sábado, 12 de março de 2022

Breves reflexões sobre a inflação no Brasil e seus efeitos em nossa sociedade

 

A que ponto chegamos...


O nosso dinheiro infelizmente não está valendo nada e temos vivido tempos inflacionários nos últimos anos.

Aliás, de uma maneira geral o dinheiro no mundo todo não está valendo muita coisa, mas como aqui somos um país que há muito tempo possui histórico inflacionário já há uma "desconfiança" natural do povo com relação à nossa moeda e, por isso, geralmente sentimos mais estes efeitos da desvalorização monetária , que ainda por cima é agravada pela desvalorização  cambial. Embora sejamos um país grande e bastante populoso, nossa moeda é irrelevante no comércio internacional. 

A inflação de nossa moeda faz com que os metais e outras conmodities fiquem ainda mais caras para nós, o que impacta todos os preços de nossa economia. 

Um fenômeno que ocorre em consequência disso é o abandono da moeda. Isso inclui a compra de moedas mais fortes, a compra de metais preciosos, e também a busca por outros metais e até mesmo mercadorias baratas, conforme veremos abaixo. 

E acredito que a inflação alta também contribui para o aumento do crime, conforme também veremos abaixo.

Às vezes fingimos que não, mas o Brasil é um país onde a pobreza é quase extrema*, onde falta saneamento básico até mesmo em capitais, a infraestrutura no geral é precária, etc.  

Na verdade, o Brasil tem pequenos "oásis" mais desenvolvidos, cercados por bolsões de pobreza e miséria, ou até mesmo cercados por locais completamente abandonados onde quase ninguém mora e parecem não atrair interesse nem do Estado e nem da iniciativa privada... 

A maioria da população não tem condições de trocar nossa moeda  por outra mais forte, nem por ouro e prata, e nem por ativos mais financeiros (ações, FIIs) e é obrigada a continuar no real, sofrendo com constantes reajustes de preços, sem os devidos reajustes salariais, perdendo seu poder de compra, que nem uma vítima sendo sugada por um vampiro...

Tudo isso é agravado pela inflação: a falta de infraestrutura desestimula investimentos, tanto de investidores nacionais quanto estrangeiros, o que diminui o número de vagas de emprego, principalmente as que exigem maior qualificação. 

A maioria das vagas por aqui é para empregos de baixa ou nenhuma especialização, que normalmente pagam 1 salário mínimo + VT + VR, isso quando pagam, e de período integral (na minha opinião, empregos de 1 salário mínimo deveriam ser só de meio expediente), geralmente com horas extras não pagas - dificultando muito que o indivíduo se qualifique ou busque atividades paralelas, até mesmo o lazer fica difícil, ainda mais o lazer saudável como a leitura. 

Como o desemprego costuma ser alto, mesmo vagas de emprego que pagam pouco são disputadas a tapa por milhares de desempregados, e então não há incentivo nenhum para que os empresários aumentem os salários, pois a oferta de mão de obra está sempre maior que a demanda. Até mesmo reajustes inflacionários demoram a ocorrer, e geralmente são abaixo da inflação. O nosso poder de compra diminui rápido por aqui.

Os salários baixos, aliados à inflação alta e à educação precária contribuem para o aumento da criminalidade: os cidadãos de mente fraca e moral baixa vão para o crime (geralmente oriundos de famílias desestruturadas, mas isso não é condição necessária para ser criminoso)  para tentar compensar o que não conseguiriam ganhar com trabalho honesto (na verdade muitos até repudiam o trabalho honesto - e acredito que as péssimas relações de trabalho no Brasil somadas aos baixos salários e às longas horas de jornada ajudam a explicar ao menos em parte isso, mas óbvio que não justificam!).

Como a criminalidade e a impunidade são bastante altas, tem gente que rouba até mesmo fios de cobre, portas de alumínio, tampas de bueiro feitas de aço ou ferro fundido, e por aí vai, porque o preço dos metais, mesmo os não preciosos, está "compensando" o risco do roubo. Nossa moeda não está valendo nada mesmo. 

