domingo, 24 de março de 2019

Financiamento imobiliário - o poder libertador das amortizações extraordinárias

Conforme disse no final do meu post sobre o poder corrosivo dos juros, hoje vou falar sobre como agir em relação a um financiamento imobiliário já contratado.

Dito de maneira bem simples: não importa o prazo, os juros ou o valor financiado, a regra será sempre a mesma: adiante as parcelas! Junte dinheiro e adiante! Muito importante: peça para abater o valor adiantado do PRAZO, e não da prestação.

Por que isso? Porque, como falei no outro post, o prazo exercerá efeito exponencial sobre o montante devido, e é ele o principal responsável por termos pago 5, 6, 7 imóveis ao fim do financiamento.

Vou ilustrar os efeitos disso com o meu caso. Há alguns anos fiz um financiamento para adquirir o imóvel onde moro atualmente. Infelizmente, tive que fazer o "padrão" de 30 anos, por ter encontrado um imóvel que considerei bastante bom e por não ter dinheiro suficiente para financiar em um prazo menor (as prestações de um contrato de 25 ou 20 anos "não caberiam" no meu bolso). Conforme falei desde o início do blog, não vou dizer o valor exato, para preservar minha privacidade. Sendo assim, transformarei todos os valores do exemplo em índices.

Digamos que o financiamento tenha o valor de 100. As prestações (no início) valiam 1,13 e iriam diminuindo com o tempo, mas diminuiriam beeeem devagar (centavos por mês). Comparando com o índice representativo do valor financiado, o meu salário líquido na época equivaleria a 2,1. No início do financiamento, eu ainda estava tendo muitos gastos com a estruturação de minha vida e por isso não podia nem pensar em adiantar valores. Assim que "estabilizei" minha vida, apertei o cinto, fechei as mãos, e comecei a juntar dinheiro para realizar os adiantamentos.

A primeira vez, eu tinha conseguido juntar um valor de aproximadamente 10,5 (ou seja, pouco mais de um décimo do valor financiado). Quando liguei para o banco e solicitei a emissão de um boleto para amortização extraordinária, definindo que a mesma deveria ser abatida do prazo, e não das prestações, a pessoa que atendeu me disse que aquele valor abateria 105 meses do prazo do financiamento. Com cerca de um décimo do valor financiado, eu eliminei quase 10 anos da minha dívida. Quase um terço do prazo! Sendo assim, o cálculo do montante final não estaria mais "elevado a 30", mas sim praticamente "elevado a 20", o que é uma diferença considerável. Com relativamente pouco valor, eu havia comprado quase 10 anos de liberdade da dívida. Aquilo me deixou muito feliz e mais motivado para continuar com meu plano. Estabeleci uma meta a ser adiantada todo mês e, caso o plano seja seguido à risca, sem imprevistos, eu consigo me livrar desta dívida em pouco anos (bem menos do que os 30 do financiamento original!).

Por quê isso aconteceu? Porque quando se abate algum valor de uma dívida, o banco "puxa" as últimas prestações devidas, trazendo-as a valor presente, o que significa que são eliminados os juros que seriam pagos sobre as mesmas, fazendo com que o dinheiro adiantado incorra apenas sobre o valor do principal (acho que também são eliminados os valores referentes ao seguro de cada prestação que foi adiantada, mas não tenho certeza. Também não sei quanto à taxa de administração embutida em cada parcela). Seguindo esta lógica, como aquela foi  a primeira amortização extraordinária, foram puxadas prestações de mais de vinte anos no futuro para o presente, e por isso o desconto foi grande. Seguindo esta lógica, o desconto obtido com as próximas amortizações não seria tão grande assim, visto que as prestações "puxadas" estariam cada vez mais próximas do presente. Mas ainda assim, é um excelente negócio adiantar as prestações. A sensação de ver o prazo do financiamento e, consequentemente, os juros a serem pagos ficando cada vez menores, é bastante libertadora.

Nunca mais juntei tanto dinheiro quanto da primeira vez. As outras vezes que adiantei foram valores menores (na média 1), mas como as prestações ainda estavam bastante tempo no futuro, o número de meses abatido do prazo ainda era muito bom (na média 15 meses - ou seja, de cada vez eu conseguia me livrar, na média, de mais de um ano de financiamento). Atualmente o valor que falta para quitar totalmente a dívida é cerca de 70, e o "novo prazo" do financiamento (descontando todo o tempo que já comprei) é de aproximadamente 15 anos e meio (ou seja, a situação atual é como se eu tivesse financiado 70 - e não 100 - num contrato de 15,5 anos). Certamente o montante que terei pago, no fim de tudo, é bem menor do que eu pagaria se tivesse apenas ficado pagando passivamente as prestações por 30 anos. Para vocês terem uma ideia de como o sistema é "perverso", eu já paguei muito mais do principal da dívida com as amortizações extraordinárias do que com a parte do principal embutida em cada prestação (a razão é de mais ou menos 3 para 1 - ou seja, dos 30 de principal já pagos, 20 foram extraordinariamente e 10 foram pelas prestações mensais)

Se eu parasse agora de adiantar valores, já pagaria bem menos de juros no fim do contrato, tendo em vista a redução do prazo em quase metade do valor.

