domingo, 25 de abril de 2021

Iniciando minha carteira de investimentos - parte 2 - Reserva de Valor

 Saudações, confraria da blogosfera!

Complementando o post anterior, sobre a alocação dos investimentos, vou falar sobre a reserva de valor, a qual, pelo menos no momento, pretendo que irá compor no máximo 5% de meu patrimônio (mas essa porcentagem pode mudar conforme meu entendimento e a situação geral mudem)

1) Primeiramente, para que serve uma Reserva de Valor?

No meu entendimento, ela serve para proteger a mim e à minha família de desastres políticos, como confiscos de dinheiro em conta-corrente e poupança (que nem na época do Collor), congelamento de ativos por decisões judiciais, bloqueio de conta bancária por motivos políticos, etc. 

Ou seja, a reserva de valor não é para especular e lucrar com as valorizações (embora isso possa eventualmente acontecer): ela serve simplesmente para eu conseguir me virar nos cenários desastrosos que apontei acima. 

Serviria, na época do confisco das poupanças nos anos 90, para eu não me desesperar (como muitos se desesperaram) e para eu conseguir ao menos por um tempo suprir minhas necessidades básicas e de minha família (comida, água, luz, etc). Se isso acontecer de novo (toc, toc, toc), ela servirá para este tipo de proteção.

Serviria também para me ajudar a fugir do país no caso de uma guerra civil, de um golpe comunista, etc. Ao menos para ajudar comprar as passagens de avião para fora, ou para pagar um atravessador na fronteira, e para as despesas iniciais em outro país.

Em último caso, serviria para subornar o guarda do gulag e fugir da prisão, no pior cenário (bati na madeira aqui, gente).

Rezemos para que nada do que escrevi acima aconteça, com nenhum de nós. 

2) E o que serve como reserva de valor?

Obviamente, não pode ser nada que fique em custódia em um banco brasileiro, pois assim estaria ao alcance do governo. Sendo assim, a Reserva de Emergência não serve, e nem o dinheiro em conta corrente. 

a) Dinheiro físico guardado em casa ou em algum outro esconderijo serve. No caso de um confisco semelhante ao do Collor, muito provavelmente até Reais físicos serviriam para me livrar de um sufoco.

Mas o ideal mesmo é ter moedas fortes (principalmente dólar, mas também libras e euros) físicas guardadas em algum esconderijo - não pode ser num cofre de banco, porque aí não estarão protegidas nem de um confisco geral. E numa grande crise, imagino que os bancos iriam fechar. No caso de um golpe comunista, imagino que seriam fechados pelo governo, e aí eu perderia o acesso ao cofre.

b) Além do dinheiro físico, também recomendaria ter uma conta no exterior, nos EUA ou na Europa, de modo a ter recursos mais sólidos e mais seguros em outro país, fora da jurisdição de nosso governo. A conta no exterior seria um lugar para onde eu enviaria remessas periodicamente e também para receber o valor de eventuais vendas de ações e FIIs investidos no exterior. Seria necessário um banco nos EUA ou na Europa que aceitasse correntistas não residentes, e que aceitasse abrir conta on-line. Ainda estou pesquisando isso, então se algum leitor souber, por favor me dê uma dica. 

c) Também podem ser usados como reserva de valor os metais preciosos, pois historicamente sempre foram aceitos nas trocas comerciais, desde que a humanidade chegou à abstração do dinheiro. 

Os mais úteis, na minha opinião, são o ouro e a prata

Acho importante ter ambos na reserva, pois a prata serviria para pequenas transações (alimentos, transporte, roupas, etc.) e o ouro poderia servir para as grandes compras (casa, terreno, carro) e para guardar grandes valores em pouco espaço. 



Porém, conforme o gráfico no capítulo 1 do livro Stocks for the Long Run, do Jeremy Siegel, o ouro praticamente acompanhou a inflação (em relação ao dólar) no período considerado na análise dele. Com base nisso, para o longo prazo o ouro só serve mesmo para a reserva de valor, pois a tendência é que acompanhe a inflação. Hoje, cerca de 320 reais compram 1 grama de ouro. Pode ser que daqui a 20 anos R$ 320,00 seja o preço de uma bala juquinha (batam três vezes na madeira aí, gente), mas 1 grama de ouro continuará sendo 1 grama de ouro e certamente valerá muito mais que uma bala juquinha. 


O problema é onde adquirir ouro e prata, e de maneira conveniente para que realmente funcionem como reserva de valor - ou seja, que possa ser revendido depois, caso necessário. 

