Eu sou entusiasta do padrão-ouro.
Creio que
todos compartilham o desejo de uma moeda estável e forte, pois o que o ser
humano mais deseja em sua vida é o conforto ou, pelo menos, a redução de seu
próprio desconforto inicial. Com uma moeda estável, o sério problema dos ciclos
econômicos seria resolvido, melhorando enormemente o padrão de vida (leia-se o
conforto) de toda a sociedade. Posteriormente explicarei o motivo disso. Na
opinião dos estudiosos das teorias liberais, o melhor caminho para uma moeda
estável é adotar o padrão-ouro, ou seja, lastrear a emissão de moeda em ouro.
Assim era feito antigamente, quando da invenção da cunhagem de moedas. O ouro,
por ser durável, facilmente reconhecível, suficientemente escasso, maleável e
de fácil cunhagem, foi o meio de troca voluntariamente aceito pela sociedade.
Só em 1971, quando Nixon quebrou o acordo de Bretton-Woods é que o padrão-ouro
foi totalmente abandonado. Ou seja, o atual sistema financeiro (sem lastro) só
existe há menos de 50 anos. Em termos históricos, isto não é nada, e a meu ver o estrago
já é grande.
Atualmente, há
quem acredite que o mundo caminha para uma crise ainda mais severa que a de
2008, devido à eventual falência do modelo de desenvolvimento nacional baseado
no endividamento do Estado. Há quem afirme que, para combater a inflação que e
tornar menos piores as consequências da grande crise, o melhor caminho seria a
volta do uso do ouro como lastro do dinheiro. Com o advento do bitcoin e outras
criptomoedas, alguns consideram que já não seria mais necessário uma moeda com
lastro em algum ativo físico, e que as moedas digitais supririam perfeitamente
esta função de “moeda forte”. Sinceramente, não sei se concordo com isso (Quando eu tiver estudado mais sobre criptomoedas, vou expor minhas opiniões aqui. Creio que ainda não estudei o bastante para opinar sobre elas).
Eu concordo
plenamente que uma moeda estável e forte traz muito conforto e segurança para a
sociedade, além de praticamente eliminar o problema da aposentadoria (bastaria
saber poupar o dinheiro para garantir alguma renda decente nos anos de
inatividade) e a necessidade de um sistemas de aposentadoria públicos. O planejamento financeiro se torna muito mais fácil se não houver o fantasma da inflação escurecendo o futuro... Sinceramente, eu gosto da ideia de moedas com lastro em metais preciosos. Elas me passam a sensação de que são dinheiro "de verdade". É triste saber que nossa moeda não vale praticamente nada e que até mesmo nos demais países latino-americanos não é bem aceita. Não sei quanto a vocês, mas quando penso em como o Real está fraco, sinto que meu salário é uma enganação: sou da classe média no Brasil, até porque aqui o Real é de curso forçado -ou seja, no Brasil todos têm que aceitar reais como pagamento e instrumento de quitação de dívidas, por força de lei - mas em qualquer lugar desenvolvido eu seria praticamente um mendigo, meus reais não valem nada. Triste a nossa realidade.
Eu gostaria muito que nossa moeda fosse forte, e de preferência com lastro em ouro.
O meu único porém é a respeito da quantidade
de ouro necessária para sustentar o volume de negócios atual. Será que há ouro
suficiente no mundo para atender à demanda? Seria possível cunhar moedas de
ouro suficientes? Ou será que voltaríamos ao padrão-ouro clássico, no qual
guardava-se o metal precioso num banco, que por sua vez emitia um título
comprovando o depósito, documento este resgatável em ouro (esta foi a origem do
papel-moeda) e que seria usado nas trocas do dia-a-dia? Sendo este o caso, o
governo deveria ficar “de olho” nos bancos, para evitar que eles emitissem mais
títulos do que a quantidade de ouro que havia no cofre, o que de fato aconteceu
em nossa história, e ainda acontece, dando origem ao sistema de reservas
fracionárias – ou seja, os bancos só têm em suas reservas uma fração do total
da soma de todas as contas-correntes. Justamente por isso, um boato bastante
convincente de que tal banco está indo à falência pode fazer com que ele de
fato quebre, pois quando todos os correntistas forem, ao mesmo tempo, correndo
para sacar seu dinheiro, o banco não terá o suficiente para atender a todos e
ficará sem dinheiro nenhum. Os correntistas que “chegarem atrasados” e não
conseguirem sacar a tempo também ficarão sem o seu dinheiro, e provavelmente
processarão o banco, o qual eventualmente terá que liquidar todos os seus
ativos para honrar suas dívidas e, com isso, deixará de existir.
