quinta-feira, 18 de novembro de 2021

No Brasil não é normal darem descontos


Percebam que  aqui no Brasil, por alguma razão (impostos? Inflação? Margem de lucro mais alta? Não sei, mas provavelmente uma mistura destes e de outros fatores que não identifiquei) as empresas raramente dão descontos e, quando isso acontece, nunca é que nem nos EUA, em que se pode pegar cupons de desconto em jornais, revistas e até na internet e se consegue comprar coisas até de graça, por conta de vários descontos acumulados.

O desconto mais comum de se achar, e mesmo assim não é em todo lugar, são aqueles 10% para pagamentos à vista (e tem lojas que só dão 5% quando o pagamento é  no débito e só dão  os 10% se for no dinheiro e, hoje em dia, no pix). Geralmente se consegue este tipo de desconto em lojas menores ou de atendimento mais personalizado que dependa de um vendedor. Lojas grandes, como as Americanas, Casa e Vídeo, etc. nunca dão esse desconto, pois o atendimento é impessoal, então não tem como.

Outra característica do comércio brasileiro: quando dão descontos,  eles nunca ou quase nunca acumulam. Por exemplo, se você chegar na loja com um (raro) cupom promocional, provavelmente não conseguirá os 10% que teria se pagasse a vista, e se negociar os 10% a vista, provavelmente o cupom não será utilizado. E geralmente os cupons têm prazos bem curtos, e às vezes vem nas letras miúdas  que eles não são aceitos em todas as filiais da empresa. Pelo menos na minha experiência, sempre foi assim. Não sei como é em outros lugares do Brasil, mas onde moro é assim.

Vou relatar aqui algumas promoções esdrúxulas que vi por aí ou recebi, para ilustrar meu argumento:

 - vi o Shopee (aquela loja das propagandas horrorosas - aliás, quase todas as propagandas são horríveis hoje em dia) oferecendo  50% de desconto em compras, só que limitados a 10 reais (vi num anúncio no youtube)... ou seja, estão dando no máximo 10 reais de desconto e a propaganda diz 50% só pra chamar atenção.

- em uma loja de móveis  onde comprei um armário, veio de brinde um cartão de desconto de 20 reais, mas que só valia por 7 dias e não podia ser usado para abater o valor do frete, só no preço do móvel mesmo, e ainda vinha com uma cartinha da empresa falando de como a empresa era boa e quase uma família. Aham...

- o pseudo desconto da Cacau Show - aquelas barrinhas de chocolate de 20g custavam 2,90 ou 2,70 dependendo do recheio (ou seja, já eram caras). Agora o preço aumentou para R$ 3,30, mas se você for cadastrado na loja, você  ganha um desconto e elas passam a custar R$2,90 ou R$2,70, dependendo do recheio... ou seja, o mesmo preço de antes. Eles aumentaram o preço para incentivar as pessoas a se cadastrarem. Não gosto de me cadastrar em empresas  então simplesmente parei de comprar. 

Iinfelizmente, acredito que a tendência seja eventualmente todas as empresas passarem a ter cadastro de clientes, mas sinceramente acho que os descontos que dão são muito baixos para que eu aceite prostituir vender meus dados. Vejo que as lojas americanas estão indo pelo mesmo caminho, oferecendo alguns descontos só para clientes cadastrados no "Ame". Pode ser que no futuro só haja descontos se você for cadastrado em alguma plataforma ou use algum serviço desses. E mesmo assim, como no caso da Cacau Show, não são descontos de verdade: eles simplesmente aumentam o preço e cobram o preço antigo para quem tem cadastro. Mais uma tática suja.

- Há muitos restaurantes com cartão fidelidade que tem prazo de validade - perto de onde trabalho tem vários assim, com a validade do cartão bem pequena. Não sei se isso é negociável e se é possível ganhar o desconto se você passar 1 dia ou 2 da validade, mas mesmo assim acho que poderiam não ter prazo.

Acredito que essas coisas aconteçam porque o Brasil é um país muito inflacionário, de modo que a diferença de poder de compra de um ano para o outro já é notável. 