Porém, vou seguir com meu plano: não quero esperar tanto tempo para quitar esta dívida. Muito mais do que o dinheiro que eu  perderia pagando os juros (abusivos), há outros fatores, financeiros e não financeiros, a serem considerados:

1) Se eu perder o emprego e ainda não tiver quitado a dívida, posso perder o imóvel (e junto com ele, todo o valor já pago);
2) A inflação e os juros podem aumentar  do nada (não é o que se espera atualmente, mas nunca se sabe), o que prejudicará o pagamento de minha dívida (conseguirei guardar menos, posso passar por dificuldades, etc.);
3) Aqui é o Brasil, a terra da insegurança jurídica, praticamente uma terra sem lei (paradoxalmente, haja visto o excesso de leis e burocracias existentes!). Pode haver literalmente do nada uma mudança em alguma lei que me obrigue a de repente quitar o valor do imóvel, ou então, como já aconteceu com um pessoal que tinha financiamento da caixa, pode surgir "do nada", devido a alguma obscura cláusula contratual, um saldo devedor ao fim do financiamento, conforme dito nesta notícia >> https://extra.globo.com/noticias/economia/donos-de-imoveis-quitados-vao-justica-contra-nova-divida-21939275.html
4) Em consequência dos itens 1,2 e 3, o meu sono é menos tranquilo do que poderia ser;
5) Enquanto continuar com esta dívida, não vale à pena investir em outras coisas (ações, FII, etc.), pois considero que devo pagá-la o quanto antes, devido a tudo o que escrevi acima; e
6) A existência desta dívida me obriga a me manter numa determinada faixa salarial, o que me impede de buscar empregos com menos estresse onde eu ganharia menos, além de servir como mais um fator de pressão no trabalho (conforme item 1).


domingo, 17 de março de 2019

Desventuras no trabalho - meu primeiro chefe

Conforme falei no primeiro post deste blog, eventualmente compartilharei com vocês algumas histórias que passei no mundo do trabalho, algumas felizes e outras nem tanto. Como hoje é domingo e já passa da hora do almoço no momento em que estou escrevendo, esta é do segundo grupo. Espero que as coisas ditas aqui sirvam de lição, pelo menos para vocês saberem como NÃO AGIR, caso algum dia se tornem chefes/gerentes/diretores/CEO/etc. Na verdade, não tem nada de impressionante na história: infelizmente, acho que é normal ver essas coisas acontecendo em vários empregos por aí.

(Conforme escrevi desde o início, vou omitir os detalhes a respeito de meu trabalho (nomes, funções, etc.) para preservar minha privacidade e integridade, bem como as das pessoas envolvidas.)

No primeiro dia de trabalho no meu primeiro emprego, eu estava muito nervoso, pois não sabia o que aconteceria, como seriam as exigências, cobranças, o relacionamento com colegas e chefes, etc. Além disso, havia aquele nervosismo natural por ser "o cara novo do escritório". Além disso, eu sabia que aquela empresa tinha fama de o pessoal sair tarde todo dia, que lá era normal trabalhar sábados, domingos e feriados, etc. 

Em suma, no meu primeiro dia de trabalho, eu estava nervoso com o  que poderia acontecer, de ir embora muito tarde, e principalmente de não dar conta das demandas. Infelizmente, em quase tudo, eu estava certo.

Assim que cheguei e fui apresentado ao meu gerente, logo vi que ele era bastante exigente, adorava fazer piadas dos funcionários (mas óbvio que você não poderia fazer piadas dele) e ficava irritado fácil (logo antes de eu entrar na sala, ele estava dando esporro em alguém). Ele me falou o que eu iria fazer, as tarefas que iria desempenhar, etc. e me mandou para a minha mesa de trabalho, sem grandes cerimônias. 

Até aí, tudo bem, pensei que se ficasse na minha e fizesse tudo direitinho ele me deixaria quieto, mas logo vi que estava errado. 

Como eu era "o cara novo do escritório" (e demorou vários meses até surgir outro), ele me colocava para fazer aquelas tarefas pequenas que qualquer um pode fazer, mas que geralmente as pessoas não gostam: abastecer o cafézinho, colocar biscoitos na mesa do café, tirar xérox para ele e para os outros funcionários, pegar assinaturas em livros-ata, levar coisas para o correio, etc. Até aí, se fosse só isso, eu acharia normal, acharia parte da "iniciação" do mundo do trabalho. O problema era que eu acumulava as funções de 3 cargos (o meu e mais 2 que estavam vagos), e era cobrado como se só fizesse 1 função e fosse facílima, sendo que nada do que eu fizesse das "funções acessórias" justificaria qualquer atraso no cumprimento das "funções oficiais". E, óbvio, eu ganhava como se só fizesse uma função. Poderia haver 3 funcionários lá, então se a empresa me pagasse, digamos, por um funcionário e meio, ela ainda estaria no lucro. 

