quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A importância de deixar uma herança para os filhos

 Saudações,  confrades!

Escrevi este post inspirado neste bizarro tweet do perfil bloomberg opinion:


Vejam que atitude destrutiva estes "analistas" estão incentivando (pelo menos na manchete): gastar quase todo o patrimônio em vida e não passar quase nada para os filhos, ao invés disso dar-lhes apenas "experiências".

(O texto linkado ao tweet não é tão sensacionalista quanto a manchete, lá pelo meio do artigo ele fala em "dar dinheiro aos poucos" aos filhos para evitar mordidas do imposto de renda, mas como a maioria das pessoas só vai ler a manchete, a ideia que vai ficar é a de "não passar herança, porque isso não faz mais sentido no mundo atual")

Claro que não é saudável ser um pai avarento que nunca dá nada pros filhos. Óbvio que faz parte da criação proporcionar (dentro das possibilidades de cada um) boas experiências, lições e conselhos que ajudem os filhos a se desenvolverem como pessoas, estas coisas valem, sim, mais do que dinheiro, mas daí para torrar a grana e passar zero (ou pior, passar uma dívida) para os filhos eu já acho um imenso e perigoso exagero.

Também sei que cada um é dono de seu patrimônio e portanto cada um decide o que for melhor para si nesta questão de deixar ou não uma herança pros filhos. Se uma pessoa decide que quer usufruir de seu patrimônio até o último centavo, e faz esta escolha livremente, aí é de cada um.

Como sempre, defendo o equilíbrio.

A herança serve para que no longo prazo a família desfrute de alguma segurança, para que possa aproveitar as oportunidades que surgirem (imóveis, negócios, etc.), para que possam se dedicar a coisas além do trabalho e de correr atrás do sustento. Uma família sem herança tem que começar "do zero" em cada geração, e dificilmente irá para a frente, provavelmente será pobre para sempre (até que surja um gênio empreendedor que alavanque o patrimônio da família, mas por definição isso é bem raro).

Por quê playboys e patricinhas têm a chance de ir para a faculdade estudar coisas como artes, teatro, etc., para as quais o mercado é mais duro e fazer um sucesso mediano é bastante difícil, ou se dedicar a pequenos negócios e atividades de retorno duvidoso, coisas que um filho de um pobre normalmente não poderia fazer? Porque eles têm um patrimônio familiar que lhes dá tranquilidade suficiente para não se preocuparem em necessariamente ter que se dedicar a atividades com retorno financeiro mais certo. Eles têm um "Continue" no jogo da vida. Se tudo der errado para a patricinha e a carreira de desenhista não der certo, sua família pode bancar uma faculdade de emprego mais fácil, como medicina, por exemplo, ou um mestrado/pós-graduação numa instituição de prestígio que lhe abra algumas portas no mundo corporativo - fora os contatos que os pais provavelmente têm. E se mesmo assim tudo der errado, os filhos dos ricos terão um grande patrimônio deixado de herança que os sustentará, mesmo que só consigam subempregos ou seus pequenos negócios só rendam lucros minúsculos.

(vejam que não estou criticando estas pessoas: se existe a patricinha, é porque alguém antes dela ralou e suou muito a camisa em um emprego ou negócio. Desta forma, não acho certo o haterismo que existe em cima de playboys e patricinhas só pelo fato de estes terem dinheiro)

Por quê o filho do pobre é obrigado a ter empregos "de verdade" e a colocar a mão na massa, muitas vezes em atividades insalubres e extenuantes? Por que ele não tem escolha. Ele "só tem munição para 1 tiro", e tem que acertar, então normalmente ele não pode tentar ganhar a vida como pintor de quadros, ou dançarino de balé clássico, ou cantor, etc. Quer dizer, ele pode sim tentar fazer essas coisas, mas só no tempo livre: ele precisa de um emprego (ou de um negócio) "normal", com uma renda mais estável, que lhe dê dinheiro para as necessidades básicas. Claro que também é possível um pobre prosperar nestas coisas, mas as chances são bastante pequenas.