Até lâmpadas estão sendo roubadas, obrigando comerciantes a colocarem grades para protegê-las. E a foto logo no início do post é um fenômeno semelhante, com comerciantes colocando cadeados para impedir que roubem o papel higiênico dos banheiros de suas lojas. Surreal!!




É de certa forma assustador pensar que, além da infraestrutura já ser precária, dependendo de onde moramos, ainda corremos um sério risco de, do nada, termos luz, internet e telefone cortados por conta de algum vagabundo que resolveu arrancar os fios para revender o cobre, e então ficamos à mercê da companhia elétrica, esperando ela ir lá e repor os fios, consertar os estragos feitos pelos criminosos (e a conta obviamente será repassada para nós que trabalhamos... o crime infelizmente compensa, no Brasil, pois o ladrão provavelmente seria solto em pouco tempo).


O dinheiro não estar valendo nada também explica ao menos em parte porque a comida tem ficado mais cara: além da própria desvalorização da moeda em si pela inflação, ainda tem a desvalorização cambial que faz valer mais a pena exportar a produção agropecuária do que vender no mercado interno (e acabamos ficando praticamente com a xepa - e cara, ainda por cima)

Sinceramente, não entendo os economistas que defendem que nossa moeda precisa ser fraca no câmbio para sermos mais competitivos no mercado internacional e entendo menos ainda os pseudo-economistas que dizem que inflação é saudável para a economia. Desse jeito estamos sendo competitivos às custas das pessoas comuns,  pobres e de classe média, e o objetivo de nenhum governo deveria ser esse.

O caso da hiperinflação no Brasil, ainda recente em termos históricos, deixou uma marca profunda na psique do brasileiro,  pois forjou uma mentalidade avessa à poupança na população em idade de trabalhar naquela época. 

Após decorridos quase 30 anos de relativa estabilidade do Plano Real, considero que ainda estamos engatinhando na formação desta mentalidade de planejamento para longo prazo. 

Claro que isso não é exclusivamente culpa da hiperinflação dos anos 80 e início dos 90, mas também da relativa precariedade dos salários no Brasil e do espantoso nível dos aluguéis e do custo de vida em geral nas principais cidades, o que impede muitos de pouparem e investirem, ainda que queiram e tenham esta mentalidade de longo prazo.

Eu sinceramente não entendo como que em um país em que a renda média mensal está na casa dos R$ 2.200* as pessoas têm coragem de cobrar mais de R$ 1.000,00 de aluguel até para morar em "semi-cativeiros", e nem como têm coragem de cobrar mais de R$ 100K em casas que parecem barracos em ruas que mal têm asfalto e saneamento básico, ou até mesmo cobrar mais de R$ 200.000 em apartamentos de menos de 30m²... (chamados pela indústria imobiliária de "studio" para não chamar de cubículo ou cela) 

Eu considero que viver pagando mais da metade do salário só em aluguel é uma condição análoga à escravidão,  e que ganhar 1 salário mínimo (ou até um pouco mais que isso) é sim uma forma de escravidão moderna, pois mal dá para cobrir os custos mínimos de vida em muitas cidades e obriga a pessoa a viver correndo atrás do próprio rabo em termos financeiros, sem sair do lugar. Se ao menos fossem empregos só de meio expediente... seria menos pior.

Óbvio que nada o que está escrito acima é culpa exclusiva da inflação... também temos de culpar a educação precária, as más influências da mídia, as más influências da "literatura" nacional que vem sendo produzida pelo menos nos últimos 50 anos, a "arte" que vem sendo produzida nos últimos 100 anos, entre vários outros fatores, principalmente os de ordem cultural ligados à "mentalidade brasileira".

E vocês, confrades, o que acham disso? Vocês têm sentido os efeitos da inflação? Acham que o certo seria brigar para que nossa moeda fosse mais relevante no mundo?


Forte Abraço!

Fiquem com Deus!

*: a renda mensal média do brasileiro é de cerca de R$ 2.200,00, conforme o IBGE, o que daria pouco mais de US$ 5K por ano - lembrem-se de que nos EUA um caixa do Walmart ganha em média US$ 23K  por ano! Pensem no quanto ganha o caixa de um super-mercado grande aqui no Brasil...

24 comentários:

  1. Mago,

    O grande problema é que boa parte da nossa economia não agrega valor. Sofremos com a inflação causada pelo câmbio, pois importamos muita coisa.

