domingo, 16 de agosto de 2020

Sobre a blackpill da inteligência artificial


A humanidade, desde que o mundo é mundo, parece ter uma propensão a imaginar cenários pessimistas e de grande desolação. Talvez seja um dos sintomas do Paraíso perdido.

Deve ter sido assim na época da peste negra na Europa: muita gente deve ter imaginado que o mundo ia acabar e que todos morreriam doentes. Na época da gripe espanhola deve ter sido a mesma coisa. Acredito também que na época do nazismo, muitos tenham imaginado que o 3º reich se tratava literalmente do exército do anticristo marchando sobre a Terra, e que hitler conquistaria o mundo, trazendo assim os últimos dias. Na época da Guerra Fria (que aliás, não acabou), o grande medo que assolava os corações de muita gente era o da guerra nuclear, quando EUA e URSS disparariam seus mísseis e mergulhariam o mundo em um inferno radioativo (os mísseis teoricamente ainda existem, mas as pessoas pararam de se preocupar tanto com eles, e arranjaram outras fontes de preocupação, como o aquecimento global, agora chamado de climate change). Atualmente, com a rapidez e acessibilidade das informações, a imaginação do ser humano corre mais solta do que nunca, e acabou agravando essa questão dos cenários pessimistas. Já há alguns anos, foi cunhado na internet o termo "blackpill", o qual é derivado da "redpill" cuja origem é o filme Matrix. A redpill é uma metáfora para uma informação que, assim que passamos a conhecer, nos liberta de alguma forma, nem que seja "apenas" nos libertar de uma mentira. A sua derivada "blackpill", por outro lado, é uma informação que nos deixa deprimidos e pessimistas tão logo passamos a conhecê-la. Muitas "redpills" divulgadas são na verdade blackpills disfarçadas.
Atualmente uma blackpill que é amplamente divulgada é a respeito da inteligência artificial (IA).

Praticamente tudo o que se escreve a respeito de IA tem um tom depressivo no fundo, porque a maioria dos artigos fala a respeito de como muitos empregos vão acabar porque haverá "robôs" e sistemas inteligentes que substituirão seres humanos, e quase todos os artigos falam da necessidade de as pessoas se atualizarem para se manterem empregáveis - o problema é que nesses artigos isso soa como um contra-senso, pois pelo tom do próprio artigo "tudo será automatizado", então meio que não há para onde correr, e alguns dos trabalhos mais fáceis de serem automatizados são justamente os da área de TI. 

Grosso modo, uma IA é como um modelo matemático que se retroalimenta de dados coletados na vida real para se aperfeiçoar continuamente. A ideia em si da IA já é bem antiga, mas só recentemente é que ela se tornou possível de ser implementada por causa da melhora nas tecnologias de armazenamento: é necessário um imenso volume de dados para treinar e para operar uma IA, e era inviável reunir tantos dados assim nos tempos do disquete e mesmo depois nos tempos dos pendrives de 300mb que custavam cinquenta reais e as taxas de transmissão e processamento eram frações do que existe hoje. 

Outra maneira de explicar: uma IA é como um modelo econométrico em que os coeficientes angulares das variáveis explicativas (os "betas") são continuamente ajustados para se encaixarem cada vez melhor aos resultados observados na realidade. Como a realidade é moldada em parte por seres humanos (e seres humanos são em muitos aspectos imprevisíveis) e em uma parte muito maior pelo restante da natureza (cujas leis ainda estamos longe de realmente compreender), nunca haverá um sistema que explique perfeitamente a realidade de qualquer coisa. Além disso, a realidade não é 100% lógica: há diversas situações (inclusive em finanças) em que a decisão mais racional não necessariamente será matematicamente perfeita, e pode até mesmo ser desvantajosa do ponto de vista matemático, mas possui um motivo mais profundo, na área emocional, que a justifica. É o que faz uma pessoa vender ações com prejuízo porque precisa do dinheiro, ou comprar uma casa assumindo uma dívida de 30 anos mesmo que fosse mais barato pagar aluguel, por exemplo.

Muitos textos que circulam na internet descrevem um mundo bastante apocalíptico em que 99% das pessoas ficaram desempregadas por causa da IA e se tornaram mendigos, enquanto  1% se divide entre os donos de IAs e os poucos empregados remanescentes, ultra especializados (mas já destinados a se tornarem obsoletos, segundo as regras deste mundo hipotético). Pouco depois, só sobrariam os donos de IAs e uma multidão de mendigos como se jamais viu. Assumindo que tudo isso seja verdade, o que poderia acontecer nesse mundo?