No fundo é uma estratégia de sobrevivência (se boa ou não, aí já é outra história):  maximizar a receita cobrando preços altos, ao invés de tentar vender barato e ganhar no volume de vendas. Pelo menos aqui no Brasil me parece que o padrão é esse. O problema é que os clientes em geral aceitam pagar caro! Não deveríamos aceitar. Tem muito preço que  é alto porque as empresas sabem que as pessoas vão pagar de qualquer jeito, mesmo sendo coisas supérfluas. Isso é outro aspecto de nossa cultura que precisa mudar...

O que acham, confrades?


Fiquem com Deus!

10 comentários:

  1. vc tá certo

    exceções:

    desconto é complicado conseguir, mas online consigo desconto no boleto (gsuplementos ou na oficial farma)

    farmacias de manipulação online, as vezes dão desconto quando se compra vários de um mesmo produto

    no mercado livre, consigo desconto no "supermercado" quando compro 15 itens abarcados por esse desconto (dá uns 10%) e estimula a fazer um pequeno estoque a cada compra.

    faculdade - tem faculdade que dá desconto quando se paga um semestre em uma única "parcela"

    corretoras - já vi corretora que dava desconto em taxas mensais se a pessoa fizesse investimentos mensais

    tributo - iptu pago em parcela única tem desconto; IR dava desconto pra declaração simplificada

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    acho que no brasil, a maioria dos descontos em lojas pequenas podem ser negociados na hora se pagos em dinheiro

    o macete é mostrar o dinheiro vivo na cara do vendedor e fazer um proposta de abatimento de algo entre 5 a 10% do valor do produto para pagamento a vista

    o que raramente aparece por escrito é essa possibilidade de desconto

    abs!

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    1. Valeu, Scant.

      Realmente, eu sempre pago meu iptu a vista, então consigo esse desconto. Uso a corretora do meu banco mesmo, julgo barato (não pago custódia e as corretagens são sempre uns 2 reais).
      Esse truque de mostrar ou oferecer dinheiro vivo para o vendedor eu conheço bem. Já fiz muito isso e já economizei um bom dinheiro assim.

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  2. Acho que existe um problema muito grande na venda por volume em alguns tipos de negócios, como os mais artesanais. Nesses negócios, fazer em grande quantidade, via de regra, representa uma queda de qualidade.
    Ex: Trufas cacau show x trufas caseiras feitas por um chocolateiro capacitado com chocolate belga de qualidade.

    Outro grande problema é que, via de regra, na maioria dos lugares, aumentar o volume de maneira elevada representa uma necessidade de aumento da capacidade produtiva, ou seja, mais gente. Muitas vezes, o pequeno comerciante não está disposto a transformar seu negócio numa mega empreitada. Na maioria das vezes são pessoas que viraram patrões mas ainda têm a cabeça de funcionário, não querendo lidar com muita gente e outros problemas tributários.

    Volume de vendas com preço reduzido fica restrito mais a fábricas, mercados, atacados e algumas empresas de importação chinesa, creio.

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    1. Essa questão da organização de uma empresa independente de seu tamanho para atender seu cliente da forma mais eficiente é um ponto crucial.
      Eu entendo perfeitamente os empreendedores, especialmente os pequenos ou autônomos que não querem "complicar" seu negócio. Se alguém que não tem muito ou nenhum conhecimento de contabilidade ou mesmo legislação for fazer um empreendimento ignorando essas questões, a chance de fracasso é grande, porque as coisas não costumam ser simples como parecem para quem está de fora.
      Se você for fazer um negócio pequeno você tem que saber das suas obrigações legais e contábeis, documentação necessária (incluindo alvarás e licenças quando necessárias), obrigações patronais caso tenha funcionário(s), aluguel de ponto, concorrência, fornecedores, logística, concorrência, mercado, precificação etc etc. Tudo dependendo do que o empreendedor se propõe a fazer, mas geralmente a pessoa vai ter que fazer coisas relacionadas a quase tudo que citei.
      Não é tão simples uma pessoas sozinha se virar com tudo isso, muitas vezes sem experiência.
      Muitos dos empreendedores querem apenas uma fonte de renda sem ter que mendigar emprego, aí se contentam com cenários mais simples.
      Estão errados? Pela visão de entusiastas e coachs, sim.
      Mas pela visão mais realista de quem empreende ou já tentou empreender, nem tanto.
      O ideal seria um negócio o mais simples possível, porém rentável.

