Vamos à parte 2 de minha série de artigos sobre ETFs.
Primeiramente, apresento uma comparação entre alguns ETF que selecionei:
ETF: Benchmark: Taxa de Administração:
SMALL11 índice SmallCap 0,69% a.a (a cada 10K aplicados pago R$ 69,00 a.a)
BOVA11 Ibovespa 0,54% a.a (54 reais por ano para cada 10K)
BOVV11 Ibovespa 0,30% a.a (30 reais por ano para cada 10K)
IVVB11 S&P500 0,24% a.a (24 reais por ano para cada 10K)
BRAX11 IBrx-100 0,20% a.a (R$ 20,00 por ano para cada 10K)
PIBB11 IBrx-50 0,059% a.a (R$ 5,90 a.a para cada 10K)
Todos os ETF acima têm taxa de administração bastante inferiores a 1% a.a, o que já é bem abaixo dos padrões brasileiros, a terra das taxas altas, conforme veremos a seguir.
Os mais "interessantes", a meu ver, são o PIBB11, cuja taxa de administração é a menor do Brasil, uma verdadeira anomalia entre os fundos de investimento em operação no país, e o BRAX11, que replica o IBrx-100 e tem a segunda menor taxa de administração entre os ETF acima (mas ainda quase quatro vezes superior à do PIBB11!).
***O IVVB11 é interessante por replicar o índice americano S&P500, mas ainda não o estudei o bastante para realmente opinar a respeito. Irei abordá-lo em um artigo futuro, a pedido de um leitor.
Prosseguindo, vejam só as taxas de administração de alguns fundos de ações, para fins de comparação com os ETF:
Fundo de ações: Taxa de Adm:
BB Ações Petrobras 2% a.a (200 reais por ano para cada 10K reais aplicados)
BB Construção Civil 2% a.a (idem)
BB Ações Alocação ETF 1,55% a.a (155 reais por ano, para cada 10K)
Itaú Ações Momento 30 FICFI 2,5% a.a (+taxa de performance) (+ de R$250 para cada 10K a.a)
Como podem ver, os Fundos de Investimentos selecionados cobram bem mais caro que os ETF, e o último da lista ainda cobra taxa de performance (20% do lucro que superar o benchmark, e pelo que encontrei em minha pesquisa, essa é a taxa de performance "padrão").
Para ser justo, há outros fundos de investimento não-ETF que cobram taxas de administração bem menores que as quatro apresentados acima, basta procurar, mas nenhuma é mais baixa que a do PIBB e do BRAX. (o mais baixo que vi em minha pesquisa foi 0,3% a.a >> "Itaú Personalité Privilége RF", um fundo de renda fixa atrelado ao CDI - cuja aplicação inicial mínima é de míseros R$ 1.000.000,00...).
Para aqueles que não captaram a ideia, entendam as taxas de administração de um fundo como sendo uma "rentabilidade negativa" anual. Ou seja, se o seu fundo rendeu 7% neste ano e a taxa de administração é de 1% ao ano, significa que o seu ganho, como investidor, foi de 6%.
Agora vou comparar 3 ETF: PIBB11, BOVV11 e BRAX11. O critério de seleção foram as taxas de administração (0,059%aa, 0,3%aa e 0,2%aa, respectivamente). O primeiro tem como benchmark o IBrx-50, o segundo o Ibovespa e o terceiro tem o IBrx-100. Neste artigo falarei apenas sobre o PIBB11. O próximo será sobre o BOVV11.
A carteira do PIBB11 é composta pelas ações que fazem parte do IBrx-50.
Conforme a página do fundo no site do Itaú, a maior parte está aplicada em ações, e uma parte destas está alugada (13% no momento em que escrevo, mas muda todo dia). Há um valor bem pequeno (0,14%) aplicado em títulos públicos. O fundo aplica em 50 ações, de 45 empresas diferentes (ele tem ações ON e PN da Petrobras, Bradesco, Eletrobras , além das duas ações diferentes do Itaú (ITUB e ITSA) e da Gerdau (GGBR e GOAU)), distribuídas em 26 setores da economia.
A página do fundo traz alguns detalhes interessantes, como os ativos de maior peso do fundo, os valores a pagar e a receber, os setores de maior peso, etc. Não vou escrever aqui porque estes valores vão mudar conforme as empresas forem entrando e saindo do IBrx-50.Todo mundo que estiver pensando em aplicar seu suado dinheiro no PIBB11 deve olhar esta página. Esta regra, aliás, vale para qualquer fundo de investimento e para qualquer ação. Isso pode parecer óbvio, mas, como digo, o óbvio precisa ser dito. Não invistam às cegas, pessoal!
Seguem meus comentários e opiniões pessoais sobre o fundo:
-O fato dele replicar o IBrx-50 faz com que algumas empresas tenham um peso muito grande no portfolio (caso do Itaú, que representa cerca de 10% da carteira, mas pelo menos é uma empresa boa para se investir - lucros bilionários);
- Que bom que o fundo consegue ganhar uma graninha alugando ações, isso eu vejo como uso inteligente do patrimônio sem abandonar a gestão passiva. Notem que ele só aluga cerca de 13% das ações, não sei se por estratégia ou por não conseguir alugar mais;
-50 empresas provavelmente não iriam satisfazer Bogle no quesito diversificação, mas como o Ibrx-50 está bastante correlacionado ao Ibovespa, então acho que o fundo acaba passando neste quesito, pelo menos para os padrões do mercado brasileiro, que tem muito menos empresas negociadas em bolsa do que o mercado americano;
Agora, analisando o relatório de demonstrações financeiras [o exercício financeiro do fundo vai de 1º abril a 31 de março, de modo que em 31 de março deste ano foi encerrado o exercício anterior e em 1º de abril deste ano iniciou-se o exercício atual] (link do relatório):
Antes, um esclarecimento: não adianta ficar analisando os pequenos detalhes da gestão do fundo (e neste caso nem é possível, dadas as poucas informações do relatório). Vou seguir para esta e para todas as análises que eu fizer neste blog o "método Bastter" de análise de empresas: vou focar nos aspectos macro da evolução patrimonial, evolução das receitas, das dívidas e dos lucros. Os detalhes que eu considerar relevantes (ex: remuneração dos administradores) eu vou incluir, mas vou evitar análises muito detalhadas, porque geralmente elas não têm utilidade para o pequeno investidor.
