durante o ano (praticamente emprestou dinheiro para o governo), e então este lhe devolveria este imposto a mais após isto ser apurado ja declaração anual, gerando a restituição.


2) por outro lado, se você termina a declaração tendo que pagar impostos, isso significa que você pagou menos do que deveria ao longo do exercício fiscal (praticamente pegou dinheiro emprestado com o o governo) e então restituiria esse valor ao governo (pagaria sua dívida).


3) na hipótese 1, você deixou de consumir e/ou de aportar por conta dos impostos a mais, e deixando de aportar, você perdeu alguma coisa de juros compostos no futuro. Ou deixou de ter lazer, comer melhor, etc. E o valor devolvido não é exatamente corrigido (acho que é corrigido pelo IPCA, e concordo que o IPCA não é um bom medidor da inflação,ao menos não hoje em dia), então há um prejuízo nesse negócio.


4) na hipótese 2, você consumiu e/ou aportou a mais, e ganhará alguma coisa a mais de juros compostos no futuro (supondo que ao devolver o empréstimo para o governo a correção não seja exata)


Matematicamente até que faz sentido, mas eu pessoalmente não acho que a realidade seja tão simples e fria assim.

Eu pessoalmente considero que todo imposto que eu pago é um Custo Afundado (dinheiro que perdi, já era, não tem mais volta). 

Então para mim é indiferente se eu paguei mais do que deveria: eu vou ficar muito feliz na restituição, pois o que vier é lucro, e também não me importa se o governo está me pagando com meu próprio dinheiro, pois ele poderia simplesmente não pagar. Então,  no frigir dos ovos, ainda que não esteja realmente ganhando nada, estou deixando de perder.

Isso fora o efeito psicológico benéfico de ver o dinheiro caindo na conta. 


Na hipótese contrária, se eu tivesse que preencher uma GRU e pagar ainda mais ao governo após a declaração anual do IR, eu pessoalmente não me sentiria nemum pouco feliz , eu não pensaria que "mwa ha ha ha,  lesei o governo, peguei dinheiro emprestado e só agora estou devolvendo!" -  eu ficaria é muito chateado de, depois de tudo, ainda ter que emitir e pagar uma GRU, nem que fosse de 20 reais (e 20 reais pagam 1 almoço meu,  então é dinheiro)

Ou seja, para mim, o malefício psicológico de ter que restituir imposto ao governo supera muito qualquer ganho de juros compostos que eu poderia auferir por ter "pego dinheiro emprestado com o governo".

A vida, os fenômenos humanos sociais não são matematicamente perfeitos, a vida não pode ser resumida numa planilha de excel.

Se fôssemos viver assim, que nem numa planilha de custos, talvez nunca sairíamos da casa de nossos pais, porque é caro morar por conta própria. Ou não faríamos comida em casa porque teoricamente um restaurante consegue fazer comida de forma mais eficiente, do ponto de vista dos custos, do que uma pessoa fazendo comida sozinha por conta própria. E por aí vai.


Enfim, o efeito psicológico de receber a restituição do IR, na minha opinião supera os hipotéticos juros compostos que deixo de ganhar ao não  "pegar dinheiro emprestado com o governo".

O que vocês acham disso,  confraria?


Forte abraço!

Fiquem com Deus!

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Aportes e Atualização Patrimonial - abril de 2023 [ e lá vamos nós]

 Saudações, confrades!

Abril acabou e com isso já vivemos um terço do ano de 2023 de Nosso Senhor! Está passando muito rápido!


Em abril tive muitos gastos extras e novamente precisei lançar mão de minha RE. Espero que em maio eu não tenha tantos gastos extras assim e que consiga repor alguma coisa à RE, nem que seja somente os juros. Mais tarde, pretendo usar pelo menos uma parte do dinheiro das férias e do 13º para este fim. Por conta disso, o aporte desse mês foi baixo, e apenas em 1 ativo, conforme escreverei adiante.

Aumento acumulado de 198,4% no patrimônio total, desde o início da série histórica em junho de 2021. 

2023 até o momento tem sido um ano de pequenas quedas e de crescimentos modestos, motivados pelo pessimismo de nosso mercado acionário e de FIIs e principalmente por vários gastos extras com minha família e com minha casa que venho tendo desde janeiro. Graças a Deus tenho minha RE! Mesmo assim, em maio apertarei um pouco os cintos.

Este mês registrei um aumento em relação a março (prêmio de consolação!), mais por conta da leve alta no preço da maioria das ações e dos FIIs de minha carteira. A RE diminuiu em relação ao mês anterior, e a carteira no exterior também, por conta da pequena queda da cotação do dólar.


Vamos ao aporte do mês:

(Como sempre, nenhum ativo mencionado no blog e/ou em seus comentários é uma recomendação de compra! Não se orientem por anônimos e nem por "influencers" da internet! Estudem por conta própria para trilharem seus próprios caminhos!)


Ações - este mês o único aporte foi em Eztec, empresa do ramo de construção civil que tem amargado quedas na cotação de suas ações por conta da alta da taxa selic (juros altos prejudicam setores que dependam muito de empréstimos e financiamentos, como é o caso da construção civil). Consegui comprar a R$ 12,58. 

No geral, as ações deram uma subida em abril. Os próximos aportes priorizarão as que estiverem mais defasadas. 

Este mês também recebi bonificação da empresa Romi S/A, do segmento industrial, na proporção de 1 ação para cada 10 possuídas. Às vezes eu considero que receber bonificações é melhor do que receber dividendos!


Agora Eztec é a ação com maior participação na carteira, desbancando a Engie!


FIIs - sem aportes este mês, a carteira permanece com 16 FIIs. Se eu for aportar em somente um ativo em maio, provavelmente será em um FII da carteira, provavelmente o FIIP11B, que é o que está mais defasado no momento (lembrando que estou deixando o HGRE na geladeira, por conta da vacância crônica)




Exterior - sem aportes no mês. A carteira permanece a mesma, com 8 stocks e 9 REITs. Sinceramente, não sei quantas empresas e nem quantos REITs pretendo ter na carteira, mas não acredito que eu vá ter tantas quanto na carteira de ações brasileiras, por exemplo. Acho que vou manter a meta que tracei lá em janeiro/fevereiro do ano passado e ficar com uma carteira no exterior de 17 stocks e 17 REITs, mas mantendo uma proporção de 75% stocks / 25% REITs (por conta, principalmente, do absurdo imposto de 30% que incide sobre dividendos no exterior). Usei o câmbio a R$ 4,99 para calcular os valores para esta atualização patrimonial:


Renda Passiva - Mais um prêmio de consolação: a renda passiva recebida em abril foi de 8,4 coroas, das quais 1 foi oriunda do exterior. 

Este mês, recebi dividendos e JCP:

no país - das empresas Panvel, Romi, Porto Seguro, B3, Tupy, Itaú e Bradesco.

no exterior - Coca-Cola, Gladstone Commercial, Phyisicans Realty Trust, EPR Properties, Stag Industrial, Iron Montain e Realty Income Corp.


A renda passiva acumulada (34 coroas) já superou a metade da renda passiva total recebida em 2022 e foi quase o quádruplo da recebida em 2021. Aos pouquinhos a bola de neve vai crescendo! 



Tudo indica que em maio terei um novo recorde de renda passiva, provocado principalmente pela Grendene, que vai distribuir seu gordo caixa na forma de dividendos, a incríveis R$ 1,11 por ação!


O patrimônio total da "Mago S/A" ficou assim distribuído:



Generalidades 

- em abril procurei me manter ao máximo longe de notícias, tanto do Brasil como do mundo, para não me estressar. Pelo visto consegui, pois não tenho muito o que comentar sobre isso neste espaço aqui!

