quarta-feira, 7 de julho de 2021

Os livros do Kiyosaki


Saudações,  confraria!

A maioria dos livros de finanças que são publicados aqui no Brasil, grosso modo, se dividem em basicamente 2 tipos: auto-ajuda financeira e "matemática aplicada para trades" (na minha opinião, uma pseudociência).

Há uma minoria que se salva, mas mesmo assim é difícil encontrar alguma coisa realmente de qualidade, que "te deixe de cabelo em  pé" depois de ler. 

Há  muitos livros que claramente são  escritos só para fins comerciais (em um estilo meio "embrulha e manda", se é que vocês me entendem). Por exemplo, os livros do famoso Robert Kyiosaki. 

O famoso "Pai Rico, Pai Pobre" é na minha opinião um livro muito bom, e costuma ser a primeira redpill financeira de muita gente.  A principal lição do livro(e talvez a única que importe, pelo menos para a realidade brasileira), na opinião deste que vos escreve, é aquele famoso diagrama do fluxo de caixa que ilustra a importância da busca pela renda passiva para sustentar nossos gastos. Isso realmente é algo que ninguém costuma ensinar por aí e que se não nos metemos a estudar finanças podemos passar a vida inteira sem saber (parece óbvio depois que lemos, que nem a resposta de uma charada, mas não é tão simples assim chegar a esta conclusão sozinho...Se fosse, seria muito comum ouvirmos conversas sobre fluxo de caixa, renda passiva, e sabemos que fora da nossa bolha esses assuntos não são nada comuns) 

Kyiosaki, na minha opinião, se tivesse publicado só esse livro, já teria entrado para a história. 

Em relação aos demais livros do Kyiosaki, comprei e li somente o Guia de Investimentos e o Unfair Advantage (acho que em português ele se chama "Educação Financeira" ou "O Poder da Educação Financeira"), mas estes livros não trazem muita coisa de novo em relação ao "Pai Rico, Pai Pobre": acho que no fundo são só repetições do mesmo tema. 

No Unfair Advantage ele tenta nos incitar a comprar prata, pois há várias partes em que ele fala sobre isso, sendo que o principal argumento dele era que "Enquanto o ouro foi entesourado, transformado em moedas e barras e guardado em cofres, a prata foi usada para fazer talheres e outros utensílios, e portanto pode ter se tornado mais rara que o ouro" ou algo assim. 

A princípio, parece fazer sentido, mas tendo em vista a imensa diferença que persiste entre o preço do grama de ouro e da prata, para essa teoria ser verdadeira, o Kiyosaki teria que ter sido o único cara que percebeu isso até hoje, e mesmo após alguns anos de sua publicação, o mercado ainda não percebeu...mas é óbvio que o tempo pode provar que ele estava certo. Por outro lado  acho que ele recomenda a compra de "silver certificates" e não fala muito sobre prata física,  o que na minha opinião não é lá muito efetivo (o certificado de prata provavelmente não valerá de nada num verdadeiro desastre financeiro, a meu ver, pois basta o banco fechar, falir ou simplesmente vir uma lei proibindo o resgate de títulos para que eles não valham nada)

Tem até "anúncios" e "pausas para comerciais" dentro desses dois livros, na cara de pau. A maioria é para divulgar os jogos de tabuleiro que ele criou (cashflow) ou para divulgar outros livros da coleção dele. Isso poderia ser feito em uma seção depois do final do livro, como várias editoras fazem. Mas do jeito que ele fez, jogando assim no meio da leitura, fica bizarro demais.