Dizem os
liberais que não haveria problema quanto à quantidade de ouro, pois o mercado
se adaptaria à quantidade de dinheiro disponível. Assim, quando houvesse poucas
moedas de ouro disponíveis no país (o que seria provocado, por exemplo, por um
excesso de importações em relação às exportações), os preços encolheriam, uma
vez que ninguém teria dinheiro em quantidade física suficiente para custear
valores altos. Os comerciantes poderiam até demorar um pouco a reduzir seus
preços, mas seriam eventualmente obrigados a fazer isto, tendo em vista que não
conseguiriam vender nada aos preços antigos, de quando havia moedas em maior
quantidade. Por outro lado, um grande aumento nas exportações que gerasse
superávit na balança comercial faria com que a quantidade de ouro disponível
aumentasse. Havendo mais moedas em circulação, isso permitiria aos comerciantes
aumentarem os preços de seus produtos e serviços. Segundo os liberais, estas
variações nos preços nada têm a ver com a ideia keynesiana de
inflação/deflação, pois o dinheiro não teve seu valor alterado. Vou tentar
explicar porquê: antigamente, quando o padrão-ouro era seguido no mundo
inteiro, os nomes das moedas – dólares, libras esterlinas, francos,
francos-suíços, marcos, etc. – eram simplesmente nomes diferentes para diferentes
quantidades de ouro (assim como “um metro” é outro nome para “cem centímetros”),
ou seja, eram meras unidades de medida. Por exemplo, uma libra esterlina
equivalia a aproximadamente 0,25 onça de ouro. A grosso modo, para tornar mais
simples o entendimento, os ingleses diziam “isto custa uma libra esterlina” ao
invés de dizer “isto custa um quarto de onça de ouro”. Não havendo fraudes no
processo de cunhagem das moedas, mesmo que os preços das mercadorias
aumentassem ou diminuíssem, uma libra esterlina continuaria valendo 0,25 onça
de ouro. Um metro são sempre cem centímetros, da mesma maneira que uma libra
esterlina sempre equivalia a um quarto de onça de ouro. O que poderia mudar era
a quantidade de ouro necessária para comprar uma casa, por exemplo.
Uma confusão
que pode ser feita a partir deste raciocínio diz respeito à definição de
inflação. Para os keynesianos, a inflação é uma alta contínua e generalizada
dos preços da economia. Para os liberais, a inflação é, basicamente, a perda de
valor da moeda (consequentemente, isto também gerará uma elevação nominal nos
preços, mas este é o efeito, e não a causa da inflação). Aplica-se o raciocínio
contrário para a deflação (ganho de valor da moeda, que gera uma diminuição de
preços). Portanto, nos exemplos dados acima (de déficit e de superávit na
balança comercial), não houve inflação, uma vez que a moeda não perderia seu
valor em ouro. Uma libra esterlina continuaria valendo 0,25 onça de ouro
(novamente, assumindo que não houvesse fraude na cunhagem das moedas). Afinal,
trata-se de uma unidade de medida. Não seria absurdo que se estabelecesse que,
em um metro, há uma quantidade variável de centímetros, às vezes 100, às vezes
202?