(Mas a dura realidade quase sempre é essa: mesmo que você acumule os cargos de 3, 4, 5 pessoas, a empresa continuará te pagando como se você só tivesse 1 cargo, e ainda te dirá que você é que tem que agradecer pela oportunidade de estar trabalhando lá. Muito triste. Isso destrói mentes e destrói famílias)
      
 Eu oficialmente tinha as funções X, Y e Z, sendo que X e Y tinham prazos, e Z era, a meu ver, uma coisa mais acessória (embora fosse tratada como algo importantíssimo), e todos os prazos eram cobrados como se fosse crime descumpri-los nem que o atraso fosse de 1 dia. Para piorar, no meio do trabalho, do nada, vinha uma reclamação do tipo "a minha lixeira ainda está cheia" ou "a garrafa de café está vazia", e lá ia eu parar o trabalho para abastecer o café e esvaziar a lixeira. Essas coisas realmente me atrasavam, e acabavam me fazendo ir embora mais tarde (a minha média era sair às 19h ou 19h30, e os outros conseguiam sair lá pelas 17h30 ou 18h).

Uma vez eu tive que preparar um powerpoint para explicar como ia ser desenrolada determinada tarefa a ver com X (a que eu considerava a mais difícil das minhas funções), e fiquei até umas 20h fazendo isso, e então dei por encerrado meu  trabalho naquele dia e fui para casa, deixando para terminar no dia seguinte assim que chegasse ao escritório (indo embora às 20h eu chegaria só pelas 21h30 ou 22h em casa, por causa da diminuição dos ônibus no horário, então não queria sair mais tarde do que isso). 

A apresentação estava marcada para as 10h, e como eu chegava umas 7h30, daria tempo de terminar (bastaria mais meia hora para acabar). O problema é que surgiram várias "emergências" para resolver (para vocês terem uma ideia, eu tive que ir pegar os documentos do carro de um dos chefes numa agência de correios... grande "emergência"), quase não consegui mexer na apresentação, e quando deu umas 9h45 e o gerente perguntou se estava pronto, eu disse que ainda faltavam algumas coisas. Nossa, ele ficou vermelho de raiva, tão rápido, tão de repente, que eu achei que ele fosse morrer, ter um AVC, sei lá. Eu expliquei o que aconteceu, as coisas que me atrapalharam (inclusive a história do documento do carro), mas, sabem como é... "você tem que dar conta!" e "não interessa o que aconteceu, isso é sua obrigação!". Eu ainda tentei argumentar dizendo que havia ficado até as 20h na véspera, tentando dizer que havia literalmente feito tudo o que podia, mas aí ele respondeu, falando alto: "Tivesse dormido no escritório para terminar, então!". 

Achei aquilo tão absurdo. Como ele podia exigir que eu dormisse no escritório? E a minha vida? Mesmo que eu ganhasse hora extra (e não ganhava), jamais dormiria no trabalho. Enfim, como sou tranquilo, segurei a raiva, e apenas fiquei olhando para ele, tentando não demonstrar nenhuma emoção. Não seria prudente rebater os argumentos de um cara tão poderoso (dentro da empresa) e tão arrogante. Eu não podia arriscar perder o emprego. No fim das contas, depois desta encheção de saco e muito blá-blá-blá sobre comprometimento e vestir a camisa, e etc. a apresentação saiu, com apenas quinze minutos de atraso. Mas a partir daquele dia, ele passou a me tratar pior e, sempre que eu me dirigia a ele, ele fechava a cara, já partia do pressuposto que eu estava errado, etc.

Desde esse primeiro "esporraço" que levei, comecei a planejar minha saída da empresa. Aquilo era realmente um hospício. Apesar do salário não ser ruim, não pagavam hora extra, não faziam banco de horas, e era realmente comum trabalhar aos sábados, domingos e feriados. Eu estava saindo tarde todos os dias, era muito raro sair antes das 19h (que para mim já é bem tarde). Secretamente, fui procurando outros empregos e, quando fui chamado, pedi demissão no mesmo dia. Não cheguei a ficar um ano lá, graças a Deus.


O que se pode tirar como lição desta história que contei hoje?

 1) Por mais que seja chato, realmente pode ser melhor ficar mais meia hora e terminar alguma tarefa do que se arriscar a levar um esporro de um workaholic arrogante. Acho que hoje em dia eu teria feito assim. Teria me poupado de algum estresse e hoje realmente vejo isso como um erro meu.

 2) Não trate seus funcionários na base do grito e da intimidação. Eu, por exemplo, saí de repente e deixei os caras "na mão", tiveram que se virar para preencher as 3 funções que deixei para trás.
 
3) O funcionário que é tratado com hostilidade rende menos. Não faça isso, e trate todos como seres humanos.

4) As pequenas tarefas (fazer café, abastecer o pote com biscoitos, etc.) têm que ser divididas. Essa coisa de pegar no pé do funcionário novato perde a graça rápido, e faz mais mal do que bem.

