Saudações, confraria da melhor blogosfera do Brasil!
Dando continuidade a esta minha pequena série (cuja primeira parte lancei há uns 6 meses...), trago aqui a parte 2 do caminho que percorri no mercado de ações.
O objetivo desta série é compartilhar meus erros e meus acertos (mas principalmente os erros), para que mais pessoas possam aprender através de minha experiência. Afinal, muitos iniciantes frequentam nossos blogs.
Como escrevi na parte 1, investir naquele fundo horroroso oferecido pelo meu bancão teve o lado bom de me fazer começar a estudar sobre economia, finanças e mercado financeiro em geral, pois eu não sabia de nada. Eu era pior que uma sardinha abissal - eu era uma sardinha que nem sabia nadar!
Assim, comprei e li muitos livros a respeito do assunto. Eu estava em busca de um livro que servisse como um "manual de instruções do mercado de ações".
Lembro que o primeiro livro que li foi o "A árvore do dinheiro", de uma coleção chamada expomoney. O livro era bom para começar, mas não falava tanto sobre ações e acho que nem falava sobre FIIs (que na época era um mercado bem iniciante ainda). É um livro bem básico, voltado para quem não sabe quase nada sobre finanças. Foi um ponto de partida.
Depois li o famoso livro do Kyiosaki, o "Pai Rico, Pai Pobre", e gostei da simplicidade das lições daquele livro. Li a versão em inglês (na época os pocket books em inglês eram muito baratos na Saraiva) e graças a isso peguei um bom vocabulário relativo a finanças que me permitiu ler mais coisas ainda em inglês.
Mas no fundo o livro do Kyiosaki também não ensinava realmente a investir em ações. Ele vale por causa do famoso diagrama do fluxo de caixa e pela lição da importância da renda passiva, mas ele foca muito mais no lado empreendedor, e ele tem um jeito de escrever como se estivesse zombando do leitor, pelo menos foi essa a impressão que eu tive quando li (tipo "ah, se você é um empregado você é imbecil e otário, e esperto sou eu e quem compra e revende imóveis seguindo a minha fórmula"). Pelo menos este livro serve para abrir os olhos quanto à importância da renda passiva e sobre a necessidade de entender ao menos um pouco de contabilidade. Por causa disso comprei o "Contabilidade Básica" do José Carlos Marion, para aprender.
Depois li o (infame) "Os Axiomas de Zurique", que é outro livro que parece zombar do leitor (o narrador o tempo inteiro soa como se fosse um mestre das finanças e quem não segue as lições dele é um otário, ou pelo menos esta foi a impressão que eu tive, lendo a versão em português). Poucas coisas valem a pena neste livro, a maioria dos axiomas são bobagens, ainda mais para quem faz buy and hold (e acho que nem para especuladores e day traders o livro serve). Engraçado que o autor é um jornalista, e não um administrador de fundos ou especulador. Ao que me parece o autor viveu escrevendo livros sobre o mercado financeiro e colunas em jornais e revistas, e não de investimentos.
Li também (acho que em 2011) o "Investindo em Small Caps", o primeiro livro mais "técnico", com um foco mais prático. Esse livro era interessante e penso em lê-lo de novo para refletir com o conhecimento que tenho hoje em dia.
E foi graças a esse livro que aprendi uma lição importante: não deixe pessoas conhecidas saberem que você investe (e nem sequer pensarem que você investe). Aprendi essa lição porque eu lia esse livro no refeitório da faculdade no intervalo das aulas e na hora do almoço. Um dia um colega de turma me viu lendo, puxou assunto e eu, ingênuo, dei corda, e a conversa culminou com ele me pedindo 5 mil reais emprestados. Não emprestei (era praticamente tudo o que eu tinha juntado de anos de estágio e dando aulas particulares) e ele só falou comigo de novo uns 10 anos depois (mas não pediu mais dinheiro emprestado).
Enfim, eu li estes e outros livros, e eventualmente abri uma conta na corretora do meu bancão e comecei a comprar ações.
A primeira ação que eu comprei foi a mesma que 99% dos brasileiros que investem em ações compram quando começam no mercado: PETR4. Isso foi em 2013.