Sendo assim, uma família pobre terá chances de sair da pobreza através do trabalho e do acúmulo de patrimônio. E este acúmulo de patrimônio através de gerações pode eventualmente acabar com a pobreza de uma família (e por "acabar com a pobreza" eu quero dizer permitir aos descendentes não se preocuparem mais em faltar dinheiro para pagar o aluguel, não se preocuparem em faltar dinheiro para comprar comida, etc. Ou seja, não estou falando de luxos, estou falando em satisfazer com mais segurança as necessidades dos níveis mais baixos da pirâmide de Maslow). Sendo assim, eu vejo a herança como uma coisa essencial e importante, algo que não pode ser negligenciado, nem tratado levianamente.

E o "sistema" (a "matrix", chamem do que quiserem) sempre nos incentivará a fazer o contrário disso: nos incentivará a gastar o máximo possível, inventará falsas necessidades, luxos desnecessários, nos estimulará a girar o patrimônio, pagar muitas taxas, muitas comissões, muitos impostos, etc., em suma, o sistema sempre tentará nos manter presos na corrida dos ratos. A manchete que mostrei no início do post é só mais um exemplo disso. Cabe a cada um de nós nos disciplinarmos e buscarmos o equilíbrio financeiro, para que um dia possamos desfrutar da tranquilidade financeira e, se Deus permitir, transmitir algo além de conselhos e experiências para os filhos.


24 comentários:

  1. Cara parabéns, belo texto e reflexão.

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  2. Pra quem começa do zero sair dessa "corrida dos ratos" no Brasil é uma missão quase impossível.
    Minha afirmação é negativa, vai contra a opinião de entusiastas de investimentos, empreendedorismo e desenvolvimento de carreira, mas é o que eu penso a tempos e tive meu ponto de vista reforçado após entrar no mundo do trabalho e investimentos (mais recentemente em RV).

    Pra conseguir um emprego até 2k, 2,5k, dependendo de idade e formação e cidade onde se mora, até não é algo difícil, ganhar mais de 4k no Brasil de forma geral já não é pra qualquer um.
    Onde um salário de até 2,5k leva alguém hoje em dia? Pra uma pessoa independente, que more sozinho e se banque, basicamente ganhar até esse nível á apenas para sobrevivência, à partir de 3k que pode-se pensar em salvar um volume mais interessante de dinheiro (dependendo do caso)
    E no fim das contas a grande maioria dos brasileiros assalariados ganham até 4k, em cidades pequenas a maioria dos assalariados (fora alguns cargos públicos) geralmente chegam no patamar dos 3k.
    Mesmo que a pessoa começa a trabalhar aos 28 anos ganhando 2, 2,5k, daria trabalho para chegar aos 30 num bom padrão de vida, se essa pessoa tiver que arcar com despesas com moradia, faculdade, carro etc.
    E a maioria vive dessa forma.
    Quantos compram carro só após os 30 anos? Ou alugam/financiam imóveis?
    A maioria começa a fazer esses grandes gastos antes, bem antes da estabilização financeira, porque não há outra alternativa (a realidade é essa).
    RF perdeu seu papel de investimento. RV levou embora o dinheiro de muita gente ao longo desse ano e está sempre pronta a levar de quem não ficar muito atento as movimentações do mercado que em muitos casos desafiam a lógica.
    Se a média salarial da maioria da população (inclusive pessoas competentes e com boa formação) é relativamente baixa, RV pode alavancar, mas também diminuir fortemente patrimônios, RF já era, imóveis são caros e empreender também não é tarefa das mais simples a não ser em micro empreendimentos dos mais baratos, porém com baixa remuneração. Onde está o caminho para a saída da "corrida dos ratos".
    Sempre fui disciplinado, tenho salário até o momento razoável pra onde moro e ainda não encontrei essa saída.
    Penso em empreender, será minha última cartada mais "ousada" (caso venha a fazê-la), porque sinceramente no momento em que escrevo esse comentário estou desanimado e com a sensação de nadar e estar quase morrendo na praia..
    Mas quem sabe até o fim de 2020 as coisas melhorem. Tomara.

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    1. Começa a trabalhar aos 18 anos e não 28 digitei errado.

