Saudações, confraria da blogosfera!
Complementando o post anterior, sobre a alocação dos investimentos, vou falar sobre a reserva de valor, a qual, pelo menos no momento, pretendo que irá compor no máximo 5% de meu patrimônio (mas essa porcentagem pode mudar conforme meu entendimento e a situação geral mudem)
1) Primeiramente, para que serve uma Reserva de Valor?
No meu entendimento, ela serve para proteger a mim e à minha família de desastres políticos, como confiscos de dinheiro em conta-corrente e poupança (que nem na época do Collor), congelamento de ativos por decisões judiciais, bloqueio de conta bancária por motivos políticos, etc.
Ou seja, a reserva de valor não é para especular e lucrar com as valorizações (embora isso possa eventualmente acontecer): ela serve simplesmente para eu conseguir me virar nos cenários desastrosos que apontei acima.
Serviria, na época do confisco das poupanças nos anos 90, para eu não me desesperar (como muitos se desesperaram) e para eu conseguir ao menos por um tempo suprir minhas necessidades básicas e de minha família (comida, água, luz, etc). Se isso acontecer de novo (toc, toc, toc), ela servirá para este tipo de proteção.
Serviria também para me ajudar a fugir do país no caso de uma guerra civil, de um golpe comunista, etc. Ao menos para ajudar comprar as passagens de avião para fora, ou para pagar um atravessador na fronteira, e para as despesas iniciais em outro país.
Em último caso, serviria para subornar o guarda do gulag e fugir da prisão, no pior cenário (bati na madeira aqui, gente).
Rezemos para que nada do que escrevi acima aconteça, com nenhum de nós.
2) E o que serve como reserva de valor?
Obviamente, não pode ser nada que fique em custódia em um banco brasileiro, pois assim estaria ao alcance do governo. Sendo assim, a Reserva de Emergência não serve, e nem o dinheiro em conta corrente.
a) Dinheiro físico guardado em casa ou em algum outro esconderijo serve. No caso de um confisco semelhante ao do Collor, muito provavelmente até Reais físicos serviriam para me livrar de um sufoco.
Mas o ideal mesmo é ter moedas fortes (principalmente dólar, mas também libras e euros) físicas guardadas em algum esconderijo - não pode ser num cofre de banco, porque aí não estarão protegidas nem de um confisco geral. E numa grande crise, imagino que os bancos iriam fechar. No caso de um golpe comunista, imagino que seriam fechados pelo governo, e aí eu perderia o acesso ao cofre.
b) Além do dinheiro físico, também recomendaria ter uma conta no exterior, nos EUA ou na Europa, de modo a ter recursos mais sólidos e mais seguros em outro país, fora da jurisdição de nosso governo. A conta no exterior seria um lugar para onde eu enviaria remessas periodicamente e também para receber o valor de eventuais vendas de ações e FIIs investidos no exterior. Seria necessário um banco nos EUA ou na Europa que aceitasse correntistas não residentes, e que aceitasse abrir conta on-line. Ainda estou pesquisando isso, então se algum leitor souber, por favor me dê uma dica.
c) Também podem ser usados como reserva de valor os metais preciosos, pois historicamente sempre foram aceitos nas trocas comerciais, desde que a humanidade chegou à abstração do dinheiro.
Os mais úteis, na minha opinião, são o ouro e a prata.
Acho importante ter ambos na reserva, pois a prata serviria para pequenas transações (alimentos, transporte, roupas, etc.) e o ouro poderia servir para as grandes compras (casa, terreno, carro) e para guardar grandes valores em pouco espaço.
Porém, conforme o gráfico no capítulo 1 do livro Stocks for the Long Run, do Jeremy Siegel, o ouro praticamente acompanhou a inflação (em relação ao dólar) no período considerado na análise dele. Com base nisso, para o longo prazo o ouro só serve mesmo para a reserva de valor, pois a tendência é que acompanhe a inflação. Hoje, cerca de 320 reais compram 1 grama de ouro. Pode ser que daqui a 20 anos R$ 320,00 seja o preço de uma bala juquinha (batam três vezes na madeira aí, gente), mas 1 grama de ouro continuará sendo 1 grama de ouro e certamente valerá muito mais que uma bala juquinha.
O problema é onde adquirir ouro e prata, e de maneira conveniente para que realmente funcionem como reserva de valor - ou seja, que possa ser revendido depois, caso necessário.
Uma forma são as joias, as quais em uma situação de crise podem ser vendidas pelo peso de seu metal, com a desvantagem de que você pagará muito mais que isso para comprá-las - o que não inviabiliza o uso como reserva de valor.
Outra forma são moedas de coleção (numismáticas), principalmente as de prata, que existem muitas e não são muito caras (mas há a necessidade de consultar catálogos de moedas para verificar o teor de metal precioso em cada moeda, para saber quanto de metal estamos de fato comprando).
Elas também têm o inconveniente de que pagaremos mais do que o valor do metal e numa crise as venderemos somente pelo peso (sem o "valor numismático") - claro que isso também não inviabiliza seu uso como reserva de valor, na minha opinião.