- Será que dentre esses bilhões de mendigos ninguém tem nenhuma posse, nenhum patrimônio? Todo mundo que era dono de um imóvel,  por exemplo, vendeu a casa para aumentar seu tempo de sobrevida? Donos de carros venderam seus carros também? Para quem? Será que os donos de IAs seriam os donos de todos os bens do mundo?

- Se quase todo mundo está desempregado, então as empresas (que são operadas por IAs) vendem seus produtos e serviços para quem? De onde essa massa de mendigos tira dinheiro? De onde vem o lucro das empresas? Dinheiro faria sentido em um sistema em que a vasta maioria das pessoas está excluída dele?

- Será que os mendigos viveriam de uma "renda mínima universal"? Se for, então no fundo são todos empregados dos donos da IA (os únicos que produzem riqueza), e o "emprego" deles consiste em ser mendigo e girar o dinheiro dessa renda mínima. Se for possível economizar alguma parte do dinheiro desta renda, comprar ações das empresas, etc., então eventualmente os mendigos se tornariam proprietários também. Se não for possível este tipo de melhora, então eventualmente essa ordem seria rompida, caso a vida destes mendigos seja muito ruim. Além disso, provavelmente os mendigos formariam uma sociedade paralela para sobreviver. (Na verdade, durante uma boa parte da idade média (pelo menos na Europa), a grande maioria dos camponeses e servos nem lidava com dinheiro e a riqueza na época era representada principalmente por terras e não por moedas. Até mesmo os nobres não usavam muito o dinheiro. Por um bom tempo moedas foram coisas relativamente raras, e os camponeses mal tinham acesso aos "centavos" da época e nem precisavam. As pessoas comuns trabalhavam pela subsistência, e impostos eram cobrados em víveres - futuramente escreverei sobre isso)

- Note que se houver uma renda mínima universal,  ela só pode vir através de impostos ou de contribuições voluntárias, e como somente os donos das empresas operadas por IAs estariam produzindo, estes valores viriam deles. De um jeito ou de outro, ela não faria muito sentido em um mundo como o descrito, pois o dinheiro sairia de um lugar para voltar para o mesmo lugar, grosso modo.

- Aquele cara esquisito que escreveu os livros "sapiens"e "homo deus" descreve que o dinheiro ainda faria sentido em um mundo como esse porque as empresas operadas por IAs fariam transações entre si, mas para mim não faz sentido haver dinheiro porque, também segundo o autor, as "pessoas comuns" não teriam acesso a ele. O que ele descreveu, na verdade, seria um sistema contábil onde as empresas registraram que produtos e serviços estão devendo umas às outras e traduzindo isso na forma de números, e não dinheiro, o qual seria irrelevante. Haveria na verdade um "escambo automatizado" entre as empresas operadas por IAs. Se houvesse dinheiro e este ainda fosse relevante e as pessoas comuns neste cenário apocalíptico não tivessem acesso a tal dinheiro por serem "inempregáveis" da maneira como o autor definiu, então muito provavelmente surgiria uma sociedade paralela com moedas próprias ou simplesmente escambo. (Além disso, o próprio autor destes livros não é uma pessoa 100% confiável e intelectualmente honesta, porque em seus escritos reduziu a experiência humana apenas aos aspectos econômicos e faz algumas comparações esdrúxulas para justificar seus pontos de vista) 

- Mesmo em um mundo onde você se tornou "inempregável", se você tem um imóvel você pode alugá-lo, morar em um lugar com aluguel mais barato e embolsar a diferença. O mesmo vale se você for dono de um carro, de um barco, de qualquer bem com utilidade econômica que possa ser alugado para um terceiro. A renda de um proprietário não estaria ameaçada por IAs. Esse é uma coisa (ser proprietário de algo) em que é indiferente ser humano ou ser IA. 

