sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Eu gostaria de ser professor


Como eu já falei outras vezes aqui no blog, não gosto do meu trabalho, e atualmente não gosto da minha profissão. Gasto alguma parte do meu tempo pensando em como abandoná-la e começar outro caminho. Busco isso ou a TF, e não é nada fácil. Se eu ainda fosse um jovem adulto de 20 e poucos anos, recém-saído da faculdade e morando com meus pais, isso seria mais tranquilo, mas hoje em dia tenho obrigações e responsabilidades, então não posso simplesmente largar tudo e começar do zero. Preciso ter alguma coisa certa antes, e a cada dia que passa, isso se torna mais difícil.

Uma das profissões que eu gostaria de ter é a de professor. Eu tenho mais de um parente próximo que é professor, e sei bem os estresses e amarguras que esta profissão vive, pois converso muito a respeito, estou sempre ouvindo suas histórias nas reuniões de família, mas mesmo assim, imagino que são estresses mais aceitáveis em relação aos que eu passo em meu atual trabalho (e nos anteriores). Pelo menos essa é a visão que eu tenho de fora, e certamente é uma visão romantizada, mas ainda assim gostaria de tentar. Sinto que é nesta profissão que eu seria capaz de fazer a diferença, me sentir realmente útil para a sociedade e satisfeito comigo mesmo. Eu tentaria, de alguma forma, dar doses de realismo nas minhas aulas, para preparar melhor os alunos para o futuro, ao invés de ficar só faz-de-conta do mundo acadêmico. Tentaria também desfazer pelo menos um pouco a doutrinação esquerdista que eles sofrem. Em suma, eu tentaria fazer a diferença na vida dos alunos, dentro do possível.

Eu, vivendo o sonho

A maior dificuldade, pelo que observei até hoje, é começar: em todo lugar  existe uma "máfia", uma panelinha, um feudo, seja lá o nome que derem, vocês me entenderam, e no mundo acadêmico acho que isso é ainda pior, mais evidente do que em empresas comuns, e o networking de um professor parece ser tão ou mais necessário do que o de um executivo, para sua sobrevivência profissional. Dito isto, vamos analisar como funciona o mercado de trabalho para professores no huehuebr:

  - Os melhores salários para professor estão nas universidades públicas federais, cujo acesso é por concurso, e o emprego é tão bom que o professor de uma faculdade dessas geralmente só larga o osso quando se aposenta, e muitos só vão embora na compulsória. O problema do concurso público para este tipo de cargo é a prova de aula, que é onde entram os critérios subjetivos da banca examinadora. Outro problema é que, para passar nestes concursos, praticamente só tendo doutorado, o que é muito difícil para alguém que não emendou a faculdade com o mestrado e depois no doutorado. Acho que é praticamente impossível conciliar emprego e doutorado. Mestrado ainda vai, mas doutorado não (aliás, o mestrado é o novo "ensino superior", se vocês pararem para pensar, tendo em vista que hoje em dia "todo mundo" é bacharel e as uniesquinas se proliferaram sem controle);

   - Os melhores salários para professor na iniciativa privada estão nas "escolas de rico", geralmente os grandes colégios bilingues, onde estudam os filhos de executivos e empresários estrangeiros que trabalham no Brasil, mas geralmente só se entra num colégio desses por indicação de alguém que já trabalhe lá. Como a carreira de professor é mais estável que a de um analista comum de escritório, não é difícil que os professores destas escolas de elite fiquem nelas "até a morte";

   - O segundo melhor salário para professor na rede pública são as escolas técnicas federais e demais escolas de nível médio. No caso da iniciativa privada, seriam os cursos pré-vestibular. Aqui valem as mesmas observações: provas de aula subjetivas que filtram quem "pode entrar", exigência implícita de doutorado por causa da pontuação desproporcional na prova de títulos, e QI (indicação) na inciativa privada. Geralmente os professores dos pré-vestibulares são concurseiros profissionais e ex-monitores dos próprios cursos, dificilmente alguém de fora consegue entrar nestes feudos. Já fiz um concurso para a IF do meu estado, para dar aulas para o ensino médio. Fui bem na prova escrita  e cheguei a fazer a prova de aula, mas a banca me deu uma nota baixa com base em bobagens (embora eu não tenha falado, até porque não tinha nada a ver com o assunto da aula, devem ter percebido meu alinhamento político), mas mesmo assim fiquei no top 5 - pena que era uma vaga só, como é o padrão neste tipo de concurso. Como não conheço ninguém de nenhum curso pré-vestibular ou preparatório para concursos, então também é difícil entrar neste tipo de curso.
A banca (totalmente imparcial) que avaliou minha prova de aula

- Em seguida vem os colégios mais "classe média", que não pagam tanto mas também não pagam mal, mas têm o mesmo problema de demorar anos para abrir uma vaga e ser raro chamarem alguém "de fora", que não seja amigo de nenhum professor do colégio.

