domingo, 4 de agosto de 2019

Salários X Responsabilidades - Onde estará o equilíbrio?

Bom dia pessoal, faz quase um mês que não escrevo nada. As coisas têm estado corridas no trabalho, tenho saído tarde quase todo dia, o que me deixa sem tempo para escrever por aqui. O artigo de hoje tem um tom de desabafo, mas também há um pouco de ciência econômica embasando. São algumas coisas que tenho pensado esses dias.

A realidade é que chefe nenhum
gosta de seus empregados, muitos
tendem a tratá-los como gado
humano, e o salário vai ser uma
eterna briga: sempre ganhamos
menos do que achamos justo
diante do que fazemos e aturamos
no trabalho e ao mesmo tempo
somos considerados muito caros
pela empresa.

O chefe recorre frequentemente ao
artifício de reduzir o salário por hora
não nos permitindo sair no horário
e/ou cobrando coisas por whatsapp
e por e-mail em dias de folga ou à
noite após o expediente e nunca
pagando hora extra.
Claro que deixar de sair no horário
porque temos um prazo apertado
para cumprir ou algo importante que
não pode ser deixado paraamanhã é questão de
responsabilidade, mas é um absurdo
ter que receber um olhar feio do chefe
e sermos adicionados na lista negraquando pedimos parair ao médico ou quandovamos sair no horário, por mais raras
que essas coisassejam. É como se o tempo doexpediente não contasse nada, e para
o chefe só valesseo tempo que passamos além do
horário. Eu entendo a questão
dos incentivos e a psicologia
aplicada: idealmente numa
empresa nenhuma tarefa "fácil"
deve ser muito bem remunerada
porque senão seria criado um
incentivo para o funcionário nunca
sair do lugar, ficar a vida toda numa
tarefa fácil e ganhando bem, mesmo
tendo potencial para fazer coisas
mais complexas . Todo os salários
têm essa logica por trás, dentre outras.
Faz sentido e é bom (acredito) para a
economia e para a sociedade que haja
o mínimo possível de pessoas
acomodadas. Porém, ao mesmo
tempo, hoje em dia há um desincentivo
para o crescimento na carreira: conheço
várias pessoas dentro e fora de onde
trabalho que, embora possam ser
promovidas, fazem de tudo para não
o serem, inclusive mentindo e
diminuindo seus currículos, se
destacando menos do que poderiam,
etc., com medo de se tornarem caros
demais para a empresa.

Além disso, creio que mesmo dentre
aqueles que ganham muito bem
(digamos, 10 mil líquido ou mais,
por mês) a maioria lida com
responsabilidades e cobranças que
excedem o benefício percebido pelo
salário. Vejam um superintendente
ou um gerente sênior, por exemplo.
Imaginem a cobrança, a quantidade
de e-mails lidos e respondidos por dia,
as reuniões, as metas absurdas,etc.
E o tempo todo com a corda no
pescoço, porque basta um vacilo para
ser mandado embora, não importando
a quantidade de sucessos anteriores.

Às vezes  são responsáveis por
recursos e patrimônio de milhões de
reais… eu me pergunto: será que o
salário compensa? Eu acho que, até
pela questão psicológica, nunca
compensa, pois estamos sempre
querendo mais, e a maioria das
pessoas que passa a ganhar cinco
mil se esquece imediatamente de
como é ganhar mil. Mas por outro
lado não acho que seja justo uma
pessoa que trabalha de 8h às 20h
ganhar 1.200,00 ou 1.500,00 (o que
é o caso de muita gente hoje em
dia), ou uma pessoa que é
responsável por gerir valores de
dezenas de milhões de reais
ganhar "apenas" 5.000,00 ou 6.000,00
(Como é o caso de muito gerente,
supervisor e coordenador por aí).
Acho que hoje em dia estamos
vivendo num hiato bastante
desconfortável: não ganhamos o
suficiente para nos sentirmos
tranquilos e planejarmos bem o
futuro e ao mesmo tempo
parece que qualquer salário de
dois mil reais é caro demais para
a empresa pagar.