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    2. "Estão errados? Pela visão de entusiastas e coachs, sim." esses caras acham q o sentido da vida está em ser milionário

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    3. Olá, Anon. Eu tampouco julgo quem têm pequenos negócios e queira deixá-los o mais enxutos e simples possíveis, mas, como você bem coloca, essa não é a visão empreendedorismo que temos hoje (coachs e caras do mainstream).
      Empreender é muito difícil, é quase que uma aposta. Na maioria dos setores você irá trabalhar com gente que não acabou nem o ensino médio e acha que sabe como funciona o mundo. Os clientes vão querer dar pitaco no que você está fazendo a todo momento e sempre haverá alguém reclamando (funcionários, clientes, fornecedores, transportadora, etc...). Não me surpreende que a maioria quebra. Além de todos os problemas inerentes a ser dono do negócio ainda existem questões humanas envolvidas que, na minha opinião são piores que as tributárias e do negócio.

      Também acho que o empreendedor deve saber um pouco de tudo no negócio, mas a realidade é que você não terá tempo para tudo, ou você vai enlouquecer. Será preciso delegar. No caso tributário será preciso de um contador e um advogado. Nas empresas em que trabalhei (inclusive as menores) essa era a prática, mas aposto que existem muitas que ficam na clandestinidade para poupar alguns cents.

      "O ideal seria um negócio o mais simples possível, porém rentável." entendo seu ponto de vista. Mas, infelizmente, na vida real, assim como na física o ideal é só uma abstração. Não existe rentabilidade sem problemas, ninguém vai te pagar muito dinheiro por algo fácil e simples de se fazer.

      abs.

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    4. O ideal de ganhar bem com algo simples, ainda mais no cenário brasileiro realmente não é o mais provável.
      A tendência é que haja alguma complicação. Porém há negócios pequenos que são rentáveis com ideias simples, principalmente no comércio.
      Mas o mais comum é o que você descreveu. E no caso do comércio de rua, ainda há o risco de assaltos ou furtos feitos ou ajudados por funcionários.
      Romantizaram muito o ato de empreender, assim como de certa forma romantizaram o ato de investir.
      Trabalhar para terceiros muitas vezes é uma merda, procurar emprego, passar por dinâmicas de grupo é outra merda, mas é fato que não existe almoço grátis, empreender ou trabalhar como funcionário tem pontos positivos e negativos que tem que ser considerados na hora de escolher um dos dois caminhos.
      Acho que o MEI vai ter um limite de faturamento de 130k em 2020, o que é um ponto positivo desde que confirmado principalmente para autônomos. Mas a maioria dos empreendimentos não se enquadram como MEI.
      Muitos dos empreendedores já foram empregados e decidiram empreender entre outro motivos para não ter que voltar a vida de funcionário. Em regra não são pessoas com grandes ambições.
      Isso explica boa parte do cenário que você descreveu no seu primeiro comentário.

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    5. Como é bom ver mais um post meu rendendo uma discussão interessante nos comentários!

      Matheus >> Sem dúvida a qualidade do artesão tende a ser superior ao do industrializado, e realmente fica difícil ter ganhos de escala e manter uma qualidade artesanal. E, infelizmente, até mesmo o maquinário para uma "pequena indústria" é pouco acessível, conforme escrevi em resposta ao Poupador do Interior no comentário abaixo. Não há muitas empresas que fabricam máquinas por aqui, ainda mais máquinas voltadas para pequenas confecções. Por exemplo, é muito difícil encontrar um mini-torno descente para equipar uma oficina mecânica ou de marcenaria. Por aqui só vendem umas duas ou três marcas, no máximo, sendo que duas são chinesas. E os poucos que têm custam caro demais.