Uma forma são as joias, as quais em uma situação de crise podem ser vendidas pelo peso de seu metal, com a desvantagem de que você pagará muito mais que isso para comprá-las - o que não inviabiliza o uso como reserva de valor.

Outra forma são moedas de coleção (numismáticas), principalmente as de prata, que existem muitas e não são muito caras (mas há a necessidade de consultar catálogos de moedas para verificar o teor de metal precioso em cada moeda, para saber quanto de metal estamos de fato comprando). 

Elas também têm o inconveniente de que pagaremos mais do que o valor do metal e numa crise as venderemos somente pelo peso (sem o "valor numismático") - claro que isso também não inviabiliza seu uso como reserva de valor, na minha opinião. 

O maior problema das moedas numismáticas é, a meu ver, o risco de falsificação. Então é necessário muito cuidado na hora de comprá-las.


Mas eu acho que a forma ideal de investir em metais são aquelas "moedas de investimento", que têm pesos padronizados e vem com certificados dos fabricantes (um exemplo famoso é a maple leaf canadense), pois creio que essas são relativamente fáceis de vender. Outra forma são barras de ouro e prata com pesos padronizados (e que também vem com certificados de autenticidade). 

O que conta aqui é a facilidade de vender quando necessário, e estas (moedas e barras) são as mais fáceis de vender, na minha opinião, por conta de sua padronização.

Em relação a fundos de ouro (ex: GOLD11), eu não os considero bem como reservas de valor no sentido pleno da expressão. 

Certamente podem ajudar a proteger o patrimônio contra a inflação, mas não o protegem contra confiscos de autoridades e  nem contra grandes crises nacionais e internacionais, pois você é dono de um papel, e mesmo que ele seja conversível em ouro, na hora que o problema surgir você pode ficar na mão - por exemplo, o banco simplesmente fecha, ou restringe os resgates, ou o governo baixa uma lei na canetada proibindo a conversão, etc. - Exemplos históricos para isso não faltam. Pesquisem sobre a perda do lastro em ouro do dólar, quando os bancos foram proibidos de converter dólares em ouro e logo depois virou crime ter moedas de ouro nos EUA (ordem executiva 6102 de 1933). 

Acho que, se você faz questão de aplicar em um fundo de ouro, ele pelo menos deveria ser no exterior, para no mínimo você estar protegido contra o risco nacional. 


d) Por fim, temos as criptomoedas. Cada vez mais populares, e com novas surgindo a cada dia, elas ainda estão longe de funcionarem a contento como meio de troca (por conta da imensa volatilidade) e como unidade de conta (idem), mas ao menos as mais confiáveis delas podem, a meu ver, servir como reserva de valor, pelo menos enquanto durar esta confiança. 

O problema está justamente na confiança: alguns criptoativos já se revelaram esquemas de pirâmide, vários parecem que são criados só de zoeira... enfim, é difícil confiar em um criptoativo, principalmente um que seja recém-criado. E me parece que a confiança neste tipo de ativo tem sido bastante abalada.  O nosso colega da blogosfera Gerson Ravv parece que se decepcionou com as criptos.

O Peão Playboy, em seu último post até o momento, também deu uma opinião interessante e com os pés no chão sobre as criptos.

E o Heavy Metal, que anda sumido, também deu sua opinião sincera, a qual transcrevo aqui: 

"Pensando em arriscar um "troco" em um fundo de Criptomoedas, mas sinceramente acho que é uma bolha prestes a estourar. Quem surfou, surfou e ganhou muito dinheiro - e eu, perdi o bonde. Tenho medo de entrar agora. Em tempo: não faço aqui juízo de certo ou errado, mas sim de timing para entrar no ativo! Se vai ser ouro digital ou "merposa", só Deus sabe. É uma onda violenta e entrar na hora errada... é pedir para rasgar dinheiro."

Para as criptos, tentando formular uma teoria, eu acho que um critério de compra plausível é o teste do tempo. Outro critério plausível seria a reputação.  Vejam que isso tudo é muito subjetivo. 

Se nada é garantido nos investimentos, no mundo das criptos isso é ainda mais verdade. E acho que por um bom tempo irá pairar sobre elas algum risco de criminalização ou de outro tipo de interferência estatal (vide o processo que a SEC [a CVM dos EUA] está movendo há alguns anos contra a Ripple).

Enfim, em relação às criptos, eu até quero entrar no mercado, mas com muito critério e cautela. Acho que por enquanto só aportaria algo entre R$100,00 e R$200,00 por mês. Tenho pesquisado exchanges e estudado sobre cold wallets. Se alguém tiver uma recomendação, por favor comente aí.