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    2. Obrigado pelo relato, anon. Realmente emprego pagando bem não está fácil (mas quando esteve fácil?). Cabe a cada um de nós procurar se especializar, buscar diferencial, se tornar o melhor profissional possível. Uma alternativa é procurar outro emprego (ficar com 2 empregos) caso dê para conciliar horários. Outra é juntar uma grana extra com os bicos que o mercado está proporcionando (entregador, motorista).
      Outra alternativa é montar um pequeno negócio dentro de casa (custo fixo baixo) e começar mesmo que seja informal. Tente alguma coisa que você possa fazer on line para não ter custos de deslocamento. Ou algo com muita demanda (ex: comida).
      Além disso, pense nos seus custos de vida, veja se é possível cortar alguma coisa sem fazer grande sacrifício. Tenha um padrão de vida inferior ao da sua renda mensal (Caso possível.. se não for, então você deve aumentar sua renda conforme os exemplos que citei).
      Com a renda extra, junte sua reserva de emergência de pelo menos alguns meses do seu custo de vida (para não entrar no cheque especial). Se tiver dívidas, use a renda extra para quita-las, mas também guarde um pouco para a reserva de emergência.
      Após isto, comece a investir diversificadamente. No curto prazo o mercado não faz sentido mesmo, só no longo prazo que ele reflete seu valor verdadeiro. Não espere ganhar dinheiro com ações no curto prazo. Dinheiro para ações é aquele que não fará falta para você agora.

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    3. Agradeço pela resposta Mago.
      Já tenho um valor para emergências e emprego. Nesse ponto até estou numa condição razoável em comparação a muita gente.
      Mas cheguei no meu limite de aporte e salário faz tempo, já sou um cara econômico porque sou uma pessoa simples por natureza.

      Mas quero ter mais liberdade financeira, um imóvel próprio e um carro "bom", esse é meu sonho de consumo.
      Nada fora do comum, mas ainda sim não tão fácil de se alcançar. E a crítica e reflexão do meu comentário vai muito nesse sentido, o tamanho da dificuldade e do tempo empregado para se conquistar o básico.
      Vou pensar e ver se até o fim do anos consigo alguma outra fonte de renda, já que a RV até o momento está me prejudicando.

      Mas agradeço pela atenção.

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    4. E se lembrar que a turma dos babyboomers + seus pais se deram bem. Tive um tio avô que nasceu em 1920.. Na decada de 40 arrumaram para ele um cargo de Auditor Fiscal de Tributos. Aposentou em 1975 e ganhava aposentadoria integral até morrer em 2005. Com o dinheiro que ganhava comprou muitos imóveis, terrenos e bens.

      Atualmente se não for empreendendo dificilmente até mesmo um auditor fiscal conseguirá comprar o que este meu tio avô comprou em sua época.

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    5. Aposentadoria dele era equivalente hj a R$ 35.000,00.

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    6. Exato Gari, hoje não há muitos caminhos, muitas alternativas...
      Mesmo com disciplina e frugalidade o caminho é tortuoso, até pra quem não ganha tão pouco.
      E outra, nós assalariados comuns não temos margem de erro, se tentarmos algo e quebrarmos, seja nos negócios ou investimento ou num divórcio, pra conquistar novamente é muito difícil, dependendo da idade, já era.

      Como o próprio Mago escreveu mais acima, hoje o cara tem que ter emprego, investir, ser frugal, buscar outra renda e ainda ter uma dose de sorte pra ascender socialmente e financeiramente de forma considerável.
      Senão é corrida dos ratos até a morte.

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    7. Obrigado pelo comentário, Gari. Realmente a geração Baby boomer deu muita sorte e pegou uma realidade de empregos abundantes, carreiras estáveis e imóveis bem baratos. Os que souberam aproveitar fizeram fortunas com imóveis, compraram terras, lojas, que nem o exemplo que você citou. Infelizmente herdamos um mundo beeeeem diferente, com mais incertezas, empregos mais precários e imóveis muito mais caros... por outro lado, talvez haja mais oportunidades para começar, mais informações, etc.
      E esse salário de fiscal é um sonho. Eu só não seria fiscal porque teria medo de ser ameaçado...

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    8. Sobre os imóveis baratos, eu acho que ainda existem só que contudo, antigamente não tinha a questão da violência e informação então se vocês perguntarem aos velhinhso onde eles compravam terreno barato vão ver que era um bucado de mato. O que muita gente hoje em dia não faz é se arriscar num terreno desses ou ter coragem de morar dado que tudo que é longe hoje em dia é realmente longe demais! (E olhe que moro no nordeste onde as cidades são menores, exceto Recife com seu trânsito característico.