Esse gerente pegou bastante no meu pé enquanto trabalhei por lá, e eventualmente contarei mais histórias. Para aqueles que serão chefes um dia, tentem não ser como ele.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Financiamento Imobiliário - o poder corrosivo do prazo sobre nosso patrimônio

Para a imensa maioria dos brasileiros, a compra de um imóvel é o maior contrato que assinarão na vida; o maior negócio; o maior valor que irão gastar e a maioria tem a necessidade de recorrer a um financiamento imobiliário. Infelizmente são poucos os que dão a devida atenção a tal coisa, e não estudam o básico de matemática financeira para sequer analisar as alternativas disponíveis (não que haja muitas, mas sempre é bom ter os conhecimentos necessários).

Como diz o Bastter, a decisão entre ter uma casa própria ou morar de aluguel não é apenas financeira. Há variáveis psicológicas, emocionais, sociais, culturais, etc. que influenciam e devem ser levadas em conta. Uma delas é, obviamente, a felicidade do indivíduo e de sua família.

Primeiramente, um conselho: se sua família puder esperar um pouco e poupar mais, tente não financiar o imóvel. Tente pagá-lo à vista. Financie só se for necessário (por exemplo: você encontrou um bom negócio - um imóvel em um bom local e com o tamanho adequado para sua família a um preço bom - e você não quer perder a oportunidade)

Para os que não sabem absolutamente nada sobre matemática financeira, aqui estão algumas explicações básicas:

A não ser que você pegue  dinheiro emprestado com alguém bem próximo na família (tipo o seu pai ou sua mãe, e olhe lá), o emprestador irá cobrar juros, que são, grosso modo, o "preço do dinheiro" e eles podem ser do tipo simples (que incidem apenas sobre o capital emprestado, sem efeito cumulativo - ou seja, mantido o valor do empréstimo, todo mês o juro é igual ao do mês anterior) ou do tipo composto (quando os juros incidem sobre o capital emprestado e também sobre os juros acumulados - ou seja, juros sobre juros). Em 99% dos casos, o dinheiro é emprestado no regime de juros compostos. Vou escrever as fórmulas dos dois sistemas, para que a explicação fique mais fácil:

Juros simples >> J = C * i * t 
(onde C é o valor emprestado, i é a taxa de juros, e t é o prazo do empréstimo) - esta fórmula está calculando apenas os juros. Para saber  o total final da dívida (o Montante (M)) deve-se somar o valor inicial do empréstimo, ficando M = C + J = C *(1+ i*t). No caso dos juros simples, tanto a taxa de juros (i) quanto o prazo (t) multiplicam o valor que foi emprestado.

Juros Compostos >> M = C *(1+i)^t  

(onde o "^" significa "elevado a..."). Ou seja, no caso dos juros compostos, a taxa multiplica o valor emprestado, mas este valor está ELEVADO ao tempo. Com isso, o tempo exerce um efeito exponencial sobre o valor do empréstimo, e é aí que mora o perigo dos empréstimos em geral, principalmente do financiamento imobiliário. É o tempo o principal responsável pelos juros que se paga em um empréstimo.

As pessoas, quando decidem contratar um financiamento para comprar um imóvel, geralmente só prestam atenção na taxa de juros, e ficam comparando o financiamento oferecido pelos nossos (poucos) grandes bancos apenas pelas taxas (na grande maioria dos casos é a Caixa Econômica que oferece a menor taxa de juros). 

Quase ninguém pensa no tempo: todo mundo está acostumado a pensar no financiamento "padrão" de 30 anos, então já considera isso como dado e geralmente nem pensam que o tempo também tem que ser levado em conta para tomar esta decisão. 

Claro que a grande maioria das pessoas que têm condições de fazer um financiamento imobiliário (aquelas capazes de poupar o valor mínimo de entrada), não terão condições de financiar em menos do que 30 anos porque, se o fizessem, as prestações ficariam altas demais para suas faixas salariais. Teriam que ou dar uma entrada maior (tendo que poupar mais, correndo o risco de perder um bom negócio) ou aumentar suas rendas mensais, o que infelizmente é muito difícil para a maioria dos brasileiros.

Para aqueles que tiverem condições, é uma excelente ideia tentar reduzir o tempo do financiamento, fugindo do padrão de 30 anos

Vamos comparar os valores para termos uma ideia dos efeitos do tempo sobre os juros compostos, usando uma calculadora (bem simples) disponível neste site (https://www.calculadorafacil.com.br/financeiro/simulador-de-financiamento-de-imoveis):

Dados:
Sistema: SAC (neste sistema, paga-se menos juros do que na Tabela Price (TP))
Valor do imóvel = R$ 100.000,00 (valor escolhido para facilitar as comparações)
Valor financiado = R$ 100.000,00 (entrada zero, para facilitar a visualização dos resultados)
Juros = 9%a.a (vi  hoje mesmo alguns bancos oferecendo 8,8%a.a, 8,9% a.a, então arredondei para simplificar)
Seguros, taxa administrativa e taxa referencial = deixei as que o site colocou automaticamente
Prazo = 360 meses (30 anos)

