Saudações, confrades!
Um assunto que vejo às vezes sendo debatido pela internet é a situação triste em que se encontra o mercado de jogos atualmente. Nos 80, 90 e até a primeira década dos anos 2000 era um mercado vibrante e que produziu muito valor. Alguns jogos daquela época são jogados até hoje e muitos são sempre lembrados mesmo que quase ninguém os jogue mais.
Eu joguei muito Age of Empires (jogo até hoje, mas bem menos), Rollercoaster Tycoon (idem), Age of Mythology, Mario, Zelda, Sonic, etc. Todos estes que citei foram feitos naquela época e se tornaram franquias de sucesso, lançando jogos até hoje.
Mas de uns tempos para cá alguma coisa mudou e as empresas de jogos parecem ter perdido a maior parte de sua genialidade e criatividade.
Está certo que o principal esporte praticado por nós, seres humanos, é reclamar de qualquer coisa. Mas é fato que muitas coisas mudaram para pior no mercado de jogos, comparando com aquela "época de ouro".
Algumas empresas estão se tornando infames e parecem ter dado uma guinada de 180º em relação ao que eram antes. Creio que o maior exemplo disso seja a Blizzard, dona da franquia Warcraft. Recentemente houve o fiasco de Warcraft III - Reforged: um lançamento cheio de promessas, mas com uma entrega muito ruim (e que até onde sei não foi consertado até hoje, parece que foi abandonado). Outro fiasco desta empresa foi o controverso lançamento de Diablo Mobile (que decepcionou muitos fãs, que não queriam um jogo para celular, mas a Blizzard agora está focando no mercado chinês, onde os jogos de celular são mais populares).
(ironicamente, mesmo com esses recentes fiascos e com o progressivo abandono de World of Warcraft, as ações da Blizzard vem subindo)
clique para ampliar. Créditos na própria imagem. |
Uma coisa que me chama a atenção é que antes os jogos eram sempre vendidos completos. Você pagava o preço e comprava o jogo pronto (no máximo com alguns erros que eram corrigidos com patches que você baixava de graça no site da fabricante). Dependendo do jogo, as empresas lançavam pacotes de expansão, mas ainda assim o jogo original sempre vinha completo. As coisas eram assim e as empresas tinham lucro e prosperavam. O negócio dava certo.
Será que hoje não dá mais certo agir assim?
Hoje em dia, muitos jogos parecem ser vendidos nem na versão beta, mas na versão alfa, porque logo depois do lançamento já existem DLCs (pagos) para completar o jogo. Em alguns casos, o jogo vem incompleto mesmo, na cara de pau, como foi o caso de No Man's Sky e Cyberpunk 2077, provavelmente porque as empresas prometeram que lançariam o jogo em um prazo impossível de ser cumprido pela equipe de desenvolvimento (clássico caso do conflito entre o departamento de Relações Públicas e o de Operações - um promete o impossível e o outro é que tem que executar) e provavelmente têm vergonha de voltar atrás em suas palavras.
Esse meme já ronda a internet faz alguns anos... |
Muitas das empresas adotaram também as infames mecânicas de Lootbox (que você paga para ter acesso a determinadas coisas no jogo, geralmente meramente cosméticas, mas às vezes coisas importantes) e Pay-to-Win (em que você paga para ter acesso às melhores coisas de um jogo, que fazem a diferença entre ganhar e perder). Com essas mecânicas de microtransações é como se você, além de pagar para comprar o jogo, ainda tivesse que ficar pagando um "aluguel" para continuar jogando.
Será que o mercado de jogos mudou a ponto de hoje em dia se as empresas de jogos não fizerem isso elas simplesmente não lucram?
Ou será isto mais um movimento explicável pela teoria dos jogos - "se a minha empresa não fizer isso, a concorrente vai fazer, e vai lucrar mais do que a minha, e vai poder investir mais e se tornar ainda maior, roubar minha fatia do mercado, etc.,etc."?
Acho que hoje em dia as empresas como um todo (não só as de jogos), mesmo as que são gigantescos monopólios ou que fazem parte de oligopólios, estão mais covardes e centralizadoras. Parece que mais nenhuma quer se arriscar com um produto novo (por mais que tenham bilhões em caixa para bancar fracassos), então acabam apostando em formas de ganhar dinheiro rápido e tirar o time de campo logo em seguida.
No caso das empresas de jogos, uma estratégia comum tem sido anunciar algum jogo novo prometendo um monte de coisas para gerar muita hype, fazer uma pré-venda para aumentar a empolgação do mercado, lançar o jogo (mesmo inacabado e cheio de bugs) , arrecadar a grana da venda, e então abandonar o jogo, praticamente ignorando a repercussão negativa. E partir para o próximo lançamento (e os trouxas continuam comprando...). Antes o negócio era focar em fazer um jogo muito bom e colher os frutos no longo prazo, caso o jogo fizesse sucesso e tivesse o potencial de se tornar uma franquia.
Não deixa de ser uma estratégia semelhante a de muitos IPO de empresas que ocorreram nos últimos anos.
Outra coisa em que eu acho que as empresas de jogos pisam muito na bola é que elas desperdiçam o potencial criativo dos fãs.
Há dezenas de mods e hacks muito bem feitos de diversos jogos clássicos. Para alguns deles já existem até softwares dedicados para mods (como é o caso do Lunar Magic, para fazer mods de Super Mario World, e Banjo's Backpack, para fazer mods de Banjo-Kazooie) o que facilita muito o trabalho.
Os criadores destes mods e hacks, na minha opinião, merecem ganhar dinheiro por seu trabalho, mas infelizmente é perigoso até mesmo montar um site para divulgar uma carteira de BTC ou uma conta no pay pal para receber doações dos jogadores das mods, pois as empresas donas dos jogos podem processá-los. Alguns projetos muito bons, como esta bela versão em 2D de Zelda Ocarina of Time, são forçados a fechar por ameaças de processos, mesmo que não sejam monetizados e os criadores não estejam ganhando nada com isso.
Na minha opinião, as empresas de jogos estão perdendo uma excelente oportunidade de lucrarem com a criatividade de seus fãs. Porque não montam um market place onde os mods e as hacks possam ser vendidos legalmente, ficando a empresa com uma parte dos royalties? Que custo isso teria? A meu ver, seria "dinheiro de graça" para elas, e uma oportunidade de desenvolvedores independentes ganharem um dinheiro e divulgarem seus talentos.
Será que é por vaidade que a Nintendo não cria um market place para os fãs venderem suas próprias mods? |
Com tantos vacilos que as grandes desenvolvedoras têm dado, será que o futuro dos jogos está nos "indie games"? Aliás, aí está uma boa ideia para trabalhar como autônomo... Quem sabe?
O que acham do assunto, confrades?
Jogam algum jogo? Têm birra com alguma empresa desenvolvedora?
Forte abraço!
Fiquem com Deus!