      Anon >> a legislação trabalhista nos dá uns direitos que eu concordo que são bons e justos (férias remuneradas, 13º, licença maternidade, etc.), mas que infelizmente tornam a nossa mão de obra "muito cara", por menos que as empresas nos paguem. Eu, por exemplo, nem penso em contratar funcionários para o pequeno negócio que planejo construir (principalmente para evitar problemas relativos a justiça do trabalho). E, assim como eu, deve ter centenas, senão milhares, de potenciais micro-empresários que pensam o mesmo. E isso é muito ruim, pois não contratar funcionários limita o tamanho de nossa produção e com isso limita a nossa receita e nossos lucros potenciais.

      É fato que "ter um negócio" é algo que de uns tempos para cá foi gourmetizado. Eu nem gosto das palavras "empreendedor" e "startup" porque elas estão muito ligadas àquele mundo colorido de faz-de-conta dos coachs, dos ted talks, e por aí vai. No papel é tudo lindo e maravilhoso: basta uma ideia e muita dedicação e todos vamos "mudar o mundo". Geralmente é tudo mentira. A realidade é dura, conforme o Matheus escreveu.
      Às vezes o que eu quero é só ganhar meu dinheiro e sustentar minha família e ter algum conforto, e não necessariamente ficar milionário, e nem conquistar certificado ISO sei lá das quantas, e nem aparecer na capa da forbes, essa bobajada toda.

      Concordo que devemos buscar deixar o negócio o mais simples possível, e delegar o que for necessário (contabilidade, advogados, etc.).

      E esse limite de faturamento de MEI poderia ser pelo menos o triplo. Até parece que aqui é normal uma empresa pequena faturar milhões por ano.

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  3. Mago,

    Tema muito interessante.

    Eu detesto cadastrar meus dados em lojas, qual o próposito? Vender meus dados para empresas terceira ficarem me ligando e me infernizando para vender coisas.
    É por essas e outras que sempre cadastro o meu celular naqueles serviços de 'Não Pertube!'.

    Sobre os descontos, qualquer coisa fora dos 5% a 10% de desconto é realmente pouco comum de encontrar.

    O que acho ridículo é propagandas que vejo em lojas 'Promoção com produtos com até 70% de desconto'. Como que alguém dá 70% de desconto em um produto? Ou é um idiota que não sabe fazer conta na hora de colocar preço e está fadado ao fracasso empresarial ou está chamando eu de idiota.

    O Matheus tocou em um ponto bacana que é a mentalidade do empreendedor brasileiro, infelizmente a maioria é pouco qualificada e ninguém busca informação (gratuita) de como melhorar o negócio, gestão de custos, gestão financeira e marketing.

    Abraços,
    Pi

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    1. Valeu pelo comentário, PI.
      Você falou a real: a gente se cadastra (em troca de descontos mixaria) e as empresas vendem nossos dados para operadoras de cartão de crédito, agências de empréstimos, etc que ficam nos ligando e enchendo o saco. Tem uma ou outra que "de alguma maneira" sabe o valor exato que eu pagava de prestação de financiamento, e fica me oferecendo o refinanciamento da dívida (graças a Deus, já quitada). À vezes é a empresa que vende, e às vezes é algum funcionário corrupto que pega os dados dos clientes e vende pela internet.

      A mentalidade do empreendedor brasileiro realmente ainda é muito no nível "artesão", porque aqui é até difícil encontrar máquinas para pequenas indústrias a preços acessíveis. Para montar uma pequena padaria, por exemplo, você teria que desembolsar mais de 200 mil reais só com os equipamentos (fornos, batedeiras industriais, estufas, coifas, etc.), então fica difícil para o pequeno empreendedor conseguir um ganho de escala.

      Além disso, tem a concorrência desleal das fábricas chinesas e das empresas que importam de fábricas chinesas quando o assunto são eletrônicos, bugigangas, brinquedos, etc.

      Porém, concordo que os pequenos empresários brasileiros realmente poderiam se informar melhor, principalmente no que tange a contabilidade, marketing e legislação trabalhista. Muitos entram de cabeça sem nem saber nada dessas coisas, só no feeling e na experiência de vida. Mas, por outro lado, às vezes é por saber pouco que eles entram nesse mundo dos negócios. Vai ver que se soubessem mais não teriam coragem.

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