- a maior parte das "IA" hoje em dia são meros geradores de lero lero melhorados. Muitas são chatbots que dão a resposta estatisticamente mais provável que um ser humano esperaria para determinada pergunta (e se um número suficiente de pessoas resolver sabotar uma IA, inventando respostas absurdas, ela pode passar com o tempo a dar as respostas erradas - foi o que aconteceu com uma IA da Microsoft) - não existe e nunca existirá um sistema infalível. Se atualmente há pessoas que se dedicam horas por dia para descobrir glitches em jogos para melhorarem seus tempos em speed runs, não acho difícil que surjam pessoas dedicadas a encontrar e explorar falhas em sistemas operados por IAs com os mais diversos propósitos.

- outro papo que costuma ser levantado por muitos deslumbrados é o de que eventualmente as IAs reescreverão seus próprios códigos e com isso suas performances "iriam decolar". Acho que isso não rola. Primeiro que uma IA não conseguiria se reescrever sozinha, ela precisaria de outra IA que lhe fosse superior para fazer isso por ela. Além disso, há um limite para a capacidade de melhora em reescrever um código. A primeira reescrita poderia até dar uma grande melhorada mas a partir daí as próximas melhorias seriam mais incrementais. E no fim o software será sempre limitado pelo hardware e pelas próprias leis da física.

-  Máquinas escrevendo códigos também não é novo: já existem há uns 30-40 anos programas que "escrevem sozinhos" as partes mais básicas de algoritmos, o que na verdade economiza o tempo dos programadores e nem de longe acabou com o emprego deles. 

- Num cenário em que não há mão de obra humana e absolutamente tudo é produzido por máquinas, então o preço de quase todas as mercadorias e serviços tenderia a zero. Não seria zero porque os recursos continuariam escassos então ainda persistiria a necessidade de um mecanismo de preços para equilibrar oferta e demanda, mas sem o custo de mão de obra em todas as atividades econômicas, tudo seria muito barato. Isso considerando, é óbvio, um cenário em que existe concorrência entre empresas.

- As consequências possíveis da automatização não são somente o desemprego: estando as pessoas desocupadas de funções que foram automatizadas /mecanizadas, podem muito bem surgir novas necessidades humanas (que são infinitas) para atividades que nem existem ainda, e aí serão aproveitadas as pessoas que foram substituídas por máquinas. Numa época em que toda a produção agrícola dependia de muita mão de obra humana, as pessoas não tinham nem tempo para pensar em outras coisas que não fossem a lavoura, o estoque para o inverno e as pragas. Não havia nem gente suficiente para tornar viáveis outros serviços possíveis. Tendo sido liberadas do campo pela mecanização da agricultura e pelo consequente aumento da eficiência de sua produção, muitas ocupações antes inimagináveis foram inventadas (por exemplo, era impensável alguém ser escritor em tempo integral, ou cuidador de idosos, ou revisor de textos, ou operador de trator, ou mecânico de tratores, ou vendedor de combustível para tratores, ou frentista de posto, ou planejador de supply chain, etc. etc.) . Porque o mesmo não ocorreria com as automatizações de hoje em dia?

- Por fim, a verdadeira inteligência vem da alma, e não do cérebro. O cérebro é um emissor e receptor, e não a fonte da inteligência. E a humanidade não é capaz de criar almas. 

Fiquem com Deus!

19 comentários:

  1. "Por fim, a verdadeira inteligência vem da alma, e não do cérebro. O cérebro é um emissor e receptor, e não a fonte da inteligência. E a humanidade não é capaz de criar almas. "

    Caraca velho, que frase magnifica!

    Então Mago, eu também não acredito muito nesse papo de IAS, e que todo mundo tem que começar a estudar sistema para sobreviver nesse novo mundo futuro.

    Se observarmos a China, Japão e Coréia do Sul, onde essas tecnologias estão mais avançadas e existem várias fábricas trabalhando com poucas pessoas. Observa-se que nestes lugares o desemprego é baixíssimo. Qual a lógica do desemprego ser baixo, com tanto robo trabalhando?

    Então, oque eu concluo, que sempre que uma tecnologia surge para facilitar a vida dos seres humanos. Esses seres humanos que deixaram de de ser "Burros de carga" arrumam outros tipos de empregos que surgem.

    Outra questão também que eu penso do Porque as IAS não são o futuro. É esses chats com respostas prontas.

    Tem experiência mais horrivel do que isso? A última que vi foi a Oibr. Ligaram para mim através de um IA. Cara, aquilo é sem lógica, não tem como conversar com um robo. Ridiculo.

