OBS:
post para reflexão. Cada um tem sua opinião sobre o assunto, e
esta é a minha. Vai ser um texto longo, de modo que vou dividi-lo.
Eu acredito que o pessoal que
acompanha a blogosfera e sites como HC investimentos, Bastter, etc., e que
REALMENTE estuda finanças, a princípio, TENDE
a ter um futuro um pouco mais tranquilo, financeiramente falando (claro, pressupondo
que não ocorrerá nenhuma tragédia na vida da pessoa), desde que mantida a
disciplina e os aportes, e não cometa nenhuma bobagem financeira.
Mas, e quanto ao pessoal bem “povão”, tipo “anafalbeto
financeiro” mesmo? Que não sabe nada (ou quase nada) sobre como funcionam juros
compostos, taxa SELIC, não faz ideia do que sejam CDB, debêntures, ações
ordinárias, etc? Qual será a tendência
da vida financeira deste pessoal? Será que é ruim? Vejamos com calma.
Creio que seja razoável assumir
que, uma vez que a poupança ainda é o investimento favorito dos brasileiros
(conforme visto em https://www.insper.edu.br/noticias/poupanca-investimento-preferido-entre-brasileiros/),
a maioria dos “analfabetos financeiros” que consegue aportar alguma coisa, o
faz numa conta-poupança (e provavelmente da Caixa, que não exige renda mínima
para abrir conta, ou do Banco do Brasil) e apenas nisso. Desta forma,
analisemos um pouco mais a fundo a poupança no Brasil:
A poupança está rendendo atualmente
4,55%a.a, conforme este site >> https://blog.magnetis.com.br/rendimento-da-poupanca-hoje-e-ruim/
(OBS: rendimento NOMINAL). Um rendimento bastante baixo para os padrões
brasileiros e se considerarmos a inflação (no momento, acumulada em 3,78% para
os últimos 12 meses, conforme o Banco Central), estamos lidando com um rendimento
REAL de cerca de 0,74% a.a, caso a inflação se mantenha neste nível.
(Acho
digno de nota, entretanto, que este é um rendimento fantástico comparado aos
juros de poupança dos EUA - atualmente em 0,3%a.a, na conta mais básica do Bank
of America – e do Reino Unido – entre 0,25% e 0,3%a.a no Barclays).
A SELIC se manteve em 6,5%a.a na última
reunião do COPOM. A próxima só ocorrerá em março. Ano passado, os analistas
projetaram uma SELIC de 7,5%a.a para o fim de 2019, mas isso é tudo achismo. Só
saberemos na hora. A nossa inflação, medida pelo IPCA, está relativamente
baixa, comparada ao passado recente (o acumulado de 12 meses chegou a mais de
10% em 2016, segundo o IBGE), mas ainda não considero baixa o suficiente – para
mim o ideal para uma economia é ter uma leve deflação da moeda.
Dito isto, a poupança – e a renda
fixa como um todo – está rendendo bem pouco em relação a seu passado recente
(principalmente o período 2014-2016), o que faz com que este tipo de
investimento (a renda fixa como um todo) “perca um pouco da graça”. Mas isso
não quer, nem de longe, dizer que RF não deva fazer parte da diversificação.
Entretanto, eu tenho a opinião de
que os atuais “analfabetos financeiros” que conseguem aportar alguma coisa e só
aplicam em poupança muito provavelmente vão se dar melhor do que muitas pessoas
com excesso de confiança em seus conhecimentos financeiros que se metem a fazer trades,
um grupo que normalmente só faz lambança na bolsa e tem rendimentos
catastróficos, chegando a perder todo o patrimônio quando operam alavancados.
Nassim Taleb, em seu livro “Arriscando
a própria pele” fala dos “conhecimentos de Avó”, conhecimentos ancestrais,
muitas vezes simples, mas efetivos, passados de geração em geração, e certamente
isso que eu escrevi acima é abrangido por este conceito.
Na época de nossos
pais e nossos avós (digo isso para quem viveu a infância dos anos 90 para trás)
o mercado financeiro brasileiro não era nem de longe tão desenvolvido quanto
hoje (e ele ainda deixa muito a desejar), e a maioria das pessoas era
analfabeta (tempo de nossos avós) ou só possuía no máximo o ensino médio (tempo de nossos pais). Isso
somado, quase todo mundo era “analfabeto financeiro” por tabela.
Mas, mesmo
assim, vários conseguiram ganhar a vida, ter seus próprios negócios, sustentar
famílias com vários filhos e ainda acumular algum patrimônio, e tudo isso com
trabalho duro e poupança (e também imóveis, em alguns casos – hábito difundido
principalmente entre portugueses e seus descendentes), sem entender nada ou quase nada de finanças.
A sabedoria antiga de “poupar
X% do que ganha” é um destes “conhecimentos de avó” de que Taleb fala em seu
livro, e ainda se aplica aos dias de hoje.
Poupar uma parte dos ganhos é algo "Lindy", como diria Taleb (pesquisem sobre o efeito Lindy, é muito interessante)
Entretanto, tal sabedoria ancestral será suficiente nos
dias cada vez mais caóticos de hoje e no bizarríssimo mundo moderno?
E mais: será suficiente para todos?
Mais importante ainda: será suficiente para nós, quando ficarmos velhos e não pudermos mais trabalhar?