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    9. Isso é verdade, Felipe. Antigamente havia muito mais oportunidades para tudo porque havia menos coisas feitas. Era mais seguro ir para rincões do Brasil por que a violência não era nem de longe tão grande quanto hoje em dia. Ainda há estas oportunidades (terras baratas, imóveis baratos) mas em locais com pouca ou nenhuma infraestrutura, e isso por alguma razão é menos aceitável do que já época dessa geração antiga (que também tiveram que lidar com isso).
      Obrigado pelo comentário!

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    10. Infelizmente o anon acima está correto. Hoje em dia é preciso muito mais para conquistar as mesmas coisas básicas (casa, carro, etc.) do que antes. É preciso saber investir, ser frugal, buscar outras fontes de renda, ter vários cursos e formações, etc. Antigamente só o homem trabalhava, e sustentava a mulher e 3 filhos, às vezes até mais, e muitas vezes com casa própria, mesmo que fosse uma casinha simples no subúrbio, com diploma de ensino médio ou até mesmo de curso primário. Sinceramente, esta foi uma das coisas em que na minha opinião o mundo piorou.

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  3. https://www.youtube.com/watch?v=gXro9FaNkIU

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  4. Exatamente.

    A herança faz uma diferença danada na vida de qualquer pessoa, e os comentários acima tocam em um ponto fundamental, a vida é muito mais difícil hoje em dia para conquistar um patrimônio do que era nos anos 50 ou 60.

    Acho que deixar uma herança é importante para a família, porém sou um dos que defendem um imposto sobre grandes heranças, acho que algumas heranças são muito grandes, talvez a partir de R$ 50 milhões seria importante uma tributação mais intensa do que a atual.

    Infelizmente no Brasil esse cultura da herança não é muito difundida, a maior parte da população acaba chegando a velhice e consumindo o patrimônio com custos de saúde e pagando a conta de erros da vida.

    É curioso também a quantidade de pessoas que recebem heranças construídas durante uma vida inteira e que destroem em pouco tempo.

    O dinheiro é difícil para ganhar, mas é fácil para perder.

    Abraços,
    Pi.

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    1. Tudo bem, PI? Não sei se concordo com essa ideia de taxar heranças muito altas não, eu particularmente defendo imposto zero para heranças, tenho até um artigo sobre isso para publicar aqui no blog, ainda em fase de rascunho. Acho que quem tem 50 milhões vai ter mil maneiras de sonegar isso, então creio que dê qualquer maneira não seria tão útil.
      Já tive contato com muitos playboys é patricinhas na vida, por conta da faculdade e até no trabalho, e muitos dos que vi são filhos de empresários. Pelo que vi, muitos tinham atitudes que me levavam a crer que irão torrar a grana dos pais sim, e talvez ruir as empresas, o que é bem triste. Aqui os ricos também tendem a ter essa mentalidade gastadora, principalmente os que já nasceram na riqueza.

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    2. Caramba investidor do interior. Eu discordo da tributação sobre herança. Sob qual prisma isso seria "justo"? Já que é pra ligar o achometro, que tal tributar o patrimônio acima de 100 mil reais? Pois uns 96% da população brasileira não atingem esse patamar, então seria "justo" socializar a riqueza alheia. E aí? Afetaria seu bolso? Não seria uma ótima ideia punir quem produz e dar ainda mais dinheiro para os governantes, que gastam de forma tão "justa" o dinheiro do cidadão?
      Outro ponto: já que a cultura da herança não é difundida, vamos incentivar negativamente tributando quem se aventure a construir patrimônio. Quanto seria o patrimônio tributável? 50 milhões. Por quê? Não sei, talvez porque é um valor no qual eu nunca chegarei, então tributa quem chega lá e problema dele.
      Por fim, tem que tributar grandes fortunas para que o playboy e a patricinha não aproveitem a riqueza alheia. Quem tem esse direito é só o governo e seus afiliados. Genial, não?

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    3. Tudo bem, AC? Concordo contigo. Herança tem que ser imposto zero. Se ficar inventando critério de valor, quem for muito rico sempre vai ter meios de sonegar e só os pobres e a classe média que vão pagar. Vou escrever alguns posts sobre impostos e vou abordar essas questões.
      Abraço!