- O relatório é enxuto (25 páginas), o que geralmente é bom, porém é de difícil visualização (são as imagens scaneadas do relatório físico, reunidas num pdf, o que dificulta a leitura, porque não permite dar ctrl+f para procurar palavras-chave, além de deixar as páginas e letras com aparência borrada, o que prejudica a leitura por parte de investidores com problemas visuais. Por exemplo, o "6" se confunde com o "8") - espero que corrijam isso no futuro (mas duvido....), e senti falta de uma demonstração de fluxo de caixa e da demonstração do "giro" do fundo. Em suma, achei o relatório bem fraco.
- Em relação ao patrimônio do fundo, ele possui valores a pagar (passivo) equivalentes a 0,41% do patrimônio líquido, o que é bom.
- Houve um grande resgate de cotas no exercício findo em 31 de março de 2019 (1.960.000 cotas resgatadas), de modo que o exercício foi encerrado com menos cotas do que o anterior;
- Receita de cerca de 145 milhões, sendo a receita de dividendos no valor de R$ 53 milhões;
- Em relação aos custos: a maior "despesa" registrada são as perdas com derivativos (13 milhões); R$ 709.000,00 gastos com remuneração da administração (aumento em relação à mesma época de 2018); a despesa total do fundo (14 milhões) representou cerca de 10% das receitas. É necessário comparar com as demonstrações de outros ETF para verificar se os "custos" estão baixos. Futuramente editarei esta parte.
Enquanto escrevia este post, percebi que analisar os fundamentos de um fundo não é tão interessante quanto analisar as ações de empresas individuais, e há uma certa escassez de informações. A página do fundo, no site do Itaú, por exemplo, peca por não ser muito transparente e não ter o básico dos básicos, que são as demonstrações financeiras dos exercícios anteriores, as quais na minha opinião deveriam ficar todas arquivadas para que qualquer investidor pudesse ler. Entretanto, consegui encontrar algumas neste link. Percebi que os relatórios feitos pela Deloitte são mais bonitos, visualmente falando, e o pdf é mesmo o do arquivo digital. Os que foram feitos pela PWC são aquela porcaria de imagem scaneada de um arquivo físico, o que dificulta muito a leitura, então ponto negativo para a PWC.
É uma pena que eu não tenha encontrado todos os relatórios desde o lançamento do fundo em 2004. Com base nos que encontrei, fiz a tabela e os gráficos abaixo:
- As "receitas" do PIBB11 são (óbvio) muito fortemente influenciadas pelo Resultado das Ações (valorização ou desvalorização a preços de mercado), e por este motivo é que elas foram negativas em 5 dos 9 anos analisados. Por este ponto de vista, não se pode analisar estas "receitas" da mesma maneira que se analisa as receitas de uma empresa (por exemplo, receitas de vendas de mercadorias). A meu ver, as receitas "de verdade" deste e outros fundos seriam os dividendos, JCP e rendas de aluguéis de ações.
- O valor patrimonial por cota aumentou principalmente por causa da queda livre do número de cotas do fundo (de 21,6 milhões para 7,7 milhões de 2011 para cá), pois o patrimônio líquido do fundo diminuiu no mesmo período. Vejam as 10 ações com maior participação no fundo em 2013 e em 2018, para se ter uma ideia:
2013 |
2018 |
- Notem que de lá para cá o fundo se livrou de umas 2 milhões de ações ITUB4 e quase 3 milhões de ações PETR4 e PETR3. Provavelmente isso faz parte do objetivo do fundo, que é seguir o índice IBrx-50. Então estas grandes vendas de ações devem ter sido para ajustar a participação das mesmas no portfolio do fundo conforme a proporção das mesmas no índice-referência.
- Provavelmente o número de cotas é forçosamente diminuído (vide tabela) para manter ou valorizar o valor de mercado das mesmas.
- Que fatores poderiam explicar a diminuição do Patrimônio líquido do fundo? Na minha opinião, são estes os principais:
- Diminuição do valor de mercado das ações que compõe o portfolio;
- Diminuição da quantidade de ações no portfolio (conforme visto nas 2 figuras acima)
- Não importa o motivo para o PL ter diminuído, senti falta de explicações para isto nos relatórios financeiros do fundo.
- Apesar desta diminuição do Patrimônio Líquido, o valor das cotas do fundo vem subindo pelo menos desde 2016, depois de ter praticamente andado de lado por 8 anos. Notem também que ele tem conseguido acompanhar seu índice referência, comparando com o outro gráfico abaixo:
Evolução da cotação do PIBB11. Fonte: Investing.com |
Evolução do IBrx-50. Fonte: advfn.com |
No próximo post, analisarei o BOVV11. Até a próxima!
Forte Abraço!
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