quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A inspiradora história de Dwarf Fortress

Dwarf Fortress é um jogo misto de estratégia com RPG e com administração de recursos relativamente obscuro (mas hoje em dia nem tanto)  que conquistou uma razoável comunidade de fãs na internet.


Como o nome sugere,  basicamente é um jogo ambientado em um mundo de fantasia medieval em que você controla uma pequena tribo de anões, a  qual começa com apenas uma carroça de recursos e vai aos poucos construindo uma fortaleza, enquanto coletam recursos, fabricam coisas e se defendem de monstros. 

O carro-chefe do jogo é a construção de fortalezas e cidades subterrâneas, bem como sua exploração.

O jogo é "feio", pois não possui gráficos (não tem sprites): tudo na tela é desenhado somente com caracteres ASCII. Uma escolha deliberada dos criadores, para não "perderem tempo" editando gráficos e adaptando o programa às animações necessárias, e também para que o jogo não ficasse lento, tendo em vista o gigantesco volume de variáveis, interações e funções rodando.

O visual do jogo é assim, todo "escrito", só tem caracteres


Além disso, jogo é extremamente complexo, com muitas situações possíveis, cada personagem sendo extremamente detalhado, desde status comuns como saúde,  força e defesa, até o nível de gostos pessoais (isso em um simulador de construção de fortalezas, com potencialmente milhares de personagens coexistindo e sendo gerenciados pelo jogador), com geração de mundos, geração de mitologia dos mundos, coleta de recursos, sistemas de geração de acidentes e desastres, sistema de magia, sistema de profissões, sistema de combate fisico, diplomacia, espionagem, etc, com todos os subsistemas necessários para que tudo isso funcione. 

E ainda por cima tem o modo "Fortress", com foco na construção de fortalezas e coleta/administração de recursos, e o modo "Adventure", com foco mais no lado RPG, de exploração e luta.

Notem os menus, acho que é do modo Adventure


Um mapa de uma ilha gerada aleatoriamente no jogo

Cada vez que você joga, tudo o que você faz no mundo que foi gerado aleatoriamente para aquela partida influencia não só nos aspectos físicos/geográficos, mas também na própria história e mitologia daquele mundo (também geradas aleatoriamente). E é muito fácil perder pois há muita complexidade envolvida. E como tudo o que você faz influencia o mundo do jogo, é possível explorar as ruínas de uma fortaleza que você construiu meses antes em uma partida perdida. 

Notem que perder é uma parte importante deste jogo.


Tudo isso foi programado ao longo de mais de 20 anos (e os trabalhos ainda estão em andamento), desde 2002, com mais de 700.000 linhas de código em C e C++, por apenas duas pessoas, os irmãos Tarn e Zach Adams.

Tarn cuida da programação e Zach cuida da lore do jogo.

O que me surpreende nesta história é que ambos estão trabalhando juntos há mais de 20 anos dedicando quase que 100% de seu tempo a este projeto e, há até pouco tempo,  viviam somente de doações dos fãs. 

Chegaram até mesmo a recusar uma proposta de US$ 300,000.00 para licenciar o nome "Dwarf Fortress" (que, convenhamos, é um nome comercialmente muito bom, com grande potencial de venda), pois não abrem mão de sua magna opus. 

E acredito que tenham recusado outras ofertas, não só de dinheiro, mas também de trabalho em grandes empresas de jogos.

Por muito tempo se mantiveram dissociados de empresas de jogos, em parte por conta de Tarn querer se dedicar a programar, e não a "gerenciar projetos", e em parte (creio) para manter sua liberdade criativa e controle total de sua criação. Só recentemente se associaram a uma empresa relativamente pequena focada em indie games chamada Kitfox Games, e mesmo assim, mais por questões relativas a saúde: sendo associados eles teriam mais acesso a planos de saúde e poderiam se cuidar no caso de tratamentos de doenças graves. Através dessa parceria, foi lançada uma versão comercial de Dwarf Fortress na Steam, esta com gráficos, para tornar o jogo mais palatável para audiências maiores (imagino que sacrificando vários recursos do jogo para conseguir rodá-lo com gráficos). 

(Só espero que a empresa não sacaneie os criadores do jogo, através de cláusulas escusas e obscuras no contrato, como outras já fizeram)

A versão comercial me parece ter sido um suceso de vendas, com mais de 500.000 cópias vendidas até o momento, o que deve colocar Tarn e Zach em uma situação bem mais confortável.

Eu sinceramente acho esta uma história inspiradora, principalmente em relação à dedicação dos criadores, sendo também uma valiosa lição de auto-superação e criatividade: literalmente criar algo praticamente "do nada", partindo somente de uma idéia, com muito esforço próprio e improvisando com os recursos e ferramentas disponíveis. 

Um verdadeiro exemplo da força da vontade e da criatividade humana.

Leiam uma entrevista com o programador do jogo neste link.

E, abaixo, um pequeno "documentário" da história do jogo:


E, como não podia deixar de faltar, aqui está o link para o site do jogo, onde o mesmo pode ser baixado de graça: Bay 12 Games. No site da empresa também há um link para fazer doações via PayPal. 


Eu acompanho esse jogo faz uns dois anos, e já joguei algumas vezes. Imagino que se estivesse em outra fase da vida teria ficado "viciado". Ainda não tive tempo (e nem saco) para me acostumar com a ausência de gráficos e nem com a complexidade do jogo, mas mesmo assim admiro a história por trás da criação dele. Talvez eu compre a versão da Steam, ou baixe algum dos (vários) mods que foram feitos para incluir gráficos no jogo.


Podemos tirar algumas lições valiosas da história da criação de Dwarf Fortress, por isso quis compartilhá-la com vocês. 


Forte abraço!

Fiquem com Deus!





6 comentários:

  1. Esse tipo de jogo é interessante, infelizmente tal como você já estou em outra fase da vida.

    Isso tudo me fez lembrar Tribal Wars que joguei na minha adolescência.

    Eu gosto de jogos que tem história, que tem decisões importantes a serem tomadas, é mais interessante do que simplesmente só ficar dando tiro como tem situado o caso de muitos jogos na atualidade (me senti a Rede Record kkkk)

    Abraços,
    Pi

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    1. Eu também prefiro jogos assim, de planejamento, estratégia, etc. Nunca fui muito fã de jogo de tiro (exceto Doom e Wolfenstein, da época do MS-DOS, mas mesmo assim joguei pouco esses dois)

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  2. https://en.wikipedia.org/wiki/What_Did_I_Do_to_Deserve_This,_My_Lord%3F

    tenho jogado essa franquia há meses
    só que tiro o audio do jogo e ouço o audio de algum curso enquanto jogo

    abs!

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    1. Parece interessante esse jogo. Não consigo jogar e prestar atenção em alguma coisa importante ao mesmo tempo. Um podcast ainda consigo, mas um curso não.

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    2. não é qualquer curso
      funcionaria com direito, história, teologia e filosofia, ou seja humanas para mim

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    3. É, dependendo do assunto, se eu sei bastante, ou gosto/domino, pode ser que dê, mas não curto muito ficar estudando e jogando ao mesmo tempo. Teve uma época na faculdade que eu estudava e ainda ficava com o laptop aberto jogando Total War, ou Rollercoaster ou Age of Empires, mas não dava muito certo não rs

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