Resultados:
Valor efetivamente pago = R$ 235.375,00
Ou seja, você comprou 1 imóvel e pagou 2,35 imóveis. Custo efetivo de 135,375%.
Primeira parcela:  R$ 1.027,78

Agora vamos refazer a simulação anterior, trocando o prazo para 20 anos (240 meses):
Valor efetivamente pago = R$ 190.375,00
Ou seja, foi comprado 1 imóvel pelo preço de 1,9 imóvel. Custo efetivo de 90,375%.
Economia de 45 mil reais;
Primeira parcela: R$ 1.166,67

Simulando com o prazo de 15 anos (180 meses) :
Valor efetivamente pago = R$ 167.875,00
Em 15 anos de financiamento, paga-se 1,67 imóvel. Custo efetivo de 67,875%
Economia de 67.500 reais em relação ao financiamento padrão de 30 anos.
Primeira parcela: R$ 1.305,56

Finalmente, simulação de 10 anos (120 meses):
Paga-se efetivamente R$ 145.375,00 (ou seja, 1,45 imóvel). Custo efetivo de 45,375%.
Economia de R$ 90.000,00 em relação ao financiamento "padrãozão" de 30 anos (quase outro imóvel)
Primeira parcela: R$1.583,33 (parcela quase 50% maior do que a do financiamento de prazo maior)

Reparem que à medida que diminuímos o tempo do financiamento, menos IMÓVEIS iremos pagar no final. Quanto maior o prazo, mais imóveis iremos pagar para o banco (dinheiro que deixamos de usufruir ou de aportar, o que prejudica nossa qualidade de vida e atrasa nossa TF - tranquilidade financeira) e, cá entre nós, os grandes bancos já têm lucros bilionários. Não precisamos dar ainda mais dinheiro para eles...

Se pararmos para pensar um pouco, vamos perceber a seguinte realidade: ao comprar um imóvel através de financiamento, devemos tentar fazer este contrato à menor taxa de juros possível, mas esta taxa não irá variar muito de um banco para o outro. Na verdade, a taxa de juros não está sob nosso controle. Ela teria que ser considerada como "dada"; dificilmente conseguiremos uma grande redução na taxa, e só nos resta aceitar a menor taxa que pudermos encontrar, caso não haja alternativa a não ser contratar o financiamento. As demais taxas (seguros, referencial, administração, etc.) também estão fora de nosso controle. 

As variáveis relevantes que estão, estas sim, sob nosso controle direto são o valor da entrada e o prazo do financiamento.

Devemos sempre procurar dar o maior valor de entrada possível (financiando menos) e contratarmos financiamentos pelo menor prazo possível (fujam do padrão de 30 anos! Se puderem, financiem em  5, 10 anos!), para que, no fim, paguemos o menor valor possível por nossas casas e apartamentos. Repetindo o que disse lá no início: se tiverem condições de poupar um pouco mais e pagar o imóvel à vista, não financiem! Paguem à vista!

Há ainda um detalhe importante, a respeito de o que fazer depois que se contrata o financiamento: esperamos o tempo passar, pagando passivamente, mês a mês, cada prestação, até acabar o prazo? Claro que não! Uma vez feito o financiamento, ADIANTE as prestações, todos os meses, se possível!
Mas este é um assunto para um próximo post...

terça-feira, 5 de março de 2019

O que vai acontecer quando ficarmos velhos? - parte IV

Um resumo do que descrevi até agora:

1- Salários reais crescendo devagar (ou não crescendo at all);

2 - Precarização das relações de trabalho;

3 - Aumento da rotatividade no emprego e do desemprego;

4 - Em consequência de 1, 2 e 3 >> redução generalizada da poupança e do consumo, além do aumento do endividamento da população

5 - Em consequência do item 4 >> ciclo vicioso de redução do rendimento das empresas e queda dos investimentos privados, levando ao reforço dos itens 1, 2 e 3.

Conforme falei na parte III, nenhuma análise econômica pode ter uma conclusão definitiva e absoluta, do tipo "é certo que tal coisa vai acontecer", pois as variáveis micro e macroeconômicas influenciam umas às outras, num ciclo, e estão sempre mudando e, além disso, o mercado reage aos acontecimentos. As pessoas comuns reagem de alguma maneira à pobreza e ao desemprego (na hora em que a fome aperta, a criatividade se liberta). O governo também reage,  e isso pode ser um problema.

O negócio é que, mantidas as atuais condições, somado aos POSSÍVEIS futuros efeitos da reforma da previdência** sobre a sociedade, o resultado final tende a ser bem ruim.