    Por fim, depois que aprendi isso com o Italo Marsili, nunca mais esqueci...

    Os seres humanos, gostam de coisas autênticas, ninguém gosta de nada robotizado! No fundo de nossas almas, temos necessidades sociais. Olha o "Boom" que esta tendo nos bares pós pandemia...

    As pessoas precisam entender isso o quanto antes para não serem depressivas.. temos necessidade de socialização, foi Deus que fez assim. Estamos aqui para conviver com nossos irmãos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. PP, obrigado pelo comentário. Estudar programação realmenre nao é pra todo mundo, nem ser webmaster, gestor de banco de dados, etc.
      Eu sou um que prefere ser atendido por humanos, não gosto de falar com chatbots, geralmente são mal feitos e não resolvem nada. Em suma, nada substitui realmente a experiência humana. Nenhum ser humano é uma ilha, sempre precisamos conviver com os outros e como você disse, essa pandemia ajudou as pessoas a se lembrarem disso.

      Excluir
  2. Boa noite Mago,

    Venho novamente parabeniza-lo por mais um ótimo texto, sua capacidade escrita e síntese é uma das melhores que vejo aqui na rede.

    Voltando ao cerne do texto, concordo contigo com o grande hype que hoje existe na área de tecnologia, com especial ênfase na IA. Lembro da minha época de graduação em economia a 10 anos atrás que a tecnologia estava começando a dar o salto na capacidade de processamento que um professor já dizia que existem serviços que a tecnologia substitui ou melhora no máximo marginalmente, como exemplo o corte de cabelo. A técnica pouco mudou e a tecnologia em quase nada reduziu os custos de execução e dificilmente será possível a substituição (até seria possível um robô para cortar a laser ou coisa assim, mas seria completamente inviável economicamente o desenvolvimento).

    Abraço,
    Monster Investidor

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo elogio, Monster. Concordo que há várias pequenas coisas que não vale a pena automatizar até por causa do baixo custo e/ou do baixo retorno intrínseco a estas atividades, e o caso do barbeiro é um exemplo. Fora estas atividades, mesmo dentre as que eventualmente forem automatizadas creio que ainda terão muita demanda por produtos e serviços feitos por humanos. Um bom exemplo são instrumentos musicais, as pessoas que entendem de música sempre vão gostar de instrumentos feitos por luthiers embora existam os industriais da Yamaha. Outro exemplo são os hambúrgueres artesanais, que têm alta demanda mesmo existindo os do Mcdonalds sendo feitos em massa, e por aí vai.
      Abraço!

      Excluir
  3. Acho que a IA vai extinguir a forma com a sociedade funciona nos dias de hoje, mas alguma virá no lugar e não será o fim do mundo.

    O grande X da questão é que os novos empregos demandaram uma sociedade mais qualificada, e infelizmente alguns países e sociedades (como o Brasil) tem sérios problemas educacionais, por consequencia acho provável que a tecnologia estrangeira e empresas estrangeiras acabem ganhando mais fácil mercado por aqui e com isso reduzindo os empregos e a capacidade de recolocação dessas pessoas, é fato de que estamos produtivamente estagnado a quase quatro décadas.

    O problema é o atraso dos níveis de produtividade brasileiro em comparação com o resto do mundo, a causa é a baixa qualificação profissional e educacional que nos impede de inovar e/ou acompanhar o ritmo da inovação. A 'Indústria 4.0' é um exemplo claro do tamanho do nosso problema, lembro de ter visto em algum lugar que a Alemanha tem aproximadamente 40% da sua industria como 4.0, enquanto o Brasil tem menos de 3%, essas indústrias acabam sendo mais eficientes e com custos tendendo a diminuir os seus produtos acabam ganhando mercado que antes era ocupado por empresas brasileiras, o que reduz os empregos por aqui.

    Apenas para deixar claro, não sou contra a globalização, pelo contrário! O problema do Brasil é que perdemos tempo e dinheiro com discussões banais sobre "pseudoproblemas" nacionais enquanto o verdadeiro problema é ignorado por políticos, empresários e grande dos pesquisadores.