- abril foi um bom mês de estudo para concursos. Ainda longe do que considero ideal, mas foi um bom mês de qualquer maneira (e acho que nem seria possível atingir esse "ideal" na minha fase atual)

- consegui superar minha meta de posts: em abril foram 3. Obrigado a todos os que comentaram neles! E obrigado aos (atualmente) 24 seguidores do blog!

- Conforme escrevi na última atualização patrimonial, passei por estresses horríveis no trabalho em março, que contribuíram para reforçar em minha mente que devo estar preparado para pedir demissão a qualquer momento. Houve um fim de semana que fiquei literalmente me segurando para não pedir demissão na segunda-feira seguinte... Tenho pesquisado avidamente por trabalhos que poderia exercer de forma autônoma, pela internet, mas infelizmente tudo o que encontrei só serviriam para bicos, e não para realmente viver deles. Uma pena, mas vou continuar pesquisando. Me candidatei a uma entrevista de emprego, mas infelizmente não fui chamado (mas também não sei se eu iria mesmo, caso tivesse sido chamado... me candidatei mais para ter o conforto psicológico de "estar fazendo alguma coisa").

- Por conta da possibilidade de pedir demissão, sinto que preciso reforçar minha RE e pretendo fazer isso com o dinheiro das férias e do 13º, ou ao menos com uma parte desses recursos. Se conseguir algum bico em algum site de freelance vou destinar o dinheiro para a RE também. 

- Em relação a concursos, estou me inscrevendo nos que posso ir fazer (não estou podendo viajar para muito longe para fazer provas), mesmo nos que tem poucas vagas e nos que o salário não é lá essas coisas (servem mais para treinar). Vocês têm algum órgão que onde "sonham" trabalhar? Têm algum onde não trabalhariam de jeito nenhum? 

- Vou ver se consigo voltar a correr este mês. Vamos ver no que dá.


Fiquem com a música do mês (Full Moon, da banda Sonata Arctica):




E vocês, confraria, como foi o mês de abril?


Forte abraço!

Fiquem com Deus!


sexta-feira, 14 de abril de 2023

Sobre a previdência social

Recentemente, na França, foi aprovada na canetada uma reforma que aumenta em 2 anos a idade mínima de aposentadoria dos franceses: de 62 passou para 64 anos. E muitos franceses foram às ruas para protestar e até saíram na porrada contra esta reforma, mas foi tudo em vão. 

E olha que dizem que o brasileiro é que não trabalha, ou que trabalha pouco! Pode até ser que a eficiência aqui seja menor, mas é fato que trabalhamos muito. O povo brasileiro é um dos que mais trabalha no mundo,  em termos de horas.

Alguns reclamam que aqui há muitos direitos trabalhistas. Alguns eu acho justos, outros nem tanto (assunto para futuros textos), mas tenho razões  para acreditar que há mais direitos trabalhistas na França do que no Brasil, e esse é um dos motivos para o desemprego lá ser alto, principalmente entre os jovens. 

Um conhecido meu que já trabalhou na França me disse que a cultura de pequenos negócios familiares é forte por lá justamente por conta disso. Ele deu o exemplo de uma padaria francesa, onde não havia nenhum empregado: todos os que trabalhavam lá eram da família do dono - o dono era o padeiro, e fazia os pães sozinho. A esposa ficava no caixa, e os filhos ficavam de faz-tudo, ora ajudando o pai, ora a mãe,  ora recebendo fornecedores, etc, pois o padeiro não teria condições de bancar funcionários de "carteira assinada" ou seu equivalente francês. Quem mais sofre com isso são os jovens cujas famílias não têm negócios próprios,  pois penam bem mais para conseguir empregos na França.

Aqui, ao menos por enquanto,  vejo muitas padarias com empregados, mas não sei se estes recebem todos os seus direitos trabalhistas, nem se as padarias têm condições de paga-los. Mas também já vi alguns destes lugares perto de onde moro que seguem o modelo francês de contratar somente pessoas da família. Por exemplo, a padaria onde geralmente vou comprar pães pertence a duas irmãs,  e seus filhos trabalham no balcão.  Acho que só uns 2 empregados são de fora da família.  Um bar perto da minha casa me parece ser 100% tocado pela família do dono, pois os funcionários são todos muito parecidos, do cozinheiro aos garçons (óbvio que posso estar errado).  


Mas divaguei. Voltando à previdência social, que é o assunto do post: aqui a idade mínima para aposentadoria vai ser de  65 anos no fim da transição de regimes, com a obrigação de somar 105 com o tempo de contribuição (ou seja, para se aposentar aos 65 tem que ter contribuído por 40 anos - é a realidade que a maioria de nós irá pegar), ou seja, trabalhamos mais tempo que o povo francês. E isso sem falar que lá a semana de trabalho tem menos horas (oficialmente 35 horas, contra 40h daqui - mas óbvio que em ambos os países o tempo efetivo de trabalho para o trabalhador médio é superior ao número legal de horas).

E não duvido nem um pouco que ainda pegaremos outra(s) reforma(s) no futuro que aumentem a idade mínima e o tempo de contribuição. Pode ser que quando chegue a nossa vez, tenhamos que trabalhar até os 90, ou algo assim. Ou a previdência social pode simplesmente acabar.

Mas não creio que pegaremos o fim "oficial" da previdência social em nossas vidas... talvez peguemos um fim "disfarçado" - regras impossíveis de serem cumpridas, ou benefícios irrisórios,  ou descontos absurdos nos benefícios, algo nessa linha.

Os principais problemas que eu enxergo são: 

1) supondo que nada mude e não haja mais reforma nenhuma e o governo não faça nada para cobrir rombo nenhum, e mesmo assim ainda pudermos nos aposentar legalmente aos 65 anos: 99,9% se aposentarão com um salário mínimo,  o qual é ridículo e mal dá para pagar contas básicas... ou seja, a vasta maioria vai ficar na penúria e/ou terá que trabalhar até a morte (como era antigamente, antes de existir previdência social) para conseguir viver na velhice, e/ou ser amparado pela família.

2) se o governo resolver "imprimir dinheiro" para se furtar de fazer uma reforma (pois reforma de previdência é algo politicamente ruim), poderemos até ter aumentos no INSS e mais pessoas recebendo mais de 1 salário mínimo,  porém tais valores serão corroídos pela inflação,  e ficamos na mesma situação do item 1.

3) se o governo fizer mais alguma reforma e aumentar a idade mínima e/ou tempo de contribuição, provavelmente todos teremos que trabalhar até os 80 ~ 90 anos para nos aposentarmos pelo INSS e, mesmo assim, provavelmente para receber somente 1 salário mínimo. Será que vale a pena fazer isso? Trabalhar até os 80 anos para receber um salário mínimo de aposentadoria? Eu acho que não. Ainda mais aqui, onde o trabalhador honesto não é culturalmente valorizado, nem mesmo nas empresas, que dele dependem. Melhor ser autônomo e quando ficar mais velho passar a selecionar clientes e a diminuir o horário de trabalho.

4) nada impede o governo de, a qualquer momento, numa canetada, criar algum desconto nos benefícios de aposentados, com a desculpa de que tal desconto é para cobrir algum rombo (como foi o caso dos fundos de previdência de determinadas estatais, que estão descontando a mais para cobrir imensos passivos, alguns deles gerados por desvios de verbas - imagine você com 85 anos recebendo a notícia que seus proventos de aposentadoria irão diminuir a partir do mês que vem porque alguém roubou dinheiro e agora todos terão que pagar a conta), ou com qualquer justificativa que inventarem ma ocasião.