(**Cabe realçar aqui que não sou contra e nem a favor da reforma. Não estudei a fundo a questão, de modo que minha opinião é apenas baseada em bom senso, conforme disse em meu post sobre o assunto. Acho que previdência precisa sim de alguma reforma, mas não necessariamente a que está sendo proposta, e considero que talvez a melhor solução seja que ela deixe de existir, contanto que se pague os benefícios das pessoas que já foram OBRIGADAS a contribuir a vida inteira para o INSS. Acho errado o que a maioria faz, de basear 100% de suas opiniões apenas em poucos artigos de internet ou de jornal, não importa quem os tenha escrito, e chamar os pobres aposentados de parasitas só porque somos obrigados a pagar o INSS, sendo que 99% dos aposentados são pessoas honestas que contribuíram para o INSS por terem sido obrigadas a isso, então é justo que recebam a contrapartida por sua contribuição.)

Mas eu divaguei. O cerne deste post (e de toda esta série de posts) é esse: será que alguém vai conseguir realmente se aposentar pelo INSS, considerando que a idade mínima agora é de 65 anos (e daqui a alguns anos deve aumentar de novo) e aos 40 você já é visto como um velho para as empresas? 

O cenário mais provável é que o trabalhador "mediano" fique empregado até o 40-45 anos, e então seja demitido por causa da idade e/ou do salário (a desculpa vai ser algo do tipo "não vestir a camisa da empresa" ou "não ter o perfil da companhia", ou qualquer baboseira que o pessoal do RH inventar), e depois sobreviva de bicos, pequenos negócios ou subempregos, e continue contribuindo com o valor mínimo, só para "garantir" uma mesada do INSS (entre aspas porque nada é garantido), que mal dará para pagar as despesas médicas (mantidas as atuais circunstâncias). 

A maioria provavelmente ficará em sub-empregos ou empregos aquém daqueles que ocupavam anteriormente, uns poucos darão continuidade às suas "carreiras" (por exemplo, os executivos que são demitidos de uma empresa e logo são aproveitados em outra empresa devido à  sua experiência, com um cargo parecido), ou então se tornarão consultores, pequenos empresários, autônomos, etc. 

Muitos só encontrarão solução na informalidade, fazendo o que muitos já fazem: vendendo quentinha, encomendas de bolos e salgados, vendendo paçoca na rua, etc. Do jeito que as coisas são, acredito que a maioria vai ficar nesses últimos casos: sub-empregos e informalidade. E desses, provavelmente apenas os dos sub-empregos irão contribuir para o INSS (porque serão obrigados, caso estejam trabalhando com carteira assinada) e os da informalidade só contribuirão se acreditarem que valerá à pena abrir mão de parte de seus (magros?) rendimentos para dali a sabe-se lá quantos anos talvez começar a receber um salário mínimo do INSS. 

Quantos será que acreditarão nisso? Mantidas as atuais condições, me parece que o futuro será bastante parecido com os dias atuais, só que um pouco pior: mais pessoas de idade passando sufoco para sobreviver, tendo que pagar contas médicas caras com os parcos rendimentos de suas aposentadorias estatais. Pessoas estas que não têm um emprego "de verdade" dede seus 40 e poucos anos, e desde então se viram com pequenos negócios próprios (uma minoria), subempregos ou batalhando na informalidade, sendo obrigados a se manter pequenos o bastante para escapar ao radar de agências reguladoras e do fisco.

Para responder às perguntas feitas ao fim da primeira parte desta série: hoje em dia a sabedoria ancestral de poupar parte do que se ganha, pelo menos no Brasil, não é mais suficiente, e aparentemente o será menos ainda quando formos velhos. 


Assim, eu digo que. para sobrevivermos no futuro, será preciso: 


1 - poupar ainda mais do que se recomendava em outras épocas (diziam "pelo menos 10%" na época do meu avô, mas, na minha opinião, hoje em dia devemos buscar algo em torno de 40%. Quem puder poupar 50% ou mais do salário todo mês, faça isso);

2- entender mais de finanças (saber como funciona o mercado de ações, FIIs, renda fixa, etc; Entender de juros compostos; saber analisar empresas e negócios para decidir se vale a pena investir ou não, e por aí vai); 

3 - entender mais da legislação fiscal/trabalhista/empresarial (para não ser enganado ou ao menos dificultar que te passem a perna);

4 - diversificar bastante os investimentos (já confiscaram nossas poupanças, não faz muito tempo, historicamente) - se possível diversificar em outros países, de alguma maneira que nossos patrimônios, pelo menos parte deles, não seja alcançável pelo governo, no caso de um eventual novo confisco ou do surgimento de um imposto sobre ""grandes fortunas"";

5 - Estudar, aprender e praticar habilidades úteis que permitam trabalhar por conta própria ou até mesmo para empresas no exterior, a distância (ex: programação, desenvolvimento web, etc.) ou ofícios que lhe permitam prestar serviços e trabalhar como autônomo (marcenaria, hidráulica, eletricidade, etc.)

6 - Ter um pequeno negócio por fora que permita ganhar uma grana extra, que nunca deve ser gasta (exceto em emergências, claro), mas deve ser 100% investida em ativos financeiros (ações, FIIs) ou reinvestida no próprio negócio para que ele cresça - esse pequeno negócio pode servir como uma "boia salva-vidas" em caso de demissão do emprego formal.

