terça-feira, 7 de maio de 2019

Trabalhar não é ruim - o ruim é o emprego

Boa noite, amigos.

Semana passada foi bem dura para mim, tanto que não tive saco para escrever no domingo, como tenho feito desde que comecei o blog. Usei o final de semana para realmente descansar, tanto física quanto mentalmente.

Tive a ideia desse post (um misto de desabafo com constatação da realidade) enquanto assistia a um episódio de uma série ("Chicago Med" - uma série meio legalzinha, mas que claramente segue uma agenda esquerdosa, assim como todas as produzidas pelo Dick Wolf) que assisto de vez em quando (na verdade, nem gosto de séries, mas praticamente só tem isso para ver aos domingos, então vejo mais para me distrair mesmo). No episódio em questão, um médico é forçado a sair no meio de uma cirurgia porque recebe uma ligação de um suposto bandido, dizendo que sequestrou sua noiva e queria o resgate (na verdade era um golpe), e deixa a operação nas mãos da médica assistente. Acontece que o paciente em questão era algum ricaço (paciente VIP), e assim que uma secretária / peguete / sei lá o quê dele (não vi o episódio todo) fica sabendo do abandono do médico, ela vai, ameaçadora, conversar com a diretora do hospital, dizendo que se a cirurgia não fosse perfeita, ela garantiria que, além de levar um processo, o tal médico ainda perderia o emprego, e disse também que daria um jeito de a diretora do hospital também ser demitida.

Não vou discutir aqui se o médico agiu certo ou errado. O meu ponto é o seguinte: o emprego de uma pessoa é frequentemente usado como recurso para ameaças. Já vi isso em muitos filmes (uma frase relativamente comum é a clássica "você nunca mais vai trabalhar nessa cidade!!!") e já vi e ouvi falar de coisas pavorosas na vida real. Se pararmos para pensar, nossos empregos são também, de certa forma, fontes de fraquezas e vulnerabilidades, principalmente quando dependemos deles. Conforme diversos nomes da blogosfera das finanças já escreveram (especialmente o "falecido" Pobretão), nos ambientes de trabalho há muitas ameaças, explícitas e implícitas, e vivemos com a sensação de estarmos constantemente na corda bamba, à sombra da demissão, que pode chegar literalmente a qualquer momento. E quanto mais alto você "sobe" na carreira (se tiver uma), mais vulnerável você está, uma vez que o custo de perder o emprego se torna cada vez maior, bem como a recolocação no mercado se torna mais difícil
Praticamente não importa o quanto ou o quão bem trabalhemos, ou o quanto sejamos competentes e bons no que fazemos, é quase inevitável que eventualmente escutemos frases como essas abaixo:

- "Sou eu que coloco comida na sua mesa"
- "Sou eu que pago a escola do seu filho"
- "A porta da rua é serventia da casa"
- "Não gostou, pede demissão" (essa eu já perdi a conta de quantas vezes já ouvi!)
- "Não quer vestir a camisa não???"
- "Já vai sair?"
- "Não quer vir no sábado? Tem um monte de gente lá fora querendo" e etc.

Isso tudo é triste, porém real. Gostaria que fosse diferente e que os ambientes de trabalho fossem mais harmônicos, com menos pressão, menos puxadas de tapete, e mais amizade, mais respeito, mais consideração pelo próximo, etc. mas a realidade não é assim. O mercado, mesmo um  extremamente oligopolizado como o brasileiro, é altamente competitivo, então a pressão e o estresse são quase inevitáveis. Somando tais ambientes de estresse e pressão com o que falei no meu post sobre a escolaridade no Brasil, além da dificuldade de se abrir empresas (e mantê-las), e o alto custo dos direitos trabalhistas, o resultado só poderia ser esse: empregos mais escassos e frágeis. Além disso, como a CLT faz cada empregado custar caro, as empresas tentam compensar isso empurrando-lhes mais trabalho e obrigando-os a ficarem mais horas. Se o número de tarefas aumenta, a pressão para dar conta aumenta, e o risco de errar sobe também.

No lado do gerente/supervisor/diretor as coisas também não são fáceis. Conforme o exemplo do hospital, acima, é normal o chefe levar a culpa por erros dos subordinados e, dependendo da gravidade do erro, ser punido junto, como se ele tivesse tempo e capacidade de controlar/orientar todos os atos de todos os subordinados o tempo todo. Além disso, estar num cargo intermediário (meu caso) é como estar entre a bigorna e o martelo: ouvir todo dia reclamações dos dois lados, receber as metas insanas dos chefes e repassá-las para o setor, implantar processos/sistemas novos, fazer relatórios por whatsapp, reuniões intermináveis (e muitas vezes inúteis), etc. Ou seja, muita pressão, muito risco de errar e muito estresse.

Outra coisa ruim dos empregos é que, uma vez neles,  parece que sua família sente medo por você: caso nunca tenha feito isso, tente, uma vezinha só, comentar num almoço de domingo, por exemplo, que você não está gostando do emprego e cogita procurar outro e pedir demissão. Em 99% das vezes sua família vai te "agourar", dizendo que você não pode fazer isso, porque as coisas estão difíceis (e quando não estiveram??) e que você tem que pensar muito bem, repensar mil vezes sua decisão, tentar tirar umas férias para esfriar a cabeça, etc. etc., como se fosse certo que o novo emprego dará errado, e você será demitido no primeiro mês e acabará morando debaixo de uma ponte.  Já tive várias conversas assim...

Em suma, todas essas coisas desagradáveis que escrevi acima reforçam o que eu disse no meu post de 19 de abril (https://magoeconomista.blogspot.com/2019/04/as-coisas-nao-estao-faceis-algumas.html): devemos, hoje mais do que nunca, diversificar nossas fontes de renda. Isso nos dará mais tranquilidade e confiança no dia a dia, pois o medo de ser demitido e "ir morar debaixo da ponte" diminui, afinal ainda teremos outro(s) lugar(es) onde ganhar dinheiro, e com isso a pressão sentida no emprego diminui também e, acredito, paradoxalmente (?), passamos a trabalhar melhor.
Sei que nem todos têm pendor (ou vontade) para isso, mas acredito que todos deveriam, pelo menos uma vez na vida, tentar empreender, criar um negócio "do nada" e ver no que dá. Eu não sei se tenho pendor, mas tenho vontade, e um dia criarei o meu. Estou trabalhando nisso. Se der certo, no mínimo, me ajudará na diversificação das fontes de renda e pode ser que, eventualmente, me ajude a sair do emprego, e me permita apenas trabalhar.

Trabalhar não é ruim. Não imagino (e não desejo) uma vida sem trabalho, pois é através do trabalho que realmente nos desenvolvemos física, intelectual e moralmente. Uma vida de ócio seria uma vida jogada fora, uma oportunidade perdida.
Ruim é emprego, CLT, chefes, formalidades desnecessárias, dress code, reuniões, horários, metas absurdas, confraternizações forçadas após o expediente, horas extras forçadas e não pagas em dinheiro, etc.

Forte abraço!

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