    A partir do momento que começarmos a fortalecer nosso parque industrial, esse jogo pode mudar. Temos que atrair moeda estrangeira. Mas de que maneira? Através dos produtos imaterializados brasileiro. Já imaginou se a App fosse Brasileira? O mundo todo comprando nosso produto?

    Atualmente atraímos dinheiro estrangeiro com as taxas de juros altas, ou na exportação de comodities com o cambio, ou seja, com real desvalorizado.

    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É meio triste. O Brasil parece que não sabe o que quer ser quando crescer. Poderíamos ser muito melhores na agropecuária, sermos realmente referência em pesquisas biológicas, controle de pragas, produção de fertilizantes, etc. Mas vejo que nossa agricultura é forte mais por conta de "força bruta" do que por técnica.
      Concordo que deveríamos ter mais industrias por aqui, não só de "intangíveis". Mas tenho a impressão de que coisas verdadeiramente boas tendem a ser sabotadas no Brasil, tanto por inimigos externos quanto por inimigos internos.

      Excluir
  2. Mago esse tema é complexo e você colocou muitos ingredientes na construção e a maioria desses ingredientes por si só já dão um post.
    A economia é dinâmica e segue a ideia do cobertor curto, quando se cobre a cabeça os pés ficam de fora.
    Nunca foram feitas de forma profunda as reformas estruturais que o Brasil precisa (tributária e administrativa) principalmente e muito do que você citou vem total ou parcialmente da ausência dessas duas estruturas mais enxutas, inteligentes e alinhadas a realidade geopolítica, social e econômica de hoje.
    O mundo vem mudando geopoliticamente e hoje temos novos protagonistas mundiais e os donos do dinheiro estão cada vez mais descentralizados. A Europa foi o centro do mundo desde a época das navegações e descobrimentos até as guerras do século XX onde o protagonismo passou a ser dos EUA.
    Nesse período o Brasil era uma força emergente que durante algumas décadas teve perfil razoavelmente semelhante ao da economia chinesa mais recente, com forte industrialização (para os padrões fora da Europa/EUA/Japão), crescimento massivo de várias cidades, crescimento forte populacional, crescimento forte do PIB e ascensão considerável dentro do cenário econômico global. Mas desde o início dos anos 90 o cenário global vem mudando, o Brasil estacionou e mais recentemente vem descendo no ranking, enquanto a Ásia ganhou muito força e importância com China, Coréia do Sul, Taiwan, Malásia, Tailândia e mais recentemente Vietnã e Indonésia. O Oriente Médio também se solidificou como local que detém muitos grandes investidores a nível global.
    Enfim, há outros players que até os anos 80 estavam fora desse cenário.
    Não vejo no momento um cenário tão aberto ao Brasil como ocorria até os anos 80, visto que grandes investidores e empresas tem outros mercado interessantes para investir.
    Para completar o gargalo brasileiro, apesar do Real ter significado o fim da super inflação, a distribuição de renda no Brasil não evoluiu o suficiente para aumentar o poder de compra do brasileiro médio. Ou seja mesmo com o período de crescimento brasileiro, o grosso da população não mudou de fato de patamar econômico e temos até hoje a maior parte da população vulnerável financeiramente.
    Ganhando relativamente pouco, dependendo de financiamentos e empréstimos que por um lado se fazem necessários em algumas ocasiões, mas por outro deixam mais da metade da população endividada e limitada economicamente não podendo participar ativamente de um crescimento sustentável do mercado interno.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Continuando: Com a maior parte da população vulnerável economicamente, crises afetam de forma mais profunda e seus efeitos duram mais tempo no País.
      Então em caso de situações mais drásticas como a Pandemia ou o que ainda pode vir a ser o conflito Rússia X Ucrânia a população não tem "gordura" pra queimar levando mais facilmente o País a um cenário de Recessão e tornando mais difícil e demorado a saída desse estado.
      Nesse caso praticamente a única opção é a injeção de dinheiro governamental, que por sua vez é arrecado em sua maioria em forma de impostos em geral.
      Nesse caso o Brasil vem sendo já a algum tempo sendo mantido em termos de balança comercial graças as commodities que são um terreno onde o Brasil está estruturado e tem expertise para ser protagonista. Para ir além disso além de reformas que já citei há outras questões estruturais necessárias: Segurança Jurídica, Infraestrutura, desburocratização em vários âmbitos e investimentos em educação, mas creio que atualmente o que citei antes de educação é mais estratégico até mesmo que a questão educacional, já que creio que mesmo se o País tivesse melhor sistema educacional as coisas não mudariam tanto pelos outros componentes que citei em maior ou menor grau de importância.