    Att,
    Pi.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tudo bem, PI?
      Não concordo 100% com o que você escreveu. Acho que dizer que irá extinguir a forma como a sociedade funciona é meio pesado, algumas coisas nunca mudam, a não ser talvez com séculos de evolução moral. Veja que aquela história do "pão e circo" é milenar, e continua bem viva apesar dos avanços tecnológicos, justamente porque o avanço moral não foi nem de longe tão grande quanto onde tecnologia.
      Essas pesquisas que falam que um americano produz o mesmo de que 4 brasileiros acho meio sensacionalistas, além de a média não ser um bom indicador para esse tipo de análise. Não as levo muito a sério, mas concordo que aqui somos em alguma medida menos produtivos, mas nem tanto assim. Porém, creio que isso se deva mais à mentalidade menos inovadora dos empresários brasileiros em geral (nossas empresas são muito focadas em hierarquia, egos, etc e isso influencia na qualidade do trabalho) do que a ineficiências tecnológicas, além das inúmeras dificuldades provocadas pelas regulações estatais brasileiras, em grande parte mais complicadas que as de outros países mais desenvolvidos.
      Não só o BR, mas todo o mundo está perdendo tempo com discussões inúteis para problemas que nem existem ou que são exagerados pela mídia.

      Abraço!

      Excluir
    2. Concordo com os dois! Acho que o mundo não irá ter essa mudança tão drástica assim, algumas coisas, trabalhos nunca deixarão de existir.

      Só que eu concordo com o PI na questão da industria estrangeira ser muito superior que a Brasileira. Isso é verdade!

      Descobri isso, lendo os livros do Jorge Paulo Lemman, Vicenti Falconi e etc. São poquissimas as empresas Brasileiras que tem um padrão de qualidade e produtividade. Se você for ver, quase tudo que usamos tecnologicamente falando, é feito fora do Brasil.

      Então há ainda muitas oportunidades nesse campo. Apartir do momento que nosso país evoluir educacionalmente e começarmos a avançar na industria tecnológica. Novas industrias surgirão, assim como novas marcas que poderão competir com as do velho mundo.

      Excluir
    3. Claro que a indústria da Europa, EUA, Japão, etc. é superior à do Brasil, isso eu não nego. Acho que um dos problemas é que nossa educação foi muito sucateada (de propósito) nos últimos 40-50 anos (no mínimo) e isso reflete em muitos maus profissionais. E ainda tem aquilo que eu escrevi neste post sobre a cultura do diploma (https://magoeconomista.blogspot.com/2019/04/escolaridade-no-brasil-cultura-do-filho.html): nossa cultura é muito focada no "bacharelado" (principalmente em áreas que, embora importantes, não agregam para a indústria e que infelizmente tem sido usadas como massa de manobra para arrebentar com nosso povo) e pouco em cursos técnicos, e é fato que isso reflete na nossa produção.

      Excluir
  4. Olá Mago!

    Que ótimo texto hein, reforço o que o Monster disse, tu escreve e expressa tudo de maneira tão simples e coesa, mesmo num texto difícil de dialogar... Meus parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo elogio, One! Tento sempre escrever da melhor maneira que posso. Abraço!

      Excluir
  5. Boa Mago! Mostrou boa compreensão de economia. Se não há empregos, não há pessoas para comprar as mercadorias. Simples assim, quanto mais se custa o custo para produzir mais barato ficarão as mercadorias. Um mercado regido por leis saudáveis (não essas do Br) se regula automaticamente. Prevejo um futuro no qual as pessoas passarão cada vez menos dias trabalhando e com o mesmo poder de compra.
    Uma coisa que é impossível parar é a redução de mão-de-obra na indústria de produtos. A de serviços sempre precisará de mão de obra.
    Muito provável a necessidade de mão de obra seja 1% para produtos e 99% para serviços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Espero que aconteça isso mesmo, anon, porque pelo menos no BR o que eu tenho observado nos últimos anos é o aumento das horas trabalhadas (nos EUA também, pelo que leio - o pessoal lá está sentindo falta da época dos empregos de 8h-17h, ou seja, eles também estão trabalhando horas demais);
      Também acho que serviços vão ser o futuro, por causa da experiência e do convívio humano serem valorizados.