Vejam que não importa o cenário,  todos nós temos que tomar as seguintes atitudes:

1) Criar uma família e cuidar muito bem dela, para termos apoio, carinho, afeto e amparo durante toda as nossas vidas, não só na velhice;

2) Cuidar da saúde tão bem quanto possível, para termos condições de aproveitar a vida até que nossa hora chegue;

3) Aportar com disciplina todo mês,  o máximo que pudermos, de modo a:

    a) ser possível aposentar antes da idade mínima,  seja ela qual for, caso este seja nosso desejo;

    b) ter a possibilidade de não precisar mais trabalhar por causa do dinheiro, ou ter a liberdade de trabalhar com coisas mais leves e por menos horas por dia; e 

    c) para ter uma chance de viver com mais dignidade na velhice, pois no que depender do governo, teremos só o mínimo do mínimo,  e talvez nem isso. 

Enfim, nobre confraria da finansfera, companheiros de trincheira, estes são alguns de meus pensamentos acerca do espinhoso assunto que é a previdência social. 

O que têm a dizer sobre este tema?


Forte abraço! 

Fiquem com Deus!


segunda-feira, 27 de junho de 2022

Um olhar crítico sobre nosso sistema de ensino

A questão da educação e do ensino no Brasil, nossa querida Terra de Santa Cruz,  é algo problemático já há algumas décadas. 

Não sei quando o problema começou,  de fato, e sei através de relatos de parentes e amigos que exercem o magistério, que hoje em dia está muito pior do que quando ocupei os bancos escolares. 

Também sei que na minha época já estava pior do que na de meus pais, mas acredito que na época deles as coisas estavam melhores do que na de meus avós. Então creio que o problema tenha começado mesmo por volta dos anos 60 ou 70, embora suas sementes provavelmente já estivessem plantadas há muito mais tempo. O problema não é só administrativo, mas também cultural, mas este assunto fica para outro post.

Se vocês pesquisarem, verão que a degradação do ensino não é um fenômeno exclusivo do Brasil... até as famosas e caríssimas universidades da "Ivy League" estão degradadas e decadentes, embora ainda sirvam para enfeitar currículos mundo afora...

Mas isto também  é assunto para um futuro post. Neste aqui me aterei apenas ao Brasil.

Vejam se a experiência que vocês passaram nos anos de escola não é parecida com o que vou descrever:

O nosso sistema de ensino se divide em basicamente 4 fases: primário,  ginásio,  ensino médio e faculdade (uso a nomenclatura da minha época de aluno).


É no ensino  primário que aprendemos o básico e , no fundo, aquilo que é mais útil pra vida: ler e escrever em português, as 4 operações fundamentais de matemática, frações, porcentagens, e o basicão de ciências, geografia e história. É o mínimo para ser funcional em praticamente qualquer emprego, e também julgo necessário saber o mínimo de biologia para viver (pelo menos onde estudei, aprendíamos até a quarta série o básico do funcionamento do corpo humano, o básico sobre plantas e animais, alguns cuidados que temos que ter com a comida, etc.). 

E, embora a maioria das pessoas nunca vá usar os conhecimentos de geografia e história para ganhar dinheiro, não acho que seria bom que em uma sociedade a maioria das pessoas não soubesse absolutamente nada de geografia e de história do mundo e da história de seu próprio país. Acho que todos temos que saber alguma coisa destes assuntos, pois é essencial ter um mínimo de cultura! 

Não concordo com as ideias, defendidas por alguns, de que somente devemos aprender o que for útil para o trabalho, pois assim seríamos reduzidos a meros "burros de carga", seres incultos que só sabem coisas relativas a suas próprias profissões, como formigas operárias. Isto reduziria o ser humano a algo só um pouco acima dos animais, em minha opinião.

pena que salas de aula arrumadinhas assim sejam exceção no Brasil...


Quando chegamos ao Ginásio e depois ao Ensino Médio as coisas estão estruturadas de maneira que é praticamente só um repeteco mais aprofundado do que vimos no primário, com a inclusão de algumas poucas coisas novas (física e química, principalmente) e entra muita coisa que é só decoreba pro vestibular, principalmente a parte de história, geografia e filosofia no ensino médio. Claro que algumas coisas aprendidas nesta fase são úteis, mas é cada vez mais notório que o objetivo é só preparar os alunos para o ENEM, numa espécie de "linha de montagem" (além da doutrinação vermelha).

Depois do ensino médio, infelizmente, o normal na época de fazer os vestibulares é estudar tudo de novo, em um cursinho preparatório (às vezes esse cursinho é feito durante o terceiro ano do ensino médio e algumas escolas oferecem esse curso no contra-turno do aluno). O cursinho pré-vest simplesmente condensa em uns 7 ou 8 meses tudo o que foi transmitido nos 3 anos de ensino médio, fazendo uma grande "paçoca" de conhecimentos, muitos dos quais são decorados.

Na hora do vestibular, o aluno "vomita" na prova todas as informações acumuladas em tantos anos de repetição e decoreba na época de escola e no cursinho pré-vestibular, e via de regra esquece a maioria das matérias logo depois.


Ironicamente, o aprendizado mais útil da época do ginásio e do ensino médio são os idiomas (geralmente as escolas ensinam inglês e/ou espanhol, e umas poucas ainda ensinam francês como matéria optativa), mas os alunos em geral tratam essas matérias como simples decorebas ou nem aprendem, e as escolas quase sempre permitem que eles passem automaticamente de ano, pois por aqui já algum tempo há uma cultura muito forte de "ah, você não vai fazer o aluno repetir de ano por causa de inglês,  né??". E fica por isso mesmo. O público meio que já se acostumou com a ideia de que "inglês de escola é ruim".

(Por exemplo, na minha época de ensino médio, na minha escola havia um sistema de monitoria, e eu fui o monitor de inglês da minha turma durante os 3 anos do ensino médio. Eu dava aulas de reforço para diversos colegas que não só não sabiam nada de inglês, mas também não queriam nem se esforçar para aprender. Fiz dezenas de redações para que meus colegas de turma decorassem-nas e as "vomitassem" na prova, não importando qual de fato seria o tema da redação da prova...bizarro demais! Os caras se dispunham a decorar redações de 20 linhas, mas não a aprender inglês!)

Durante a faculdade, há muitas matérias que não acrescentam em nada nem para a profissão que está sendo aprendida e nem para a cultura geral do aluno, e estão lá somente porque o MEC determinou que os cursos de bacharelado devem obrigatoriamente ter 8 períodos e determinada carga horária mínima, como se todos os cursos fossem exatamente iguais (eu sei que tem faculdades que permitem puxar "N" matérias, de modo que tem gente que consegue se formar em 3 anos, mas estes casos são exceção)

Uma coisa interessante que eu noto principalmente nas redes sociais e em sessões de comentários de sites em geral: é muito engraçado ver como hoje em dia em qualquer discussão na internet tem gente dando "carteirada de diploma", e às vezes até dando carteirada de "estar cursando" determinado curso. 

Tendo em vista que o perfil médio do universitário brasileiro é aquele cara que foi para a faculdade só pra ir em chopada e frequentar o barzinho local, matava aula direto (só tomando cuidado para não ser reprovado por falta), estudava só de véspera e passava raspando na maioria das matérias  (isso quando não pedia para o professor dar mais meio ponto) e pagou alguém para fazer o TCC, então há uma boa chance de que aquela pessoa que está te dando carteirada com o diploma numa discussão ter sido esse tipo de universitário. 

Afinal, com que autoridade uma pessoa dessas dá carteirada? Só porque tem um pedaço de papel mal e porcamente merecido? Será que essa pessoa fez algum trabalho realmente relevante em sua área de conhecimento ou será que produziu por obrigação mais um TCC de 20 ou 30 páginas que nunca será lido por ninguém (talvez nem pelo orientador)? 