- Por fim, há os colégios particulares "de pobre", que são aqueles pequenininhos, só conhecidos em seus próprios bairros, com poucos alunos, prédio pequeno, etc. É nestes lugares onde um professor sem contatos, sem "QI", tem mais facilidade para começar sua carreira. O problema de dar aula neste tipo de colégio é que ou eles pagam pouco ou não te pagam nada, na cara de pau. Já aconteceu na minha família: um parente deu aula por uns dois meses num colégio assim, não recebeu os salários, e ficou por isso mesmo. E fora da família já ouvi histórias semelhantes. Geralmente são pequenos negócios familiares que começaram bem (um avô com mente empreendedora e bom professor de alguma matéria), mas que algo deu errado no meio do caminho (geralmente é essa a história: o fundador morreu, e seus filhos e netos agem como parasitas ao ocupar os cargos administrativos - cargos que são "por direito" deles - e tratarem a escola como se fosse realmente um feudo: apenas um emprego "garantido" para ser explorado e sugado, ao invés de investirem e fazerem o bolo crescer) - no bairro onde cresci, havia várias escolinhas assim, e hoje em dia a maioria fechou as portas. Óbvio que há exceções, mas na média os colégios pequenos são assim: mal administrados, endividados, e o governo ainda atrapalha: por lei, não podem expulsar os alunos inadimplentes durante o ano escolar - a escolinha tem que esperar o próximo ano letivo começar para só então não renovar a matrícula, e enquanto isso fica amargando o prejuízo por causa de um aluno que não paga as mensalidades e ainda ocupa uma vaga. Aliás, vejam como é míope o raciocínio do imbecil que inventou esta lei: para beneficiar alguns alunos inadimplentes de uma escola pequena, coloca-se em risco a educação de todos os outros, porque a escola pode acabar falindo, e então todos ficarão sem aula, e os professores e demais funcionários sem emprego. Receita certa para o desastre.

- Nem cogito fazer concurso para colégios estaduais e municipais, não importa o estado e o município, porque a situação financeira de praticamente todos está indo de mal a pior, e já há algum tempo tem estados e municípios parcelando os salários de seus servidores, e como professores são do "baixo clero", não escapam. Talvez eu abrisse uma exceção para SP (o estado e o município), mas ainda acho arriscado. Só o tempo dirá.

Enquanto não consigo um emprego de professor, público ou privado, vou satisfazendo minha vontade através de aulas particulares, e estou vendo se consigo dar aulas no vestibular social de uma igreja próxima de onde moro. Se eu conseguir atingir a TF, essa pode ser a minha ocupação, em tempo integral ou parcial. Talvez dando aulas sem me preocupar com o dinheiro eu consiga ser um professor melhor.
O futuro a Deus pertence.
Algum leitor do blog é professor? Comente aí! Compartilhe sua experiência!
Forte Abraço!

8 comentários:

  1. Fala, Mago!!!!

    Vamos lá!...


    Você é bem assertivo sobre os feudos. Eu não posso falar meu nível de formação nem curso ou coisa assim, senão, se vc cruzasse minhas informações com meu trabalho, poderia descobrir qm eu sou. Ou algum poderia descobrir...


    O que posso lhe afirmar é que tenho vivência na área de professor mesmo e e em nível de universidade pública.

    Eh bem isso q vc falou... Eu, inclusive, me distanciei do meio acadêmico pois a questão do ORIENTADOR é muito forte e eu gosto de uma filosofia de vida que diga que sou responsável pelos meus próprios passos. No militarismo isso é mais presente.


    Infelizmente você tem que tá muito bem na fita pra conseguir o topo do suprasumo da carreira de professor que seria Professor de Universidade Federal, 40h dedicação exclusiva.

