terça-feira, 2 de julho de 2019

Desventuras no Trabalho (3) - o diretor detalhista

Saudações, caros leitores.

Tenho escrito bem pouco. No início do blog (fevereiro deste ano) eu até conseguia colocar um ritmo mais ou menos regular de postagens: eu postava quase todo domingo. Por um tempo foi assim. Minha rotina no trabalho estava bem mais tranquila no início do ano e de abril para cá vem piorado (por motivos de sazonalidade do negócio), estou saindo um pouco mais tarde e me cansando mais, além de outras coisas de fora do trabalho (meus estudos, cuidar da minha casa, etc.). Àqueles que gostam de ler o blog, não se preocupem, não vou sumir e nem abandonar o blog. Espero poder voltar em breve a postar mais regularmente, pelo menos uma vez por semana.

Estava aqui lembrando dessa história que aconteceu comigo e resolvi compartilhá-la como mais um capítulo da minha série "Desventuras no Trabalho" (cá entre nós, rezo para não ter muito mais histórias desse tipo para contar aqui!).  Obviamente, os nomes, locais, etc. verdadeiros não serão mencionados, para proteger a integridade e privacidade das pessoas envolvidas nos acontecimentos, principalmente a minha.

Na empresa que eu estava trabalhando (a primeira, que eu mencionei no relato "Meu primeiro chefe"), chegou um momento em que o diretor da época seria transferido para outro cargo e um novo diretor, vindo de outro setor da empresa, em outra cidade, assumiria o lugar dele. 

Quando a notícia chegou no escritório, o pessoal que já havia trabalho com aquele cara antes ficou apavorado: diziam que ele era um workaholic superexigente, se estressava por qualquer coisa, perseguia as pessoas de quem ele não gostava e bastava um errinho qualquer para ele não gostar de você. Eram uns três ou quatro que já haviam trabalhado com ele e agora estavam contando histórias tenebrosas de esporros homéricos, demissões, madrugadas em claro preenchendo planilhas, relatórios, etc. 

Claro, em qualquer lugar o pessoal adora exagerar nas histórias (não entendo esse comportamento, mas as pessoas adoram se vangloriar de como se ferram no trabalho... triste isso), mas digo a vocês que infelizmente em uns 90% eles tinham razão...

Nas semanas anteriores à chegada do novo diretor, aquele meu gerente chato preparou uma planilha imensa de tarefas a serem feitas para preparar o terreno para o novo chefe. Envolvia de tudo: revisar contratos com fornecedores, cobrar dívidas de clientes, pagar contas atrasadas, preparar apresentações detalhando os projetos e contratos em andamento, etc. Posso dizer, sem exagero, que metade das tarefas era minha (em parte porque eu ainda tinha menos de seis meses lá, então ainda era "o cara novo"). 

Foram dias terríveis, indo embora depois das 20h quase todo dia. Sempre que podia eu almoçava bem rápido para aproveitar o intervalo de almoço para me adiantar e talvez não sair tão tarde, mas nem sempre era possível: às vezes o gerente fazia questão de almoçar com todo mundo, e aí o almoço já emendava ali mesmo numa reunião... Tinha dias que eu até evitava sair para almoçar, com medo do gerente querer ir comigo e ficar discutindo as tarefas. Para piorar, todos estavam muito estressados, em boa parte por causa das histórias a respeito do novo diretor.

O dia em que ele chegou na empresa foi muito escroto. Ele passeou por todas as salas, ficou perguntando detalhes de tudo, teve salas que ele até repetiu, fez perguntas redundantes para tentar pegar alguém no erro...  foi horrível ver o gerente me olhando de cara feia quando eu respondia as perguntas (antes da visita ele me ameaçou, dizendo que qualquer coisa errada que eu dissesse seria motivo para o novo diretor me perseguir - por causa disso eu estava muito nervoso naquele dia, então devo ter dito uma bobagem ou outra, mas não creio que o novo diretor tenha percebido)...

No fim das contas essa visita inicial durou umas quatro horas, bastante intensas (imaginem o medo de não saber a resposta para alguma pergunta que ele fizesse...) e o almoço ainda foi tenso - sim, ele fez todo mundo almoçar no mesmo lugar que ele, para "conhecer a equipe". Sabem como é almoço de empresa com o chefe... Tudo o que você fizer, escolher, disser, beber, etc. será julgado e provavelmente será levado em consideração em futuras promoções ou demissões, ainda que a um nível subconsciente. Eu nem consegui comer direito, estava exausto da visita, com enxaqueca e pensando que ainda havia o resto do dia (e sabe-se lá que horas eu voltaria para casa).

Resultado de imagem para imagens gratuitas estresse no trabalho
Eu, pensando no quanto ainda faltava para acabar aquele dia

Na parte da tarde foram os powerpoints dos projetos, estratégias, etc e depois ainda teve uma reunião, e o pior foi que me colocaram para fazer a ata. Eu tinha que escrever tudo o que o pessoal falava na reunião. Era difícil acompanhar o que todos estavam dizendo, as respostas, réplicas e tréplicas de todo mundo, e ao mesmo tempo eu também tinha coisas para dizer e apresentar na reunião, toda hora pediam pra trocar alguma coisa, etc. 