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  5. Crescer sem R$0,01 de herança é a pior coisa do mundo.

    Meu pai e minha mãe se separaram (nunca foram casados de verdade), quando eu era muito pequeno. Minha mãe sempre foi uma mulher muito passiva, por vários traumas mesmo (abusos físicos na infância, extrema pobreza), ela não se impunha diante da infidelidade do meu pai, tinha muito medo de ser humilhada, não quis colocar na justiça para dar pensão, enfim. Meu pai é um cafajeste vagabundo mesmo, abandonou os filhos na cara dura, mas minha mãe também errou muito nesse aspecto. Era para ser uma mulher de mais postura.

    Moramos de favor em uma casa construída por ele, mas essa casa não pertence de jure a minha mãe, ela sempre se confiou demais na compaixão alheia e do meu pai. Fico pensando quando o velho morrer (ele já tá todo acabado), a outra mulher dele, que também tem filho, e é mais valente, vai fazer de tudo p/ tomar essa casa, e vai ser fácil, só para implicar, haja vista a passividade da minha mãe. Já falei pra minha mãe de usucapião e nada, ela faz é se exaltar quando digo isso. Minha mãe diz que nunca ligou pra herança, mas ela não entende que, se ela quer ficar no fundo do poço, fique sozinha, não leve os filhos junto não.

    Falo isso cara, pois não tenho 1 centavo de herança, exceto essa potencial casa. E é muito difícil ser um indigente no mundo, sem 1 centavo. Para piorar, meu irmão tem uma deficiência grave (razão pela qual minha mãe nunca pôde trabalhar). Outra coisa, ela se confia demais no auxílio governamental que ele recebe, quando a gente cita sobre a aposentadoria dela, ela não liga. Ficou nas minhas costas o dever de construir um patrimônio do zero para sustentá-los, e sustentar minha mãe na aposentadoria, pois nos dias de hoje, uma pessoa de mais de 50 anos e nunca trabalhou não tem como se aposentar pelo INSS. Morar com eles é complicado também, é uma rotina totalmente diferente.

    E estamos em uma época difícil, emprego bom só com QI, faculdade não é garantia de nada, concursos já era, empreender sem um centavo no bolso é utópico, eu fico desesperado mesmo, sufocado, já pensei até em tirar minha vida por causa disso. Tenho a sensação de que não tenho ou nunca vou ter vida própria, pois sempre vou ter que auxiliar financeiramente minha família (mãe e irmão), por escolhas erradas dos meus pais. Não vou ter a vida de um homem normal. Já pensei em fugir pra bem longe, mas certamente eu ganharia a reputação de filho ingrato e covarde, é um beco sem saída. Vou ter que sempre morar muito próximo a eles, isso tira uns 50% da minha liberdade.

    É absurdamente difícil sair do 0, ops, sair do -100000 que é a situação que me encontro, principalmente nos tempos difíceis que estamos. E sem herança, essa dificuldade é elevada ao infinito. Tento seguir uma linha mais estoica, porque quando coloco tudo no papel e tentar achar um plano, vejo que as saídas são mínimas e dá vontade é de colocar a corda no pescoço.

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    1. História bem triste, anon. Mas não se desespere, o suicídio só vai piorar tudo, não é saída de nada. Você só acha que vai conseguir escapar de seus problemas, mas:
      1) você acaba parando no "vale dos suicidas" para resgatar a imensa dívida que adquirirá para si próprio caso resolva se matar, e lá você sofrerá muito e por muito tempo, pior que seus problemas aqui no mundo material;
      2) Quem ficar para trás aqui no mundo material vai sofrer e sentir sua falta, e ainda por cima os problemas financeiros e patrimoniais persistirão.
      Suicídio não resolve nada.
      Você precisa:
      1)estudar essa situação do imóvel, de preferência com um advogado (se tiver algum amigo, conhecido, etc. Que seja advogado, negocie com ele uma forma de pagar, ou então peça ajuda mesmo), pra ver se consegue uma maneira legal de que o imóvel fique para a sua mãe;
      2) procurar ajuda para você e para seus parentes. Procure uma igreja ou um centro espírita kardecista para ter apoio emocional, acesso à caridade, e fazer parte de uma comunidade. Quem sabe assim você não encontra um advogado disposto a te ajudar? Ou alguma forma de terapia? Pode te ajudar em outros problemas que você não mencionou.
      3) aprenda um ofício, ou faça um curso técnico, etc. Para ter emprego mais facilmente. Caso você já trabalhe, estude essas coisas à noite para se aperfeiçoar, buscar outras fontes de renda, etc. Só você sabe o que dá pra fazer. Veja sua situação profissional e veja como pode melhora-la, para conseguir construir o seu patrimônio.
      4) veja direitinho essa questão da aposentadoria da sua mãe, tente ver isso com um advogado também para ter certeza do que dá e do que não dá pra fazer.
      5) veja se a deficiência grave do seu irmão dá direito a algum auxílio pelo INSS, caso ainda não receba. Também recomendo ver isso com um advogado.