Dada a dificuldade inerente ao assunto, digo que as criptos merecem futuros posts, no quais irei resumir meus estudos sobre o assunto. 

Existem mais coisas que servem como reserva de valor (obras de arte, itens de colecionador, etc.), mas são coisas, a meu ver, muito específicas e que seriam mais difíceis de revender do que os metais preciosos e as criptos, então não vou descrever aqui. Com certeza são bons para quem os entende, mas costumam não ser uma boa ideia para pessoas comuns. 

E acima de tudo, uma coisa bem mais importante do que "onde aportar seu dinheiro" : a reserva mais importante do indivíduo, materialmente falando, são as suas habilidades e aprendizados, e também sua cultura. Sendo assim, "aportem seu tempo" estudando, praticando habilidades úteis, lendo a boa literatura, enfim, buscando sempre melhorar como indivíduos.

Pois bem, confrades, estes são os meus pensamentos sobre a Reserva de valor. Qual a opinião de vocês sobre isso? 

A parte 3 desta série será sobre ações.

Forte abraço, meus companheiros de trincheira! 

Fiquem com Deus!


terça-feira, 20 de abril de 2021

Iniciando a minha carteira de investimentos - parte 1: Alocação

 Saudações, confrades!

Com a iminência da quitação de meu financiamento imobiliário, já há algum tempo iniciei os estudos dos ativos que pretendo adquirir para aportar meu suado dinheirinho.

Seguindo o conselho do Viver de Renda (lá de 2009), como ainda estou longe de ficar velho, considero que a volatilidade é minha amiga, então a maior parte da minha alocação será na renda variável, a princípio na proporção 75% na Renda Variável e 25% na Renda Fixa. 

obs: nunca alocarei 100% na Renda Variável porque tenho uma pessoa próxima na família que agia assim e perdeu praticamente tudo na crise de 2008, vendendo suas ações no fundo, tomada pelo pânico.

(Ninguém sabe como vai agir ao ver os investimentos derretendo, por mais que tenha estudado todas as teorias e lido todos os livros de finanças, então acho importante ter uma parte considerável na RF para dar tranquilidade)

Sendo assim, pretendo realizar meus aportes de modo a distribuir meu patrimônio da seguinte maneira:

a) 35% em Ações (conforme critérios que divulgarei em um post futuro)

b) 35% em FIIs (para ir construindo meu fluxo de caixa passivo mensal que eventualmente me permitirá me aposentar e/ou arrumar um trabalho mais light)

c) 5% na Reserva de valor (ouro, prata, dólar, euro, libra, criptomoedas)

d)  25%  na Renda Fixa (enquanto não decidir onde aportar, deixarei na poupança, junto da RE)

As porcentagens acima são só um guia, eu não vou me apegar a elas que nem um bitolado e ficar fazendo controle milimétrico do patrimônio. Além disso, nada impede que com o tempo eu mude de ideia e altere os valores... Mas por enquanto é isso.

Nestes quase cinco anos quitando meu financiamento, quase em nenhum momento sobrou dinheiro para investir em nada - todo o meu dinheiro estava indo para quitar a dívida ou para reforçar minha RE na poupança.  Mas, conforme escrevi no início, neste meio tempo fui estudando e selecionando pelo menos alguns dos ativos, e em breve irei começar os aportes.

O que acham da minha alocação de ativos, pessoal? 

Forte abraço! Fiquem com Deus!




sábado, 3 de abril de 2021

O drama de ter que fazer um TCC

 

Um dos grandes erros de nossa academia é o excesso de preocupação com a forma dos trabalhos que são feitos e a quase absoluta falta de preocupação com o conteúdo e com os efeitos práticos que as conclusões de tais trabalhos alcançam.

Basta observar que em qualquer TCC o que mais se cobra são as regrinhas da ABNT e não o conteúdo e a qualidade do texto em si. O irônico é que praticamente toda faculdade, não importa se de humanas ou de exatas, tem uma matéria só para ensinar essas regras ("metodologia da pesquisa"), mas esta matéria geralmente é tão árida (e muitas vezes mal ensinada) que quase todo mundo tem que ficar pesquisando na internet como fazer citações do jeito certo e outras regrinhas bobas (ou pagar alguém por fora para formatar o trabalho - aliás, está aí uma boa ideia de pequeno negócio para um universitário ganhar uma renda extra, caso tenha paciência, desde fique só na formatação e não envolva fazer o trabalho inteiro para os outros.)

