terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O que vai acontecer quando ficarmos velhos? - Parte I


OBS: post para reflexão. Cada um tem sua opinião sobre o assunto, e esta é a minha. Vai ser um texto longo, de modo que vou dividi-lo.
           
    Eu acredito que o pessoal que acompanha a blogosfera e sites como HC investimentos, Bastter, etc., e que REALMENTE estuda finanças, a princípio, TENDE a ter um futuro um pouco mais tranquilo, financeiramente falando (claro, pressupondo que não ocorrerá nenhuma tragédia na vida da pessoa), desde que mantida a disciplina e os aportes, e não cometa nenhuma bobagem financeira.
              
    Mas, e quanto ao pessoal bem “povão”, tipo “anafalbeto financeiro” mesmo? Que não sabe nada (ou quase nada) sobre como funcionam juros compostos, taxa SELIC, não faz ideia do que sejam CDB, debêntures, ações ordinárias, etc?  Qual será a tendência da vida financeira deste pessoal? Será que é ruim? Vejamos com calma.
             
    Creio que seja razoável assumir que, uma vez que a poupança ainda é o investimento favorito dos brasileiros (conforme visto em https://www.insper.edu.br/noticias/poupanca-investimento-preferido-entre-brasileiros/), a maioria dos “analfabetos financeiros” que consegue aportar alguma coisa, o faz numa conta-poupança (e provavelmente da Caixa, que não exige renda mínima para abrir conta, ou do Banco do Brasil) e apenas nisso. Desta forma, analisemos um pouco mais a fundo a poupança no Brasil:
             
    A poupança está rendendo atualmente 4,55%a.a, conforme este site >> https://blog.magnetis.com.br/rendimento-da-poupanca-hoje-e-ruim/ (OBS: rendimento NOMINAL). Um rendimento bastante baixo para os padrões brasileiros e se considerarmos a inflação (no momento, acumulada em 3,78% para os últimos 12 meses, conforme o Banco Central), estamos lidando com um rendimento REAL de cerca de 0,74% a.a, caso a inflação se mantenha neste nível.

(Acho digno de nota, entretanto, que este é um rendimento fantástico comparado aos juros de poupança dos EUA - atualmente em 0,3%a.a, na conta mais básica do Bank of America – e do Reino Unido – entre 0,25% e 0,3%a.a no Barclays).
              
    A SELIC se manteve em 6,5%a.a na última reunião do COPOM. A próxima só ocorrerá em março. Ano passado, os analistas projetaram uma SELIC de 7,5%a.a para o fim de 2019, mas isso é tudo achismo. Só saberemos na hora. A nossa inflação, medida pelo IPCA, está relativamente baixa, comparada ao passado recente (o acumulado de 12 meses chegou a mais de 10% em 2016, segundo o IBGE), mas ainda não considero baixa o suficiente – para mim o ideal para uma economia é ter uma leve deflação da moeda.
             
    Dito isto, a poupança – e a renda fixa como um todo – está rendendo bem pouco em relação a seu passado recente (principalmente o período 2014-2016), o que faz com que este tipo de investimento (a renda fixa como um todo) “perca um pouco da graça”. Mas isso não quer, nem de longe, dizer que RF não deva fazer parte da diversificação.
             
    Entretanto, eu tenho a opinião de que os atuais “analfabetos financeiros” que conseguem aportar alguma coisa e só aplicam em poupança muito provavelmente vão se dar melhor do que muitas pessoas com excesso de confiança em seus conhecimentos financeiros que se metem a fazer trades, um grupo que normalmente só faz lambança na bolsa e tem rendimentos catastróficos, chegando a perder todo o patrimônio quando operam alavancados.  
             
    Nassim Taleb, em seu livro “Arriscando a própria pele” fala dos “conhecimentos de Avó”, conhecimentos ancestrais, muitas vezes simples, mas efetivos, passados de geração em geração, e certamente isso que eu escrevi acima é abrangido por este conceito. 

    
    Na época de nossos pais e nossos avós (digo isso para quem viveu a infância dos anos 90 para trás) o mercado financeiro brasileiro não era nem de longe tão desenvolvido quanto hoje (e ele ainda deixa muito a desejar), e a maioria das pessoas era analfabeta (tempo de nossos avós) ou só possuía no máximo o ensino médio (tempo de nossos pais). Isso somado, quase todo mundo era “analfabeto financeiro” por tabela. 
    Mas, mesmo assim, vários conseguiram ganhar a vida, ter seus próprios negócios, sustentar famílias com vários filhos e ainda acumular algum patrimônio, e tudo isso com trabalho duro e poupança (e também imóveis, em alguns casos – hábito difundido principalmente entre portugueses e seus descendentes), sem entender nada ou quase nada de finanças. 


A sabedoria antiga de “poupar X% do que ganha” é um destes “conhecimentos de avó” de que Taleb fala em seu livro, e ainda se aplica aos dias de hoje. 

Poupar uma parte dos ganhos é algo "Lindy", como diria Taleb (pesquisem sobre o efeito Lindy, é muito interessante)
   


Entretanto, tal sabedoria ancestral será suficiente nos dias cada vez mais caóticos de hoje e no bizarríssimo mundo moderno? 


E mais: será suficiente para todos

Mais importante ainda: será suficiente para nós, quando ficarmos velhos e não pudermos mais trabalhar?

2 comentários:

  1. Meu amigo, pela minha experiência em crises que assolam o Brasil desde os anos 80, posso dizer que não importa o grau de instrução, anos de experiência, qualificação ou reservas poupadas, quando a crise é braba quase todo mundo do povão e parte da classe média vai parar nas filas do desemprego, subemprego, fila do albergue ou sarjeta mesmo, em crises feias empreendimentos pequenos e médios quebram, poupanças são confiscadas ou acabam rápido com a alta inflação. O negócio é estudar, trabalhar, poupar e investir com prudência e aceitar que tudo é como a carta do tarô da roda da fortuna: um tempo em cima, outro tempo embaixo.

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    1. Pois é, Gerson! A sabedoria popular diz, e com razão, que "a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco", ou seja, nos pobres e na classe média. O negócio é isso aí mesmo: sempre estudar, procurar melhorar como ser humano e como profissional, trabalhar, poupar alguma coisa, e ainda incluo mais essa: cuidar da saúde - se alimentar bem e fazer exercícios.

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