      Excluir
    2. Sim, a (in)segurança jurídica é um dos nossos maiores problemas mesmo. Vide os últimos acontecimentos. Qualquer empresário estrangeiro vai pensar 1.000 vezes antes de abrir um negócio aqui.

      Acho que com educação melhor as coisas melhorariam sim, mas óbvio que isso depende do que se quer dizer com "educação melhor", porque se for igual à que é hoje só que com mais verba pública, melhor nem dar ideia. Eu defendo uma reforma mais drástica na educação. Por exemplo, cada município deveria ter autonomia para fazer seu próprio currículo escolar, adaptado às suas necessidades. Outra coisa: acho que damos pouca importância pra matemática e lógica. Portanto seria interessante um currículo na educação básica mais focado no Trivium, pois é o que dá base para praticamente tudo. A partir daí, melhorar o ensino médio,
      e depois o superior. Afinal, 99% dos alunos saem das escolas sem saber trabalhar, sem saber ser produtivo, sem saber fazer dinheiro.
      E tem outra coisa tambem: a educação sucateada aqui é proposital, para que o povo continue burro e subserviente ao estado e a qualquer políticozinho que prometer um lanche e uma camiseta e uma pequena esmola em troca da alma do cidadão. Se a galera soubesse raciocinar melhor em termos de causa x efeito, isso seria mais difícil de ocorrer. Não que não ocorresse, mas seria mais difícil. Os vigaristas têm a vida muito mansa aqui na Terra de Santa Cruz...

      Enfim, como já disseram por aí, é assunto para conversar no bar tomando uma cerveja gelada.
      Abraço e obrigado pelo comentário!

      Excluir
  3. Olá Mago,
    Acredito que o povo é tanto vitima, quanto algoz. Estamos sempre prontos a votar no primeiro demagogo que apresente soluções (falsas) simples e fáceis para problemas complexos.
    A Dilma interferiu nos preços para se reeleger e isso arrebentou o país. Bolsonaro disse que não vai interferir, mas será que ele aguenta em um ano eleitoral? E se ele não interferir mesmo, será que ganha a eleição? Quando alguém faz a coisa certa e é punido por isso, é um sinal claro de que a população não está madura politicamente.
    Enfim, é um tema complexo e meus pitácos sobre o tema não valem nada.
    Nessa e em outras situações está certo o Bastter sobre o que fazer: trabalhar, poupar, investir, cuidar da saúde, cuidar da família.
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tomara que o Bolsonaro não intervenha nos preços, pois as consequências de médio/longo prazo não são boas. Infelizmente os honestos são punidos no Brasil, tanto no mundo político quanto no mundo particular. Só podemos contar com a Justiça Divina mesmo.

      O Bastter está certo quanto a isso, de que devemos fazer o máximo possível por nós mesmos e por nossas famílias (nosso microcosmo). Porém acho que ele erra na postura de indiferença total à realidade que ele prega no site dele, pois julgo que também há pequenas coisas que possamos fazer para influenciarmos, cada um a seu nível, o macrocosmo. Pois eventualmente as coisas "de fora" frustram as coisas que controlamos. Por isso acho que os ensinamentos do Bastter são uma redpill financeira. Mas em outros assuntos, nem tanto.
      Mas, claro, devemos concentrar nossos esforços em primeiro lugar em nossas famílias e em nós mesmos.
      Abraço !

      Excluir
  4. "pseudo-economistas" poxa, eles vendem o discurso da elite; afinal são pagos pela elite

    "lâmpadas estão sendo roubadas, " mais um dia normal aqui no RJ...

    https://www.youtube.com/watch?v=4WvbUuHsmnY


    abs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ps.: parece q a economia nacional é cagada desde q torraram dinheiro com a construção de brasília, que hoje não presta pra muita coisa a mais q a antiga capital (RJ)...