Conforme disse em outro post sobre educação, descreverei aqui algumas das minhas experiências ruins com este tipo de trabalho. Provavelmente alguns de vocês irão se identificar:

1) No TCC da faculdade, acabei escolhendo um tema que infelizmente era meio complicado de encontrar bibliografia - acho que só tinha uns 3 ou 4 livros em português, e eu comprei todos para fazer o trabalho. O problema é que eles não são atualizados há muito tempo (o mais recente era uma edição de 2005) e o professor ficou cobrando que eu colocasse citações de mais livros e de livros mais recentes, sem entender que a bibliografia era escassa. Para sossegá-lo, procurei dissertações de mestrado sobre o tema (também raras) e coloquei citações delas só para encher linguiça. 

Na verdade, nenhuma das citações que eu coloquei contribuía de fato para o trabalho, mas infelizmente nossa academia entende que somos obrigados a citar autores só porque sim, como se nenhum de nós fosse inteligente o bastante para ter raciocínios próprios. 

Para os meus leitores que porventura ainda estão na faculdade e não chegaram ao TCC, coloco um exemplo bem hipotético para ilustrar o que os aguarda:

-Você entrega o primeiro rascunho do trabalho assim: 

"O céu é azul, o sol está brilhando, e os passarinhos cantam... a primavera chegou."

-Então o professor te devolve o rascunho com a seguinte correção:

"O céu é azul [quem disse que o céu é azul? colocar citação], o sol está brilhando [novamente, você está fazendo uma afirmação não embasada. Sugiro colocar uma citação de autor consagrado para dar força ao seu argumento] , e os passarinhos cantam... [faltou citação, e não use reticências em trabalhos científicos. Recomendo usar ponto e vírgula para este tipo de separação] a primavera chegou." [a conclusão está partindo de premissas não embasadas em autores confiáveis. Sugiro verificar isso e mudar o tipo de verbo usado na conclusão. Também deixo como sugestão usar mais de um tipo de citação para enriquecer o trabalho]

-Então, você, que não quer perder pontos e nem perder tempo, devolve o trabalho assim:

"Segundo Ramos (2018) "o céu possui tonalidade azul cerúlea que fica mais intensa nos meses mais quentes do ano". Para Almeida e Gonçalves (apud Pedroso, 2015):

o sol brilha forte no alto do céu nas 

estações da primavera e do verão.                                                       

É comum que as aves saiam de seu                                                   

 período relativamente silencioso                                                          

observado nos meses mais frios.

(Pedroso, 2015, p. 394)

Partindo dos pontos de vista apresentados acima, é bastante seguro afirmar que, através da observação do céu quando este apresenta tonalidade azul mais intensa, assim como da observação do aumento da intensidade da luz solar, que o local observado encontra-se na primavera. Para reforçar a conclusão, há também a evidência do aumento na frequência do cantar das aves, conforme definido acima por Almeida e Gonçalves.

-E provavelmente depois de entregar esta versão, ainda corre-se o risco do professor dizer que a referência a Almeida e Gonçalves está datada, porque é de 6 anos atrás, ou que não são autores consagrados, e então exigir uma citação do professor doutor Lindomar. 

O exemplo que dei acima foi bastante esdrúxulo, mas acredito que ilustra muito bem a estrutura de um típico TCC nas universidades brasileiras: gastamos linhas e linhas com citações para chegarmos a conclusões óbvias ou semi-óbvias. Gastamos muito tempo e energia fazendo textos que talvez nem o orientador irá ler direito, e que depois será arquivado e esquecido para sempre.


2) Outro causo do TCC da faculdade: o primeiro feedback do professor orientador foi de "isso que você apontou como problema para propor uma solução eu realmente não enxergo como um problema, então sugiro que você mude o tema do seu trabalho" - sendo que faltava dois meses para entregar. Como eu sempre tive dificuldade em escolher o tema de qualquer trabalho em que o tema era livre, ignorei o conselho dele e continuei mandando os rascunhos com o mesmo tema, na cara de pau. Eu acho meio exagerada essa coisa de que o TCC de uma faculdade tem que propor uma "solução" para um "problema" - até porque o limite costuma ser de 20 páginas, com espaçamento 1,5 e sendo obrigatório encher o texto de citações só porque sim. Como realisticamente propor uma "solução" para um "problema" em 20 páginas?

E o pior: muitas vezes somos forçados a inventar um "problema" que não existe e a propor uma "solução" imaginária.