Quem já fez ata de reunião sabe como pode ser chata essa tarefa. Depois da reunião (que, óbvio, acabou tarde, por volta das 18h) eu ainda tive que dar uma editada na ata, imprimir, e pegar as assinaturas do pessoal (todo mundo doido para ir embora). Tinha uns que faziam questão de ler tudo, outros assinavam sem ler, enfim, uma chatice.

Imagem relacionada
Uma pequena amostra de como foi a reunião, todo mundo cansado, e o diretor ali, super feliz, como se sugasse a energia dos outros para se manter.

 Mas o pior mesmo foi quando eu tive que pegar a assinatura do novo diretor. A primeira vez que levei os papéis para ele assinar, ele leu tudo e reclamou de uma vírgula mal colocada, pedindo para eu editar o texto. Até aí tudo bem, porque realmente a posição da vírgula pode mudar completamente o sentido de uma frase (não era o caso, mas vá lá). 

O problema foi quando eu voltei, ele leu de novo, e reclamou que o nome de um determinado produto deveria ter sido escrito em maiúsculas e pediu de novo para mudar o texto. Já eram 20h da noite. 

Fui lá e mudei o texto. 

Quando voltei, ele reclamou que o nome dele estava abreviado e o das outras pessoas não estava (óbvio, o nome dele era o único grande, e não tinha como caber Aparilson Playboyson Escrotilovsky Filhaça da Silva  embaixo da linha de assinatura sem abreviar). Ele mandou mudar isso e lá fui eu de novo. 

Não era só ir lá mudar e trazer para ele assinar: em todas as vezes que voltei para entregar o papel para ele assinar, eu tomei um chá de cadeira de pelo menos uns 10-15 minutos de cada vez

Quando finalmente consegui sair, já eram mais de 22h. Gastei pelo menos umas 2h30 da minha vida editando e reeditando um documento para um chefe workaholic ultradetalhista, preocupadíssimo com o maneira como o nome dele era abreviado em um documento interno da empresa que provavelmente só seria lido se e quando houvesse uma auditoria.

Imagem relacionada
"Eu quero essa ata ainda hoje. Não interessa que já são 21h. Você não é pago para isso?"

A minha pergunta é: o que ele ganhou com isso? Ele desperdiçou pelo menos duas horas e meia de trabalho de um funcionário da empresa. Mesmo eu não ganhando hora extra (o que era o caso, infelizmente), eu poderia ter usado aquelas duas horas para fazer algo mais produtivo, algo realmente necessário para a empresa. Acho que ele na verdade me puniu por algum erro que ele achou que eu tivesse cometido (na reunião, na visita ou no almoço) e ganhou "dividendos emocionais", satisfazendo o próprio ego.

Observei nos dias que se seguiram que ele visivelmente se sentia bem pisando nos outros, cobrando detalhinhos, microgerenciando, fazendo a vida de todos um inferno (e o pior é que ele se achava legal e que estava motivando o pessoal...).  

Ainda bem que só aturei aquela figura nos meus últimos dois meses naquela empresa.

Edit 2023: um belo dia fiquei sabendo que esse diretor já  se aposentou. Menos um workaholic imbecil no mundo corporativo! 





6 comentários:

  1. É, amigo.. infelizmente algumas pessoas parecem ser o shang tsung e gostam de sugar a força alheia o que nos resta é ter fé e seguir em frente... Forte abraço, ME

    IF

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É bem por aí, IF. É uma pena que na vida eventualmente encontremos muito Shang Tsungs, Shao Khans, e afins. Mas por outro lado, ao menos eles contribuem para nosso amadurecimento.
      Forte abraço!

      Excluir
  2. Olá, Mago.

    Uma pena ter lido o seu relato com um diretor perfeccionista e que desconta tudo no seu workforce subordinado. Eu já passei por diversos chefes babacas e entendo o drama... microgestão tóxica, não agrega em nada e come toda a produtividade. Boa sorte com ele... todos nós temos uma cruz pra carregar.

    Por outro lado, acabei de conhecer o seu blog. Bem vindo (atrasado) à Finansfera! Vou me inscrever pra não perder uma postagem.

    Abraços e seguimos em frente!

    Pinguim Investidor
    https://pinguiminvestidor.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelas boas vindas, Pinguim! Felizmente já não tenho mais que aturar esse diretor faz alguns anos... Já passei por outras empresas de lá pra cá!
      Vou te adicionar no meu blogroll também! Forte abraço!

      Excluir
  3. Excelente texto, Mago, me fez refletir em algumas questões sobre minha vida laboral.


    Grande abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom fazer uma pequena diferença na vida de alguém através de meus textos! Espero que tenham sido reflexões positivas!
      Forte Abraço

      Excluir