quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Devemos nos libertar - e isso é para ontem
Saudações, confrades. Quase 1 mês desde a última postagem. Eu estava de férias, literalmente, e aproveitei para me dedicar a outros projetos pessoais e a hobbies.
Sem mais delongas, vamos ao artigo de hoje, que, como sempre, são coisas que eu fico pensando no dia a dia, principalmente no caminho para o trabalho.
É urgente que nós, como indivíduos, nos tornemos o mais livres possível. Temos que nos tornar cada vez menos dependentes da renda proveniente do trabalho assalariado e das vontades de chefes, empresas e governos. Espero com este texto abrir os olhos de alguns indivíduos... afinal, a única minoria que deve ser defendida é o indivíduo, pois é a menor minoria que existe, e está sempre sujeita à tirania. Esta é a minha opinião.
1) Tenha o seu próprio imóvel (caso prefira morar de aluguel, julgo prudente ter pelo menos reservas capazes de comprar um imóvel à vista, pois um dia você irá precisar) >> Por quê? Porque enquanto você mora de aluguel, alguma parte da sua vida estará subordinada, de certa forma, à vontade do dono do imóvel. Às vezes é fácil trocar de imóvel caso a relação com o dono seja difícil ou caso ele aumente demais o aluguel, mas pode haver casos em que tal troca seja difícil ou até mesmo inconveniente para você (por exemplo, quando a alternativa é morar mais longe do trabalho, ou em um bairro mais perigoso, ou com menos opções de transporte e comércio), o que aumenta o poder de barganha do dono.Creio que esta relação seja ainda pior quando o dono do imóvel for uma empresa e não uma pessoa física, pois a relação se torna mais fria e impessoal, e o mesmo vale para quando o dono deixa a gestão do aluguel nas mãos de uma corretora (cada vez mais comum). Além disso, tem esses dois argumentos do Bastter: 1)"E se você tiver 80 anos e o dono do imóvel resolver te despejar? Como você vai se mudar da noite para o dia?" e 2)"E se todo mundo resolver viver de aluguel, quem vai ser o dono dos imóveis?" - em relação a este último, ele ainda acrescenta que o setor financeiro tem todo o interesse que você não seja dono do próprio imóvel: é menos dinheiro "imobilizado", gerando mais corretagens para bancos e corretoras, mais impostos para o governo, etc. Eu acrescento o seguinte: acho que ter sua própria casa /apartamento/ terras, etc. faz parte da noção de dignidade humana. Quando não somos donos de casas ou terras, alguém vai ser o dono, não existe vácuo em se tratando de propriedade, e isso pode não ser bom no longo prazo. (Vide esta empresa de San Francisco que se aproveita da explosão de pessoas sem-teto na cidade e cobra 1.200 dólares de aluguel por uma cama com uma prateleira - alguns de vocês podem dizer que isso foi uma "atitude empreendedora", e que a empresa está na verdade ajudando os sem-teto, mas eu acho que isso é um sinal dos tempos, e que a empresa está explorando os necessitados, enquanto vende uma imagem de "startup moderninha e limpinha" - façam o exercício mental e imaginem um futuro assim, onde as pessoas comuns só moram nesse tipo de lugar, que nem ratos, e ainda tendo que agradecer à empresa pela "oportunidade" de morar numa cama, usar banheiros compartilhados e pagar "apenas" 1.200 dólares por mês)
2) Não dependa 100% da renda proveniente de seu emprego - se for um assalariado, comece um negócio por fora, faça bicos, torne-se um autônomo da sua área, venda bolos e salgados, sei lá, mas não permita que durante toda a sua vida você seja 100% dependente do emprego, pois assim é muito alta a probabilidade de na velhice você se tornar 100% dependente das migalhas do INSS ou das migalhas de qualquer sistema previdenciário, público ou privado, o que é extremamente arriscado. >> se você é 100% dependente do salário, então você é o perfeito "wage slave", preso na corrida dos ratos, e uma parte considerável de sua vida e de sua felicidade estará diretamente subordinada à vontade de seu chefe imediato, de seu diretor/CEO, e dos donos da empresa onde você trabalha. Se você for funcionário público, então parte de sua vida e felicidade estarão subordinadas ao chefe da repartição, e aos desmandos de algum ministro/juíz/político, o que pode ser até pior, dependendo da situação. Seja dono de seu próprio destino, o máximo que puder.