Teve outro dele que eu li quase todo só folheando numa livraria, por volta de 2013, chamado "Como investir em ouro e metais preciosos" em que 90% do livro é só sobre a história do uso do ouro pela humanidade (interessante) e os 10% finais são sobre o investimento em metais em si, mas quase não fala nada e em diversos pontos ele tem a cara de pau de dizer que "se você quiser investir em ouro, procure um profissional de investimentos para lhe explicar" - ora essa, então qual é a utilidade do livro? Para quê eu vou comprar um livro sobre investimento em ouro se o livro não explica como investir em ouro e ainda me sugere contratar um profissional? Aliás,  esse livro acho que nem é do Robert Kiyosaki, mas usa a "franquia" do nome dele. Muito bizarro uma pessoa emprestar o nome para franqueados...

Um detalhe interessante: ele admite que escrever não é seu forte, e quem já leu algum livro dele em inglês vai perceber isso:  em certos momentos ele escreve que nem uma criança (por exemplo, repete algumas palavras, usa muitos períodos simples, etc). Isso tem um lado bom:  para quem quer aprender vocabulário em inglês relativo a finanças, os livros do Kiyosaki são muito bons, e podem servir como ponte para livros mais avançados. Eu comecei assim, o Rich dad Poor dad foi o primeiro livro sobre o assunto que li em inglês.


Enfim, Kyiosaki é só um exemplo, há vários autores de finanças e negócios que, a meu ver, se encaixam perfeitamente na descrição de "livros escritos somente para fins comerciais". Claro que sempre podemos tirar lições úteis desses livros, e eu entendo que, dependendo do assunto, tem que encher muita linguiça para conseguir produzir um livro. Pode ter sido o caso do Kiyosaki. 

Enfim, não tem muita coisa que se salva nesses livros, poderia ter escrito em umas 5 páginas as lições sobre fluxo de caixa, mas quis escrever vários livros, então deu no que deu. Nunca os li em português... talvez o tradutor consiga salvar os livros em termos de estética.

Quais livros dele vocês já leram, confrades?

Forte abraço!
Fiquem com Deus! 

11 comentários:

  1. Hoje tá cheio de coachings financeiro, temos que ter cuidado para não cair em evangelização financeira desses caras !

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    1. Bom te ver por aqui, Stifler. Espero que você esteja bem. Coachs financeiros têm se multiplicado nos últimos 2 anos de uma maneira incrível mesmo. Aliás, hoje em dia todos nós sofremos com o excesso de informações, não só na área de finanças. É preciso, mais do que nunca, saber filtrar o que lemos por aí...

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  2. Boa parte dos livros publicados no Brasil sobre os mais variados temas são traduções de livros estrangeiros e só esse fato já "inviabiliza" boa parte do conteúdo apresentado.
    Fora que em finanças e investimentos e mesmo empreendedorismo não há muita coisa nova a se ensinar ou aprender, as bases desses assuntos são as mesmas desde o início dos mesmos.
    O que há muito hoje e vejo muito isso na internet é a gourmetização desses assuntos, youtubers colocando uma embalagem bonita e enfeitando assuntos simples. Exemplo: A base do crescimento econômico de uma pessoa é gastar menos do que ganha. Ponto.
    Não há mais o que dizer. A partir daí é possível investir ou empreender caso essa pessoa queira fazer seu dinheiro render e é a partir desse ponto que o tema vai ficando mais complexo dependendo das escolhas do futuro investidor, mas a base é muito simples.
    Mas tem gente que faz 200 vídeos para explicar isso.

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    1. Anon, o seu comentário foi perfeito. Você resumiu todo o "mercado" de educação financeira. Engraçado que saímos de uma situação em que não havia nada ou quase nada escrito sobre o assunto por aqui, e fomos para o extremo oposto, com "influencers" financeiros de instagram e por aí vai.
      Já espremeram o máximo possível e além deste assunto, já está no volume morto. A base de tudo são 3 itens simples:
      1 - gaste menos do que você ganha
      2 - guarde a diferença
      3 - se possível, faça o dinheiro trabalhar para você

      E falar esses 3 itens já é muito, pode resumir tudo no item 1, conforme você escreveu.

      Por isso que eu tento escrever sobre assuntos variados aqui no meu blog.