Acho que algumas ideias para para resolver um monte desses problemas, ou ao menos dar o pontapé inicial seriam:

1) Somente o ensino primário ser obrigatório (para todo mundo saber ler, escrever e pelo menos as 4 operações fundamentais) ou pelo menos somente as matérias que mais se aproximam daquelas do "trivium" e, mais tarde, do "quadrivium", serem obrigatórias, com o restante das cadeiras sendo eletivas e cada aluno montando sua grade ao longo dos anos de escola conforme o interesse e o pendor de cada um;

2) Focar o ensino primário em leitura, interpretação de texto, raciocínio lógico e matemática (que são áreas muito defasadas no nosso Brasilzão de Deus) 

3) Diminuir o número de vagas da maioria dos cursos superiores (muitos cursos formam um número de profissionais muito superior à demanda do nosso mercado, o que achata os salários) 

- edit (9/8/22): aumentar o número de vagas pros cursos de medicina, pois apesar do que dizem, há poucos médicos no Brasil, e muito concentrados nas capitais;

- edit (27/3/2023): diminuir também o número de vagas para o ensino médio, e direcionar aqueles que não fossem cursá-lo para cursos profissionalizantes, para que aprendessem ofícios.

4) Acabar com qualquer forma de aprovação automática em todas as etapas do ensino;

5) Focar em abrir mais escolas técnicas / profissionalizantes, e não em abrir universidades (no Brasil tem muito "doutor" e pouco eletricista, encanador, mecânico, etc. que sejam realmente técnicos);

6) Acabar com o currículo obrigatório (exceto talvez para o trivium e quadrivium), e permitir que cada escola tenha o seu próprio currículo personalizado para as peculiaridades locais de cada região e/ou de seu público;

Edit (27/3/2023): 

7) impor uma idade máxima para cada série (e com isso acabar com o absurdo de, por exemplo, adolescentes de 15 anos ou mais na quarta série, dividindo a sala de aula com crianças de 10 anos, que vemos em algumas escolas)

8) em complemento ao item 7, impor um número máximo de reprovações aos alunos (prevendo a expulsão de quem repetir de ano mais do que, por exemplo, duas vezes)

9) Tornar obrigatória a apresentação de algum comprovante de trabalho (carteira de trabalho, contrato de PJ, recibos de autônomo, etc) para frequentar EJAs;

10) direcionar os alunos expulsos das escolas (por conta dos itens 7 e 8), bem como quaisquer alunos e demais pessoas interessadas, para programas de ensino profissionalizante, para que aprendam ofícios.

Edit (16/9/2024):

11) Criar um "vestibular" ou "exame" para dar acesso ao ginásio, com número limitado de vagas (digamos, de cada 100 crianças do primário, apenas umas 60~70 deveriam poder ir pro ginásio). E depois, outro "exame" para o ensino médio, com menos vagas (das 60 que fizeram ginásio, só umas 40 deveriam poder cursar o ensino médio) - os alunos que não conseguissem passar nestes exames seriam direcionados para cursos profissionalizantes, para aprenderem ofícios.

12) Supletivos deveriam ter idade mínima (30~35 anos) e deveriam ter a matrícula condicionada a apresentação de comprovantes de trabalho/emprego, à semelhança de como deveriam ser os EJAs

13) Criar exigência de experiência profissional mínima para poder cursar Mestrado e Doutorado (para acabar com esse negócio de emendar faculdade com mestrado e doutorado, e com isso não formarmos mais  mestres e doutores que nunca colocaram a mão na massa e possuem uma visão apenas teórica sobre suas áreas de conhecimento) 

14) Criar exigência de idade mínima para cursos de Mestrado e Doutorado (eu acho muito estranho quando vejo um doutor de 30 ~35 anos! Doutor deveria ter uns 50, 60 anos, por aí. Mestres deveriam ter uns 40 anos, no mínimo. Isso faria com que somente pessoas com experiência de vida fossem para estes cursos, e não jovens recém-formados)


Não posso afirmar se as ideias acima, caso seguidas à risca, resolveriam os problemas de educação no Brasil, mas acredito que ajudariam bastante no longo prazo. Usei apenas o bom senso para pensar nestas ideias.

Enfim, confraria, estas são algumas de minhas opiniões sobre o nosso sistema de ensino. Será que exagerei alguma coisa? Talvez, mas não acho que escrevi nada muito fora da realidade. Pelo menos foram essas as coisas que vi em meus tempos de formação.


Forte abraço!

Fiquem com Deus!

Fora da caridade não há salvação!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A importância de deixar uma herança para os filhos

 Saudações,  confrades!

Escrevi este post inspirado neste bizarro tweet do perfil bloomberg opinion:


Vejam que atitude destrutiva estes "analistas" estão incentivando (pelo menos na manchete): gastar quase todo o patrimônio em vida e não passar quase nada para os filhos, ao invés disso dar-lhes apenas "experiências".

(O texto linkado ao tweet não é tão sensacionalista quanto a manchete, lá pelo meio do artigo ele fala em "dar dinheiro aos poucos" aos filhos para evitar mordidas do imposto de renda, mas como a maioria das pessoas só vai ler a manchete, a ideia que vai ficar é a de "não passar herança, porque isso não faz mais sentido no mundo atual")

Claro que não é saudável ser um pai avarento que nunca dá nada pros filhos. Óbvio que faz parte da criação proporcionar (dentro das possibilidades de cada um) boas experiências, lições e conselhos que ajudem os filhos a se desenvolverem como pessoas, estas coisas valem, sim, mais do que dinheiro, mas daí para torrar a grana e passar zero (ou pior, passar uma dívida) para os filhos eu já acho um imenso e perigoso exagero.

Também sei que cada um é dono de seu patrimônio e portanto cada um decide o que for melhor para si nesta questão de deixar ou não uma herança pros filhos. Se uma pessoa decide que quer usufruir de seu patrimônio até o último centavo, e faz esta escolha livremente, aí é de cada um.

Como sempre, defendo o equilíbrio.

A herança serve para que no longo prazo a família desfrute de alguma segurança, para que possa aproveitar as oportunidades que surgirem (imóveis, negócios, etc.), para que possam se dedicar a coisas além do trabalho e de correr atrás do sustento. Uma família sem herança tem que começar "do zero" em cada geração, e dificilmente irá para a frente, provavelmente será pobre para sempre (até que surja um gênio empreendedor que alavanque o patrimônio da família, mas por definição isso é bem raro).

Por quê playboys e patricinhas têm a chance de ir para a faculdade estudar coisas como artes, teatro, etc., para as quais o mercado é mais duro e fazer um sucesso mediano é bastante difícil, ou se dedicar a pequenos negócios e atividades de retorno duvidoso, coisas que um filho de um pobre normalmente não poderia fazer? Porque eles têm um patrimônio familiar que lhes dá tranquilidade suficiente para não se preocuparem em necessariamente ter que se dedicar a atividades com retorno financeiro mais certo. Eles têm um "Continue" no jogo da vida. Se tudo der errado para a patricinha e a carreira de desenhista não der certo, sua família pode bancar uma faculdade de emprego mais fácil, como medicina, por exemplo, ou um mestrado/pós-graduação numa instituição de prestígio que lhe abra algumas portas no mundo corporativo - fora os contatos que os pais provavelmente têm. E se mesmo assim tudo der errado, os filhos dos ricos terão um grande patrimônio deixado de herança que os sustentará, mesmo que só consigam subempregos ou seus pequenos negócios só rendam lucros minúsculos.