Infelizmente, temos essa mania de "brincar de pesquisador" em todas as nossas faculdades. Esse modelo obviamente não deveria ser aplicado a todos os cursos. Na minha opinião, os TCC de nível de graduação nem deveriam existir, mas já que o MEC faz questão, então eles deveriam ser somente resenhas de livros consagrados de cada área ou simplesmente estudos de caso, e com limite maior de páginas. Tem vários assuntos em que 20 páginas é muito, e vários assuntos em que 20 páginas é muito pouco, ainda mais em se tratando de "problemas" que muitas vezes nem existem

Acho que soluções de verdade para problemas de verdade estão mais no nível do doutorado e do pós-doutorado, com muito mais tempo para pesquisar e muito mais páginas para escrever.


3) Na pós-graduação que fiz, havia algumas matérias com  trabalhinhos de 1 ou 2 páginas que valiam 1 ponto cada. Geralmente eram 3 ou 4 perguntas e era só enviar um arquivo de Word com as repostas para o e-mail do professor. Como era fácil, cada resposta tendo no máximo 1 ou 2 parágrafos, eu simplesmente respondia e mandava sem grandes preocupações. Acontece que na primeira vez um dos professores me devolveu o trabalho corrigido dizendo que eu não havia deixado as respostas no formato padrão da ABNT. Ele estava cobrando que eu colocasse citações de autores e colocasse tudo com as margens, fontes e espaçamentos corretos para responder àquelas perguntinhas simples. Fiquei pasmo com isso.

A minha vontade era dizer que para um trabalhinho de 1 ponto simplesmente não valia a pena perder tempo cumprindo as regras da ABNT, afinal eu gastaria mais tempo formatando o texto e procurando citações para encher linguiça do que de fato respondendo as perguntas, mas como eu tinha mais a perder do que a ganhar fazendo essa reclamação, deixei para lá. Continuei mandando os trabalhinhos sem me preocupar com a formatação e dane-se. Na terceira vez eles pararam de me recomendar que colocasse no padrão da ABNT e ao invés de eu tirar 1 eu tirava 0,8 ou 0,7 na nota. Que lástima, não é?

4) Ainda sobre a minha pós-graduação, uma reclamação memorável  que recebi de um dos professores daquelas matérias com trabalhinhos de 1 ponto era que eu não estava colocando citações nas respostas e, palavras dele: "no nível de pós-graduação, é esperado que as respostas sejam bastante embasadas, afinal não estamos mais no ensino médio, precisamos pesquisar para responder bem cada pergunta que é feita, então é esperado que cada aluno use o máximo de recursos acadêmicos para orientar seus estudos".

Por um lado eu entendo que o uso de citações é uma ferramenta para evitar que os trabalhos sejam feitos com base em "achismo", mas por outro lado, vejo que há um grande exagero em nossa academia em relação à exigência de citações, como podemos observar neste exemplo, em que o professor cobrava citações em respostas que teriam no máximo 2 parágrafos. Até parece que os alunos da pós-graduação não podem pensar por conta própria... Nesse quesito o ensino médio está melhor servido, pois o aluno é livre para escrever usando seu próprio raciocínio sem ter a cobrança por citações, enquanto que o pós-graduando está amarrado a esta obrigação que a meu ver é muito mais estética do que legítima. 


Dito isto, atualmente tenho sentimentos mistos em relação a fazer um mestrado em minha área de interesse. A principal razão para me deixar com um pé para trás são estas cobranças fúteis de nosso academicismo. Porém, não nego que ter um mestrado me ajudaria a alcançar uma carreira de professor, o que me permitiria eventualmente deixar meu atual emprego. Confesso que já estive mais empolgado com esta ideia, mas ainda acho que vale a pena ao menos ter esta carta na manga, como um plano "B" da vida. Vou continuar pensando com carinho nesta ideia.

É uma pena que nossas universidades e escolas (inclusive as particulares) já há muitos anos tenham sido tomadas por ideologias nefastas e inimigas da humanidade, embora posem de defensoras dos pobrezinhos. O trabalho para reverter este quadro será árduo e demorado, mas precisa começar, de algum jeito, ainda que de fora da academia. Já há alguns professores bem intencionados lutando o bom combate, discretamente, tijolinho por tijolinho.


Enfim, cavalheiros da blogosfera, mesmo que eu algum dia consiga ter uma carreira acadêmica, sempre escreverei com muito mais sinceridade e autenticidade aqui do que em artigos acadêmicos, pois aqui - ou em qualquer outra plataforma onde eu eventualmente vá escrever alguma coisa sob este ou outro pseudônimo - este relativo anonimato e total informalidade me deixam mais livre e confortável para expressar minhas ideias.

Embora isso seja só um meme, tem um fundo de verdade

Feliz Páscoa a todos!

Fiquem com Deus!