3) Reforçando o item 2, acima, tenha suas reservas financeiras para se proteger das crises, porque às vezes elas são inevitáveis. Desde a antiguidade, o sábio Esopo nos ensina isso, através da fábula da Cigarra e da Formiga. Aliás, desde os tempos bíblicos isso nos é ensinado (vide Provérbios 6:6-11 (“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado”)). Ter reservas suficientes aumentam o seu poder de barganha, te dão a liberdade de recusar trabalhos que não lhe agradam ou em locais para onde o deslocamento for muito custoso em termos de tempo/dinheiro, e lhe dão mais autonomia na vida.
4) Em complemento ao 2 e ao 3, suas "reservas" não devem se limitar às financeiras: devemos estender a noção de "reservas" para a área das habilidades, conhecimentos, competências, cultura, etc. Ou seja, se você tem um emprego onde executa uma atividade bastante específica e sabe fazer pouca coisa além dela, você está se arriscando muito, e sendo um perfeito "wage slave". Deste modo, se estiver partindo do zero em sua busca por mais habilidades e conhecimentos, comece por sua própria profissão e as áreas de conhecimento correlatas,ou seja, aprenda outras funções além da sua, torne-se versátil.
Alguns exemplos:
-Se você for garçom, aprenda a cozinhar, a preparar drinks, a fazer ornamentações, etc. para ser menos substituível no restaurante;
-Se você for pedreiro, aprenda marcenaria, e vice-versa, para ter versatilidade nas obras que fizer.
-Se você for professor de matemática, vire professor de estatística/física/química, para atender a mais alunos, ampliar seu mercado, etc.;
Depois disso, comece a diversificar o conhecimento em diferentes áreas profissionais, menos relacionadas entre si, para se proteger das sazonalidades dos mercados de trabalho, ter para onde correr se for demitido, para se diferenciar, etc.
Exemplos:
- se você é contador, administrador, "auxiliar administrativo", caixa, etc., aprenda alguma linguagem de programação e pratique-a, para facilitar suas tarefas diárias;
- se você já é do ramo de TI, aprenda contabilidade, administração, etc, para saber como ajudar melhor seus clientes;
- Se você é da área de letras, procure especializações e cursos nas áreas ligadas à psicologia, para ensinar e lidar melhor com seus alunos;
Depois de adquirir tais conhecimentos, é uma boa ideia começar a fazer cursos ou ler livros a respeito de vendas, habilidades de negociação, etc, mesmo que você não seja um vendedor ou não queira trabalhar com isso, pois acho que é importante uma pessoa saber pelo menos como "se vender", no sentido de se autopromover, principalmente no caso de pessoas que são naturalmente tímidas - infelizmente é normal que pessoas com bom potencial percam oportunidades para concorrentes medianos e submedianos falastrões só porque são tímidas e não sabem se impor ou se promover na hora certa. Essa necessidade de desenvolver nossas habilidades sociais já foi abordada pelo colega Gerson Ravv em seu blog , e o Robert Kyiosaki também já deu este conselho em um de seus livros, acho que no "Pai Rico - Pai Pobre".
5) Outra forma de liberdade que todo ser humano deve almejar é a liberdade dos vícios. Nossos vícios, sejam eles quais forem, literalmente nos escravizam e nos arruinam em diversas áreas da vida, sendo a financeira a menor delas, pois dinheiro é possível recuperar. Cada um tem o dever de se esforçar para se livrar dos seus vícios. Aliás, para aquele que tem vícios graves para a saúde (drogas, bebida e cigarro) este deveria ser o primeiro passo no caminho da liberdade;
6) Após libertar-se dos vícios, comece a se libertar das falsas necessidades. Dificilmente você irá realmente precisar do último modelo do Iphone/Galaxy, ou de um carro que custa R$ 80K, para ser feliz. Você provavelmente também não precisa trocar todo ano de celular e de carro, ter uma porrada de pares de tênis Asics, um monte de casacos da Adidas, pilhas de camisas da Lacoste, etc. O "mundo" inventou várias necessidades artificiais, algumas válidas e outras completamente falsas (como é o caso da gourmetização das coisas, tão evidente hoje em dia; existem versões gourmet até de pipoca e papinha de bebê). As "vítimas" somos todos nós: através de truques psicológicos e de marketing ultra sofisticados as grandes empresas e os governos (sempre geridas por pessoas, é bom enfatizar) nos convencem a aceitar muitas destas falsas necessidades, a enxergá-las como legítimas. É preciso se libertar desta hipnose.