      Excluir
    2. e... lembre-se que Brasília é a maior renda per capta do País!!!

      Piada!!!

      Só bebendo pra esquecer mesmo.

      Excluir
    3. É triste mesmo. Nada contra quem mora lá, mas de fato a capital de nosso país não deveria ser Brasília. Deveria continuar sendo no antigo estado da Guanabara (atualmente município do RJ) ou em São Paulo, que seriam nossas capitais cultural e econômica, respectivamente, além de serem cidades bastante populosas. Ou nossa capital poderia ser alguma outra capital de estado, contanto que fosse de um jeito em que nossas "autoridades" estivessem em constante contato com o povo, para serem cobrados "ao vivo". Brasília faria sentido numa época em que não existiam mísseis balísticos intercontinentais e nem aviação militar e a única maneira de invadir uma cidade seria por terra ou por mar, então faria sentido ter uma capital no interior do país, para dificultar o acesso de inimigos. Mas hoje em dia ela está servindo para deixar os políticos e demais autoridades bem longe do povo. Uma vez eu li em algum lugar que o urbanismo de lá foi planejado justamente para dificultar revoltas populares e isso explicaria porque ela tem tantas estradas imensas sem nada em volta, (nem mesmo árvores para dar sombra) e porque muitos prédios públicos de lá são cercados por fossos. O que acham disso?

      Excluir
  5. Existia um consenso econômico entre meados dos anos 80 até 2010 de que os países em desenvolvimento e pobres deviam manter moedas desvalorizadas de forma a atrair o investimento estrangeiro para a instalação de fábricas.

    De fato por várias décadas as grandes companhias deixavam suas matrizes e mercados consumidores nos EUA e transferiam a produção para países pobres. Entretanto a nova fase da economia global com uma indústria cada vez mais automatizada está vendo a chegada de um novo modelo, onde grandes empresas estão voltando para países desenvolvidos e evitar os riscos envolvendo cadeias logísticas comprometidas.

    A partir de agora vivemos uma era onde a economia é liderada não pelos que produzem em troca do menor valor e sim pelos que produzem produtos de alta tecnologia e que para isso demandam uma melhor infraestrutura e qualidade de profissionais.

    O Brasil historicamente investiu pouco na modernização da infraestrutura e mesmo iniciativas que possam ser lideradas por concessões públicas são presas em ciclos sem fim de burocracia.

    A China, EUA e países europeus constroem pontes, aeroportos e ferrovias muito mais rápido do que o Brasil, um bom exemplo é o próprio gasoduto entre Rússia e Alemanha pelo fundo do Mar Báltico, uma obra complexa e que foi construída em poucos anos.

    Do ponto de vista da nossa qualificação de mão-de-obra o problema é gravíssimo, no geral acredito que mais da metade da população alfabetizada é composta de semianalfabetos funcionais, a maioria com dificuldades para seguir instruções básicas em manuais ou resolver problemas simples de raciocínio lógico. Isso causa diretamente uma economia manca que é incapaz de inovar e que gera produtos e empresas pouco competitivo.

    O nosso grande trunfo é a agricultura e pecuária que estão na vanguarda do mundo no que tange a grandes produtores, mas nem mesmo nisso podemos dizer que estamos bem: o custo de transporte até os portos é imenso e os pequenos agricultores contam com muita pouca ou nenhuma tecnologia na lavoura em comparação aos norte-americanos e europeus. É só andar pelo interior e vai ver que ainda se faz enorme uso de animais como cavalos para o tombamento da terra (isso no Sul do BR, que é a região mais desenvolvida).

