A que ponto chegamos... |
O nosso dinheiro infelizmente não está valendo nada e temos vivido tempos inflacionários nos últimos anos.
Aliás, de uma maneira geral o dinheiro no mundo todo não está valendo muita coisa, mas como aqui somos um país que há muito tempo possui histórico inflacionário já há uma "desconfiança" natural do povo com relação à nossa moeda e, por isso, geralmente sentimos mais estes efeitos da desvalorização monetária , que ainda por cima é agravada pela desvalorização cambial. Embora sejamos um país grande e bastante populoso, nossa moeda é irrelevante no comércio internacional.
A inflação de nossa moeda faz com que os metais e outras conmodities fiquem ainda mais caras para nós, o que impacta todos os preços de nossa economia.
Um fenômeno que ocorre em consequência disso é o abandono da moeda. Isso inclui a compra de moedas mais fortes, a compra de metais preciosos, e também a busca por outros metais e até mesmo mercadorias baratas, conforme veremos abaixo.
E acredito que a inflação alta também contribui para o aumento do crime, conforme também veremos abaixo.
Às vezes fingimos que não, mas o Brasil é um país onde a pobreza é quase extrema*, onde falta saneamento básico até mesmo em capitais, a infraestrutura no geral é precária, etc.
Na verdade, o Brasil tem pequenos "oásis" mais desenvolvidos, cercados por bolsões de pobreza e miséria, ou até mesmo cercados por locais completamente abandonados onde quase ninguém mora e parecem não atrair interesse nem do Estado e nem da iniciativa privada...
A maioria da população não tem condições de trocar nossa moeda por outra mais forte, nem por ouro e prata, e nem por ativos mais financeiros (ações, FIIs) e é obrigada a continuar no real, sofrendo com constantes reajustes de preços, sem os devidos reajustes salariais, perdendo seu poder de compra, que nem uma vítima sendo sugada por um vampiro...
Tudo isso é agravado pela inflação: a falta de infraestrutura desestimula investimentos, tanto de investidores nacionais quanto estrangeiros, o que diminui o número de vagas de emprego, principalmente as que exigem maior qualificação.
A maioria das vagas por aqui é para empregos de baixa ou nenhuma especialização, que normalmente pagam 1 salário mínimo + VT + VR, isso quando pagam, e de período integral (na minha opinião, empregos de 1 salário mínimo deveriam ser só de meio expediente), geralmente com horas extras não pagas - dificultando muito que o indivíduo se qualifique ou busque atividades paralelas, até mesmo o lazer fica difícil, ainda mais o lazer saudável como a leitura.
Como o desemprego costuma ser alto, mesmo vagas de emprego que pagam pouco são disputadas a tapa por milhares de desempregados, e então não há incentivo nenhum para que os empresários aumentem os salários, pois a oferta de mão de obra está sempre maior que a demanda. Até mesmo reajustes inflacionários demoram a ocorrer, e geralmente são abaixo da inflação. O nosso poder de compra diminui rápido por aqui.
Os salários baixos, aliados à inflação alta e à educação precária contribuem para o aumento da criminalidade: os cidadãos de mente fraca e moral baixa vão para o crime (geralmente oriundos de famílias desestruturadas, mas isso não é condição necessária para ser criminoso) para tentar compensar o que não conseguiriam ganhar com trabalho honesto (na verdade muitos até repudiam o trabalho honesto - e acredito que as péssimas relações de trabalho no Brasil somadas aos baixos salários e às longas horas de jornada ajudam a explicar ao menos em parte isso, mas óbvio que não justificam!).
Como a criminalidade e a impunidade são bastante altas, tem gente que rouba até mesmo fios de cobre, portas de alumínio, tampas de bueiro feitas de aço ou ferro fundido, e por aí vai, porque o preço dos metais, mesmo os não preciosos, está "compensando" o risco do roubo. Nossa moeda não está valendo nada mesmo.
Até lâmpadas estão sendo roubadas, obrigando comerciantes a colocarem grades para protegê-las. E a foto logo no início do post é um fenômeno semelhante, com comerciantes colocando cadeados para impedir que roubem o papel higiênico dos banheiros de suas lojas. Surreal!!