7) Em relação ao item 6, não estou dizendo para ser radical e abolir completamente todas as "marcas caras" da sua vida. Às vezes o preço mais caro realmente é justificado por uma qualidade superior, e quando este for o caso e para você a relação custo X benefício lhe for favorável, vale à pena, sim, pagar mais caro. O problema que estou apontando no item 6 é em relação à quantidade (ex: tênis da marca "X" realmente são bons, mas basta ter uns dois ou três pares, é exagero querer ter, digamos, 10 pares) e à velha lição imortal que é a base de toda a educação financeira: não gaste mais do que você ganha. O "mundo", a "matrix", etc. te incentiva a consumir, a gastar muito, a financiar coisas, pegar empréstimos, etc., e cabe a você ser sensato e gastar menos do que ganha, evitar ao máximo pegar empréstimos e financiamentos, sempre pagar em dia a fatura inteira do cartão de crédito (esqueça esse negócio de "pagar o mínimo"), nunca entrar no cheque especial, etc. Uma das piores coisas que aconteceram com os pobres nesta bizarra época em que vivemos foi o fato de que muitos foram convencidos de que precisam ostentar, que precisam ter um padrão de vida maior do que suas rendas comportam, ou seja, convenceram os pobres que eles não podem viver como pobres, que eles precisam viver, nas aparências, como se fossem da classe média alta. Eles deveriam, para se salvar, reaprender a viver como pobres, tal qual nossos avós. Eles sabiam ser pobres: não ostentavam, não tinham gastos supérfluos, sabiam se controlar, sabiam trabalhar duro, colocavam a família em primeiro lugar, etc. E hoje em dia vemos pobres ostentando, parcelando Iphones em N vezes e comprando abadás e ingressos caros, enquanto moram em barracos, sem poupança, sem reservas, vivendo de salário em salário, pendurados no cheque especial, tendo que acordar às 4h para chegar às 7h no trabalho, e chegando em casa às 22h, sustentando a roda da corrida dos ratos. Isso não é uma forma de escravidão?
Uma crítica que, imagino, alguns farão aos itens 6 e 7:"Ah, não é bom ter um mindset de miséria, porque ele te leva a mais miséria" - claro que não é bom, não é isso o que estou dizendo, não estou defendendo este mindset. O que quero dizer é que, pelo menos no começo da jornada, pode ser necessário fazer coisas como "contar os centavos" e "apertar o cinto", ou seja, saber ser pobre, para evitar cair no cheque especial, evitar se endividar, etc. mas depois que conseguimos melhorar a situação, podemos ir aos poucos ir abandonando estes hábitos, até chegarmos na situação ideal que é não se preocupar muito com os preços das coisas do dia-a-dia, alcançar o equilíbrio entre viver bem e poupar para o futuro.
Forte abraço a todos! Fiquem com Deus!
Salve, Mago! Mais um excelente post! Vejo o item 2 como um dos principais erros da humanidade. O tanto de gente que só depende do dinheiro proveniente do emprego e depois quer viver às custas do governo não está escrito no papel e, por isso, hoje em dia tem tanta gente que não tem o menor planejamento pessoal e familiar.
ResponderExcluirUm livro que abriu muito a minha mente sobre esse aspecto foi "Democracia, o Deus que Falhou" do Hans Hermann Hoppe. Ele aborda com exemplos que antes do estado de bem-estar social as pessoas eram mais prudentes, por exemplo: os pobres de outrora estavam mais preocupados em constituir uma família para que fossem ajudados na velhice do que comprar itens supérfluos. Hoje em dia, o indivíduo pode chegar na velhice sem muito planejamento que vai receber o mínimo do INSS. Outro problema advindo do estado de bem-estar social é que as benesses governamentais substituíram a caridade voluntária privada.
Abraços!
Obrigado, Barbarossa. Eu acho que depender totalmente do emprego nos torna de certa maneira escravos, e quanto maior o salário, maior a escravidão, porque fica cada vez mais difícil arranjar uma recolocação à altura. Sou da mesma opinião do Nassin Taleb.
ExcluirTambém acho ruim o pessoal estar tendo menos filhos, é triste, as famílias vão diminuindo, as pessoas vão se tornando cada vez mais solitárias e egoístas...espero que algum dia essa situação se reverta
Puta texto bom. Fiz muitas anotações.
ResponderExcluirObrigado pelo elogio, Pobre Frugal. É bom saber que através de meus textos consigo ajudar alguém e fazer alguma diferença. Seja bem-vindo e volte sempre! Abraços
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