Onde estará o ponto de equilíbrio? 


Outra coisa: o salário mínimo. Esse
perdeu completamente o sentido,
pois quem só ganha isso vive
mal, precisa contar as moedinhas do
troco e mal consegue cobrir os custos
de vida, por mais baixosque sejam, se é que consegue. Quem
vive de salário mínimo precisa correr e se qualificar pra ganhar mais, arranjar outro trabalho, empreender, fazer bicos, etc. Sinceramente, nem sei para quê existe o salário mínimo. Claro que a mentalidade do empresário é a de reduzir os custos ao máximo, e isso inclui os salários, e no Brasil essa mentalidade (diminuir o salário por hora exigindo que o empregado fique além do expediente) ao meu ver é pior do que em outros países, e o salário minimo idealmente serviria como uma ferramenta para evitar grandes explorações por parte dos empresários (digamos, pagar 200 reais por mês em valores atuais para o empregado trabalhar de 8h às 20h). Mas sinceramente, acho que qualquer emprego que pague apenas o mínimo já é em si uma exploração (a não ser que o emprego seja muito fácil e/ou tenha um horário bem tranquilo),  de modo que a existência do salário mínimo não evita esse tipo de situação.

Claro, numa situação hipotética, uma pessoa miserável, passando fome, se sujeitaria a qualquer trabalho em troca de qualquer pagamento e seria provavelmente explorada, mas tão logo suas necessidades mais básicas fossem satisfeitas, essa pessoa passaria a procurar oportunidades melhores (digo isso baseado na ideia da Pirâmide de Maslow) e o empregador que lhe está explorando ficaria sem o empregado. Acho que no mundo real as explorações mais extremas teriam vida curta.

Outro argumento acerca da inutilidade do salário mínimo é que há empresas que dão um jeito de burlar isso e explorar seus empregados, como é o caso de empresas que só contratam estagiários, alguns restaurantes de grandes e famosos chefs que pagam seus cozinheiros com "comida e experiência", ou o caso de vários artistas que são pagos com "divulgação" (na minha família já houve um caso assim, mas meu parente recusou o trabalho, felizmente). E é uma pena que quando tentamos conversar sobre esse tipo de assunto corremos o risco de ouvir algum "fodão-que-aguenta-tudo" dizendo coisas como "hurrr se você tá insatisfeito com o salário então pede demissão hurr durrrr", como se fosse fácil se recolocar no mercado, ou então o velho e manjado argumento "huurrr você recebe salário então não é escravo huuurrr", como se a escravidão não tivesse evoluído - Nassin Taleb ilustra bem isto em seu livro "Arriscando a própria pele" (no capítulo intitulado "Como ser dono de outra pessoa legalmente"). Não suporto essas pessoas.

Na minha opinião: salário mínimo não deveria existir (perdeu a razão de ser e não adianta de nada, além de diminuir o número de pessoas que as empresas podem contratar), e os salários não deveriam nunca ser mensais: todos deveriam ganhar por hora ou por produção, sempre com base na produção real ou nas horas realmente trabalhadas, porque é mais justo: atendeu 10 clientes? Vai receber por 10 clientes. Produziu 50 unidades? Será pago por 50 unidades. Trabalhou 10 horas? Vai receber 10 horas de salário. No outro dia teve que sair mais cedo e só trabalhou 5 horas? Receberá pelas 5 horas. Com o salário por mês é muito mais fácil ser explorado: num mês de baixa atividade, no qual você saiu "no horário" quase todo dia você recebe a mesma coisa que no mês de alta atividade, com mais reuniões e operações e vendas, no qual você saiu todos os dias duas ou três horas depois do horário. Ou seja, não importa o quanto você produziu, o salário será sempre o mesmo, e isso não é justo.