(vejam que não estou criticando estas pessoas: se existe a patricinha, é porque alguém antes dela ralou e suou muito a camisa em um emprego ou negócio. Desta forma, não acho certo o haterismo que existe em cima de playboys e patricinhas só pelo fato de estes terem dinheiro)

Por quê o filho do pobre é obrigado a ter empregos "de verdade" e a colocar a mão na massa, muitas vezes em atividades insalubres e extenuantes? Por que ele não tem escolha. Ele "só tem munição para 1 tiro", e tem que acertar, então normalmente ele não pode tentar ganhar a vida como pintor de quadros, ou dançarino de balé clássico, ou cantor, etc. Quer dizer, ele pode sim tentar fazer essas coisas, mas só no tempo livre: ele precisa de um emprego (ou de um negócio) "normal", com uma renda mais estável, que lhe dê dinheiro para as necessidades básicas. Claro que também é possível um pobre prosperar nestas coisas, mas as chances são bastante pequenas.

Sendo assim, uma família pobre terá chances de sair da pobreza através do trabalho e do acúmulo de patrimônio. E este acúmulo de patrimônio através de gerações pode eventualmente acabar com a pobreza de uma família (e por "acabar com a pobreza" eu quero dizer permitir aos descendentes não se preocuparem mais em faltar dinheiro para pagar o aluguel, não se preocuparem em faltar dinheiro para comprar comida, etc. Ou seja, não estou falando de luxos, estou falando em satisfazer com mais segurança as necessidades dos níveis mais baixos da pirâmide de Maslow). Sendo assim, eu vejo a herança como uma coisa essencial e importante, algo que não pode ser negligenciado, nem tratado levianamente.

E o "sistema" (a "matrix", chamem do que quiserem) sempre nos incentivará a fazer o contrário disso: nos incentivará a gastar o máximo possível, inventará falsas necessidades, luxos desnecessários, nos estimulará a girar o patrimônio, pagar muitas taxas, muitas comissões, muitos impostos, etc., em suma, o sistema sempre tentará nos manter presos na corrida dos ratos. A manchete que mostrei no início do post é só mais um exemplo disso. Cabe a cada um de nós nos disciplinarmos e buscarmos o equilíbrio financeiro, para que um dia possamos desfrutar da tranquilidade financeira e, se Deus permitir, transmitir algo além de conselhos e experiências para os filhos.


sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A "cultura de emprego" brasileira faz parte do problema

Eu sempre achei estranho e um tanto vergonhoso, em todos os lugares que trabalhei, ver um chefe meu, geralmente um cara mais velho, casado e com filhos, levar esporros monstruosos e engolir sapos terríveis de seus chefes, estes geralmente diretores, vice presidentes, gerentes gerais, etc., além de serem "obrigados" a fazer várias coisas que não agregam nada ao trabalho, mas que servem apenas para agradar os chefões (ficar até bem mais tarde só esperando o chefe voltar de uma reunião, por exemplo, ou perder horas fazendo um powerpoint cheio de firulas e gracinhas ao invés de focar só na informação em si, ou ser obrigado a almoçar com o diretor todo dia, ou ir a eventos sociais representando a empresa, etc.) - e quanto maior for a empresa, mais coisas deste tipo acontecem, principalmente se for multinacional, tudo com grandes níveis de estresse. Eu sempre que presencio uma coisa dessas fico pensando "Como ele aguenta? Pelo nível de salário desse cara, era pra ter um mega reserva financeira, um grande patrimônio, que lhe desse tranquilidade para não aturar essas coisas ou então pelo menos levar tudo mais tranquilamente". Óbvio que ele aguenta porque ele quer manter o nível de salário e o status, mas essa vida de executivo /superintendente/coordenador regional é um outro nível da corrida dos ratos, e muitas vezes nem esses funcionários de alto nível de empresas top construíram um patrimônio decente,  e isso os obriga a se manterem na luta para continuarem em seus cargos altos, e lá a disputa é ainda mais acirrada, porque a concorrência é de nível mais alto (tanto em competência quanto em habilidades bajulatórias sociais).

Agora falando dos trabalhadores brasileiros em geral, especialmente os das cidades, dificilmente eles têm um patrimônio que os deixe tranquilos e protegidos de alguma forma contra crises e desemprego, e este é apenas um dos motivos pelos quais tanta gente engole tanto sapo todo dia no trabalho (eu sei que engolir sapos faz parte da vida, tendo patrimônio alto ou não, mas há de se concordar que tendo um patrimônio alto o número de sapos a serem engolidos seria bem menor, ou então no mínimo eles seriam mais fáceis de engolir). Como muitos aceitam muita coisa no trabalho, acaba que todos temos que aceitar também. A Teoria dos Jogos, principalmente o Dilema do Prisioneiro, ajuda a explicar o porquê - por exemplo, como existe alguém que está disposto a sair bem mais tarde do trabalho, seja isso necessário ou não, isso lhe dá aos olhos dos chefes um "diferencial" em relação aos outros que não estão dispostos a saírem mais tarde, então todos passam a ter que sair mais tarde para se manter na competição dentro da empresa, porque sair no horário passa a ser arriscado e porque sair tarde é um diferencial "fácil" de se obter, então ele passa a ser o mínimo esperado de cada empregado).

Uma outra coisa que contribui para isso é o que eu vou chamar neste texto de "cultura de emprego". Vou explicar o que quero dizer com isso.

Creio que a maioria que lê meus textos e frequenta a blogosfera das finanças irá concordar que o roteiro profissional "padrão" do "brasileiro urbano médio" é:

Formação >>> emprego  >>>  ???  >>>  aposentadoria (INSS)

Dentro da zona misteriosa ("???") fica a "carreira" do indivíduo dentro de uma empresa - uma coisa cada vez mais rara: antigamente, era normal passar 30 anos trabalhando na mesma empresa, e se esta empresa fosse grande e rica o bastante, ela ainda cuidaria de você na aposentadoria através de planos próprios de previdência privada, associações de ex-funcionários, etc. É o caso, por exemplo, da IBM e da Shell.

Hoje em dia passar 30 anos numa empresa é quase impossível, o normal para muita gente é ser chutado em uns 5 ou 6 anos caso você não seja promovido e, dependendo da área, até em menos tempo. Não dá para "construir uma carreira" no sentido antigo do termo na maioria das empresas atualmente. A carreira hoje em dia é a soma de nossas experiências profissionais e o conhecimento/know-how acumulado e também o famigerado network (nossa, como eu odeio essa palavra). E quanto mais velhos ficamos, mais facilmente somos demitidos (as empresas no Brasil em geral, quiçá no mundo, têm algo contra pessoas acima de 35 anos) e mais difícil se torna nossa recolocação (pelo mesmo motivo),  e isto torna todos mais "medrosos" e faz com que se sujeitem a muita coisa que em outras condições não se sujeitariam para manter o emprego. 

Sendo curto e grosso: por causa do medo de perder o emprego, muita gente acaba abaixando a cabeça para muita coisa que acontece no trabalho, e por isso muitos abusos acontecem e isso ajuda a explicar porque hoje em dia doenças como depressão, ansiedade e burnout são cada vez mais comuns. 

A própria blogosfera das finanças é, de certa forma, um sintoma disso: muitos dos blogueiros e dos comentaristas (eu incluso) são pessoas insatisfeitas com seus trabalhos e que buscam uma esperança de mudança de vida através da frugalidade, do mercado financeiro, do desenvolvimento pessoal, etc. e encontram ecos de seus pensamentos na blogosfera das finanças. 

A insatisfação com a vida profissional é algo generalizado atualmente. Creio que isso seja em parte culpa da "cultura do filho doutor" e também em parte culpa da nossa "cultura de emprego".

O que quero dizer com isso é: nossa cultura profissional não deveria ser focada em emprego, porque ela nos torna mais submissos a hierarquias, chefes, etc., além do emprego funcionar como um tipo de cabresto,  constantemente usado para nos  ameaçar e intimidar.  