      6) sente com sua mãe e reveja essas questões de não trabalhar. Será que não tem nenhum trabalho que ela consiga fazer de casa, para ajudar na renda?

      Eu sei que a situação está difícil, mas me parece que foi designada para você essa missão de proteger sua mãe e seu irmão. E Deus só nos dá as missões que Ele sabe que nós somos capazes de suportar. Então você é capaz. Alguma coisa vai acontecer, ou você vai se dar conta de alguma coisa que ainda não pensou, e você vai ter condições de fazer isso. Você pode até não conseguir dar luxos para sua mãe e seu irmão, mas vai ser capaz de dar-lhes dignidade, vai ser capaz de dar-lhes o mínimo. Não desanime. Tenha fé.

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    2. Eu não queria ter de forma alguma essa missão designada por mim. Não foi Deus que colocou isso para mim, foram as decisões equivocadas da minha mãe e do meu pai. E eles ainda conseguiram me colocar num ponto em, que eu pular do barco, viro o vilão da história perante todo mundo. Não sou sobrenatural, herói, para que sou designado para uma coisa dessas. Acredito em Deus, e acredito em livre arbítrio, e eu fui uma vítima dos atos equivocados do meu pai e da minha mãe. É bom estar nessa posição? Não, de maneira alguma. Não é ingratidão, é a pura realidade.

      Vivo um dia de cada vez, mas de meses em meses tudo vem de uma vez, sem falar que, com o tempo, as coisas vão piorando. Não cometi suicídio nem foi por medo de ir pra o inferno, mas por medo de ficar acamado, dependendo de alguém para tudo.

      Não queria voltar o comentário para a minha história, sei que não tem jeito mesmo, não é de hoje que luto com esses problemas, a solução não é tão simples como você enumerou, já pensei em tudo isso, fiz algumas coisas e não deu certo. Mas sim o fato de que uma pessoa não ter herança a faz ficar em uma posição muito inferior na sociedade, e que a ascenção nesses casos chega a ser questão de sorte. No meu caso eu tive a má-sorte de, além de estar nessa posição de deserdado, ter esses outros problemas.

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    3. São problemas muito raros, e as pessoas me resumem a um mero provedor. Uma coisa é você ajudar a sua família quando melhora de vida, outra é você não poder melhorar porque está preso a ela. E a minha vida, a minha própria caminhada, as minhas próprias experiências, como um dia vou namorar, casar (ter filhos não, pois a doença do meu irmão é genética), viajar pelo mundo como tanto sonho? É muito desumana toda essa situação. É como se eu tivesse virado pai aos 15 anos sem ter escolhido (gravidez na adolescência pelo menos os dois estão cientes que sexo pode causar um filho, e no meu caso?) Posso estar soando egoísta, mas o tempo todo todos pedem para pensar neles, e neles...sou um coadjuvante da minha própria história.

      Amo-os pela rotina, convivência...mas, racionalmente, queria ter nascido em outra família.

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    4. Comentei apenas por comentar, pois já sei que a minha vida está condenada ao fracasso. Nem procuro mais possíveis saídas, as que tentei, muitas, não deu certo.

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    5. É, anon. Não existe receita de bolo para a vida, cada um tem uma situação, cada um tem seus desafios.

      É assim como você mesmo disse: viver um dia de cada vez, dar o seu melhor no que você fizer e manter o otimismo sempre que puder.

      Te desejo boa sorte em sua caminhada. Não perca a fé.

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