Na época eu acho que nem tinha um objetivo em mente. Eu no máximo estava juntando dinheiro (na caderneta de poupança) para comprar um imóvel, mas o dinheiro para isso estava bem separado do dinheiro das ações, na minha mente. Eu nem pensava em usar o dinheiro que estava em ações para ajudar a comprar um imóvel.
Mas ao mesmo tempo eu não estava pensando em coisas como IF, TF, etc. Então meio que não era um "buy and hold" de verdade. Talvez eu tivesse uma meta de preço para vender as ações com lucro, mas não lembro.
A questão aqui é que hoje eu vejo como pode ser perigoso investir em renda variável "só por investir", sem ter um objetivo.
Se você não tiver um objetivo sólido de longo prazo em mente (comprar imóvel, comprar terreno, alcançar a IF, alcançar a TF, etc), pode acontecer de qualquer coisa virar motivo para você vender.
Então quem investe sem objetivos de longo prazo tem muita chance de em qualquer queda de centavos ou de poucos reais no preço da ação querer vender tudo. Quem tem objetivos sólidos de longo prazo não está imune a isso, óbvio que não, mas acho que tem mais chance de aguentar quedas do que quem investe sem objetivo.
Depois do meu primeiro aporte, fui comprando ações todo mês (ao menos eu tinha acertado nisso - a mentalidade de aportar todo mês) e minha "diversificadíssima" carteira na época era composta pelas seguintes ações:
PETR4 (porque todo brasileiro que investe em ações investe nessa)
ELET3 (só por causa dos dividendos gordos)
ELET6 (idem)
WHRL4 (porque é a dona da melhor marca de eletrodomésticos do Brasil e tinha bons indicadores patrimoniais)
EMBR3 (porque gosto de aviação e achava que a empresa iria evoluir para se tornar uma das grandes fabricantes de aviões do mundo)
... e agora a pior de todas:
OGXP3 (porque, afinal, como dizia o Rockefeller, o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, o segundo melhor é uma empresa de petróleo medianamente administrada e o terceiro melhor negócio do mundo é uma petroleira mal administrada... então a OGX estaria enquadrada como o terceiro melhor negócio do mundo, o que para mim estava ótimo)
A minha análise praticamente se limitava a olhar os múltiplos das empresas no site Fundamentus, e a dar uma olhada no gráfico da cotação (para estimar se a ação estava com tendência de alta ou de baixa).
De vez em quando eu lia as postagens do fórum InfoMoney (acho que nem existe mais) para ver a opinião que as pessoas tinham sobre as ações das empresas que eu ia comprar.
Acho que foi lá que eu descobri a OGX.
A minha sorte foi não ter entrado nessa empresa no seu auge (que se não me engano foi por volta dos R$ 27, mas posso estar errado).
Eu acho que quando eu entrei a ação estava a uns R$ 5,00. Fiz o primeiro aporte na empresa, nem lembro quantas comprei.
No mês seguinte já devia estar a R$ 3,00. Fiz meu segundo aporte - afinal, todo mundo dizia que a OGX iria bombar. Era difícil não se deixar levar pelo otimismo da época (afinal, o Eike Batista era o novo Barão de Mauá).
No mês seguinte (salvo engano, junho de 2013), acho que a ação já tinha caído para a casa dos R$ 2,00. Fiz meu último aporte nela.
Naquela altura do campeonato, as piadas sobre a OGX já tinham chegado na mídia mainstream, e até pessoas que não eram "do mercado" faziam piadas do tipo "você quer o troco em bala ou em ações da OGX?". Eu não aportei mais em OGX, mas também não vendi as ações que tinha. Simplesmente parei de aportar nela, e permaneci com as minhas 2.980 ações OGXP3, que um tempo depois viraram 29 por conta dos agrupamentos, e as vendi só no ano retrasado, para ajudar a quitar meu financiamento imobiliário (devo ter aportado no total uns R$ 5.000 nessa empresa em 2013 e vendi por R$ 400 em 2020)
Infelizmente, as perdas com a OGX me desanimaram em relação ao mercado de ações como um todo, de modo que eu me afastei dos investimentos desde meados de 2013, e só voltei a me interessar de novo em 2015, quando descobri a blogosfera das finanças.
Esse capítulo fica para o próximo post desta série.