Explicando
melhor, sendo a moeda lastreada em ouro, e o ouro sendo uma commodity, seu
valor também é determinado pela lei da oferta e da demanda. Por isso, no caso
de um superávit comercial, haveria mais ouro na economia. Esta abundância do
metal precioso forçaria o seu valor para baixo (ou seja, o ouro seria menos
valorizado pelas pessoas; seria encarado como um bem mais comum. Portanto, não
se conseguiria cobrar um preço muito alto pelo ouro), e isso é que provocaria
um aumento nos preços – a quantidade de moedas necessárias para se comprar o
mesmo produto seria maior, ou seja, aumentaria a quantidade de ouro necessária
(note que as moedas ainda seriam equivalentes à mesma quantidade de ouro!).
Caso houvesse numa economia ouro suficiente para tornar seu valor irrisório
(digamos, ouro praticamente nascendo em árvores), a quantidade de moedas de
ouro necessárias para se comprar um pão, por exemplo, seria tão grande que não
valeria à pena carregá-la até a padaria, por vários motivos: esforço físico
(caso fossem moedas metálicas ou lingotes), praticidade, risco de perder o
dinheiro no caminho, risco de ser roubado, etc. Neste cenário, o ouro
provavelmente seria abandonado como meio de troca e outra coisa substituiria o
ouro como lastro para as moedas. Este substituto poderia ser qualquer um que a
sociedade aceitasse voluntariamente e que fosse suficientemente escasso para
que seu uso valesse à pena. Poderia ser outro metal precioso, como por exemplo
a prata, o paládio, o nióbio ou a platina; poderia ser alguma pedra preciosa (diamantes,
rubis, etc.), poderia ser também alguma commodity agrícola, como o trigo (mas
há neste caso o risco da superprodução de trigo, o que provocaria outra mudança
de meio de troca); já houve na História até mesmo o exemplo do lastro em terras
(a não ser que houvesse uma expansão do território, não haveria como criar mais
terras. Portanto, isso a tornava “escassa o suficiente”)... Enfim, se fosse
necessário, o ouro seria substituído por outra coisa, pela própria vontade da
sociedade, sem necessidade de imposição exógena. O próprio mercado (que é a
sociedade como um todo) encontraria a solução para este problema, pois as
pessoas precisam de bens e serviços. Portanto, “o show tem que continuar”.
Entretanto, um
cenário tal qual o descrito acima é praticamente impossível de ocorrer em um
padrão-ouro, uma vez que este metal é suficientemente escasso para impedir que
sua acumulação chegue a tal ponto. O exemplo dado é muito mais provável de
acontecer com uma moeda lastreada em grãos de areia, em folhas de goiabeira ou
em moedas sem lastro algum (o que infelizmente é o caso de praticamente todos,
senão todos, os países do mundo hoje em dia).
O caso das
moedas sem lastro (ou moedas fiduciárias, ou seja, que necessitam puramente da
confiança e da fé da sociedade em seu valor para serem usadas como meio de troca)
merece muita atenção, pois aí está uma das principais causas de todas as crises
que ocorreram no século XX e no início do XXI, além de todas as outras que
ainda virão enquanto o mundo persistir neste erro: o fato (mencionado acima) de
os bancos poderem emprestar mais dinheiro do que têm em suas reservas faz com
que eles praticamente “imprimam” dinheiro, aumentando rapidamente e
artificialmente a oferta de moeda na economia. Como o valor de um bem é
determinado por sua escassez, a progressiva abundância de dinheiro faz com que
cada unidade monetária valha cada vez menos, o que pressiona os preços de todos
os bens e serviços para cima e causa empobrecimento da população, uma vez que
os salários não costumam aumentar na mesma proporção e nem na mesma velocidade.
Numa economia que adota o padrão-ouro (ou que lastreie sua moeda em algum bem
suficientemente escasso), isso é muito mais difícil de ocorrer, uma vez que os
bancos precisariam adquirir alguma quantidade de ouro para lastrear suas
emissões de dinheiro (mesmo que adotem as reservas fracionárias). A
desvalorização da moeda, se ocorrer (caso da adoção das reservas fracionárias),
seria muito menor e exponencialmente mais lenta do que no caso atual do mundo, no qual o
dinheiro não tem lastro algum.