terça-feira, 5 de março de 2019

O que vai acontecer quando ficarmos velhos? - parte IV

Um resumo do que descrevi até agora:

1- Salários reais crescendo devagar (ou não crescendo at all);

2 - Precarização das relações de trabalho;

3 - Aumento da rotatividade no emprego e do desemprego;

4 - Em consequência de 1, 2 e 3 >> redução generalizada da poupança e do consumo, além do aumento do endividamento da população

5 - Em consequência do item 4 >> ciclo vicioso de redução do rendimento das empresas e queda dos investimentos privados, levando ao reforço dos itens 1, 2 e 3.

Conforme falei na parte III, nenhuma análise econômica pode ter uma conclusão definitiva e absoluta, do tipo "é certo que tal coisa vai acontecer", pois as variáveis micro e macroeconômicas influenciam umas às outras, num ciclo, e estão sempre mudando e, além disso, o mercado reage aos acontecimentos. As pessoas comuns reagem de alguma maneira à pobreza e ao desemprego (na hora em que a fome aperta, a criatividade se liberta). O governo também reage,  e isso pode ser um problema.

O negócio é que, mantidas as atuais condições, somado aos POSSÍVEIS futuros efeitos da reforma da previdência** sobre a sociedade, o resultado final tende a ser bem ruim.

(**Cabe realçar aqui que não sou contra e nem a favor da reforma. Não estudei a fundo a questão, de modo que minha opinião é apenas baseada em bom senso, conforme disse em meu post sobre o assunto. Acho que previdência precisa sim de alguma reforma, mas não necessariamente a que está sendo proposta, e considero que talvez a melhor solução seja que ela deixe de existir, contanto que se pague os benefícios das pessoas que já foram OBRIGADAS a contribuir a vida inteira para o INSS. Acho errado o que a maioria faz, de basear 100% de suas opiniões apenas em poucos artigos de internet ou de jornal, não importa quem os tenha escrito, e chamar os pobres aposentados de parasitas só porque somos obrigados a pagar o INSS, sendo que 99% dos aposentados são pessoas honestas que contribuíram para o INSS por terem sido obrigadas a isso, então é justo que recebam a contrapartida por sua contribuição.)

Mas eu divaguei. O cerne deste post (e de toda esta série de posts) é esse: será que alguém vai conseguir realmente se aposentar pelo INSS, considerando que a idade mínima agora é de 65 anos (e daqui a alguns anos deve aumentar de novo) e aos 40 você já é visto como um velho para as empresas? 

O cenário mais provável é que o trabalhador "mediano" fique empregado até o 40-45 anos, e então seja demitido por causa da idade e/ou do salário (a desculpa vai ser algo do tipo "não vestir a camisa da empresa" ou "não ter o perfil da companhia", ou qualquer baboseira que o pessoal do RH inventar), e depois sobreviva de bicos, pequenos negócios ou subempregos, e continue contribuindo com o valor mínimo, só para "garantir" uma mesada do INSS (entre aspas porque nada é garantido), que mal dará para pagar as despesas médicas (mantidas as atuais circunstâncias). 

A maioria provavelmente ficará em sub-empregos ou empregos aquém daqueles que ocupavam anteriormente, uns poucos darão continuidade às suas "carreiras" (por exemplo, os executivos que são demitidos de uma empresa e logo são aproveitados em outra empresa devido à  sua experiência, com um cargo parecido), ou então se tornarão consultores, pequenos empresários, autônomos, etc. 

Muitos só encontrarão solução na informalidade, fazendo o que muitos já fazem: vendendo quentinha, encomendas de bolos e salgados, vendendo paçoca na rua, etc. Do jeito que as coisas são, acredito que a maioria vai ficar nesses últimos casos: sub-empregos e informalidade. E desses, provavelmente apenas os dos sub-empregos irão contribuir para o INSS (porque serão obrigados, caso estejam trabalhando com carteira assinada) e os da informalidade só contribuirão se acreditarem que valerá à pena abrir mão de parte de seus (magros?) rendimentos para dali a sabe-se lá quantos anos talvez começar a receber um salário mínimo do INSS. 

Quantos será que acreditarão nisso? Mantidas as atuais condições, me parece que o futuro será bastante parecido com os dias atuais, só que um pouco pior: mais pessoas de idade passando sufoco para sobreviver, tendo que pagar contas médicas caras com os parcos rendimentos de suas aposentadorias estatais. Pessoas estas que não têm um emprego "de verdade" dede seus 40 e poucos anos, e desde então se viram com pequenos negócios próprios (uma minoria), subempregos ou batalhando na informalidade, sendo obrigados a se manter pequenos o bastante para escapar ao radar de agências reguladoras e do fisco.

Para responder às perguntas feitas ao fim da primeira parte desta série: hoje em dia a sabedoria ancestral de poupar parte do que se ganha, pelo menos no Brasil, não é mais suficiente, e aparentemente o será menos ainda quando formos velhos. 


Assim, eu digo que. para sobrevivermos no futuro, será preciso: 


1 - poupar ainda mais do que se recomendava em outras épocas (diziam "pelo menos 10%" na época do meu avô, mas, na minha opinião, hoje em dia devemos buscar algo em torno de 40%. Quem puder poupar 50% ou mais do salário todo mês, faça isso);

2- entender mais de finanças (saber como funciona o mercado de ações, FIIs, renda fixa, etc; Entender de juros compostos; saber analisar empresas e negócios para decidir se vale a pena investir ou não, e por aí vai); 

3 - entender mais da legislação fiscal/trabalhista/empresarial (para não ser enganado ou ao menos dificultar que te passem a perna);

4 - diversificar bastante os investimentos (já confiscaram nossas poupanças, não faz muito tempo, historicamente) - se possível diversificar em outros países, de alguma maneira que nossos patrimônios, pelo menos parte deles, não seja alcançável pelo governo, no caso de um eventual novo confisco ou do surgimento de um imposto sobre ""grandes fortunas"";

5 - Estudar, aprender e praticar habilidades úteis que permitam trabalhar por conta própria ou até mesmo para empresas no exterior, a distância (ex: programação, desenvolvimento web, etc.) ou ofícios que lhe permitam prestar serviços e trabalhar como autônomo (marcenaria, hidráulica, eletricidade, etc.)

6 - Ter um pequeno negócio por fora que permita ganhar uma grana extra, que nunca deve ser gasta (exceto em emergências, claro), mas deve ser 100% investida em ativos financeiros (ações, FIIs) ou reinvestida no próprio negócio para que ele cresça - esse pequeno negócio pode servir como uma "boia salva-vidas" em caso de demissão do emprego formal.

É nisso que eu acredito, e é isso que venho buscando já há algum tempo. 

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