Na minha opinião, a nossa "cultura de emprego" deveria ser focada em autonomia, ou seja, deveria ser uma "cultura de autonomia": o roteiro padrão esperado deveria ser trabalhar para alguém só até certa idade, e depois se tornar autônomo ou empresário, desta maneira:

Formação >>> Emprego (aquisição de experiência e recursos) >>> "Carreira solo" >> Tranquilidade Financeira

Se o normal fosse esse, as coisas por aqui seriam um pouco melhores, pelo menos nos seguintes aspectos: 

1) Haveria menos desemprego, porque seria normal trabalhar em empresas só até certa idade, então essa rotatividade de funcionários seria maior, não por cortes de custos, mas porque os próprios funcionários decidiriam sair para iniciarem suas próprias jornadas;

2) Com mais autônomos e pequenos/médios empresários, haveria mais vagas de empregos também (autônomos poderiam contratar assistentes, estagiários, etc. e seria bom para jovens adquirirem experiência) e mais produção, o que significa maior oferta, o que reduziria os preços de produtos e serviços;

3) Com mais empresas e mais empregos, o trabalhador teria mais poder de barganha (seria fácil sair da empresa e arranjar outro emprego, levando embora conhecimentos e experiências que servirão à concorrência, o que faria com que os salários tendessem a ser mais altos para reter funcionários - ao contrário de hoje em dia, em que há 500 mil desempregados para cada vaga de emprego, então quase todas pagam 1 salário mínimo,  sem VT, sem hora extra e sem PL); e

4) Tudo isso contribuiria para a diminuição das doenças psiquiátricas que afligem esta nossa estranha era (depressão, ansiedade, neurose, etc. são em grande parte provocadas por pressões no trabalho) e a sociedade teria um pouco mais de felicidade.

Não vou ser hipócrita - eu também faço parte da "cultura de emprego": assim como muitos, fui formado assim, cresci acostumado com esta ideia, e agora vejo as consequências. A verdade é que em muitos aspectos é mais fácil e mais confortável ser empregado CLT e isso também ajuda a explicar essa cultura de emprego, porque você de alguma forma sente que a empresa está "cuidando de você", mas isto na verdade é uma ilusão perigosíssima: na verdade, você está é terceirizando muitas decisões importantes de sua vida para o seu chefe: ele escolhe qual vai ser o seu plano de saúde (não se iludam, sai do seu salário, mesmo que não apareça nenhuma coparticipação na folha de pagamento), ele aplica parte de sua renda numa previdência privada que a empresa escolheu, ele escolhe o que fazer com seu horário, ele que tem a palavra final de quando serão suas férias, dependendo da empresa é ele que decide o que você vai fazer no final de semana, ele determina onde você vai morar, etc. Com isso, uma boa fatia da sua vida está nas mãos de um terceiro que geralmente te enxerga apenas como um custo e não como um ser humano. 

Óbvio que a vida de um empresário ou autônomo também está em muitos aspectos regida por terceiros - os clientes - mas o nível de controle destes profissionais sobre seus trabalhos e suas vidas é bastante superior ao do empregado CLT comum.

Realmente é mais difícil ser autônomo ou ser empresário do que ser CLT, não só por causa da concorrência no mercado, mas também porque isso envolve assumir os riscos e as decisões que normalmente terceirizamos quando somos empregados de alguém, conforme expliquei acima. Mas por outro lado, passaremos a sermos mais donos de nossos destinos.


Por causa da doutrinação esquerdista que recebemos na escola já há décadas, o brasileiro médio tem a tendência de enxergar o empresário como um FDP explorador. Óbvio que alguns são isso mesmo, principalmente os maiores, que usam seus recursos para influenciar o Estado e financiar movimentos revolucionários e com isso matar a concorrência desde o berço para se manterem no topo da pirâmide. Mas na grande maioria dos casos, o empresário é um cara "classe média" ou até mesmo "pobre" e que tem muito mais a perder do que o empregado e trabalha muito mais horas por dia e geralmente sem férias e sem feriados. Então aquela ideia que os soças vendem do "empresário malvadão explorador dos pobrezinhos" não é verdadeira em 99,999% dos casos, mas essa ideia que foi implantada em nossas mentes infelizmente também colabora para fortalecer a "cultura de emprego" na mentalidade brasileira e sabotar a nossa busca por autonomia.

Acho que nesse ponto os brasileiros têm muito a aprender com os árabes e os portugueses - estes dois grupos têm essa mentalidade de autonomia muito mais desenvolvida, tanto que seus estereótipos são caricaturas de pequenos comerciantes e empresários (o árabe vendedor de tapetes e especiarias e o "seu" Manoel da padaria) - geralmente pessoas destas duas etnias não são empregadas de ninguém, a não ser de outros árabes e portugueses, e mesmo assim só enquanto não juntam recursos para abrirem seus próprios negócios.

O que vocês acham da nossa cultura de emprego? Acham que as coisas seriam melhores se fizéssemos uma mudança para uma cultura mais focada em autonomia? 


Forte abraço, amigos, fiquem com Deus!

segunda-feira, 20 de julho de 2020

A busca pelo milhão deveria ser uma busca por valor e não por dinheiro

Se vocês refletirem um pouco, a inflação já corroeu tanto o poder aquisitivo do Real que o cobiçado "um milhão de reais", um dos santos graais da blogosfera, já não é mais o que era. É bastante difícil juntar um milhão de reais para quem é assalariado, e embora esta quantia ainda dê uma grande melhora na vida pessoal em termos de tranquilidade e segurança relativas ao trabalho, ela já há um bom tempo não é capaz de trazer a IF, no máximo uma TF (tranquilidade financeira), mas ainda assim é algo arriscado. 
Nos tempos de taxa Selic a mais de 14%, havia quem pensasse ser capaz de viver sem precisar trabalhar tendo um milhão investidos em renda fixa, mas mesmo naquela época (2016) isso ainda era muito arriscado, pois a inflação alta camuflava o rendimento real, que era bastante abaixo dos 14% nominais, de modo que sacar os rendimentos deste milhão aplicado em uma renda fixa, por exemplo, só faria corroer mais depressa o valor do principal. Sacar menos do que os juros auferidos era obviamente uma opção melhor, mas ainda arriscada para quem almejasse parar de trabalhar. Com o tempo, a inflação poderia corroer o valor do principal, e caso vivamos um caso extremo como o da Alemanha do pós-guerra, este investidor que até então havia "atingido" a IF se tornaria um "mendigo milionário".
Não é exagero!

notas e moedas: Pick#110 - 500 Milhões de Marcos, 1-9-1923
Nota de 500 milhões de marcos alemães, de 1923, provando que todo mundo era multimilionário na Alemanha pós-Grande Guerra!! É um pouco difícil de ler, mas realmente está escrito Fünfhundert millionen Mark


Infelizmente, a inflação é um problema intrínseco do atual sistema monetário mundial - o qual se baseia em moedas fiduciárias (sem lastro) e no sistema de reservas fracionárias (bancos não precisam ter em caixa valores que garantam 100% dos depósitos, ou seja, bancos criam moeda literalmente do nada) e ao menos no curto prazo isso parece que não vai mudar. Nem mesmo as criptomoedas são ainda uma alternativa viável - elas ainda estão longe de serem adotadas pelo "tiozinho da padaria" e pela "dona marocas da escolinha", e somente quando isso acontecer é que elas serão realmente moedas, pois serão um meio de troca amplamente aceito (atualmente as criptos cumprem mal e porcamente apenas as funções de unidade de conta e reserva de valor, mas devido às grandes oscilações diárias e às dificuldades operacionais de usá-las no dia a dia, tais funções não são eficientemente cumpridas, na minha opinião).

