terça-feira, 25 de junho de 2019

Dinheiro 100% virtual e o fim do dinheiro físico - será que o futuro é sombrio?


O que o futuro nos trará, amigos?

Só podemos imaginar. Alguns dizem que a tecnologia já entrou na fase exponencial da curva de evolução e desenvolvimento. Numa pós graduação que fiz há pouco tempo, um professor dizia que 90% dos produtos que usaremos daqui a 10 anos não foram inventados. Por um lado é bom imaginar os futuros avanços na área de saúde, transporte, energia, etc: transportes mais eficientes e rápidos, energia mais barata e abundante, diagnósticos mais precisos, procedimentos médicos menos invasivos, etc. Por outro lado, existe o aspecto sombrio da tecnologia: dinheiro 100% virtual, reconhecimento facial em cada esquina, satélites e celulares espiões (essa parte, aliás, já é real), etc.

 Uma das piores coisas, na minha opinião, é o dinheiro 100% virtual e o fim do dinheiro físico. Os governos (e algumas grandes empresas) já há muito tempo estão cerceando nossas liberdades, e vemos que agora eles estão apontando suas armas para o dinheiro de papel . Leiam sobre a Operação Tio Patinhas, da Receita federal, por exemplo:

O objetivo desta operação é pegar quem faz fraudes fiscais declarando dinheiro vivo que não possui, para  posteriormente usar o montante fictício para lavar dinheiro, muitas vezes proveniente de atividades ilícitas. Esta operação é um potencial precedente aberto para termos proibições semelhantes a esta que vigora em Portugal.
Além das fraudes fiscais,  os casos de políticos corruptos que foram flagrados com malas de dinheiro, dinheiro na cueca, etc., provavelmente serão usados como desculpa para fomentar políticas graduais de extinção do dinheiro físico. Aliás, tal assunto já está sendo cogitado, aqui e em outros países

"Ah, mas está certo, Mago,é inaceitável em pleno 2019 eu ainda ter que esperar mais tempo na fila do mercado por causa de um velhinho que resolveu pagar em moedas ou por causa de uma senhora que pagou uma garrafa de coca com uma nota de 50!" Não, seu jumento. Em primeiro lugar, quem usa o ano como argumento é no máximo um sofista, e no mínimo um idiota. Segundo, óbvio que pagar no cartão é mais rápido e mais confortável, mas você não entende que no dia em que não existir mais dinheiro físico, os bancos e o governo (e quem mais estiver interessado) vão saber TUDO o que você faz na vida:

-Sabe aqueles 100 reais que você deu de mesada pro seu filho de 11 anos? O governo vai saber e um dia pode querer cobrar um imposto sobre essa "doação" (existe esse imposto, o ITCMD, um absurdo, na minha opinião, e mesmo que haja um valor mínimo para que realmente ocorra a incidência do imposto, se você for seguir a letra da lei, o certo é declarar cada doação que dar ou receber, ainda que seja abaixo deste mínimo!).

-Sabe aquela barrinha de chocolate comprada depois do almoço no jornaleiro em frente ao trabalho? O governo vai saber, e provavelmente seu plano de saúde também.

-Sabe aquela vovozinha que sobrevive fazendo bolos por encomenda para complementar a renda do INSS? Vão questionar porque ela compra tanta farinha e ovos toda semana e vão saber de cada pagamento que ela receber, e provavelmente vão querer cobrar imposto em cima, talvez inviabilizando o negócio da senhora.

Parecem situações absurdas? Podem parecer absurdas, mas são possíveis e se tornam ainda mais prováveis em cenários de dinheiro totalmente digital.

Mas o pior sobre o dinheiro totalmente virtual nem é a diminuição da privacidade. O pior é a possibilidade e a facilidade de sua carteira virtual ser deletada, ou de o seu acesso à mesma ser negado e você não ter para onde correr, a não ser, talvez, o escambo ou a caridade de outras pessoas. Vejam este meme que já fizeram a respeito da moeda virtual que o facebook pretende lançar:



Imaginem só, meus amigos, ser impedido de comprar coisas ou de receber pagamentos só porque emitiu uma opinião contrária aos "community standards"... Pode parecer paranóia minha, teoria da conspiração, mas vejam que algo assim já está para acontecer na China, e acho que não é novidade para ninguém: o sistema de ranking social. A fusão de um sistema como esse com uma moeda de curso forçado totalmente virtual controlada por um governo ou por um monopólio/oligopólio de empresas é algo potencialmente terrível. Óbvio que se houver mais de uma criptomoeda é possível contornar o problema descrito acima através da diversificação da carteira, mas ainda há alguns riscos a serem considerados:

1 - provavelmente somente empresas grandes terão bala na agulha para manter suas próprias criptomoedas, dado o grande volume de dados e as consequentes despesas com servidores e manutenção, além da questão da confiabilidade (é improvável que muitos usassem a criptomoeda da padaria da esquina, não necessariamente por ela ser pequena, mas principalmente por quase ninguém conhecê-la)
2 - empresas grandes costumam fazer parte de conglomerados e até mesmo tendem a se cartelizar  e adquirir concorrentes menores. É o caso do facebook, da disney, das operadoras de cartão de crédito, dos grandes bancos, só para citar alguns.
3 - em consequência do item 2, não adiantaria muita coisa diversificar com moedas de um mesmo conglomerado ou cartel (o bloqueio da carteira provavelmente valeria para todas as empresas do setor/cartel), então uma possível solução seria diversificar entre cartéis.
4 - empresas grandes tendem a ser mancomunadas com governos, e provavelmente adeririam a sistemas estatais de ranking social, ou criariam seus próprios sistemas com apoio estatal, boicotando e excluindo pessoas que não atendam aos padrões exigidos pelo governo ou pelo cartel (caso da China). Em um sistema como o brasileiro (capitalismo de compadrio, ou socialismo de mercado, onde as grandes empresas usam o poder estatal para diminuir ou eliminar a concorrência, em troca de apoio político, financiamentos de campanhas, propinas, etc.) ficaria ainda mais difícil surgir a concorrência que frearia tais loucuras (que seriam impossíveis num cenário de concorrência perfeita, no qual a parcela da demanda excluída por não seguir os "community standards" seria absorvida pelas empresas concorrentes e a chance de cartelização é nula)  Diversificar com moedas de cartéis diferentes não adiantaria muito neste caso do conluio entre grandes empresas e governo.

A conclusão é óbvia: no que tange ao dinheiro virtual, somente criptomoedas descentralizadas e não associadas nem a governos e nem a empresas trariam alguma segurança, mas até isso é ilusório, uma vez que ainda restaria a questão de "quem realmente controla o bitcoin?" Ou "quem garante essa moeda? Como saber que não é apenas uma pirâmide?". Além da importantíssima questão da confiabilidade das criptomoedas descentralizadas, o ideal é que também haja várias, para favorecer a diversificação e reduzir o risco de perda da carteira. Outra coisa fundamental é que as wallets e as corretoras de criptomoedas também sejam descentralizadas e independentes, pois de nada adiantaria a diversificação se só houvesse uma corretora negociando criptomoedas, ou se só houvesse uma wallet disponível para usar por exemplo. Se seu cadastro fosse bloqueado, você perderia o acesso ao seu dinheiro da mesma maneira. É uma pena, entretanto, que as criptomoedas tenham tido este começo tão errático (o caso do bitcoin), pois todos estes altos e baixos repentinos e bruscos na cotação certamente contribuíram para atrasar a construção da confiança nas criptos descentralizadas.

No que tange ao dinheiro físico, enquanto as pessoas valorizarem ouro, prata, e demais metais e pedras preciosas, ainda será possível haver um sistema monetário paralelo, uma saída para os que forem excluídos do sistema monetário por não usarem a marca da besta terem violado os "community standards". Na verdade, qualquer coisa que as pessoas valorizem e que possa cumprir os papéis da moeda (meio de troca, unidade de conta e reserva de valor) poderia vir a ser usada como tal, ainda mais se isto ocorrer espontaneamente pela vontade das pessoas.  Na Rússia já houve até mesmo uma moeda com lastro em batatas. (notem que se não fosse algo sério, o governo russo não teria nem dado bola para o caso)

Em um cenário assim, de dinheiro totalmente virtual e de curso forçado, o ouro, a prata, metais e gemas preciosas em geral ganhariam mais um motivo para terem lugar na carteira de investimentos de qualquer um, principalmente em meio físico e guardados em algum lugar seguro e secreto que não seja um banco. Este tipo de ameaça que paira sobre nós é mais um motivo pelo qual eu adoraria a volta do padrão-ouro, ou qualquer lastro em metal precioso.

Olhando para o futuro com lentes mais otimistas, não podemos subestimar a criatividade humana. Não acredito que, havendo um número suficiente de excluídos do sistema, tal grupo fosse aceitar passivamente o ostracismo. Muito provavelmente surgiriam mercados negros e moedas paralelas (físicas e virtuais) para atender a esta demanda reprimida. Talvez nem isso: pode ser que mesmo as maiores empresas não queiram abrir mão da demanda excluindo clientes; pode ser que a desobediência civil em massa acarrete no colapso de um sistema de ranking social; a falta de confiança na moeda virtual estatal pode levar a uma fuga para ativos reais nas transações quotidianas (volta às moedas metálicas, ou outros tipos de moeda-mercadoria); etc. As possibilidades são infinitas, e como eu disse em outros posts: é tudo um exercício de futurologia



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