    Nesse caso em tela, você teria, no mínimo, que ter um doutorado, normalmente, como vc mencionou no texto. Outra coisa... Nessas avaliações as vezes nem é a questão de os professores te analisarem sob uma ótica ideológica. As vezes só em vc n usar os msm termos "da turminha" vc já eh visto de lado...


    Outra coisa: é importante que você tenha já algum contato com alguém da universidade pra saber q tipo de pesquisa desenvolvida lá... O que os professores costumam publicar e tal... Isso não é errado. Inclusive, aconselho que o faça...


    Ainda sim, msm q vc cumpra toda a cartilha...

    Você tem que ter noção que os concursos estão ficando cada vez mais raros e, os poucos que surgem, são pra apenas uma vaga. De toda forma, fica na paz e lute pelo que faz teu coração descompassado!!!


    Um forte abraço!!

    Intendente Frugal

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    1. Fala, Intendente
      Você já foi professor então? Maneiro.
      Como eu falei no texto, eu tenho alguns parentes professores, então estou por dentro da necessidade de network nessa área. Acho que já há umas duas décadas a questão ideológica vem pesando sim, pelo que escuto.
      Isso que você falou da linha de pesquisa é real também. Quando fiz o TCC da minha pós, o meu (des)orientador logo de cara quis me cortar e me obrigar a fazer outro trabalho porque não gostou da minha linha de pesquisa...
      Um lado ruim do mundo acadêmico é a vaidade, que está na verdade em todo lugar, mas no acadêmico fica bem explícita.
      Sendo realista, não posso largar tudo e virar professor porque provavelmente passaria dificuldades. Meio que já aceitei isso. Vou continuar perseguindo minha TF, para então poder realmente escolher no que trabalhar.
      Abraços, man

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Trabalho como professor, sou praticamente recém formado, é o meu segundo ano dando aula.


    O salário não é tão ruim, atualmente ganho 4.352,70 com os descontos fica 3.638,41. Trabalho em uma escola estadual, para quem trabalha em escolas municipais o valor é bem menor fica na casa dos 2k.


    Na escola onde trabalho 99% dos professores são de esquerda, dá até medo quando o assunto da conversa chega em política, falar algo e eles não gostarem e sofrer represarias no futuro.

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    1. Obrigado pelo comentário, Midwest. Bacana você ter compartilhado sua experiência. Realmente o seu salário não é ruim. Entendo a sua preocupação com os professores de esquerda, principalmente se você ainda estiver no estágio probatório. Eu me manteria "voando abaixo do radar" e evitaria conversas sobre política e outros temas polêmicos, talvez para sempre, mas principalmente durante o estágio probatório. Você pelo visto não é do lado vermelho da força... Você consegue de alguma maneira dar uma "desdoutrinada" nos alunos, para tentar desfazer as lavagens cerebrais que os vermelhos fazem?
      Abraços e volte sempre!

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    2. Tento desfazer um pouco da doutrinação,sempre de maneira bem sutil devido a minha área ser Matemática acabo tendo menos oportunidade de comentar sobre outros assuntos.


      Apesar de mais complicado ainda é possivel exemplo recentemente com a polêmica da empresa de games Blizzard e os protestos em Hong Kong,consegui a atenção deles para comentar sobre a censura promovida pelo partido comunista Chinês.

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    3. É verdade, exatas é mais complicado, mas você pode desdoutrinar através do exemplo: seja um professor exemplar, tente se diferenciar dos que são comunistas, ensine bem sua matéria, seja um bom profissional, não faça parte das greves, quando os alunos pedirem para você contar uma historinha pra dar uma distraída da aula passe bons exemplos para eles. A dificuldade em se destruir as mentiras que o comunismo colocou na cabeça deles é que isso tem que ser de certa forma sutil, se não eles criam resistência e passam a discordar de você só de pirraça... talvez algo como o método socrático seja uma boa. Através de perguntas fazê-los chegar à conclusão de que as premissas dos raciocínios deles estão erradas. A dificuldade toda é se manter abaixo do radar...

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    4. Midwest Brasil, realmente o salário não é ruim pra dois anos de casa, poderia informar ql a carga horária correspondente a este salário?

      Abraços.


      Abraços.

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