    Abraços,
    Pi

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na caso da agricultura é importante fazer a distinção entre grandes produtores de commodities e a agricultura familiar.
      A agricultura dos grandes produtores quase que na sua totalidade alocada na produções das commodities agrícolas conta com investimento milionário, alto grau de mecanização, agricultura de precisão. Essa é uma faca da agricultura brasileira.
      Já a agricultura responsável pela maior parte de todos os outros produtos agrícolas brasileiros (frutas, legumes, verduras, mel, chás, flores etc) é composta majoritariamente por agricultores médios e principalmente pequenos e aí está fundamentalmente posicionada a agricultura familiar.
      Essa agricultura por sua vez tem menor poder de investimento e aí que ainda se encontram a grande maioria dos agricultores "amadores" do Brasil, com menos acesso a mecanização e formação especializada e maior dependência de programas públicos seja de fomento à produção ou mesmo de investimentos em estrutura com cessão de barracões e máquinas.
      Um atalho em algumas regiões para os produtores menos afortunados é o cooperativismo. Cooperativismo inclusive bem tradicional em Santa Catarina e Oeste do Paraná.
      Porém ainda no caso da região Sul há também o gargalo da falta de espaço para ampliação da área agricultável e do valor já bem elevado da terra nas principais regiões produtoras, o que fez com que muitos produtores do Sul migrassem para, ou investissem em regiões do Mato Grosso, Tocantins, Pará, Maranhão, Oeste da Bahia e Paraguai.

      Excluir
    2. Obrigado pelos comentários, PI e anon.
      Vivemos o ciclo da soja (antes dele vivemos o do açúcar, do café e o da borracha), e acho que o legado desse ciclo não será tão bom quanto o dos ciclos anteriores (economicamente falando) quando alguém fizer a conta, mas isso é só conjectura minha.

      E sim, o intangível é cada vez mais importante economicamente, em detrimento das coisas concretas.

      Poderíamos ser muito mais na agropecuária, mas nossa infraestrutura de transporte é tão ruim, mas tão ruim, que perdemos produção no meio da estrada. Nossa frota de caminhões é velha, enfim, muitos problemas, e que ninguém parece interessado em resolver.

      Excluir
  6. Grande Mago!

    Assunto polêmico no meio do FDS? tomou umas e nem chamou a gente, rs

    Mas esse assunto é bem complicado.

    Tem o lado humano, que é o qual vc abordou, sobre sobrevivência com o mínimo de dignidade. É muito triste ver pessoas passando dificuldade.

    E tem o lado da geração de valor para outra pessoa. Vc precisa gerar valor para ser recompensado, seja por meio do seu capital, seja por meio da sua força de trabalho. E por esse ângulo, não há sentido e se falar de salário mínimo, pois depende do qt vc gerou.

    Mas aí entram outro pontos sobre mesmo ponto de partida para todos. Meritocracia. Direito a herança.

    Dá um monte de boas conversas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo comentário, Neto.

      Esse post estava no rascunho há alguns meses, eu só acrescentei os links para notícias e as figuras. Mas sim, vamos tomar uma qualquer dia desses!

      O salário mínimo realmente é um "mal", no sentido de que impede que muitas empresas pequenas contratem mais funcionários, por não terem fôlego financeiro para isso, e também porque ao mesmo tempo "desobriga" empresários em geral de pensarem em remunerações mais justas ("ah, eu já estou te pagando o mínimo, então que se dane"). Ruim pros trabalhadores que produzem mais, porque ganham menos para compensar por aqueles que produzem menos. E tudo acaba sendo meio que "indexado" no salário mínimo. Muitos preços são estabelecidos levando em conta que as pessoas ganham pelo menos uns 1.100 reais. Eu acho que o salário deveria ser por produção, ou ter uma parte fixa e oitra atrelada à produção, e acho que deveria ser por hora.
      Quanto à herança, sou 100% contra a existência de impostos sobre herança, pois este imposto dificulta o crescimento econômico das famílias (supostamente ele mira nos ricaços, para que não fiquem concentrando a riqueza na família por N gerações, mas na prática quem é rico mesmo sempre dá um jeito de burlar esse tipo de imposto, então sobra pra classe média, como sempre)