É nisso que eu acredito, e é isso que venho buscando já há algum tempo. 

segunda-feira, 4 de março de 2019

O que vai acontecer quando ficarmos velhos? - parte III


              Conforme disse na parte II, uma família onde o pai e a mãe ganhem, cada um, salários “na média” – R$2.200,00 – consegue se virar, ainda que com algum aperto. O que enxergo como dificuldade nisso tudo é a manutenção destes empregos e desta renda.
      
    Atualmente, as relações de emprego no Brasil estão se deteriorando. Conforme já escrito aqui e em outros blogs, aos 40 anos você já é um velho para as empresas (na média). 

    Arrisco-me a dizer que, para algumas empresas, você é um estorvo, visto apenas como um custo, não importa sua idade, mas isso piora dos 40 em diante, a não ser que você seja um diretor ou algo assim. 

    Agora, some isso ao fato de que hoje em dia, ao contrário de antigamente, você é “mal visto” se (conseguir) ficar muito tempo na mesma empresa (você é um “acomodado”, um “sem ambição”, na visão do empresário nutella –um dia escreverei sobre esse tipo de empresário), e terá uma ideia do tamanho do problema que enfrentaremos daqui a alguns anos. Estamos passando por uma grande transição no mercado de trabalho, realmente. Hoje em dia praticamente não há mais plano de carreira, e está cada vez mais normal você ficar estacionado num mesmo cargo até te mandarem embora. Na verdade, conversando com alguns conhecidos, vejo que já há pessoas com medo de serem promovidas, porque, se o forem, “ficarão mais caros para a empresa”, o que aumentará suas chances de serem levadas em conta no próximo corte de custos.
   
    Na época de meu pai, as coisas não eram assim. Ele ficou praticamente 30 anos na mesma empresa, teve uma carreira, e dizia que “se fosse demitido, era só procurar outro anúncio no jornal”. E olha que naquela época, ele dizia, as pessoas já reclamavam de desemprego e diziam que “as coisas estão difíceis”. Pelo visto, as coisas nunca foram fáceis, mas pelo visto estão mais difíceis hoje.
      
    Outra coisa que piorou bastante, pelo menos nos últimos 15 ~ 20 anos, foi a questão dos horários de trabalho. O governo obriga as empresas a pagar vários encargos que encarecem artificialmente os trabalhadores. Isso forçou as empresas a encontrarem soluções “criativas”, e a mais usada delas é a questão de os empregados não terem horário para sair, o que diminui o salário por hora, “diminuindo” os custos da empresa (pelo menos potencialmente, porque com o pessoal trabalhando até mais tarde, outros custos sobem, como luz, água, papel, telefone, cafezinho, etc.). 
    
    O meu pai, por exemplo, praticamente só ficava até mais tarde nas épocas de fechamento de balanço. Eu quase nunca saio no horário, mesmo que não tenha nada para fazer ou nada que não dê para esperar, só porque “pega mal" sair assim que dá a hora, é sinal de que "você não veste a camisa”. Hoje, estou “mais tranquilo” e saio na média quarenta minutos depois do fim do expediente, mas em outros trabalhos que tive já cheguei a sair mais de meia noite (só aconteceu uma vez, em que fui designado para fazer um projeto com um chefe muito workaholic e que tinha problemas em casa – uma combinação fatal) e já tive épocas em que saía na média às 19h30, 20h, para só chegar em casa às 21h, só porque os chefes exigiam e ficavam irritados com quem saía no fim do expediente. 
    
    O próprio desemprego contribui para esse tipo de situação seja comum, pois aumenta o poder de barganha das empresas, e isso piora a questão dos horários e das exigências: todo mundo sabe que tem milhões de desempregados querendo sua vaga, e que aceitariam trabalhar por menos do que você ganha, então isso dá muito poder ao seu chefe para exigir mais de você.
       
    Outra consequência ruim deste arranjo: com mais exigências no trabalho, as pessoas têm menos tempo para elas mesmas (menos tempo para o desenvolvimento pessoal) e para suas famílias. Os desdobramentos disso se sentem no longo prazo: famílias menos unidas e desestruturadas, filhos que não são criados propriamente, que crescem com pais ausentes, etc.
            
    Muito triste esta realidade. A deterioração das relações de trabalho, bem como a deterioração dos empregos em geral, dificulta a chance de as pessoas melhorarem suas vidas (financeiramente) e, no longo prazo, todos tendem a sofrer com isso: a retração simultânea do consumo e da poupança, provocada pela diminuição da renda das famílias, gera um ciclo vicioso de diminuição de investimentos das empresas (pela diminuição da poupança) e de suas receitas (pela diminuição do consumo), o que tende a aumentar o desemprego e diminuir as rendas das famílias, mantido tudo o mais constante

    Claro que outra consequência disso é o aumento da informalidade, o qual ajuda a segurar um pouco a diminuição do consumo e da poupança, mas o problema é que o crescimento da economia informal é muito limitado, uma vez que há a a preocupação dos informais em se manter fora do radar do fisco.
             