      Excluir
  6. Galera fala de IAs, robôs e esquece que estamos em um país gigante e desigual, onde expressiva parte da população nem tem saneamento básico...Particularmente acho um exagero essas conclusões: "IAs e robôs roubarão todos os nossos empregos, mudaram toda a sociedade", pode ser até verdade a curto prazo em lugares ricos como Japão, Suíça, mas coisa de décadas ou séculos em um país como o Brasil, país atrasado, pobre, desigual e burocrático. E em meio mundo também, México, Índia, África do Sul, etc...As coisas não serão tão imediatas assim como pensam...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também acho, e você sempre poderá contar com o Estado para barrar o avanço das tecnologias em geral, principalmente no Brasil, México, etc.
      Hoje em dia tem gente que se impressiona muito fácil com qualquer tecnologia, já estão chamando isso de "efeito reddit", para se referir aos fan-boys de empresas de tecnologia.
      De fato ainda há muito trabalho a ser feito no Brasil, milhares de cidades sem infraestrutura nenhuma, dominadas por quadrilhas de bandidos, parasitadas por prefeitos corruptos, etc.

      Excluir
  7. otimo texto
    dos vários cenários futuros possíveis não há prever qual será o correto (não há bola de cristal)
    mesmo assim, a IA tem potencial de ser a bomba atomica de nossa geração, onde um clique basta para determinar o destino de milhões como aconteceu no japão
    basta um bilionário bem relacionado e com complexo de messias e uma ideia de reset da humanidade :)
    por outro lado, os pobres em países subdesenvolvidos já vivem à beira do fim do mundo em razão da violência nos guetos - para eles o exterminador do futuro é o Estado Policial ou tráfico ou a milícia (aqui no é RJ os três são um só como a santíssima trindade)

    abs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Só vi seu comentário hoje, Scant.

      Você está certo em relação ao potencial da IA, e isso que é preocupante: ela se tornar ferramenta de controle social nas mãos de um estado totalitário. E hoje em dia as maiores empresas
      se confundem com o estado.
      Infelizmente temos alguns bilionários com complexo de messias e que acham que sabem o que é melhor para as pessoas. O dono da microsoft é um desses. Doido para impor a bizarra visão de mundo dele. O triste é saber que tem pessoas que são tão vazias por dentro que trocariam sua humanidade em troca de um aumento na eficiência de alguma coisa trivial... por exemplo, tem gente que aceitaria ter um chip implantado no cérebro e ser monitorado 24h/dia porque isso, digamos, aumentaria a velocidade de download de vídeos...

      Excluir
    2. "aceitaria ter um chip implantado no cérebro e ser monitorado 24h/dia porque isso, digamos, aumentaria a velocidade de download de vídeos." sem bons modelos, educação e uma estrutura digna de vida, é normal que a sociedade "fabrique" seres humanos mentalmente medíocres

      infelizmente seu comentário me parece ser profético.

      Excluir
  8. Mago, excelente texto. Um dos mais lúcidos que eu li sobre aplicações de IA.
    Esse futuro pessimista que muitos preveem acho que não irá se realizar. Contudo, o que de fato irá ocorrer é aumentar a desigualdade. Aqueles que não se adaptarem e aprenderem novas habilidades, vão ficar com as vagas mais disputadas, de menor qualificação e menor remuneração, no setor de serviços e vendas. Enquanto isso, vagas na área de tecnologia seguirão restritas por exigirem muita qualificação, apesar da boa remuneração, e ainda aumentará a competição por conta do trabalho remoto.
    Enfim, teremos de evoluir junto com o mercado, e investir em ativos financeiros.

    Sucesso,

    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pelo comentário, João Dinheiro!

      Também acho que a desigualdade vai aumentar. Talvez as coisas cheguem num ponto em que tudo precisará ficar absurdamente barato, senão as empresas não venderão muita coisa, ou então será necessária muita caridade por parte dos ricos...
      Muitos serviços que hoje não existem surgirão, e vários que já existem terão sua demanda aumentada. Por exemplo, imagino que cuidador de idoso é um mercado que vai crescer muito ainda. Outra coisa que imagino que vá acontecer é a "uberização" dos serviços, inclusive de médicos, que atenderão a domicílio os casos mais simples e não emergenciais. Acho até que aumentarão os "médicos da família" atendendo poucas pessoas mas com um acompanhamento bem próximo, e o número de enfermeiras particulares deve aumentar também. Mas isso é só achismo meu.
      Mais do que em qualquer época, buscar renda passiva hoje em dia já é obrigação. E estar sempre estudando também...
      Abraço!

      Excluir