Vejam em números o massacre do Real pela inflação: conforme a calculadora do cidadão, disponível no site do Banco Central, 1 milhão de reais do início do Plano Real (1994) equivalem a mais de 6 milhões de reais atualmente:



O Real perdeu muito valor desde seu início. Temos que multiplicar o milhão de reais por 6 só para empatar com seu poder de compra original. Até mesmo olhando para o passado recente a perda é chocante. Vejam quanto precisamos ter hoje em dia para empatar o poder aquisitivo de 1 milhão de reais de 2016, época da SELIC a 14,25%, na qual havia quem acreditasse poder viver com a renda desse milhão:



Precisaríamos ter quase 200 mil reais a mais só para manter o poder de compra, quase um quinto do valor. Quem tinha 1 milhão e aplicou na renda fixa e passou a viver dos juros provavelmente perdeu dinheiro, no sentido de perder poder aquisitivo.

Será que algum dia seremos capazes de desfazer este massacre financeiro? Será que algum dia o Real prosperará e se tornará uma moeda forte? 
Só o tempo dirá. 
Enquanto isso, os números incríveis de nossa inflação mostram que ao contrário de outras épocas, em que o dinheiro tinha lastro, ou seja, tinha valor intrínseco (moedas de ouro e prata, certificados de depósito de ouro, etc.) não é tão bom negócio juntar dinheiro. Óbvio que precisamos de dinheiro no dia a dia para trocarmos por bens e serviços,  e conforme já expliquei no post anterior, é inegável a importância de se ter uma reserva de emergência de pronto uso, então algum dinheiro é bom sempre termos. Esses tempos histéricos da pandemia, repletos de desmandos e arbitrariedades estatais e de empresas mancomunadas com o Estado, reafirmaram a importância da reserva de emergência.


Certificado de Ouro - Está escrito: 100 dólares EM MOEDAS DE OURO pagáveis ao portador sob demanda

Porém, o ideal é que, após constituída a reserva de emergência, comecemos a diversificar nosso patrimônio de modo que ele tenha mais valor do que dinheiro, porque o que tem valor é sempre ou quase sempre protegido contra a inflação. 

Onde encontraremos valor? Onde compramos valor? Resposta: Comprando ações de boas empresas (fundamentos sólidos, vários anos seguidos de lucros, com dívidas equilibradas ou sem dívidas, com boa participação no mercado, etc.), comprando cotas de bons fundos imobiliários (bem geridos, com imóveis bem localizados, bons imóveis, de preferência com mais de um imóvel, etc.), comprando bons imóveis (bem localizados, sem problemas judiciais) e comprando bens que tenham valor (metais preciosos, jóias, moedas, obras de arte, terrenos bem localizados e férteis, etc). 
Porém, há uma outra diversificação ainda mais importante,  e que deve ser feita todo dia, em qualquer época: a diversificação de conhecimentos e habilidades, ou seja, o investimento em você mesmo. Aumente o seu valor. Estude além do que é necessário para desempenhar sua profissão, estude para melhorar seu desempenho nela e tornar-se uma referência, pelo menos entre seus colegas. Estude e pratique outras atividades fora de sua profissão para ser versátil, primeiramente como hobbies - e quem sabe elas não podem acabar virando outras fontes de renda? Quem sabe elas não possam um dia se tornar sua principal fonte de renda? Quem sabe elas não te salvam de uma enrascada, como ser demitido? 
Além disso, nunca deixe de ler ou estudar certos assuntos só porque supostamente "não há mercado" para tais conhecimentos - aumente sua cultura, leia os clássicos da literatura, estude outros idiomas além do inglês, produza algum tipo de arte, etc. Tudo isso contribuirá, no mínimo, para aumentar sua confiança em si mesmo e para expandir sua criatividade, e estas são coisas das quais você nunca se arrependerá, e também aumentarão seu valor como pessoa. Hoje em dia é possível encontrar tantos bons livros de graça ou quase de graça, assim como inúmeros tutoriais de uma infinidade de assuntos no YouTube, em fóruns especializados, cursos on line de praticamente qualquer assunto, e por aí vai. Nunca deixe de investir em você mesmo. Não viva para juntar dinheiro, viva para melhorar a si mesmo e para melhorar a vida dos que estão à sua volta, fazendo sempre o bem.

Forte abraço!  Fiquem com Deus!


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Devemos nos libertar - e isso é para ontem



Saudações,  confrades. Quase 1 mês desde a última postagem. Eu estava de férias, literalmente, e aproveitei para me dedicar a outros projetos pessoais e a hobbies.
Sem mais delongas, vamos ao artigo de hoje, que, como sempre, são coisas que eu fico pensando no dia a dia, principalmente no caminho para o trabalho.

É urgente que nós, como indivíduos, nos tornemos o mais livres possível. Temos que nos tornar cada vez menos dependentes da renda proveniente do trabalho assalariado e das vontades de chefes, empresas e governos. Espero com este texto abrir os olhos de alguns indivíduos... afinal, a única minoria que deve ser defendida é o indivíduo, pois é a menor minoria que existe, e está sempre sujeita à tirania. Esta é a minha opinião.

1) Tenha o seu próprio imóvel (caso prefira morar de aluguel, julgo prudente ter pelo menos reservas capazes de comprar um imóvel à vista, pois um dia você irá precisar) >> Por quê? Porque enquanto você mora de aluguel, alguma parte da sua vida estará subordinada, de certa forma, à vontade do dono do imóvel. Às vezes é fácil trocar de imóvel caso a relação com o dono seja difícil ou caso ele aumente demais o aluguel, mas pode haver casos em que tal troca seja difícil ou até mesmo inconveniente para você (por exemplo, quando a alternativa é morar mais longe do trabalho, ou em um bairro mais perigoso, ou com menos opções de transporte e comércio), o que aumenta o poder de barganha do dono.Creio que esta relação seja ainda pior quando o dono do imóvel for uma empresa e não uma pessoa física, pois a relação se torna mais fria e impessoal, e o mesmo vale para quando o dono deixa a gestão do aluguel nas mãos de uma corretora (cada vez mais comum). Além disso, tem esses dois argumentos do Bastter: 1)"E se você tiver 80 anos e o dono do imóvel resolver te despejar? Como você vai se mudar da noite para o dia?" e 2)"E se todo mundo resolver viver de aluguel, quem vai ser o dono dos imóveis?" - em relação a este último, ele ainda acrescenta que o setor financeiro tem todo o interesse que você não seja dono do próprio imóvel: é menos dinheiro "imobilizado", gerando mais corretagens para bancos e corretoras, mais impostos para o governo, etc. Eu acrescento o seguinte: acho que ter sua própria casa /apartamento/ terras, etc. faz parte da noção de dignidade humana. Quando não somos donos de casas ou terras, alguém vai ser o dono, não existe vácuo em se tratando de propriedade, e isso pode não ser bom no longo prazo. (Vide esta empresa de San Francisco que se aproveita da explosão de pessoas sem-teto na cidade e cobra 1.200 dólares de aluguel por uma cama com uma prateleira - alguns de vocês podem dizer que isso foi uma "atitude empreendedora", e que a empresa está na verdade ajudando os sem-teto, mas eu acho que isso é um sinal dos tempos, e que a empresa está explorando os necessitados, enquanto vende uma imagem de "startup moderninha e limpinha" - façam o exercício mental e imaginem um futuro assim, onde as pessoas comuns só moram nesse tipo de lugar, que nem ratos, e ainda tendo que agradecer à empresa pela "oportunidade" de morar numa cama, usar banheiros compartilhados e pagar "apenas" 1.200 dólares por mês)


2) Não dependa 100% da renda proveniente de seu emprego - se for um assalariado, comece um negócio por fora, faça bicos, torne-se um autônomo da sua área, venda bolos e salgados, sei lá, mas não permita que durante toda a sua vida você seja 100% dependente do emprego, pois assim é muito alta a probabilidade de na velhice você se tornar 100% dependente das migalhas do INSS ou das migalhas de qualquer sistema previdenciário, público ou privado, o que é extremamente arriscado. >> se você é 100% dependente do salário, então você é o perfeito "wage slave", preso na corrida dos ratos, e uma parte considerável de sua vida e de sua felicidade estará diretamente subordinada à vontade de seu chefe imediato, de seu diretor/CEO, e dos donos da empresa onde você trabalha. Se você for funcionário público, então parte de sua vida e felicidade estarão subordinadas ao chefe da repartição, e aos desmandos de algum ministro/juíz/político, o que pode ser até pior, dependendo da situação. Seja dono de seu próprio destino, o máximo que puder.