      Abraço e volte sempre!

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  3. O Homem mais rico da babilônia para mim é o mais completo livro de finanças pessoais que já vi. Porque ele não aborda somente "Guardar e investir" ele também lembra da importância da diligência no trabalho.

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    1. O que é óbvio né Peão. Ainda mais no Brasil onde chegar a IF a partir do 0 é quase impossível.

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    2. Tudo bem, Peão? Bom te ver por aqui!
      Esse livro que você eu conheço, mas não li. Engraçado que você escreveu um post falando sobre livros praticamente ao mesmo tempo que o meu!

      Anon, chegar na IF a partir do zero é bem difícil em qualquer lugar do mundo. Casos como o do Silvio Santos, por exemplo, são excepcionais, verdadeiros pontos fora da curva, em qualquer lugar.

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  4. Eu chamo este processo de GANHAR EXPERIENCIA , porque uma pessoa financeiramente ignorante pode ficar facilmente deslumbrada com esse tipo de leitura.

    Porém , a medida que o peão vai ganhado experiencia de vida , ele percebe que na realidade esses autores são na verdade muito pobres em ajudar as pessoas a realmente ser bem-sucedidas financeiramente.

    Mas para quem entra essa jornada de aprendizado , ler autores como Kiozaki faz parte da jornada rumo a sabedoria financeira .

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    1. Concordo, Ras Ratel. O meu processo de aprendizado passou por este caminho: o deslumbre inicial com o Kiyosaki, e em seguida a evolução, após algumas leituras de autores melhores, quando ocorre a constatação de que simplesmente não existe um "livro mágico" que tenha "a resposta exata" de como e onde investir para ficar rico. Se existisse um livro assim, ou ele não seria publicado e ficaria eternamente guardado no cofre do dono, ou então a fórmula mágica perderia o efeito assim que chegasse ao conhecimento de um número suficiente de pessoas.

      Abraço e volte sempre!

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  5. Farmacêutico Investidor8 de julho de 2021 às 13:23

    Li o Pai Rico, Pai pobre. Apesar do Kiyosaki defender coisas que eu torço o nariz (marketing multinivel), considero este livro um marco.

    A partir daí comecei a procurar entender os conceitos de fluxo de caixa e a me educar financeiramente. Li alguns do Gustavo Cerbasi e Warren Buffet, comprei até livros de contabilidade rs.

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    1. Tudo bem, Farmacêutico?
      Esse livro é o primeiro passo de muita gente na jornada da educação financeira. É um livro bom por causa da força da ideia central.
      Já os outros livros dele, nem tanto. São repetições do mesmo assunto. Oa livros dele são como um menu do Mcdonalds... o cliente chega no balcão e pede "eu quero o Pai Rico Pai Pobre, só que com duas carnes" e recebe o Unfair Advantage. Aí vem outro e pede "eu quero o Pai Rico Pai Pobre, mas acrescenta uma fatia de marketing multi nível" e então recebe o livro "O negócio do século XXI".
      Também torço o nariz para marketing multi nível.
      Os do Gustavo Cerbasi, só li um chamado "A árvore do dinheiro", também foi um dos primeiros da minha jornada. Do Buffet eu li um sobre análise de balanços, bem legal e simples. Livros de contabilidade eu li os básicos do Marion e do Ricardo Ferreira. Realmente é bom ter uma noção de contabilidade para investir em ações.
      Aliás, isso é uma outra coisa valiosa que o Kiyosaki escreveu no Pai Rico Pai Pobre: a necessidade de ter conhecimentos de direito e contabilidade para ter um mínimo de entendimento do mercado. Acho isso válido para a vida, e não só para investir em ações. É bastante útil, por exemplo, para quem quer abrir um negócio proprio, ainda que pequeno, ou que queira trabalhar como autônomo. Muita gente quebra falta de conhecimentos destes assuntos.

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