Enfim, escrevi este artigo mais em tom de desabafo mesmo, porque as ultimas semanas no trabalho têm sido duras, além de outros problemas que estou passando na família, o que me faz me sentir desmotivado e triste. Falando sinceramente, admito sem medo e sem vergonha alguma que o meu sonho (e o de muitos brasileiros, pelo que observo) é ficar num empreguinho em que eu saia no horário certo e não tenha tanta cobrança de chefe, e que não envolva gerir recursos financeiros ou materiais, e de modo que eu não possa nunca ser responsabilizado pelo erro dos outros - sei que isso é muito utópico, mas sonhar não custa nada. Na verdade, acho que só de sair no horário certo já seria um grande avanço na vida. O ideal seria poder trabalhar de casa, ou então perto de casa, pra nunca pegar trânsito e não perder tempo. Tem dias no trabalho que eu me pego pensando "esta tarefa eu podia estar fazendo de casa, pela internet", mas sei que a cultura do "presencialismo" é forte no Brasil - ninguém confia em ninguém, então é difícil uma empresa aceitar que funcionários trabalhem de home-office.


Sinceramente, gosto de trabalhar, acho que é importante para a vida, para o desenvolvimento intelectual, social, moral, etc., além de ser importante você fazer algo útil para a sociedade, mas no meu emprego não tenho ambição nenhuma de ser superintendente, diretor, vice-presidente, CEO, CFO, etc. Também não tenho vontade de deixar legados, apenas faço o meu da melhor maneira possível e pronto. Tento me manter um pouco acima da média para diminuir minha chance de ser mandado embora, e só isso. Se eu pudesse, ficaria num carguinho pequeno e sem grandes responsabilidades pelo resto da vida até me aposentar. Se eu vivesse de renda ou fosse herdar uma grande fortuna, tentaria algum trabalho braçal ou artístico só pra me ocupar. Se eu conseguir atingir a TF,conforme meu objetivo, vou procurar um trabalho assim.  Sei que nunca serei feliz no trabalho (pelo menos não no meu emprego atual), então busco alegria e felicidade na minha família e nos meus hobbies e considero o trabalho apenas um ganha-pão e ocupador de tempo. Me dedico com mais afinco aos meus hobbies e aos meus estudos. São essas coisas (família, hobbies, estudos) que me fazem continuar seguindo em frente e aturando o dia-a-dia no trabalho, é assim que lido com isso.
E vocês, como encaram o dia-a-dia? O que lhes dá forças?

Forte abraço!




4 comentários:

  1. me identifico totalmente com você sò não concordo com a prte do trabalho braçal pois eu trabalho em mercado eu sofro no pisicologico e tåmbem no corpo fora outras coisas que trabalhar em sub emprego sofre tipo passagem modal e comida se eu tivesse uma fortuna trabalharia vendendo coisas tecnologicas que sò caso seria meu hobie

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    1. Boa noite, bsd. Obrigado por seu comentário. Talvez eu tenha me expressado mal: quando eu quis dizer "trabalho braçal", eu me referia a trabalhos em que eu não tenha que ficar no computador mexendo em planilhas, controlando recursos financeiros, preso numa mesa o dia inteiro. Talvez fosse melhor dizer "trabalhos manuais" ou algo assim. Futuramente vou escrever um post sobre os trabalhos que eu gostaria de ter, quando atingir a Tranquilidade Financeira (TF). Abraços

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  2. Não vejo que o problema esteja no salário minimo e sim no fraco poder de compra que o REAL tem.Até porque em portugal com 800Euro de salário minimo por mês, a pessoa vive muito bem, diz que com esse dinheiro você consegue pagar aluguel , agua , luz , comer bem , e ainda sobra pra gastar com coisas triviais. Diz que eletrodomésticos e roupas são muito baratos também.

    Então acredito que seja isso, tanto para o empregador quanto para o funcionario, oque pega é o real não comprar nada.

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    1. É, Peão, realmente o fraco poder de compra do Real atrapalha muito. A inflação corrói o nosso poder de compra mais rápido do que as empresas são capazes de nos dar aumentos. Como eu disse em um post daqui sobre o Padrão-Ouro, é triste pensar que meu salário na Europa me daria uma vida de mendigo, de tão desvalorizado que é o Real. EU sou da opinião de que a moeda com lastro deveria voltar, e abolir a fiduciária.
      Abraços e obrigado pelo comentário.

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