É de certa forma assustador pensar que, além da infraestrutura já ser precária, dependendo de onde moramos, ainda corremos um sério risco de, do nada, termos luz, internet e telefone cortados por conta de algum vagabundo que resolveu arrancar os fios para revender o cobre, e então ficamos à mercê da companhia elétrica, esperando ela ir lá e repor os fios, consertar os estragos feitos pelos criminosos (e a conta obviamente será repassada para nós que trabalhamos... o crime infelizmente compensa, no Brasil, pois o ladrão provavelmente seria solto em pouco tempo).
O dinheiro não estar valendo nada também explica ao menos em parte porque a comida tem ficado mais cara: além da própria desvalorização da moeda em si pela inflação, ainda tem a desvalorização cambial que faz valer mais a pena exportar a produção agropecuária do que vender no mercado interno (e acabamos ficando praticamente com a xepa - e cara, ainda por cima)
Sinceramente, não entendo os economistas que defendem que nossa moeda precisa ser fraca no câmbio para sermos mais competitivos no mercado internacional e entendo menos ainda os pseudo-economistas que dizem que inflação é saudável para a economia. Desse jeito estamos sendo competitivos às custas das pessoas comuns, pobres e de classe média, e o objetivo de nenhum governo deveria ser esse.
O caso da hiperinflação no Brasil, ainda recente em termos históricos, deixou uma marca profunda na psique do brasileiro, pois forjou uma mentalidade avessa à poupança na população em idade de trabalhar naquela época.
Após decorridos quase 30 anos de relativa estabilidade do Plano Real, considero que ainda estamos engatinhando na formação desta mentalidade de planejamento para longo prazo.
Claro que isso não é exclusivamente culpa da hiperinflação dos anos 80 e início dos 90, mas também da relativa precariedade dos salários no Brasil e do espantoso nível dos aluguéis e do custo de vida em geral nas principais cidades, o que impede muitos de pouparem e investirem, ainda que queiram e tenham esta mentalidade de longo prazo.
Eu sinceramente não entendo como que em um país em que a renda média mensal está na casa dos R$ 2.200* as pessoas têm coragem de cobrar mais de R$ 1.000,00 de aluguel até para morar em "semi-cativeiros", e nem como têm coragem de cobrar mais de R$ 100K em casas que parecem barracos em ruas que mal têm asfalto e saneamento básico, ou até mesmo cobrar mais de R$ 200.000 em apartamentos de menos de 30m²... (chamados pela indústria imobiliária de "studio" para não chamar de cubículo ou cela)
Eu considero que viver pagando mais da metade do salário só em aluguel é uma condição análoga à escravidão, e que ganhar 1 salário mínimo (ou até um pouco mais que isso) é sim uma forma de escravidão moderna, pois mal dá para cobrir os custos mínimos de vida em muitas cidades e obriga a pessoa a viver correndo atrás do próprio rabo em termos financeiros, sem sair do lugar. Se ao menos fossem empregos só de meio expediente... seria menos pior.
Óbvio que nada o que está escrito acima é culpa exclusiva da inflação... também temos de culpar a educação precária, as más influências da mídia, as más influências da "literatura" nacional que vem sendo produzida pelo menos nos últimos 50 anos, a "arte" que vem sendo produzida nos últimos 100 anos, entre vários outros fatores, principalmente os de ordem cultural ligados à "mentalidade brasileira".
E vocês, confrades, o que acham disso? Vocês têm sentido os efeitos da inflação? Acham que o certo seria brigar para que nossa moeda fosse mais relevante no mundo?
Forte Abraço!
Fiquem com Deus!
*: a renda mensal média do brasileiro é de cerca de R$ 2.200,00, conforme o IBGE, o que daria pouco mais de US$ 5K por ano - lembrem-se de que nos EUA um caixa do Walmart ganha em média US$ 23K por ano! Pensem no quanto ganha o caixa de um super-mercado grande aqui no Brasil...