3) Reforçando o item 2, acima, tenha suas reservas financeiras para se proteger das crises, porque às vezes elas são inevitáveis. Desde a antiguidade, o sábio Esopo nos ensina isso, através da fábula da Cigarra e da Formiga. Aliás, desde os tempos bíblicos isso nos é ensinado (vide Provérbios 6:6-11 (“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado”)). Ter reservas suficientes aumentam o seu poder de barganha, te dão a liberdade de recusar trabalhos que não lhe agradam ou em locais para onde o deslocamento for muito custoso em termos de tempo/dinheiro, e lhe dão mais autonomia na vida.

4) Em complemento ao 2 e ao 3, suas "reservas" não devem se limitar às financeiras: devemos estender a noção de "reservas" para a área das habilidades, conhecimentos, competências, cultura, etc. Ou seja, se você tem um emprego onde executa uma atividade bastante específica e sabe fazer pouca coisa além dela, você está se arriscando muito, e sendo um perfeito "wage slave". Deste modo, se estiver partindo do zero em sua busca por mais habilidades e conhecimentos, comece por sua própria profissão e as áreas de conhecimento correlatas,ou seja, aprenda outras funções além da sua, torne-se versátil.
Alguns exemplos:
-Se você for garçom, aprenda a cozinhar, a preparar drinks, a fazer ornamentações, etc. para ser menos substituível no restaurante;

-Se você for pedreiro, aprenda marcenaria, e vice-versa, para ter versatilidade nas obras que fizer.

-Se você for professor de matemática, vire professor de estatística/física/química, para atender a mais alunos, ampliar seu mercado, etc.;


Depois disso, comece a diversificar o conhecimento em diferentes áreas profissionais, menos relacionadas entre si, para se proteger das sazonalidades dos mercados de trabalho, ter para onde correr se for demitido, para se diferenciar, etc. 
Exemplos:
- se você é contador, administrador, "auxiliar administrativo", caixa, etc., aprenda alguma linguagem de programação e pratique-a, para facilitar suas tarefas diárias;
- se você já é do ramo de TI, aprenda contabilidade, administração, etc, para saber como ajudar melhor seus clientes;
- Se você é da área de letras, procure especializações e cursos nas áreas ligadas à psicologia, para ensinar e lidar melhor com seus alunos;

Depois de adquirir tais conhecimentos, é uma boa ideia começar a fazer cursos ou ler livros a respeito de vendas, habilidades de negociação, etc, mesmo que você não seja um vendedor ou não queira trabalhar com isso, pois acho que é importante uma pessoa saber pelo menos como "se vender", no sentido de se autopromover, principalmente no caso de pessoas que são naturalmente tímidas - infelizmente é normal que pessoas com bom potencial percam oportunidades para concorrentes medianos e submedianos falastrões só porque são tímidas e não sabem se impor ou se promover na hora certa. Essa necessidade de desenvolver nossas habilidades sociais já foi abordada pelo colega Gerson Ravv em seu blog , e o Robert Kyiosaki também já deu este conselho em um de seus livros, acho que no "Pai Rico - Pai Pobre".

5) Outra forma de liberdade que todo ser humano deve almejar é a liberdade dos vícios. Nossos vícios, sejam eles quais forem, literalmente nos escravizam e nos arruinam em diversas áreas da vida, sendo a financeira a menor delas, pois dinheiro é possível recuperar. Cada um tem o dever de se esforçar para se livrar dos seus vícios. Aliás, para aquele que tem vícios graves para a saúde (drogas, bebida e cigarro) este deveria ser o primeiro passo no caminho da liberdade;

6) Após libertar-se dos vícios, comece a se libertar das falsas necessidades. Dificilmente você irá realmente precisar do último modelo do Iphone/Galaxy, ou de um carro que custa R$ 80K, para ser feliz. Você provavelmente também não precisa trocar todo ano de celular e de carro, ter uma porrada de pares de tênis Asics, um monte de casacos da Adidas, pilhas de camisas da Lacoste, etc. O "mundo" inventou várias necessidades artificiais, algumas válidas e outras completamente falsas (como é o caso da gourmetização das coisas, tão evidente hoje em dia; existem versões gourmet até de pipoca e papinha de bebê). As "vítimas" somos todos nós: através de truques psicológicos e de marketing ultra sofisticados as grandes empresas e os governos (sempre geridas por pessoas, é bom enfatizar) nos convencem a aceitar muitas destas falsas necessidades, a enxergá-las como legítimas. É preciso se libertar desta hipnose.

7) Em relação ao item 6, não estou dizendo para ser radical e abolir completamente todas as "marcas caras" da sua vida. Às vezes o preço mais caro realmente é justificado por uma qualidade superior, e quando este for o caso e para você a relação custo X benefício lhe for favorável, vale à pena, sim, pagar mais caro. O problema que estou apontando no item 6 é em relação à quantidade (ex: tênis da marca "X" realmente são bons, mas basta ter uns dois ou três pares, é exagero querer ter, digamos, 10 pares) e à velha lição imortal que é a base de toda a educação financeira: não gaste mais do que você ganha. O "mundo", a "matrix", etc. te incentiva a consumir, a gastar muito, a financiar coisas, pegar empréstimos, etc., e cabe a você ser sensato e gastar menos do que ganha, evitar ao máximo pegar empréstimos e financiamentos, sempre pagar em dia a fatura inteira do cartão de crédito (esqueça esse negócio de "pagar o mínimo"), nunca entrar no cheque especial, etc. Uma das piores coisas que aconteceram com os pobres nesta bizarra época em que vivemos foi o fato de que muitos foram convencidos de que precisam ostentar, que precisam ter um padrão de vida maior do que suas rendas comportam, ou seja, convenceram os pobres que eles não podem viver como pobres, que eles precisam viver, nas aparências, como se fossem da classe média alta. Eles deveriam, para se salvar, reaprender a viver como pobres, tal qual nossos avós. Eles sabiam ser pobres: não ostentavam, não tinham gastos supérfluos, sabiam se controlar, sabiam trabalhar duro, colocavam a família em primeiro lugar, etc. E hoje em dia vemos pobres ostentando, parcelando Iphones em N vezes e comprando abadás e ingressos caros,  enquanto moram em barracos, sem poupança, sem reservas, vivendo de salário em salário, pendurados no cheque especial, tendo que acordar às 4h para chegar às 7h no trabalho, e chegando em casa às 22h, sustentando a roda da corrida dos ratos. Isso não é uma forma de escravidão?

Uma crítica que, imagino, alguns farão aos itens 6 e 7:"Ah, não é bom ter um mindset de miséria, porque ele te leva a mais miséria" - claro que não é bom, não é isso o que estou dizendo, não estou defendendo este mindset. O que quero dizer é que, pelo menos no começo da jornada, pode ser necessário fazer coisas como "contar os centavos" e "apertar o cinto", ou seja, saber ser pobre, para evitar cair no cheque especial, evitar se endividar, etc. mas depois que conseguimos melhorar a situação, podemos ir aos poucos ir abandonando estes hábitos, até chegarmos na situação ideal que é não se preocupar muito com os preços das coisas do dia-a-dia, alcançar o equilíbrio entre viver bem e poupar para o futuro.

Forte abraço a todos! Fiquem com Deus!