O maior problema das moedas numismáticas é, a meu ver, o risco de falsificação. Então é necessário muito cuidado na hora de comprá-las.
Mas eu acho que a forma ideal de investir em metais são aquelas "moedas de investimento", que têm pesos padronizados e vem com certificados dos fabricantes (um exemplo famoso é a maple leaf canadense), pois creio que essas são relativamente fáceis de vender. Outra forma são barras de ouro e prata com pesos padronizados (e que também vem com certificados de autenticidade).
O que conta aqui é a facilidade de vender quando necessário, e estas (moedas e barras) são as mais fáceis de vender, na minha opinião, por conta de sua padronização.
Em relação a fundos de ouro (ex: GOLD11), eu não os considero bem como reservas de valor no sentido pleno da expressão.
Certamente podem ajudar a proteger o patrimônio contra a inflação, mas não o protegem contra confiscos de autoridades e nem contra grandes crises nacionais e internacionais, pois você é dono de um papel, e mesmo que ele seja conversível em ouro, na hora que o problema surgir você pode ficar na mão - por exemplo, o banco simplesmente fecha, ou restringe os resgates, ou o governo baixa uma lei na canetada proibindo a conversão, etc. - Exemplos históricos para isso não faltam. Pesquisem sobre a perda do lastro em ouro do dólar, quando os bancos foram proibidos de converter dólares em ouro e logo depois virou crime ter moedas de ouro nos EUA (ordem executiva 6102 de 1933).
Acho que, se você faz questão de aplicar em um fundo de ouro, ele pelo menos deveria ser no exterior, para no mínimo você estar protegido contra o risco nacional.
d) Por fim, temos as criptomoedas. Cada vez mais populares, e com novas surgindo a cada dia, elas ainda estão longe de funcionarem a contento como meio de troca (por conta da imensa volatilidade) e como unidade de conta (idem), mas ao menos as mais confiáveis delas podem, a meu ver, servir como reserva de valor, pelo menos enquanto durar esta confiança.
O problema está justamente na confiança: alguns criptoativos já se revelaram esquemas de pirâmide, vários parecem que são criados só de zoeira... enfim, é difícil confiar em um criptoativo, principalmente um que seja recém-criado. E me parece que a confiança neste tipo de ativo tem sido bastante abalada. O nosso colega da blogosfera Gerson Ravv parece que se decepcionou com as criptos.
O Peão Playboy, em seu último post até o momento, também deu uma opinião interessante e com os pés no chão sobre as criptos.
E o Heavy Metal, que anda sumido, também deu sua opinião sincera, a qual transcrevo aqui:
"Pensando em arriscar um "troco" em um fundo de Criptomoedas, mas sinceramente acho que é uma bolha prestes a estourar. Quem surfou, surfou e ganhou muito dinheiro - e eu, perdi o bonde. Tenho medo de entrar agora. Em tempo: não faço aqui juízo de certo ou errado, mas sim de timing para entrar no ativo! Se vai ser ouro digital ou "merposa", só Deus sabe. É uma onda violenta e entrar na hora errada... é pedir para rasgar dinheiro."
Para as criptos, tentando formular uma teoria, eu acho que um critério de compra plausível é o teste do tempo. Outro critério plausível seria a reputação. Vejam que isso tudo é muito subjetivo.
Se nada é garantido nos investimentos, no mundo das criptos isso é ainda mais verdade. E acho que por um bom tempo irá pairar sobre elas algum risco de criminalização ou de outro tipo de interferência estatal (vide o processo que a SEC [a CVM dos EUA] está movendo há alguns anos contra a Ripple).
Enfim, em relação às criptos, eu até quero entrar no mercado, mas com muito critério e cautela. Acho que por enquanto só aportaria algo entre R$100,00 e R$200,00 por mês. Tenho pesquisado exchanges e estudado sobre cold wallets. Se alguém tiver uma recomendação, por favor comente aí.
Dada a dificuldade inerente ao assunto, digo que as criptos merecem futuros posts, no quais irei resumir meus estudos sobre o assunto.
Existem mais coisas que servem como reserva de valor (obras de arte, itens de colecionador, etc.), mas são coisas, a meu ver, muito específicas e que seriam mais difíceis de revender do que os metais preciosos e as criptos, então não vou descrever aqui. Com certeza são bons para quem os entende, mas costumam não ser uma boa ideia para pessoas comuns.
E acima de tudo, uma coisa bem mais importante do que "onde aportar seu dinheiro" : a reserva mais importante do indivíduo, materialmente falando, são as suas habilidades e aprendizados, e também sua cultura. Sendo assim, "aportem seu tempo" estudando, praticando habilidades úteis, lendo a boa literatura, enfim, buscando sempre melhorar como indivíduos.
Pois bem, confrades, estes são os meus pensamentos sobre a Reserva de valor. Qual a opinião de vocês sobre isso?
A parte 3 desta série será sobre ações.
Forte abraço, meus companheiros de trincheira!
Fiquem com Deus!