      Excluir
  7. Sejamos sinceros, o problema Brasileiro é fiscal e tributário. Hoje quase metade dos nossos impostos - para cada aposentado temos 7 trabalhadores na ativa - vão para pagar o rompo da previdência (Funças públicos que nem passaram em concurso e aposentaram aos 45 anos, milicos que se aposentam aos 50 e etc...) e o tributário que de tão complexo já inventaram 4 sub-sistemas.
    Bem... difícil capitular, mas não acredito que o problema no Brasil seja de educação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O correto seria dizer que o problema do Brasil não é SÓ a educação. Esses problemas administrativos e tributários que você mencionou contribuem e muito para as dificuldades que enfrentamos todos os dias no Brasil. Mas o fato da população ser, no geral, deficitária na educação (a maioria tem imensas dificuldades até com matemática básica, muitos não conseguem formular pensamentos lógicos do tipo "se..., então..." e isso fora o analfabetismo funcional e o analfabetismo propriamente dito, o fato de muitos serem incapazes de ler textos de mais de 2 parágrafos, o verdadeiro culto à ignorância que vigora por aqui, e por aí vai) agrava os problemas que você citou e torna mais fácil para que a corja de políticos e autoridades corruptas saqueiem os nossos bolsos e restrinjam cada vez mais nossas liberdades individuais. Muita coisa poderia ser evitada se o pessoal soubesse ler, e é por isso que a educação é mantida assim, desse jeito "paulofreireano".

      Excluir
    2. Quais liberdades individuais vem sendo restringida?

      Excluir
    3. A liberdade de expressão é cada dia mais restrita.
      O direito de ir e vir sofreu muito nestes últimos 2 anos.
      E já há décadas o nosso direito sagrado de defender a própria vida é severamente tolhido. Infelizmente por aqui um bandido tem mais direitos que um trabalhador honesto. Se você até mesmo machucar um assaltante enquanto tenta se defender do assalto você pode se ferrar muito, responder por agressão, e por aí vai. Claro, depende da autoridade que julgar o caso, do delegado, etc. Mas tem sim chance de você se dar mal. Fora, é claro, uma eventual vingança do bandido. E você não terá proteção contra isso. Complicado.

      Excluir
    4. Sobre liberdade de expressão eu penso diferente. Praticamente nunca na história da humanidade em quase todo o tipo de civilização houve de fato liberdade de expressão para a maior parte das pessoas.
      Isso não é de hoje.
      E hoje as pessoas se expressam sim em média com mais liberdade que no passado. A internet por exemplo proporcionou que praticamente qualquer um fale ou escreva sobre qualquer coisa com ou ou sem conhecimento sobre o assunto. Algo praticamente impossível durante praticamente toda a história.
      Só que os direitos não são nem devem ser irrestritos, liberdade de expressão deve como outros direitos ser exercida com responsabilidade e respeitando também os direitos dos outros.
      Com relação ao direito de ir e vir, não podemos esquecer que vivemos nos últimos 2 anos um momento diferente, não dá pra usar isso como regra.

      Excluir
    5. Hm, é, essa é a explicação quase literal que tem em vários livros de direito constitucional. Tudo muito bonito no papel. Na prática é outra história. Os juristas daqui adoram essa questão de "legislar através de princípios", muito bonitinho, merece até palmas e música do balão mágico, mas a questão é que os "princípios" são excessivamente (e talvez propositalmente) vagos e elásticos, e possibilitam que muitas coisas sejam distorcidas para atender às vontades pessoais momentâneas de "otoridades" (leia sobre a teoria da "katchanga"). O problema da liberdade de expressão estar sendo tolhida é o mesmo da elasticidade dos princípios constitucionais.

      Em nosso ordenamento jurídico muita coisa foi deixada em branco , aparentemente para provocar esses tipos de situação.. é tudo cheio de "na forma da lei", "na forma do regulamento", etc, que nunca são escritos e a questão fica vaga por anos e anos...

      Mas enfim.... isso tudo é papo para um chopp acompanhado de sardinhas fritas,
      e não para este canto da internet. Sou apenas mais um anônimo da internet, triste porque amanhã é segunda-feira.

      Excluir
    6. Mas que hoje há mais espaço para opiniões do que em qualquer outra fase da história da humanidade é fato.
      Qualquer um pode por exemplo fazer um canal no Youtube ou blog para falar dos mais variados assuntos, mesmo sem saber muita coisa sobre os mesmos.
      Anônimos como nós nunca teríamos possibilidades similares no passado e você sequer teria a chance de citar opiniões sobre questões jurídicas de outros tempos.

      Excluir