    Outra coisa preocupante que se pode perceber na série histórica do rendimento médio (que mostrei na parte II) é que ela se trata de uma série do rendimento médio REAL, e este está se mantendo praticamente constante desde 2012, pelo menos. Se observarmos outra série histórica semelhante, também na página do Banco Central, que vai de 2001 até 2016,  na escala logarítmica (para suavizar os efeitos do gráfico e enxergar melhor a "tendência"), veremos que de 2001 até mais ou menos 2010 o rendimento médio real cresceu lentamente, e a partir daí se tornou praticamente constante, com pequenas quedas em alguns meses (observando os dados em forma de tabela isso se vê mais facilmente): 


Isso significa que, na média, os salários mal estão acompanhando a inflação e têm crescido bem devagar nos últimos 6 anos. Este crescimento pequeno do rendimento familiar, caso seja menor que o crescimento da produção, também tem potencial para prejudicar a geração de receita das empresas, uma vez que, caso as mesmas não consigam exportar a produção excedente para compensar as quedas das vendas no mercado interno, deverão reduzir sua produção para evitar estoques ociosos.

Outra consequência ruim do baixo crescimento da renda é o potencial aumento do endividamento das famílias: muitos preços são reajustados conforme a inflação, notoriamente alguns contratos de aluguel, fretes, etc. A inflação sempre é repassada e no fim quem paga, quem absorve a pior parte, são as pessoas comuns que vivem de salário, os quais nem sempre são reajustados conforme a inflação - lembrem-se de que as séries históricas apresentadas representam as situações médias. 

Tudo o que escrevi indica uma combinação fatal: reajustes que mal acompanham a inflação, empresas cortando custos com pessoal, carreiras congeladas ou inexistentes (implicando em menores possibilidades de aumento de renda familiar)... Tudo isso tende a culminar numa retração de demanda e encolhimento da poupança, diminuindo o potencial de crescimento do patrimônio dos brasileiros, em média

Isso, é claro, se nada mudar. Nenhuma análise econômica pode ter resultados "definitivos", pois não há como prever com 100% de acerto como "a economia" vai reagir aos acontecimentos micro e macroeconômicos.

domingo, 3 de março de 2019

O que vai acontecer quando ficarmos velhos? - parte II


Na primeira parte, escrevi que o conhecimento ancestral de poupar parte do que se ganha ainda se aplica aos nossos dias. Óbvio. Isso é pura aplicação de bom senso. Infelizmente, nem todos conseguem fazer isso, e nem todos conseguem poupar. Alguns porque pensam que “dinheiro é para gastar” ou que “caixão não tem gaveta”, etc. Estes, bem ou mal, ainda tem algum remédio. Podem se deparar com algum problema iminente e o medo talvez os faça perceber a importância desta sabedoria antiga. Por exemplo, tenho um colega de trabalho que está para ter um filho, e em uma conversa ele me contou que “está pensando em fazer uma reserva” por que se ficar desempregado, terá dificuldades para sustentar o filho. Ou seja, ele provavelmente não tinha nenhum ou quase nenhum “pé de meia”, se arriscando bastante, em minha opinião.
             Mas, e quanto àqueles que não conseguem poupar porque não conseguem, porque ganham salários de fome? Por imposição do governo, as empresas têm que pagar pelo menos um salário mínimo, e este é, para muitos, um salário de fome. Normalmente, quem ganha 1 salário mínimo vive ao sabor das oscilações dos preços dos alimentos, da gasolina, da passagem de ônibus, etc., o que torna muito difícil poupar qualquer coisa. 
       Entretanto, em outubro do ano passado, o IBGE divulgou que o salário médio no Brasil é de aproximadamente R$ 2.200,00, o que grosso modo significa que, em média, as empresas pagam mais que o salário mínimo. Tal afirmação é verificável também nestas séries históricas retiradas do sistema gerador de séries do site do Banco Central, atualizada até janeiro de 2019 (ferramenta bastante útil para fazer análises, por sinal > https://www3.bcb.gov.br/sgspub/):

  Às vezes leio anúncios de emprego na internet, só para “acompanhar o mercado”, e observo que muitos empregos oferecem como salário inicial um valor maior que o mínimo, algo em torno de R$1.200,00 e R$1.500,00, os quais ainda são salários “de fome” se você tiver que sustentar uma família, mas razoáveis para quem está acabando de começar a vida profissional e tem condições de morar com os pais sem precisar ajudar com as contas. Acredito que quem ganhe um salário médio, de R$2.200,00, consiga morar sozinho, e se for casado com alguém que ganhe o mesmo salário, consiga sustentar uma família, mesmo que com algum aperto. Então, enquanto tiverem esses empregos pagando "salários na média", uma família estará relativamente tranquila. O problema é manter tais empregos com tais salários por 30 anos ou mais, e acumular patrimônio durante todo este tempo. E, na minha opinião, isto está cada vez mais difícil.